Doença pulmonar obstrutiva crónica: Uma revisão
Doença pulmonar obstrutiva crónica – Uma revisão
Introdução
A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) ocupa no Brasil, segundo dados do
DATASUS, o quinto lugar dentre as principais causas de morte e o número de
óbitos referente a ela vem crescendo nos últimos vinte anos em ambos os sexos
1
,
2
. São internados 290 mil doentes anualmente, trazendo um grande prejuízo ao
sistema de saúde. Gastos indirectos também são computados como perda de dias de
trabalho, aposentadorias precoces, morte prematura e sofrimento familiar2,
3
,4,5,
6
,7,
8
,
9
,
10
.
Acredita-se que ¼ das hospitalizações por problemas respiratórios sejam devido
a DPOC. E a doença é líder de mortalidade entre as doenças respiratórias. A
DPOC não é só um problema devido ao alto índice de mortalidade e morbidade, mas
também por ser uma doença prevenível na maioria dos casos, como, por exemplo, a
cessação do tabagismo. Infelizmente, a história da doença é progressiva e
irreversível depois de ocorrerem lesões no parênquima pulmonar
11
. Estudos mostram que 15,9% da população maior de 40 anos de São Paulo
apresente a doença2,4,5,11,
12
,
13
.
Existe uma grande discussão a respeito do diagnóstico para a doença e a maioria
dos estudiosos concorda que a espirometria associada à gasometria seja o melhor
critério
14
.
Uma relação entre o volume expiratório forçado do primeiro segundo (VEF1) sobre
a capacidade vital forçada (CVF) – VEF1/ /CVF –, pode ser considerada como um
bom indicador da doença, mas não é um bom indicador para detectar diferenças
após programas de reabilitação. O critério GOLD é mais específico e permite
avaliar o grau de severidade da doença2,4,7,8,11,15,
16
,
17
.
O acto de fumar é o maior problema de saúde pública de todo o mundo,
especialmente em países desenvolvidos. Estima-se que, até 2025, 75% das mortes
prematuras sejam decorrentes das doenças respiratórias provocadas pelo
tabagismo. Um terço da população com idade em torno dos 15 anos é fumadora
habitual e vive em países desenvolvidos 2,
19
,
20
,21. Observa-se ainda um alto índice de tabagismo entre as gestantes,
normalmente pertencentes a classes sociais mais baixas19.
O tabagismo é considerado um problema de saúde pública porquanto são atribuídos
a esse vício 90% dos casos de cancro de pulmão, 86% de bronquite e enfisema,
25% dos processos isquémicos do coração e 30% dos cancros extrapulmonares20.
Nos programas de combate ao tabagismo, os profissionais de saúde têm um papel
importante junto da população devido à sua acção educativa, a fim de diminuir o
número de pessoas fumadoras8,20,21,
22
.
Os doentes com DPOC apresentam uma qualidade de vida prejudicada uma diminuição
da tolerância a exercícios físicos e perda de força dos músculos
respiratórios4,7,
23
,
24
.
Estas condições podem ser minimizadas por programas de exercícios que ainda não
obtiveram uma proposta definitiva sobre a melhor estratégia de treinamento4.
Os consensos de reabilitação pulmonar sugerem que o treinamento físico dos
pacientes seja baseado na melhora da capacidade aeróbica e são raros os
exercícios que avaliam uma abordagem específica sobre as alterações da caixa
torácica e dos músculos torácicos7,10,12,16,17,
25
,
26
,27,
28
.
Existe uma gama de medicamentos utilizados no tratamento farmacológico da
doença e das crises de agudização, dentre eles corticóides e broncodilatadores
29
. São ainda utilizados antibióticos nas complicações infecciosas e
oxigenioterapia , incluindo más-caras de O2, Ventilação mecânica não invasiva
(vmni) e ventilação mecânica invasiva (VMI)1,2,8,15,27,29,
30
,32.
O objectivo deste trabalho é fazer uma revisão bibliográfica sobre a doença e
as possíveis estratégias de tratamento do DPOC.
Material
Foi feita uma revisão bibliográfica qualitativa e randomizada entre os meses de
Agosto de 2008 e Fevereiro de 2009, onde se buscaram artigos científicos em
revistas especializadas e sitesna Internet, a saber, Scielo, Pub Med e Google
Científico.
Foi feito ainda contacto por e-mailem diversos países do mundo com autores de
artigos científicos na área, que prontamente enviaram os artigos recém-
publicados na íntegra para o pesquisador.
Buscaram-se ainda artigos sobre a doença nos bancos de dados do laboratório
Roche de medicamentos.
Esses artigos foram lidos e seleccionados de acordo com a revisão proposta.
Discussão
A DPOC é uma doença de possível prevenção e tratável, que se caracteriza pela
obstrução crónica das vias respiratórias limitando o fluxo aéreo e que não é
totalmente reversível.
Essa obstrução é progressiva e está associada a um processo inflamatório
anormal devido à inalação de partículas ou gases tóxicos causada primariamente
pelo tabagismo3,4,9,10,14,27,28,
33
.
O processo inflamatório crónico pode produzir alterações dos brônquios
(bronquite crónica), bronquíolos (bronquiolite obstrutiva) e parênquima
pulmonar (enfisema pulmonar)2,3,6,7,24,25,
34
,
35
.
O tabagismo é a maior doença comunitária no mundo. Estima-se que, em 2025, 75%
das mortes sejam causadas por doenças pulmonares relacionadas com o tabagismo.
Cresce o número de fumadores entre mulheres e um terço da população acima de 15
anos é fumadora habitual21,24. A cessação do tabagismo é a melhor forma de
evitar a instalação da DPOC e melhorar a qualidade de vida dos já portadores da
doença2,5,8,19,20,21,22,24.
Fazer o diagnóstico de DPOC nas fases subclínicas é um grande problema, já que
muitos doentes procuram o médico por outros factores respiratórios, como tosse
persistente e produtiva, afecções respiratórias constantes onde não se
suspeitará de DPOC24. O doente, na fase inicial da doença, muitas vezes associa
a tosse ou a diminuição da capacidade aeróbica ou mesmo o cansaço constante ao
acto de fumar, mas não acredita que esteja com alguma doença respiratória, já
que consegue respirar bem, consegue realizar as suas funções e, na maioria das
vezes, deixa de realizar outras actividades físicas alegando idade ou falta de
preparação física2,3,5,11,15,24.
A tosse é o principal sintoma e o mais comum. Pode ser seca, diária ou
intermitente, e produtiva nos estádios mais avançados da doença e nos quadros
de agudização. A tosse produtiva ocorre em mais de 50% dos fumadores. Define-se
como bronquite crónica a exposição ao cigarro e tosse produtiva até três meses
em dois anos consecutivos3,35.
A dispneia é progressiva e leva ao aumento da ansiedade que reduz a actividade
física, gerando depressão como resposta psicológica desse quadro9,14,27,
36
. O índice de dispneia do Medical Research Council(MRC) apresenta boa relação
com a progressão da doença4,7,12,16,17,25,26 (Quadro I).
Quadro I – Índice de dispneia modificado do MRC
A espirometria com obtenção de curva volume-tempo é obrigatória no diagnóstico,
devendo ser realizada na fase estável da doença antes e depois do uso de
broncodilatadores. Os pontos mais importantes observados são a capacidade vital
forçada (CVF), o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e a
relação VEF1/CVF, onde a limitação do fluxo aéreo é definida quando se encontra
abaixo de 0,7 pós-broncodilatador2,3,7,11,15,16,17.
O exame radiológico pode não sofrer alterações em fases iniciais da doença, mas
apesar disso deve ser considerado como o exame de rotina para se afastar outros
diagnósticos, como neoplasias pulmonares, bolhas, e para observação de
agudização da doença com presença de infecções pulmonares como pneumonia e
tuberculose3,14.
A DPOC acarreta prejuízo na mecânica pulmonar e na musculatura periférica. A
mecânica pulmonar altera-se pela obstrução brônquica que acarreta o
deslocamento do ponto de igual pressão para as vias aéreas que não possuem
cartilagem, favorecendo o aprisionamento de ar, levando à hiperinsuflação que
diminuirá a capacidade respiratória aos grandes esforços e depois ao
repouso16,21,27,28,33.
Segundo o consenso de DPOC o estadiamento da doença dá-se em quatro estádios
(Quadro II).
Quadro II – Estádio da doença de acordo com a espirometria (percentagem do
VEF1/CVF)
Além do quadro respiratório inflamatório, foram diagnosticadas células
inflamatórias e citocinas na corrente circulatória que juntamente com o
stressoxidativo contribuem para as disfunções nutricionais e
musculoesqueléticas nesses doentes que apresentam intolerância a exercícios
físicos, principalmente na fase moderada a grave4,
37
. A disfunção da musculatura periférica dá-se por diversos mecanismos, entre
eles o descondicionamento pelo desuso
18
,32,36, as citocinas pró-inflamatórias (TNFá, interleucinas 6 e 8), a
diminuição de hormonas anabólicas (testosterona), hipoxemia ou hipercapnia,
desnutrição e uso prolongado de corticóide25.
O doente com DPOC apresenta perda de peso significativa, fraqueza dos músculos
respiratórios, redução da força dos MMSS e evidente diminuição de força e
endurancena musculatura do quadricípite femoral, o que contribui para a baixa
qualidade de vida e para o aumento do número de mortalidade nesses
doentes4,25,33,
39
.
O TNFá, e a IL-1â foram identificadas como citocinas iniciadoras da cascata
inflamatória de outras condições inflamatórias, como artrite reumatóide,
doenças inflamatórias intestinais e asma grave. Por isso, é presumível que a
exacerbação da DPOC esteja associada ao aumento da inflamação das vias aéreas6.
Hacket et al.demonstraram em doentes com DPOC, nos estádios I e II, um elevado
nível de TNFá, IL-6 e CXCL8 e a relação entre essas citocinas e a exacerbação
da doença, levando ao rápido declínio da função pulmonar dos doentes estudados.
Alguns estudos mostraram ainda não haver relação entre VEF1 e os níveis de
TNFá, IL-6 e CXCL8 (ou IL-8)6,33.
Donaldson e colegas demonstraram, no entanto, que essas exacerbações contribuem
para acelerar e muito a diminuição do VEF1 por anos nesses doentes6.
Existe uma relação entre a reação inflamatória nas vias aéreas provocada pela
infecção bacteriana, principalmente H. influenzae, Streptococus pneumoniaee
Bhrahemella catarralise a elevação dos níveis de marcadores inflamatórios. Essa
colonização aumenta o nível de obstrução das vias aéreas e causa exacerbação
frequente8. Essas exacerbações frequentes, com níveis de marcadores
inflamatórios elevados, levam a uma inflamação sistémica e a uma manifestação
extrapulmonar, como caquexia e acção hepática, com redução do fibrinogénio. O
nível baixo de fibrinogénio é um grande risco para as doenças
cardiovasculares6,8.
A exacerbação aguda da DPOC (EADPOC) é causa de falência respiratória. Na
grande maioria das vezes, o doente com EADPOC evolui para ventilação mecânica
invasiva (VMI) ou ventilação mecânica não invasiva (VMNI)32. Usam-se
antibióticos, nesses casos, de acordo com a European Respiratory Society(ERS) e
a French Consensous Conference.
No entanto, bactérias são isoladas apenas em 50% dos casos de EADPOC, onde a
alta incidência de viroses é identificada.
Um teste rápido para identificar bactérias poderia ser uma forma de limitar o
uso excessivo de antibióticos, diminuindo assim a resistência bacteriana. A
procalcitonina (PCT) sérica pode ser usada como o melhor marcador de infecção
bacteriana, mas é ineficaz para viroses. Entre os níveis de PCT, temos:
ausência de infecção – PCT<0,1μg; possível infecção PCT entre 0,1 e 0,25 μg;
infecção PCT>0,25 μg. Por ser a sua eficácia questionável na DPOC, excepto em
doentes com infecção evidente, o exame da PCT reduziria o uso de antibióticos
na UTI8,12,
31
.
As causas da intolerância ao exercício físico em doentes com DPOC são
tradicionalmente focadas nas limitações do sistema ventilatório e na troca
gasosa. Porém, estudos mostram que não são apenas estes os motivos e um factor
importante para a limitação ao exercício físico é a disfunção da musculatura
periférica com anormalidades estruturais, como redução da massa muscular e
relação capilaridade/mitocôndria, mudanças no tipo e tamanho das fibras
musculares e redução das enzimas oxidativas14,37, anormalidades funcionais,
como redução da força e resistência e da bioenergética muscular como a redução
no consumo de oxigénio, aumento do nível de lactato e diminuição do pH25,33,36.
Por isso mesmo se nota a diferença entre os músculos dos MMII e MMSS. A
fraqueza da musculatura dos MMII dá-se devido ao desuso ou ao
descondicionamento físico com evidente diminuição da área transversa da coxa. A
fragilidade muscular na DPOC afecta mais a musculatura de MMII do que de MMSS,
explicada pela diminuição da marcha para evitar a dispneia e predomínio de
actividades da vida diária com o uso dos músculos dos MMSS, reduzindo assim o
acometimento desses membros pelo desuso. Outros factores que podem contribuir
para essa debilidade muscular são o uso de corticóide oral e a perda de peso,
esta devido à diminuição da dieta oral e depleção nutricional4,25,34.
A fadiga muscular aumentada em doentes com DPOC pode ser atribuída à
deterioração da função pulmonar e aos efeitos sistémicos, como atrofia muscular
e a transição slow-to-fastna composição das fibras musculares.
Mesmo não tendo sintomas de DPOC o doente apresenta fadiga muscular. A
etiologia dessa fadiga é desconhecida e não é claro como o tabagismo contribui
para o fenómeno, relacionado ou não com outros factores, como a diminuição do
nível de actividade física. O tabagismo por si só, causa um significante
declínio da resistência à fadiga da musculatura esquelética. A diminuição da
atividade física durante prolongado tempo de tabagismo pode causar progressiva
deterioração da RFME. Em resumo, a musculatura do tabagista é mais
fatigável4,34.
O efeito do tabaco na musculatura, agudo e não acumulativo, não é
dosedependente. Mas o monóxido de carbono (CO), presente no cigarro, liga-se à
mioglobulina, limitando a difusão facilitada de oxigénio intracelular. Além
disso, o CO bloqueia o complexo IV da respiração mitocondrial, causando
declínio da função da mitocôndria. Os complexos III e IV (citocromooxidase)
estão diminuídos em fumadores e só retornam ao normal na paragem do tabagismo34
.
Não só o CO, mas o alcatrão e o cianeto no cigarro, reduzem a função
respiratória mitocondrial. O tabagismo produz fadiga muscular e intolerância ao
exercício. Parar de fumar só reverterá esse processo desde que o indivíduo não
tenha já DPOC ou falência cardíaca34,38.
O CO vai-se ligar ainda à hemoglobina, resultando em hipoxemia. A
carboxiemoglobina (COHb) pode chegar a 10% nos fumadores. Essa hipoxemia é
factor de diferença entre fumadores e não fumadores.
A inalação do CO leva ao consumo máximo de O2 e uma elevação de COHb de 6% já
leva a fadiga muscular. Nota-se então que o fumador tem um agudo e reversível
efeito na fadiga da musculatura esquelética causada pelo cigarro19,28,34,39,
40
.
Os componentes do tabaco ainda interferem na gestação. A nicotina causa
vasoconstrição periférica e diminui o fluxo placentário, resultando na pobre
nutrição e oxigenação fetal.
Pode ocorrer ainda parto prematuro ou aborto. O aumento da COHb reduz o fluxo
sanguíneo fetal, afectando o transporte de O2 e levando à hipoxemia fetal19.
O tratamento da DPOC inclui uma equipa multidisciplinar, buscando uma
reabilitação respiratória desses pacientes. O programa de reabilitação
respiratória requer a utilização de exercícios físicos e respiratórios,
acompanhamento médico e psicológico dos doentes com DPOC12. A utilização de
exercícios físicos busca melhorar a resistência da musculatura, aumentando a
capacidade respiratória e a troca gasosa, diminuindo a fadiga muscular8,9,28,
41
,42.
Os indivíduos com DPOC têm alta prevalência de factores de risco cardiovascular
se comparados com a população no geral e a EADPOC aumenta a mortalidade desses
indivíduos por falência respiratória. Estudos recentes mostram que doenças
cardiovasculares e cancro de pulmão são causas de morte no doente com DPOC. O
stressoxidativo e a inflamação sistémica podem ser o elo de ligação com as
doenças cardiovasculares38.
Observou-se que o indivíduo com DPOC tem níveis de proteína C-reativa (PCR) em
torno de 3mg/L, o que é considerado alto risco para alterações
cardiovasculares. Além disso, a alteração no VEF1 pode ser o preceptor de
coronariopatias38,39.
A cessação do tabagismo – maior factor de risco de DPOC – pode prevenir milhões
de casos. Infelizmente, na DPOC, por ser uma doença progressiva e irreversível,
após certos danos pulmonares, podem tratar-se e diminuir apenas alguns
sintomas13. Existem vários programas de apoio ao doente que deseja e/ou precisa
parar de fumar. Há necessidade de apoio de uma equipa multidisciplinar
especializada e recomenda-se com frequência apoio psicológico a esses
doentes2,5,8,15,24,34.
A cessação do tabagismo é um factor de suma importância no tratamento do DPOC.
Em comparação com os doentes portadores da doença, os ex-fumadores têm menos
armazenamento de epitélio brônquico mucinoso, proliferação de células e
metaplasia de células escamosas do que portadores de DPOC ainda fumadores. A
cessação do tabagismo reverte a proliferação e a diferenciação celular do
epitélio brônquico, e esse efeito é maior quando mais tempo se passa sem
fumar2,5,8,24,34.
O cancro de pulmão é uma doença de grande mortalidade e sabe-se que a principal
causa é o tabagismo, embora se encontre cancro de pulmão em pessoas não
tabagistas.
A relação entre enfisema pulmonar e cancro é maior do que nos indivíduos com
bronquite crónica, e hoje em dia a diferença entre homens e mulheres acometidos
quase não existe22.
Parar de fumar diminui os sintomas respiratórios, como a diminuição do VEF1 e
da severa hiperresponsividade das vias aéreas e, consequentemente, diminui o
processo inflamatório persistente. Ocorre ainda uma diminuição da secreção
brônquica, com remodelamento epitelial com clearencemucociliar, reduzindo a
colonização das vias aéreas.
A diminuição da proliferação celular e a metaplasia de células escamosas
diminui o risco de desenvolvimento de cancro pulmonar2,8,20,22,24.
O tratamento farmacológico da DPOC inclui broncodilatadores, a base do
tratamento para a maioria das doenças pulmonares obstrutivas.
A via preferencial é a inalatória, que diminui a incidência de efeitos
colaterais. Os beta-agonistas são os preferenciais e actuam abrindo os canais
de potássio e aumentando o AMP cíclico. São divididos em beta-agonistas de
longa duração, como formoterol e salmeterol, e de curta acção: fenoterol,
salbutamol e terbutalino, sendo os primeiros mais eficazes na redução da
dispneia. O bambuterol é o único de acção por 24 horas, mas carece de estudos
para sua utilização. Os anticolinérgicos, como o brometo de ipatrópio, é um
antagonista inespecífico dos receptores muscarínicos3,8,15.
Os boncodilatadores aumentam a função pulmonar, a tolerância ao exercício,
diminuem os sintomas e melhoram a qualidade de vida, reduzindo ainda as
exacerbações.
A combinação de fluticazona e salmeterol reduz o declínio da função pulmonar em
mais ou menos três anos. Outro fármaco que pode ser utilizado é o tiotrópio. O
uso de esteróides inalados reduz a exacerbação, mas os efeitos adversos acabam
por diminuir a sua utilização. Mucolíticos são considerados em doentes com
tosse crónica produtiva5,8,15,18,26.
As xantinas continuam a ser usadas em larga escala, apesar de o seu efeito
broncodilatador ser menor do que os demais fármacos e apresentou maiores
efeitos colaterais. A aminofillina, a bamifililna e a teofilina são xantinas
utilizadas. Há estudos mostrando que esses fármacos não apresentam acção
satisfatória no DPOC. A literatura diz que deveriam ser usados na DPOC como
última opção3,12.
O oxigénio (O2) é usado em doentes com DPOC visando manter a oxiemoglobina
acima de 90%. Observou-se que o uso de O2 melhora a tolerância ao exercício
físico, a oxigenação do indivíduo e a qualidade de vida (QV)28. O uso de O2
domiciliar melhora a QV do doente, apesar de ser um tratamento caro e nem
sempre acessível
44
, pode aumentar a sobrevida, tem impacto sobre a hemodinâmica, amplia a função
neuropsicológica, além de melhorar as actividades de vida diárias40. Os doentes
internados em EADPOC com grave insuficiência respiratória podem ser submetidos
a VMNI ou à VMI em casos mais graves, ou onde não há adaptação ou aceitação à
VMNI32.
A reabilitação pulmonar (RP) é recomendada com uma boa resposta, porém há áreas
pulmonares onde não existe possibilidade de regeneração e, nas áreas passíveis
de regeneração, apenas 9% responderá à reabilitação24.
Os objectivos da RP são: maximizar a independência funcional do indivíduo em
actividades de vida diárias; avaliar e iniciar o treino físico para aumentar a
tolerância ao exercício; encorajar o gasto de energia de forma eficiente;
proporcionar sessões educativas a doentes, familiares e outras pessoas
relacionadas; reduzir os sintomas e melhorar a QV9,10,27,28,36.
Na fisioterapia, inúmeros programas de exercícios físicos para reabilitação de
doentes com DPOC têm sido propostos na literatura e muito ainda se tem que
estudar sobre a doença e seu tratamento, o que justifica a necessidade de
pesquisas, estudos e publicações sobre a doença, o tratamento e a reabilitação
pulmonar4,7,16.
Conclusão
A DPOC é uma doença pulmonar grave, com repercussão sistémica causada
principalmente por uma exposição constante e prolongada ao tabagismo. De início
pulmonar, o processo inflamatório actua na musculatura esquelética,
hipotrofiando a fibra e causando intolerância ao exercício físico. Outros
componentes do tabaco levam a alteração da mioglobina e da hemoglobina,
causando hipóxia sistémica. Podem ocorrer ainda doenças associadas, como IAM,
AVE, cancro pulmonar, abortos espontâneos e partos prematuros, além de
alterações psicológicas, como ansiedade, depressão e disfunção sexual.
A cessação do tabagismo é o melhor caminho na busca pela melhoria da qualidade
de vida do doente porque, diminuindo a incapacidade física, a hipoxemia, e
revertendo a intolerância ao exercício, reintegra o indivíduo na sociedade e na
sua vida independente.
Há necessidade de se investir em campanhas antitabágicas para diminuir o
consumo do tabaco e o grande número de portadores de DPOC.