Terapêutica farmacológica da Colite Ulcerosa
Terapêutica farmacológica da Colite Ulcerosa
Horácio Lopes, António Curado
INTRODUÇÃO
A Colite Ulcerosa é uma doença crónica, caracterizada por uma inflamação difusa
da mucosa do cólon e do recto. A sua etiopatogenia é desconhecida. Tem sido
sugerida a existência de uma desregulação primária do sistema imunitário da
mucosa cólica, que leva a uma resposta imunológica exacerbada à microflora
normal. Envolve o recto (proctite) na maioria dos casos e quando envolve a
sigmóide ou o cólon descendente, estamos perante uma colite distal/esquerda; se
envolver o transverso, ou todo o cólon, trata-se de uma pancolite. Tem uma
morbilidade importante, levando a sintomas recorrentes de diarreia
sanguinolenta, urgência rectal e tenesmo. A idade habitual do aparecimento dos
sintomas, tem dois picos ' entre os 15 e os 40 anos; e entre os 50 e os 80
anos. Surge igualmente no homem e na mulher. Em 6-47% dos doentes surgem
manifestações extraintestinais ' ulcerações orais, artropatia periférica e
manifestações cutâneas, como o eritema nodoso, são as mais comuns.
TERAPÊUTICA DA DOENÇA ACTIVA Proctite (P) activa
Na proctite activa a terapêutica tópica é superior à oral e os salicilatos são
os indicados; consoante a severidade podem ser utilizados supositórios (ou
espuma), na dose de 1 g por dia, para a indução da remissão. No caso de não
haver resposta podemos associar 5-ASA oral (3g/dia) ou corticóide tópico (ex:
budesonido em enema, na dose de 3 mg/dia).
Colite esquerda (CE) activa
Na colite distal, a terapêutica de escolha é a combinação de 5-ASA oral e
tópico. A terapêutica oral pode ir aos 4,8 g/dia. Se não ocorrer melhoria da
sintomatologia em 1 a 2 semanas, recomenda-se o uso de corticóides '
usualmente até 40 mg/ dia de prednisolona.
Pancolite(PC) activa
Na colite extensa devemos utilizar 5-ASA oral combinado com 5-ASA tópico, pois
a formulação oral isoladamente não consegue induzir a remisão na maioria dos
doentes.
Um doente com colite severa, deve ser hospitalizado e devem utilizar-se
corticóides endovenosos (ev) (ex. prednisolona na dose de 0,75-1mg/Kg). Nos
doentes intolerantes à corticoterapia ou corticorresistentes (sem resposta até
aos 5-7 dias) deve ser considerada terapêutica com ciclosporina na dose de 2-
4 mg/Kg/dia (aferida de acordo com os níveis séricos) ou tacrolimus até à
concentração sérica de 10-15 ng/ml ou terapêutica biológica com infliximab
(5mg/Kg às 0, 2, 6 e depois de 8/8 semanas).
TERAPÊUTICA DE MANUTENÇÃO
Indicada em todos os doentes com algumas excepções em que a extensão da doença
é muito limitada. O objectivo é manter o doente em remissão e sem esteróides.
O 5-ASA oral é o fármaco de 1ª linha. Na proctite e na colite esquerda, a
utilização de 5-ASA tópico também poderá ser uma alternativa. Como 2ª linha,
temos a combinação do 5-ASA oral e tópico. A mínima dose oral efectiva é de 1,2
- 1,5 g /dia e a tópica é de 3 g/semana. Está indicada a terapêutica de
manutenção com azatioprina (2-2,5 mg/Kg/ dia) nos doentes:
- que responderam à ciclosporina/tacrolimus na indução da remissão;
- com recaídas precoces ou frequentes ou com intolerância ao 5-ASA; -
corticodependentes e corticorresistentes;
- que só respondem aos corticóides por via endovenosa.
Poderá ainda associar-se à azatioprina o 5-ASA, por possível efeito sinérgico e
protector do cancro colo-rectal. Num doente que respondeu ao infliximab, este
poderá ser utilizado como terapêutica de manutenção.
NOTAS FINAIS
Em cerca de 2/3 dos doentes a remissão e a manutenção são conseguidas com 5-
ASA. Nenhum ensaio comparou as terapêuticas médica e cirúrgica na colite
ulcerosa. A colectomia está indicada nos casos de displasia, cancro, megacólon
tóxico, não resposta à terapêutica médica máxima ou hemorragia maciça.
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