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EuPTCVHe0873-21592010000400010

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National varietyEu
Year2010
SourceScielo

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Influência da percepção da doença pulmonar obstrutiva crónica na promoção do autocontrolo da doença

Enquadramento do problema Esta revisão sistemática da literatura tem por objectivo avaliar a influência da percepção da doença que os doentes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) têm sobre a sua capacidade para adoptarem comportamentos adaptativos que promovam o autocontrolo da doença e a efectiva adesão ao regime terapêutico acordado.

A elaboração desta revisão sistemática da literatura surge no âmbito da necessidade de contribuir para a resposta ao PNS 2004-20101 que preconiza, a melhoria no acesso dos doentes crónicos, quer à informação que habilite a um melhor autocontrolo, quer a materiais que viabilizem a autovigilância da doença, capacitando os doentes para as decisões e, simultaneamente, aumentando o seu grau de responsabilidade, individual e social, sobre a evolução da doençae ao Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica2 na melhoria do controlo dos doentes com DPOC.

A DPOC é uma doença crónica e progressiva, cujos doentes estão submetidos a regimes terapêuticos complexos.

A DPOC caracteriza-se por ser uma limitação do fluxo aéreo não totalmente reversível. Esta limitação do fluxo aéreo é geralmente progressiva e está associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões a partículas ou a gases nocivos3. Pode assumir diferentes estádios de gravidade4.

A DPOC é ainda caracterizada pela sua cronicidade e deterioração progressiva da função respiratória e consequentes limitações no desempenho da actividade laboral e actividades de vida diária, com repercussões na qualidade de vida.

Pelo seu carácter crónico e progressivo, a DPOC exige a adopção pelo doente de comportamentos e regimes terapêuticos que visem o controlo da sintomatologia e a interrupção da progressão da doença. Os regimes terapêuticos adoptados englobam o recurso a medidas farmacológicas e não farmacológicas que variam em função da severidade da doença, podendo incluir a utilização isolada ou em simultâneo das diferentes estratégias.

A gestão eficaz do regime terapêutico na DPOC implica a aquisição de competências cognitivas e instrumentais que permitam a sua integração com fluência e mestria no quotidiano do doente, promovendo a adaptação à nova condição de saúde e contribuindo para a qualidade de vida. A ausência destas competências influencia negativamente a capacidade dos doentes para se adaptarem à condição de saúde e para implementarem comportamentos tendentes a diminuir a sintomatologia ou a alterar/manter o estado de saúde. Esta problemática torna -se mais evidente quando estamos perante doentes com regimes terapêuticos complexos.

Nos últimos anos temos dado especial ênfase ao desenvolvimento de novas técnicas diagnósticas, farmacológicas e de monitorização, relegando o desenvolvimento de novas metodologias de abordagem e acompanhamento do doente que promovam a sua adesão ao regime terapêutico.

Num contexto de multiprofissionalidade e multidisciplinaridade é fundamental conhecer a percepção que os doentes têm da doença, das suas implicações no seu quotidiano social, profissional, familiar, económico, e que culminam frequentemente no seu isolamento. Existe evidência que realça que as alterações no sono, a coexistência de depressão, o pânico, a baixa autoestima, a frustração, a negação e o medo alteram a capacidade de o doente se adaptar à condição de saúde e diminui a sua adesão ao regime terapêutico, com inevitáveis perdas do seu nível de saúde. A multidimensionalidade da DPOC exige que os profissionais de saúde procurem constantemente novas metodologias para a prevenção, controlo e tratamento da doença; contudo, não podemos deixar de colocar no centro da nossa intervenção o doente e as suas especificidades.

Confrontamo-nos diariamente com o problema da baixa taxa de adesão ao regime terapêutico destes doentes, e com graves lacunas nos conhecimentos e capacidades que conduzem à ausência de autocontrolo da doença. A nossa experiência e a evidência disponível, em número e em qualidade, evidencia esta lacuna. Elaboramos esta revisão com a intenção de alertar os profissionais de saúde para esta particularidade da problemática.

A adesão ao regime terapêutico nos doentes com DPOC não está apenas relacionada com o protocolo terapêutico instituído, ou com as competências dos profissionais de saúde; depende destas, mas é influenciada determinantemente por factores intrínsecos do doente, pelo que o nosso conhecimento acerca da percepção do doente sobre a doença, a evolução, o tratamento e a influência destes no seu quotidiano são factores determinantes na optimização da abordagem terapêutica e no nosso contributo para uma adesão efectiva ao regime terapêutico e para o seu autocontrolo da doença.

Problema de investigação A partir do exposto, evoluímos para o seguinte problema de investigação: Qual a influência da percepção da doença na promoção do auto controlo em doentes com DPOC.

Considerações metodológicas Para a selecção dos artigos desta revisão da literatura, utilizámos o método designado PICOS5 (participantes, intervenção, comparadores, resultados (outcomes)e desenho (ou tipo de estudo). Definimos também os critérios de inclusão e exclusão para a selecção dos estudos (Quadro I).

Quadro I Critérios de inclusão e exclusão na revisão da literatura

Estratégia de pesquisa Tendo como linha orientadora o problema definido, realizámos a revisão da literatura entre Agosto e Setembro de 2009. Utilizamos o inglês/espanhol/ português como idiomas preferenciais.

Iniciamos a revisão pelas bases de dados Data_bases of abstracts of reviews of effects (DARE); Cochrane of systematic reviews (CDSR); National Institute of Health and clinical Excellence (NICE). Posteriormente, recorremos à pesquisa em bases de dados electrónicas: CINAHL Plus with Full Text; MEDLINE with Full Text; MedicLatina; SportDiscus with full text; Psychology and behavioral Sciences collection; ISI Web of Knowledge, restringindo a revisão aos anos 2004-2009. Apenas incluímos artigos apresentados em texto integral (full text).De acordo com a temática, foram seleccionadas palavras-chave para esta revisão (Quadro II).

Quadro II Palavras-chave utilizadas na revisão da literatura

Resultados Utilizando a estratégia de pesquisa descrita, foram identificados 142 artigos nas diferentes bases de dados, dos quais não se encontraram textos repetidos, 130 textos foram rejeitados pelo título, 8 dos artigos rejeitados pela leitura do resumo e nenhum foi rejeitado após a leitura integral. Em síntese, 4 artigos foram incluídos nesta revisão da literatura (Quadro III), dos quais 3 primários e 1 de revisão da literatura.

Quadro III Artigos obtidos para a revisão da literatura

No Quadro IV, apresentamos os artigos seleccionados para esta revisão da literatura, especificando a informação relativa aos seus autores, o ano de publicação, a fonte, o país, os participantes no estudo, a intervenção/ objectivo do estudo e a abordagem(s) metodológica(s) utilizada pelos autores.

Quadro_IV Artigos seleccionados para a revisão da literatura

Discussão dos resultados Os artigos que reuniram os critérios de inclusão nesta revisão da literatura permitem-nos clarificar alguns aspectos relacionados com a percepção da doença pelo doente com DPOC e a sua influência sobre o autocontrolo da doença.

Kaptein et al6 identificam dois modelos psicológicos que orientam os estudos da sua amostra, o Modelo do Senso Comum e a Teoria Cognitivo-Comportamental. Estes modelos orientam as técnicas de educação para o autocontrolo da doença, centrando-se na percepção da doença, nomeadamente nos aspectos cognitivos associados a sintomas e doença. Howard et al9 identificam no seu estudo algumas vantagens da utilização da Teoria da Auto-Regulação de Leventhal, Meyer & Nerenz (1980) para a explicação das estratégias de adaptação utilizadas pelos doentes com DPOC.

Segundo Kaptein et al6, a percepção de pouco controlo sobre a doença, da sua evolução, associadas à ansiedade e à depressão, concorrem para a obtenção de fracos resultados no autocontrolo da doença, Dowson et al8 realçam os factos, associando-lhes o consumo abusivo de álcool com o menor nível de conhecimentos para o autocontrolo da doença. Estes autores realçam os efeitos destas variáveis sobre a motivação e, consequentemente, sobre a adesão ao regime terapêutico.

A percepção da doença é associada por Sharloo et al7 à qualidade de vida.

Segundo estes autores, uma maior associação da doença à sua cronicidade e à falta de controlo sobre a sua evolução afectam negativamente a qualidade de vida; o mesmo se verifica quando se associa a doença a causas psicológicas.

A percepção de controlo sobre a doença e a maior auto eficácia com situações emocionais estáveis, estão associadas a melhores resultados segundo Kaptein et al6. Howard et al9 evidenciam que doentes que referem maior impacto da doença no seu quotidiano apresentam menor controlo sobre a doença e, consequentemente, sobre o autocontrolo. Dowson et al8 realçam a importância da avaliação das crenças, das atitudes e do seu impacto sobre a autoconfiança e, consequentemente, sobre o auto controlo.

Segundo Dowson et al8, quando os doentes acreditam que o seu comportamento de saúde pode ter pouca influência sobre a sua condição de saúde, a motivação para a adesão ao regime terapêutico recomendado vai ser baixa, realçando a necessidade de avaliar e discutir preocupações, crenças, experiências e efeitos dos medicamentos para encontrar estratégias que permitam potenciar a adesão ao regime terapêutico.

No estudo de Dowson et al8 é evidenciado que os doentes têm dificuldade em avaliar o seu real nível de saúde e de conhecimentos, referindo que mais de 50% referem ter conhe cimento suficiente. Esta percepção pode ser um obstáculo à motivação para a aquisição de novos conhecimentos e capacidades para autocontrolo da doença.

Dowson et al8 referem que doentes que vivenciaram situações de pânico induzidas pela doença apresentam maior nível de conhecimentos e capacidades para o autocontrolo da doença em situações de estáveis ou de exacerbação ligeira, mas que apresentam fracas capacidades de intervenção em situações de maior gravidade. Estes autores realçam a vantagem da utilização de cenários como estratégia de ensino'aprendizagem nestes contextos.

Conclusões A percepção da falta de controlo sobre a evolução da doença contribui para a menor qualidade de vida, gera ansiedade, leva ao isolamento social, conduz à depressão, reduz a motivação para a aquisição de conhecimentos e capacidades para o autocontrolo da doença. A desmotivação, a incapacidade em reconhecer as capacidades cognitivas, instrumentais ou de suporte social e dos profissionais de saúde potencia o fraco autocontrolo da doença e a não adesão ao regime terapêutico. Face a estes factos, os profissionais de saúde devem estar atentos e implementarem intervenções para controlarem estas variáveis.

Em resposta ao exposto, devemos avaliar e discutir com os doentes as suas expectativas, preocupações, crenças, experiências e efeitos dos medicamentos, para potenciar e optimizar autocontrolo e a adesão ao regime terapêutico.

Desta revisão da literatura emerge também a necessidade de incorporar um modelo teórico para a estruturação e a aplicação das estratégias de ensino- aprendizagem, para que sejam um efectivo contributo para o auto controlo da doença e a para a adesão ao regime terapêutico.

Os profissionais de saúde que intervêm no acompanhamento e tratamento destes doentes devem estar familiarizados com as estratégias de adaptação a que estes recorrem, para as poderem optimizar.

Desta revisão emerge também a provável utilidade da utilização de cenários clínicos como recurso para a aquisição de competências cognitivo-instrumentais destes doentes.


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