A instrumentalização da educação em saúde na atenção básica
Introdução
A Promoção da Saúde é um tema que se encontra bastante discutido mundialmente,
pois aborda como estratégia internacional, a melhoria das condições de saúde da
população, preocupação relevante em todas as esferas governamentais. No nosso
país, este tema é recente e representa uma estratégia promissora para enfrentar
os múltiplos problemas de saúde que afetam a nossa população. Tais problemas
estão associados a um conjunto de fatores inter-relacionados com as questões
socioeconómicas, ambientais, culturais e um espectro, muitas vezes pouco
adequado, de cuidados de saúde, além da solidariedade, equidade, participação e
parceria, muitas vezes comprometidas. Dentro dessa temática, a Educação em
Saúde torna-se elo primordial para minimizar esses efeitos drásticos de
repercussão mundial, trazendo a sua contribuição direta para a promoção da
saúde e a melhoria na qualidade de vida. Porém, nota-se que as discussões, na
área da educação, em saúde têm se prendido, geralmente, ao nível filosófico, a
ponto desta problemática ter sido denominada, na literatura especializada, de
falácia filosófica. Ou seja, fala-se muito em Educação em Saúde, no entanto
pouco se faz. Nesse sentido, tem sido complexa para a educação em saúde a
transição dos discursos vazios para abordagens técnicas e aplicações práticas
mais coerentes (Candeias, 1984).
Partindo do princípio que há, na atual conjuntura, uma enorme necessidade da
promoção da saúde para a melhoria da qualidade de vida, tem-se notado a
crescente preocupação dos profissionais de saúde na Estratégia de Saúde da
Família, na realização de ações que contribuam nesse aspeto, proporcionando
meios de educação em saúde para os usuários. Sabendo que os profissionais da
enfermagem atuam diretamente neste âmbito, incorporando o papel de educador da
saúde frente à assistência aos usuários, prestando sua parcela de contribuição
nesse sentido, torna-se primordial, também, a ajuda de outros profissionais na
execução da Educação em Saúde como prática social.Segundo Sabóia e Valente
(2010) todo o trabalho educativo visa mudanças de hábitos da clientela através
da informação. Na visão conservadora, educar em saúde é levar as pessoas a
compreenderem as soluções que os profissionais consideram corretas. Neste
sentido, o processo de contribuição para a formação e desenvolvimento da
consciência crítica das pessoas estimula a busca de soluções e a organização
para a ação coletiva, desmistificando essa visão conservadora tão discrepante
da realidade e indubitavelmente equivocada do processo ensino-aprendizagem.
Então, é de suma importância que toda a equipe esteja envolvida em ações
educativas, consciente de que educar em saúde é uma proposta de trabalho
passível de erros, mas com grandes chances de dar certo e a partir daí,
construir novas perspetivas para os seus usuários, estimulando a busca de
soluções para os problemas diagnosticados, a partir da sua própria visão de
mundo e considerando o senso comum.
Buscando identificar as necessidades da população no tocante ao tema proposto,
optou-se por identificar as ações de educação em saúde, desenvolvidas nas
Unidades de Saúde da Família do bairro do Tambor, na cidade de Campina Grande '
PB, visando analisá-las, a fim de propor novas alternativas de
instrumentalização dessas práticas, para melhorar ainda mais o processo de
desenvolvimento social instituído na unidade, além de contribuir
significativamente com subsídios para futuras reflexões a respeito das práticas
realizadas pelos profissionais da saúde, bem como sua relevância para a
melhoria da qualidade de vida da nossa população.
Sendo assim, traçou-se os objetivos: identificar e analisar as ações de
educação em saúde, aplicadas pelos profissionais das Unidades Básicas de Saúde
da Família, nas equipes I e II do bairro Tambor, na cidade de Campina Grande '
PB, ressaltando os conceitos e valores da educação em saúde para a sua promoção
e prevenção; identificar as ações efetivas de educação desenvolvidas e
apresentar a importância da atuação dos profissionais de saúde neste contexto,
para a promoção da saúde e para a melhoria da qualidade de vida da população.
Metodologia
Trata-se de um estudo exploratório descritivo, com abordagem quantitativa, cujo
locus do estudo foram as Unidades de Saúde da Família Tambor I e II, situadas
na zona urbana de Campina Grande - PB. Os critérios de inclusão que nortearam
este estudo foram: fazer parte da equipe de saúde das unidades de estudo,
aceitação dos profissionais de saúde em participarem da pesquisa e trabalhar na
perspectiva de educação em saúde.
Para subsidiar a sua viabilização, utilizou-se como instrumento o questionário
do tipo semiaberto e semiestruturado, impresso em folha de papel tamanho A4 com
face única, voltado para a perceção dos profissionais sobre o tema educação em
saúde, o mesmo foi estruturado a partir de questões objetivas e subjetivas, as
quais foram produzidas dentro de uma sequência lógica e previamente codificada
contendo na primeira parte, a identificação do perfil dos profissionais, cujas
variáveis foram: sexo; faixa etária; profissão e unidade de saúde da família de
atuação; e na segunda parte da pesquisa a efetivação das ações de educação
operacionalizadas nas referidas unidades, e as variáveis exploradas foram:
operacionalização/ instrumentalização, dificuldade, transmissibilidade/
compreensibilidade.
A pesquisa seguiu as orientações éticas da resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde, onde esclarece que, para a prática da pesquisa científica
envolvendo seres humanos torna-se necessário observar os princípios de
heticidade: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. Objetivando
assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos
sujeitos da pesquisa e ao Estado. Ainda sob orientação da referida resolução, a
pesquisa utilizou o consentimento livre e esclarecido, pois o respeito devido à
dignidade humana exige que toda pesquisa se processe após consentimento dos
sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais
manifestem a sua anuência à participação na pesquisa.
Para complementar o processo de coleta e análise dos dados, realizaram-se
visitas ao campo, tendo como suporte o diário de campo, complementando o
questionário, proporcionando ao estudo agregado de pessoas e de grupos
pesquisados um maior detalhamento a respeito do seu contexto social quanto ao
funcionamento das unidades, ambiente físico, cronograma da equipe e famílias de
abrangências.
Na sequência, operacionalizou-se a análise quantitativa das respostas obtidas,
a fim de identificar e caracterizar a instrumentalização das ações de Educação
em Saúde, efetivamente, realizadas. Após a coleta e a análise dos dados
apresentados, os mesmos foram informatizados numa planilha eletrónica do
Microsoft Excel e representados através da análise das alternativas propostas
para cada indicador, isoladamente, com os respectivos comentários pertinentes.
Resultados e discussão
No primeiro momento do questionário, buscou-se caracterizar cada um dos
profissionais atuantes nas unidades escolhidas, que se prontificaram a
responder as indagações, salvaguardando a sua identidade e traçando o seu
perfil, de acordo com o seu género, profissão e faixa etária, respectivamente.
Os dados obtidos revelaram que a maioria dos profissionais pesquisados é do
género feminino, perfazendo um total bastante significativo de 94,44% da
amostra, somando 17 participantes e apenas 1 do gênero masculino, observando-
se, então, que o universo masculino na atenção básica é muito restrito mediante
a média dos outros níveis de atenção existentes.
Em relação aos dados que especificam as profissões que os entrevistados exercem
nas unidades pesquisadas, coletamos os dados de que 1 é médico, 2 são
enfermeiros, 1 é odontólogo, 2 são auxiliares de consultório dentário, 2 são
técnicos de enfermagem, 1 é recepcionista, e os outros 8 entrevistados são
Agentes Comunitários de Saúde.
As Unidades Básicas de Saúde da Família analisadas contam com as equipes
mínimas necessárias, ou seja, um número satisfatório de profissionais para o
seu funcionamento, conforme preconiza o Ministério da Saúde, em sua portaria nº
648, de 28 de março de 2006 (Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo
Cruz, 2005).
Vale a pena ressaltar a importância de uma equipe múltiprofissional trabalhando
de forma colaborativa e interdisciplinar, em busca do mesmo ideal, que é a
promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida da coletividade, como
verificado nas unidades de estudo, que de uma forma integrativa e aliada a
participação dos seus usuários, conseguem manter uma assistência básica de
qualidade cumprindo o seu papel tanto na unidade de saúde, quanto no domicilio,
estabelecendo o vínculo de corresponsabilidade com as famílias.
A pesquisa revelou que a idade do profissional médico está na faixa entre 32 e
40 anos, no caso dos odontólogos está entre 30 e 38 anos, enfermeiros entre 30
e 34 anos, Auxiliar de Consultório Dentário entre 35 e 38 anos, Agente
Comunitário de Saúde entre 26 e 53 anos, técnico de enfermagem entre 24 e 30
anos e recepcionistas entre 28 e 40 anos.
Temos uma população mista, com profissionais mais jovens trabalhando
diretamente com pessoas mais maduras de forma integrativa e ativa, o que
resulta num panorama de troca de experiências e confiança entre todos os que
fazem parte dessas unidades.
No segundo momento do questionário, direcionamos aos profissionais, atuantes
nas Unidades Básicas de Saúde da Família estudadas, indagações sobre as
práticas realizadas pelos mesmos e os instrumentos que facilitam suas ações em
relação à Educação em Saúde.
De acordo com Araújo (2010), a educação em saúde pode e deve ser encarada como
uma estratégia de promoção da saúde num processo de conscientização coletiva e
individual de direitos voltados à saúde e responsabilidades, visando estimular
ações que atendam aos princípios do Serviço Único de Saúde (SUS). A partir
desse enfoque, Catrib et al. (2003) afirmam ser de extrema importância eleger
estratégias didáticas condizentes com uma transformação dos sujeitos
socialmente inseridos no mundo, para ampliar sua capacidade de compreensão da
complexidade dos determinantes de ser saudável.
Sendo assim, os resultados obtidos revelaram a efetivação das ações de educação
operacionalizadas nas referidas unidades, e as variáveis exploradas foram:
operacionalização, instrumentalização, dificuldade, transmissibilidade,
compreensibilidade.
O gráfico 1 revela um panorama real situacional de operacionalização das ações
de educação em saúde nas Unidades Básicas de Saúde da Família do Bairro do
Tambor, em Campina Grande, destacando os principais grupos atendidos pelas
ações executadas e sua abrangência específica.
GRÁFICO 1 ' Grupos Beneficiados com as Ações Educativas.
Ao analisar o gráfico 1 nota-se que as ações de educação em saúde não são ações
direcionadas apenas para um grupo específico, elas podem atingir vários grupos
ao mesmo tempo ou estarem associadas, ou seja, numa unidade básica de saúde da
família, várias ações podem ocorrer simultaneamente, já que temos uma gama de
profissionais trabalhando num mesmo objetivo. Encontramos resultados bastante
satisfatórios em praticamente todos os itens pesquisados, o que demonstra que
essas ações educativas estão sendo operacionalizadas nas Unidades Básicas de
Saúde da Família do bairro do Tambor de forma satisfatória, como observado no
gráfico 1.
Nesta análise, a maioria dos usuários das Unidades Básicas de Saúde da Família
pesquisadas, participantes de grupos pré-formados ou de forma isolada, estão
sendo bem assistidos nesse sentido, onde quase 89% das ações de educação são
realizadas no grupo de hipertensos associados a um pouco menos de 78% no grupo
de diabéticos, o mesmo percentual no grupo de gestantes, mais de 16% nas
escolas de sua abrangência, mais de 83% em saúde bucal, embora ainda haja
falhas no tocante à realização de ações nos grupos de idosos, uma vez que foi
constatado que este grupo não está sendo tão beneficiado com ações de educação
quanto os outros grupos em questão, pois apenas um pouco mais de 5% das ações
de educação em saúde são direcionadas para esse grupo em especial.
Porém, vale salientar que boa parte dos usuários acometidos por doenças como
diabetes e hipertensão fazem parte da terceira idade, ou seja, está acima dos
65 anos de idade, o que remete ao facto de não haver um grupo específico dessa
faixa etária, visto que já são realizadas ações de educação para portadores
dessas doenças, de uma forma geral, o que compromete a realização de outras
manifestações educativas direcionadas para a parcela da população idosa
atendida nas unidades avaliadas.
Diante do atual perfil da população brasileira, onde a expectativa de vida está
aumentando de forma exponencial, não se admite a exclusão de grupos de idosos
das ações de educação em saúde, ou a sua participação em escala mínima,
praticamente inexistente, uma vez que essa etapa de vida está cada vez mais
próxima das pessoas e elas devem ser tratadas de forma igualitária, sem haver
qualquer tipo de discriminação ou exclusão. Portanto, torna--se necessário que
as Unidades Básicas de Saúde da Família tomem consciência da existência desses
usuários, intensificando a busca ativa para que comecem a trabalhar de forma
mais consistente com os mesmos as questões de saúde, inerentes à terceira
idade, pois muitos podem estar necessitando de um apoio neste sentido, o que
irá melhorar sua condição de saúde e promovê-la.
Além disso, vale salientar que envelhecer não é mais sinónimo de adoecer,
atualmente há subsídios para a melhoria na qualidade de vida desses usuários,
que podem adentrar a terceira idade de forma saudável, e não cheios de doenças
típicas, sendo assim, eles necessitam de um apoio mais intensificado para que
possam chegar a esta etapa de vida da melhor forma possível.
Segundo Brunner e Suddarth (2005), envelhecimento é uma ocorrência normal que
engloba todas as experiências de vida, então, o cuidado e as preocupações com
os idosos não podem ser limitados a uma única disciplina ou profissional, porém
são mais bem fornecidos através de um esforço de cooperação. Neste sentido, os
profissionais de saúde deverão ser desafiados a idealizar estratégias que
abordem a maior prevalência da doença dentro da população idosa.
Observa-se ainda que os grupos trabalhados são previamente formados, levando-se
em consideração as patologias mais frequentes na população e todas as
estratégias de educação em saúde são baseadas nessas condições, o que restringe
muito a abrangência das informações. A Educação em Saúde é um subsídio eficaz
para que as pessoas desenvolvam juízo crítico e capacidade de intervenção sobre
suas vidas e sobre o ambiente com o qual interagem e assim criarem condições
para se apropriarem de sua própria existência, portanto não deve ser exclusiva
ou limitante, no que se refere à formação de grupos mistos ou novos grupos de
interesse geral.
A atenção universal, equânime e integral à saúde traz implícita, em sua
concepção básica, um significado muito mais profundo que a simples
reorganização e manutenção da rede de serviços de saúde. A melhoria na
qualidade dos serviços prestados aos usuários do sistema de saúde, a
democratização do conhecimento, a utilização de recursos humanos não
especializados e de tecnologia simplificada e a participação da população na
definição dos problemas de saúde e das prioridades e estratégias a serem
implementadas são ideias norteadoras da nova filosofia sanitária brasileira,
expressas por meio das ações de Educação em Saúde (Levy et. al, 2004).
No que se refere a outros tipos de ações educativas, foram citadas ações
direcionadas para a saúde mental, num total de um pouco mais de 22%,
planejamento familiar com mais de 16% das ações implementadas e finalmente um
pouco mais de 22% das ações educativas direcionadas para a saúde da criança,
além de outras ações não identificadas pelos profissionais questionados,
totalizando mais de 83% do total.
Entretanto, vale destacar que a conscientização do profissional quanto ao seu
dever de informar e educar os usuários através de seus conhecimentos é uma
realidade nesses postos de atendimento e a partir do momento que tais
informações são repassadas de forma correta, obtemos resultados benéficos nesse
sentido. A Organização Mundial de Saúde recomenda que o educador de saúde passe
a ser aluno e facilitador e os membros da comunidade sejam professores e também
alunos. Fazendo com que haja uma troca de experiências e ensinamentos entre os
profissionais de saúde e a comunidade e entre os próprios usuários, que chegam
a ser mediadores e contribuintes reais das ações de educação (Brasil.
Ministério da Saúde, 2006).
Sendo assim, todos os grupos interessados em trabalhar com ações educativas,
como no caso dos profissionais da área de saúde, podem e devem contribuir para
mediação entre os diferentes interesses, em relação à saúde, existente na
sociedade. Sabe-se que a Educação em Saúde deve oferecer condições para que as
pessoas desenvolvam o senso de responsabilidade, tanto por sua própria saúde,
como pela saúde da comunidade, merecendo consideração como um dos mais
importantes elos entre as perspectivas dos indivíduos, os projetos
governamentais e as práticas de saúde (Levy et al., 2000).
Araújo (2010) afirma que as ações educativas proporcionam aos profissionais de
saúde um espaço de descobertas, partilha de experiências, escuta e diálogo, que
fortalecem o vínculo entre eles e os idosos, e provocam um feedback positivo,
além de facilitar no mecanismo de ensino-aprendizagem. Essa troca de
informações ajudará na identificação e análise crítica dos problemas que
permeiam a vida dos usuários e na elaboração de estratégias de ação em busca da
melhoria da sua qualidade de vida.
A seguir, o gráfico 2 indica quais os instrumentos mais utilizados pelos
profissionais atuantes nas duas Unidades Básicas de Saúde da Família do bairro
do Tambor em Campina Grande, na execução das ações de educação em saúde
operacionalizadas pelos mesmos, para melhorar a qualidade da explanação do
conteúdo abordado e facilitar a compreensão dos usuários e, consequentemente,
contribuir para uma melhor absorção do conteúdo trabalhado, beneficiando os
seus ouvintes no sentido de colaborar para a melhoria da sua qualidade de vida,
prevenção de doenças e promoção da saúde da população.
GRÁFICO_2 ' Instrumentos Utilizados Pelos Profissionais em Estudo para execução
das ações de educação em saúde: operacionalização/ instrumentalização.
No tocante aos instrumentos utilizados para a disseminação das informações de
educação em saúde, utilizados nas Unidades Básicas de Saúde da Família
avaliadas, observamos a diversidade de itens citados, apesar de entendermos que
outras alternativas também podem ser viáveis para a execução de trabalhos dessa
natureza.
No gráfico_2, observa-se que a maioria das ações de educação é mediada pelos
profissionais de saúde, cuja instrumentalização se dá através de recursos áudio
visuais que facilitam a compreensão do assunto abordado pela plateia, além de
contribuir para o esclarecimento de dúvidas, tais como: cartazes, com quase
89%, seguido de folhetos educativos com um pouco mais de 61% e álbum seriado
com o mesmo percentual, vídeos didáticos com mais de 44%, cartilhas com quase
30% e outras formas de instrumentalização, como debates e conversas individuais
ou coletivas e ainda dinâmicas recreativas, com quase 28% da preferência dos
profissionais questionados para disseminação de informações. Vale salientar que
numa mesma ação educativa, vários instrumentos podem estar envolvidos o que
justifica as altas porcentagens de escolha para várias formas de
instrumentalização.
Muitas pessoas acreditam, erroneamente, que programas de Educação em Saúde se
limitam apenas à produção e distribuição de material escrito e de audiovisuais
mas não podemos nos deter a esse julgamento, pois como bons profissionais de
saúde, devemos buscar novas alternativas de instrumentalização, para melhorar
ainda mais o nosso trabalho em educação (Rice e Candeias, 1989).
Os mesmos autores ainda corroboram ao afirmarem que as discussões Técnicas da
Organização Pan- Americana da Saúde referem a necessidade de aceitar novos
enfoques e de propor novas estratégias para integrar a educação e a
participação comunitária nas atividades assistênciais primárias em saúde. Além
disso, mostram a necessidade de mudanças e de ajustamento nas estruturas
vigentes dos serviços de saúde, recorrendo ao raciocínio político que
fundamenta teórica e praticamente a participação comunitária.
A educação em saúde pode e deve ser executada em qualquer ambiente como
enfermarias, consultórios, salas de aula, grupo terapêutico, unidades de saúde,
salas de espera e outros, desde que haja um propósito e ambiente propício
(Silva, 2005).
Para a realização de ações importantes de educação em saúde não é
necessariamente obrigatório o uso de vídeos e de outros materiais sofisticados
de multimídia ou metodológicos. Se estes não estão disponíveis, a troca de
ideias poderá ser enfatizada a partir da utilização de gravuras, recortes de
jornal ou revista, materiais acessíveis na rotina de atendimento (por exemplo,
o instrumental para exame ginecológico), a seringa de insulina e acessórios e
amostra de cada contraceptivo disponível na unidade. O uso de materiais da
própria unidade podem ser recursos didáticos de ótima valia, pois o que mais
vale nesse tipo de estratégia é a criatividade que envolve as ações propostas e
o envolvimento do provedor com o seu público-alvo, desencadeando fatores
determinantes no sucesso das atividades de educação em saúde.
Então, apresentar as ações educativas constituídas por estes profissionais é de
suma importância, já que o processo de educação perpassa os muros das unidades
de saúde, atinge as casas dos usuários e de toda uma população interessada
sobre os assuntos abordados em cada ação realizada. Isso proporciona um
intercâmbio de informações úteis para cada indivíduo interessado, produzindo um
ciclo vicioso saudável.
O gráfico 3 retrata as principais dificuldades encontradas pelos profissionais
atuantes das Unidades Básicas de Saúde da Família I e II do bairro do Tambor em
Campina Grande, na implementação das ações de educação em saúde e
consequentemente na sua execução, limitando o desenvolvimento de novas
metodologias ou de novas ações educativas, que poderiam ser bastante úteis na
questão da prevenção das patologias e promoção da saúde da população.
GRÁFICO 3 ' Principais dificuldades encontradas pelos Profissionais de Saúde,
na Implementação das Práticas Educativas.
Sabe-se que educar não é uma tarefa fácil, pois perpassa a questão da
transmissão do conhecimento apenas como disseminação de informações, propondo
mudança de atitude, muitas vezes já incorporada aos hábitos das pessoas,
requerendo com isso um trabalho incessante e convincente, com as mínimas
condições de execução. Porém, nota-se que existem alguns empecilhos para que
esse trabalho flua de forma eficaz, como observado no gráfico 3, onde os
profissionais apontam inúmeras dificuldades em relação a esse tópico.
Observou-se que a ausência de uma área física adequada para a realização das
ações compromete, de forma direta, a execução eficaz das mesmas, isso associado
a escassez de material de apoio, contribui ainda mais negativamente nesse
sentido, evidenciando portanto a necessidade de investimentos na
infraestrutura, para tornar esse ambiente mais agradável, atrativo e adequado
para as atividades junto à comunidade.
Araújo (2010) reitera essa afirmação quando nos mostra que dentre as diversas
possibilidades de se executar ações educativas, a sala de espera é um dos
locais propícios a execução das mesmas, onde se torna possível abranger um bom
número de usuários ao mesmo tempo, prontos e ansiosos para receber um bom
atendimento. Na Estratégia Saúde da Família, transformar locais antes não
utilizados para tal finalidade, como a sala de espera por exemplo, em espaço de
estreitamento das relações e diálogo entre o idoso e o educador em saúde é de
suma importância, já que representa um local de aconchego, partilha e conversa
para os usuários, onde se pode estimular a humanização do atendimento,
proporcionar um ambiente de acolhimento, principalmente aos idosos e familiares
que utilizam os serviços de saúde.
Assim, a prática educativa pode existir em todas as relações que envolvam
saúde, sejam elas terapêuticas ou preventivas, individuais ou grupais,
intencionais ou não intencionais, independente de onde aconteçam, na sala de
espera, no consultório, em rodas de conversa ou em grupos direcionados.
Outra dificuldade de grande relevância é a falta de participação da população e
a falta de interesse devido a outras prioridades como a busca pelo atendimento
apenas curativo, que ainda se encontra embutido na cabeça das pessoas, como
sendo a forma mais eficaz de promoção da saúde, o que provoca uma resistência
dos mesmos à participação nas ações de educação, contribuindo para ineficiência
do processo. Necessitando, assim, estimular ainda mais a participação de todos
e as divulgações das ações, buscando, desta forma, maior frequência às
atividades propostas.
Vale salientar que a alta demanda de atendimentos nas unidades provoca barulhos
externos que dificultam a escuta das informações e dispersa a atenção do grupo,
uma vez que essas ações acontecem de forma conjunta com outras ações de caráter
curativo ou atendimentos individuais.
Porém, é importante destacar que, apesar de todas as dificuldades apontadas
pelos profissionais de saúde no tocante à realização de práticas educativas,
não houve nenhum desapontamento em relação à quantidade de cadeiras
disponibilizadas pela prefeitura municipal, não sendo empecilho para a execução
das mesmas, além de se notar que os questionados se sentem aptos a executar
tais tarefas, negando a falta de habilidade por parte dos profissionais para o
trabalho em grupo, relevando timidez e inibição para o desenvolvimento dessas
tarefas.
Bustorff et al. (2011) acrescentam que para que a Educação em Saúde se torne
uma prática regular é necessário o investimento na infraestrutura, na
qualificação e simplificação dos materiais didáticos, estímulos à participação
da comunidade, por meio de veículos de massa, como também pela atuação do
agente de saúde do Programa de Saúde da Família (PSF) e principalmente a
qualificação do educador, por treinamento desse profissional, bem como todos os
integrantes da Unidade de Saúde. Percebe-se, assim, que o uso judicioso da
educação em saúde provê subsídios adequados para atuar diretamente junto da
população, incentivando uma nova postura frente ao autocuidado, promovendo
melhoras significativas na qualidade de vida das pessoas, utilizando o Programa
de Saúde da Família, como local singular para a efetivação dessas práticas.
Incorporando esse raciocínio, onde as dificuldades são iminentes e se
transfiguram nas insatisfações dos profissionais de saúde, a instrumentalização
metodológica da educação em saúde na Estratégia Saúde da Família torna-se um
ponto de fundamental importância para a melhoria da qualidade de vida da
população. É, certamente, um desafio constante para a equipe de educadores em
saúde, pois precisa ser atrativa, diferenciada e prender a atenção dos usuários
sobre a temática exposta. Cabe ao profissional de saúde, engajado nessa
perspectiva, detectar as principais necessidade da sua população idosa e traçar
objetivos, determinando o tema a ser trabalhado, o material a ser utilizado
como insumo e os mecanismos metodológicos para a sua viabilização.
A seguir, o gráfico 4 avalia sob a ótica dos profissionais atuantes nas
Unidades Básicas de Saúde da Família I e II do bairro do Tambor em Campina
Grande, o nível de compreensão dos assuntos abordados nas ações de educação em
saúde operacionalizadas, para que se trace o desempenho desses colaboradores na
questão da transmissibilidade ideal, que deve permear toda e qualquer
explanação, para que os ouvintes consigam captar as ideias principais a serem
inferidas e repassá-las da forma correta para outros indivíduos, proporcionando
a multiplicação das informações, que devem sair do local especifico da execução
da ação e chegar até as casas das pessoas e, consequentemente, nas suas vidas,
contribuindo assim para a melhoria da sua qualidade de vida.
GRÁFICO 4 ' Percepção dos Profissionais entrevistados acerca da Compreensão
Adequadas das Informações Transmitidas nas Práticas Educativas:
Compreensibilidade/transmissibilidades.
Quanto à compreensão adequada das informações transmitidas pelos profissionais
de saúde, pela população atendida, realizadas a partir das atividades
educativas executadas nas Unidades Básicas de Saúde da Família, notamos que a
maioria, 15 dos abordados, acredita que sim, a população compreende
corretamente as informações passadas através das ações educativas, não citando
nenhum fator que leve à falta de entendimento. Enquanto, apenas um profissional
refere que não há uma boa compreensão dos usuários às informações passadas nas
ações de Educação em Saúde.
Já para um dos entrevistados, as informações são pouco compreendidas pelos
indivíduos participantes das atividades educativas, o que dificulta a
aprendizagem e absorção das informações repassadas, repercutindo de forma
direta nas suas ações quotidianas em relação à promoção da sua própria saúde,
não obstante, o restante dos entrevistados, ou seja, um único participante não
se manifestou em relação a este item pesquisado.
Diante desse panorama, cabe aos profissionais de saúde, minimizar esses efeitos
para que se obtenham resultados satisfatórios neste sentido, uma vez que a
transmissão da informação de forma a ser bem compreendida é importantíssima
para que as questões repassadas possam ser seguidas da forma correta e
apresentarem efeitos positivos de feedback, proporcionando uma maior interação
entre os profissionais de saúde e a coletividade.
Reiterando a posição da educação em saúde como mecanismo de troca e parcerias,
Levy et al. (2004), remetem ao facto de que a veiculação de qualquer conteúdo
educativo dá-se mediante a comunicação, esta por sua vez caracteriza-se como um
processo de troca de mensagens entre duas ou mais pessoas envolvidas no
processo. Neste sentido, independentemente da forma como se processe a ação
educativa, seja ela individualmente ou em grupos, necessita-se, portanto, de um
transmissor ou emissor e de pelo menos um receptor para que a comunicação se
efetive, ou seja, ela deve acontecer visando um determinado destinatário ou
público, num processo que ocorre através de um meio, denominado canal e esse
meio deve ter duas vias, uma para levar a informação e ser recebida de maneira
eficiente e outra para trazer a informação do usuário, resultante das suas
experiências de vida.
Para que a Educação em Saúde se torne bem-sucedida e tenha uma repercussão
satisfatória, atingindo todos os objetivos, precisa-se contar com técnicos
altamente qualificados, através de treinamentos de educação continuada, que
possam garantir a implementação das melhores soluções e procedimentos
possíveis, para que sejam orientados, também outros profissionais da saúde
quanto às ações mais eficazes e com maior probabilidade de êxito.
Enfim, sabemos que há necessidade imediata de treinamento dos indivíduos
envolvidos na prática da educação em saúde, principalmente em relação às
metodologias utilizadas para o planejamento, educação e comunicação,
implementação, supervisão, administração, acompanhamento e avaliação, já que
são etapas imprescindíveis no processo educativo e que não podem conter falhas,
senão corre o risco de não satisfazer as necessidades imediatas propostas no
início do trabalho, contribuindo de forma direta para a ineficiência do
processo.
Também é necessário saber aplicar essas técnicas e metodologias, adaptando-as a
cada grupo trabalhado e trabalhando-as de acordo com as peculiaridades do
ambiente, para que possam ser melhores compreendidas pela população alvo e,
consequentemente, trazendo resultados mais satisfatórios para a melhoria da
qualidade de vida dos usuários envolvidos no processo e maior satisfação dos
profissionais executantes.
Conclusão
No âmbito da atenção básica, as ações de educação em saúde são utilizadas como
ferramentas essenciais para incentivar os usuários a readquirirem a sua
autoestima e o autocuidado, a partir de reflexões que levem à mudança de
comportamento. A Educação em Saúde reflete-se como uma estratégia promissora na
conscientização e participação social, como meio para se atingir os fins de
promoção da saúde numa visão geral e não apenas na prevenção ou meramente na
cura das enfermidades, baseando-se na confiança entre o profissional de saúde
que atende e o usuário que é atendido.
Dentro do que foi exposto, acreditamos que a Estratégia de Saúde da Família
oferece uma excelente oportunidade para o desenvolvimento de atividades dentro
dessa perspectiva, a fim de proporcionar às pessoas uma forma de vida mais
saudável, juntando esforços no sentido de se atingir o potencial máximo da
saúde da população.
A análise criteriosa dos dados captados respondeu aos objetivos traçados para a
execução desse trabalho: identificar e analisar as ações de educação em saúde,
aplicadas pelos profissionais das Unidades Básicas de Saúde da Família do
bairro Tambor, ressaltando os conceitos e valores da educação em saúde para a
sua promoção e prevenção; identificar as ações efetivas de educação
desenvolvidas e apresentar a importância da atuação dos profissionais de saúde
neste contexto, para a promoção da saúde e para a melhoria da qualidade de vida
da população, pois permitiram conhecer um pouco mais sobre a prática educativa
voltada para a comunidade, inerentes ao processo de trabalho dos profissionais
envolvidos nesse estudo, retratando a situação real dessa prática na Estratégia
Saúde da Família e como esses profissionais conseguem lapidá-la e transformá-la
em mecanismo de ação e transformação.
Diante dos objetivos traçados para este estudo, e a partir da análise do
material coletado na pesquisa, evidenciou-se a necessidade da Educação em Saúde
se tornar uma prática regular na atenção básica, principalmente quando
direcionada aos idosos, parcela da população que cresce exponencialmente e
precisa de uma atenção diferenciada, devido às peculiaridades inerentes ao
avançar da idade.
Sendo assim, torna-se essencial a sistematização do componente Educação em
Saúde, pelas equipes da ESF, aplicando uma metodologia de educação popular,
através da formação de grupos de interesses comuns, oportunizando discussões
com a comunidade e promovendo a aproximação dos profissionais com os movimentos
sociais.
Portanto, cabe às equipes de saúde que atuam nas Unidades Básicas de Saúde da
Família do bairro do Tambor juntamente com a Secretaria de Saúde do Município,
não só oferecer subsídios para o atendimento especializado, mas oferecer todas
as condições viáveis e necessárias para o preparo desses atendimentos, ou
melhor, da coletividade, na luta pelo seu direito à saúde, a partir de ações
mediadoras para o melhor entendimento das suas condições de vida que possam
interferir no processo saúde-doença.Em relação às experiências dos
profissionais de saúde que trabalham na perspectiva de educação em saúde na
Estratégia Saúde da Família, percebeu-se que na prática há inúmeras
fragilidades presentes na atenção à saúde dos usuários e que muito pode ser
feito para melhorar as questões que permearam este estudo, como: investimentos
mais significativos na infraestrutura das áreas disponíveis, na qualificação
dos profissionais de saúde em relação ao tema abordado e qualidade dos
materiais didáticos disponibilizados para a execução de práticas educativas,
além da promoção de estímulos a participação e frequência da comunidade nas
ações propostas, por meio de veiculação de massa, como também pela atuação mais
preparada dos agentes comunitários de saúde da Estratégia Saúde da Família, que
precisam participar de treinamentos contínuos e específicos. Para tanto, é
necessário que se mantenha uma relação facilitadora, através de educação
continuada dos profissionais treinadores que repassarão todos os ensinamentos
para os demais participantes do processo.
Neste contexto, observa-se a importância de se adicionar às equipes básicas de
saúde da família outros profissionais, que contribuirão para a promoção da
saúde dos usuários diante das suas capacidades individuais profissionais,
promovendo a interdisciplinaridade, a exemplo do psicólogo, do nutricionista,
do fisioterapeuta e do educador físico, seja pelo valor de cada um dentro do
tratamento especifico, seja pela necessidade de se educar a população de forma
holística, para a conscientização da necessidade de mudança de hábitos de vida,
no que se refere à prevenção de danos e promoção do bem-estar geral.
As ações de educação em saúde remetem ao incentivo dos usuários em vários
sentidos, como a introdução na sua vida diária de uma nova postura frente o
autocuidado, promovendo melhoras bastante significativas no tocante à qualidade
de vida e adaptação da vida em coletividade, melhorando também a relação com
seus familiares e/ou cuidadores, que mantém vínculos diários com os mesmos,
sempre beneficiando com os Programas de Saúde da Família, como estratégia
singular para a efetivação dessas práticas.
Entretanto, muito pode ser feito para melhorar ainda mais as questões que
permearam este estudo, como investimentos nos profissionais da área de saúde em
relação às questões metodológicas, a partir de treinamentos especializados,
para a execução das ações de educação, maior incentivo governamental para
distribuição de material didático de boa qualidade, para garantir melhor
aproveitamento das orientações repassadas, entre outros requisitos que possam
suprir lacunas existentes, no que diz respeito ao assunto abordado.
Então, as inferências aqui apresentadas servirão de estímulo para todos os
profissionais de saúde que realizam, efetivamente, ações educativas
direcionadas para todos aqueles que delas necessitam, com o intuito de
contribuir com futuras discussões acerca das práticas das equipes de saúde
inseridas na Estratégia Saúde da Família e compreender o papel que cada um,
enquanto protagonistas dessa história, e o que realmente representam no
processo de construção da saúde, e assim possam assumir uma postura
diferenciada, concretizadora de práticas humanizadas, e direcionadas a melhoria
da qualidade de vida da população.