Home   |   Structure   |   Research   |   Resources   |   Members   |   Training   |   Activities   |   Contact

EN | PT

EuPTCVHe0874-02832012000200004

EuPTCVHe0874-02832012000200004

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0874-0283
Year2012
Issue0002
Article number00004

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.

A inteligência emocional em enfermeiros responsáveis por serviços hospitalares

Introdução A inteligência emocional tem um papel de destaque cada vez maior dentro de um hospital, potenciando um trabalho mais flexível, em equipa, com unidades semiautónomas.

Goleman (2009) advoga que é impossível separar a racionalidade, das emoções, sendo estas que fundamentam o sentido da eficácia das decisões, a partir do seu controlo. Esta situação torna-se assim um elemento importante na otimização dos níveis de desempenho profissional.

Inteligência Emocional e Razão Em 1995, Goleman apresenta o conceito de inteligência emocional como sendo () a capacidade da pessoa se motivar a si mesma e persistir a despeito das frustrações; de controlar os impulsos e adiar a recompensa; de regular o seu próprio estado de espírito e impedir que o desânimo subjugue a faculdade de pensar; de sentir empatia e de ter esperança (p. 323). Mais tarde, em 2000, o autor reformula a sua definição escrevendo que a inteligência emocional é () a capacidade de reconhecer os nossos sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerirmos bem as emoções em nós e nas nossas relações (Goleman, 2005, p. 323).

Em suma, o processo de tomada de decisão envolve dois mecanismos complementares, sendo um deles de natureza cognitiva e outro de natureza emocional e sentimental. Encontramo-nos, conforme refere Damásio (2003), perante a evidência cada vez maior de que a capacidade de decisão, especialmente em situações de incerteza, é fortemente influenciada pelas vivências emocionais e sentimentais de uma pessoa, estando os planos cognitivos e emocionais fortemente interligados.

Como referido, a inteligência emocional pressupõe um conjunto de competências emocionais e sociais, que poderão ser adquiridas ao longo da vida. De acordo com Goleman (2005), cada uma contribui para a formação de um líder eficiente.

Não obstante, um líder não tem de possuir todas as competências, mas, os mais eficazes dominam pelo menos uma das competências de cada domínio da inteligência emocional.

Assim, tendo por base o modelo de inteligência emocional defendida por Goleman, podemos identificar as seguintes competências (quadro I).

Quadro I - Competências do Modelo das Competências Emocionais de Goleman

Segundo Goleman, a autoconsciência é a primeira capacidade determinante para as restantes destrezas. A autoconsciência e a autoavaliação tornam-se assim capacidades importantíssimas nos líderes. É verdade que um elemento genético da inteligência emocional, mas a aprendizagem também tem um papel (Goleman, Boyatzis e McKee, 2003).

Segundo os autores supracitados, o desenvolvimento das competências emocionais, ajuda a: resolver problemas e conflitos na organização, gerar ideias, conduzindo a um melhor desempenho.

A Inteligência Emocional e a Enfermagem Os enfermeiros portugueses, como noutros países do mundo ocidental, enfrentam cada vez maiores desafios, relacionados com a complexidade das situações de saúde e doença que exigem uma abordagem interdisciplinar, que extravasa a área da saúde e que obriga a um verdadeiro trabalho de equipa () para contornar obstáculos internos e externos à organização onde desenvolvem a sua atividade (Santos, Duarte e Subtil, 2004, p. 4).

Neste sentido, Simpson e Keegan (2002) afirmam que são os enfermeiros que melhor conhecem o poder da interação humana e frisam que o contacto (high- touch), ao contrário da alta tecnologia (high-tech)), constitui o fundamento de um conjunto de competências inerentes à enfermagem.

No contexto da prática de enfermagem hospitalar, o principal ator das equipas é o enfermeiro-chefe (Dias, 2005). Segundo este autor, o enfermeiro-chefe é um elemento fundamental, é líder e motivador dos seus colaboradores. No entanto, os melhores líderes não o são pela posição que ocupam, mas antes porque se distinguem pela capacidade de relacionamento (Goleman, Boyatzis e McKee, 2003).

Loureiro et al. (2008) afirmam que a dedicação e entrega ao trabalho desvanecem quando o local de trabalho é perspetivado como hostil, excessivamente exigente tanto económica como psicologicamente, desenvolvendo-se uma crescente exaustão emocional, psíquica e espiritual, conduzindo a um não envolvimento em demasia no contexto laboral.

Assim, no contexto de trabalho dos enfermeiros, onde as exigências ao nível das emoções e da empatia por parte dos profissionais é grande, torna-se fundamental a capacidade de ressonância dos líderes, capazes de criar ambientes de trabalho favoráveis à otimização dos ganhos em saúde. Num estudo desenvolvido por Dias (2005), sobre o estilo de liderança que permite ao enfermeiro-chefe otimizar o desempenho, concluiu-se que o enfermeiro-chefe que mantém uma elevada consideração pelos sentimentos e emoções dos enfermeiros, revela ser o mais facilitador da interação do grupo para atingir os objetivos.

Desta maneira, as investigações existentes mostram que os estilos de liderança dos enfermeiros-chefes influenciam a motivação para o trabalho, o que nos leva a crer que um líder pode ser enfermeiro-chefe mas, ao contrário, um enfermeiro- chefe pode não ser líder, e assim os com níveis mais elevados de inteligência emocional poderão apresentar melhores desempenhos profissionais.

Diante desta realidade, entendemos que a preparação dos profissionais de saúde, sobretudo daqueles que se ocupam de funções de gestão, é essencial para a prática, aplicando o conceito de competência emocional.

Metodologia A opção metodológica que orientou este estudo foi uma abordagem quantitativa, descritivo-correlacional.

Tendo como objetivo geral identificar a inteligência emocional dos enfermeiros responsáveis por serviços hospitalares, foi definido o seguinte objetivo para este estudo: Identificar quais as competências de inteligência emocional mais evidentes nos enfermeiros responsáveis por serviços hospitalares.

Formuladas as seguintes hipóteses: relação entre o género dos enfermeiros e a sua capacidade de inteligência emocional.

relação entre o tempo de exercício profissional dos enfermeiros e a sua capacidade de inteligência emocional.

relação entre a idade dos enfermeiros e a sua capacidade de inteligência emocional.

relação entre a categoria profissional dos enfermeiros e a sua capacidade de inteligência emocional.

relação entre tempo de chefia dos enfermeiros e a sua capacidade de inteligência emocional.

Partindo do princípio que os itens da escala Veiga Branco (2004), as capacidades de inteligência emocional traduzem as cinco capacidades enunciadas por Goleman, em 1995, prosseguiremos o estudo no sentido de correlacionar no global as capacidades de inteligência emocional dos enfermeiros-chefes ou enfermeiros especialistas responsáveis do serviço.

Amostra Aplicamos o questionário em 8 unidades hospitalares da região norte e centro do país, totalizando 153 enfermeiros responsáveis por serviços hospitalares.

Foi eliminado um questionário por se encontrar incorretamente preenchido, convertendo assim, a amostra do estudo em 153, representando 63,2% da população-alvo, o que nos leva a considerar que, no global, a recetividade dos enfermeiros ao estudo foi boa.

Instrumento de recolha de informação? O instrumento de recolha de dados utilizado foi um questionário de questões fechadas (na sua grande maioria) constituído por duas partes, a primeira para caracterização do participante no estudo, a segunda constituída pela escala das capacidades de inteligência emocional de Veiga Branco (2004), a qual os enfermeiros-chefes ou enfermeiros-especialistas responsáveis de serviço deveriam responder segundo a sua autopercepção.

Todos os itens das escalas foram analisados fatorialmente, utilizando o valor próprio de um como critério para retenção dos fatores. Ambas as soluções foram rodadas ortogonalmente empregando o procedimento Varimax. A consistência interna (homogeneidade dos itens) foi avaliada utilizando o coeficiente Alpha de Cronbach.

A análise fatorial feita com a amostra = 153 enfermeiros-chefes e enfermeiros- especialistas em componentes principais da escala de capacidades de inteligência emocional evidenciou a existência de cinco fatores (coincidentes com os do autor da escala) que explicam, no conjunto, 40,49% da variância total, podendo considerar-se boa (tabela I).

TABELA I Estatísticas descritivas dos resultados da escala de capacidades de inteligência

No seu conjunto, os índices de consistência interna obtidos para o global da escala (tabela II) podem ser considerados muito bons (a=0,907), quanto às suas subescalas, os valores oscilaram entre um mínimo de 0,724 (autoconsciência) e um máximo de 0,862 (gestão de relacionamentos em grupos).

TABELA II Consistência interna total e por subescala da escala de inteligência emocional

A aplicação desta escala à amostra de enfermeiros parece não apresentar diferenças conceptuais significativas relativamente à dos professores (Veiga Branco, 2004).

Assim, podemos considerar que o modelo teórico e a análise anteriormente feita (através da validação da escala em professores) apresentam sintonia e concordância com as respostas dos enfermeiros.

Tratamento dos dados Os dados foram tratados no programa de tratamento estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), na versão 17,0.

O tratamento estatístico efetuou-se a dois níveis: estatística descritiva e inferencial.

Com a finalidade de selecionar os testes de hipóteses recorreu-se ao teste de Kolmogorov-Smirnov com a correção de Lilliefors, para todos os instrumentos utilizados (tabela III). Dado que o nível de significância obtido para todas as escalas foi superior a 0,005, aceita-se a hipótese da sua distribuição ser normal. Em seguida foi aplicado o Teste de Homogeneidade das Variâncias, cujo valor foi superior ao nível de significância, portanto, não existindo evidências estatísticas suficientes para afirmar que as variâncias são diferentes, é assumida a igualdade das variâncias, sendo o valor prova inferior a 0,001.

TABELA III Resultados do teste de normalidade para a escala utilizada

Mediante estes resultados, e a dimensão da amostra (n=153), elegemos para o nosso estudo a utilização de testes estatísticos paramétricos. Os testes escolhidos foram: Correlação de Pearson, teste t de Student para diferença de médias com grupos independentes.

O nível de significância utilizado no nosso estudo foi de 0,05 (p<0,05).

A maioria é do sexo feminino (n=106; 69,3%), traduzindo a tendência histórica da profissão de enfermagem ainda vigente.

No que diz respeito às idades dos enfermeiros-chefes e enfermeiros- especialistas responsáveis do serviço da nossa amostra, verificamos que as idades mais representativas estão compreendidas entre os 46 e 55 anos (n=77; 50,3%).

Quanto ao tempo de exercício profissional dos enfermeiros em estudo, a maior parte dos enfermeiros (n=59; 38,6%) exercem funções 26 ou mais anos.

Analisando a amostra em estudo quanto à categoria profissional, verificamos que a maioria (n=75; 49,0%) são enfermeiros-chefes, face a 41,8% que são especialistas (n=64), 14 (9,2%) dos inquiridos não responderam à questão. Estes resultados encontram-se em conformidade com a nova carreira (Dec. Lei n.º 248/ 2009), onde existe grande proximidade, relativamente à área de gestão.

Em relação ao tempo de exercício como enfermeiro- -especialista, a maior parte (n=48; 31,4%) tem um tempo de exercício de 5 ou menos anos. Importa referir que estes dados são plausíveis com o facto de terem existido dois períodos em que a formação de especialistas era muito reduzida, entre 2000-2002 e 2003-2005, conforme dados estatísticos da Ordem dos Enfermeiros (2010), e posteriormente, passou a existir maior número de cursos, em quase todas as escolas, causando um grande aumento de especialistas.

No que concerne à especialização adquirida, constatou-se que a maior parte possui o curso de especialidade em enfermagem de reabilitação (n=41; 26,8%), seguindo-se os de enfermagem médico-cirúrgica (n=36; 23,5%), dos de saúde mental (n=29; 19%), saúde infantil (n=23; 15%), saúde materna (n=20; 13,1%). De salientar que apenas 2,6% (n=4) têm a especialidade de enfermagem comunitária.

A interpretação destes resultados poderá justificar-se pelo facto do estudo ser aplicado em contexto hospitalar, onde a vertente médico-cirúrgica é primordial e pelo facto das articulações entre os hospitais e os cuidados de saúde primários ainda serem muito deficitários.

A maioria dos enfermeiros do nosso estudo (n=132; 86,3%) possui o grau académico de licenciatura. Neste sentido, convém recordar que a enfermagem sofreu nos últimos anos um aumento progressivo de exigência relativamente à formação académica, pelo que era de esperar grandes assimetrias a este nível, ao compararmos com os enfermeiros que apenas possuem o bacharelato (n=5; 3,3%).

Contudo, ainda se verifica uma percentagem baixa de enfermeiros com mestrado (n=16; 10,4%) e somente 3 (2%) com formação pós-graduada (2 em Administração e 1 em Pedagogia da Saúde). O reduzido número de enfermeiros com mestrado pode ser compreendido pela integração tardia, da licenciatura, no sistema educativo nacional (1999), ou seja, bem como o início de mestrados para enfermeiros (Marques, 2005).

Discussão As capacidades de inteligência emocional nos enfermeiros em estudo (avaliado pela escala das capacidades de inteligência emocional de Veiga Branco, 2004), conforme a tabela IV, permite-nos observar os valores médios obtidos para as cinco subescalas (autoconsciência, gestão de emoções, automotivação, empatia e gestão de relacionamentos em grupos). Assim, os enfermeiros apresentavam um valor médio de 358,06, para o global da inteligência emocional, sendo a linha de corte de 340, o que corresponde a média possível, podemos afirmar que os enfermeiros em estudo têm capacidades moderadas de inteligência emocional.

TABELA IV Estatísticas descritivas dos resultados da escala de capacidades de inteligência emocional

Após a análise descritiva dos dados procedemos ao teste das hipóteses formuladas, recorrendo à estatística inferencial.

Com a finalidade de verificar se diferenças entre o género masculino e o feminino em termos de capacidade de inteligência emocional, formulou-se a seguinte hipótese: H1: relação entre o género dos enfermeiros e a capacidade de inteligência emocional.

No estudo, podemos verificar que os homens obtiveram valores médios mais baixos para a inteligência emocional no global. Contudo, devemos salientar uma grande semelhança entre todos os valores médios obtidos para todas as subescalas (tabela V).

TABELA V Resultado da aplicação do teste t para amostras independentes, relativamente a capacidade de inteligência emocional e o sexo dos enfermeiros

Apesar das ligeiras diferenças verificadas nos estudos de Goleman, em geral, existem muitas semelhanças entre homens e mulheres (Goleman, 2005).

De forma a estudar a relação entre o tempo de exercício profissional e a inteligência emocional dos enfermeiros-chefes ou enfermeiros-especialistas responsáveis de serviço, formulou-se a seguinte hipótese: H2: relação entre o tempo de exercício profissional dos enfermeiros e a capacidade de inteligência emocional.

Ao relacionarmos o tempo de exercício profissional dos enfermeiros e a inteligência emocional (correlação de Pearson), concluímos que, a correlação é positiva e moderada para o global da escala e para todas as suas dimensões.

Sendo que essa correlação é estatisticamente significativa (para um nível de significância de 0,05) para o global da escala e para todas as subescalas à exceção de empatia (tabela VI). O que nos leva a aceitar a hipótese: relação entre o tempo de exercício profissional dos enfermeiros e a capacidade de inteligência emocional, com exceção da empatia, ou seja, quanto mais tempo de serviço, mais capacidades de inteligência emocional, à exceção da capacidade de empatia, onde não se verifica relação.

TABELA VI Resultados estatísticos relativos à aplicação do Coeficiente de Correlação de Pearson, a inteligência emocional e ao tempo de exercício profissional dos enfermeiros-chefes enfermeiros-especialistas

Para Cadman e Brewer (2001), a empatia é a base da relação terapêutica, logo não poderia ser exceção para os enfermeiros. Se esta capacidade é limitada, ou nem sequer existe, e se não existe capacidade de sentir as necessidades ou o sofrimento do outro, então não pode existir relação terapêutica. No estudo efetuado por Bachman et al. (2000), foi igualmente verificado que os profissionais com níveis mais elevados de inteligência emocional apresentavam melhor desempenho profissional, com exceção para a componente empática, contudo estes dados, para os autores, significava que níveis elevados de empatia podiam conduzir a uma simpatia prejudicial e uma excessiva identificação com o utente, deixando o profissional mais vulnerável.

Com a finalidade de estudar a relação entre a idade dos enfermeiros e a sua capacidade de inteligência emocional elaborou-se a hipótese 3: H3: relação entre a idade dos enfermeiros e a sua capacidade de inteligência emocional Ao relacionarmos a idade dos enfermeiros com a sua capacidade de inteligência emocional (correlação de Pearson), em termos gerais (tabela VII), observa-se uma tendência para a idade dos enfermeiros se correlacionar de forma positiva com a sua capacidade de inteligência emocional, ou seja, consoante aumenta a idade dos enfermeiros estes tendem a evidenciar uma maior capacidade de inteligência emocional, sendo essa relação muito significativa (r=0,278; p=0,001). O mesmo se verifica em relação às subescalas: auto-consciência (r=0,194; p=0,018), gestão de emoções (r=0,214; p=0,008), automotivação (r=0,245; p=0,003), e gestão de relacionamentos em grupos (r= 0,175; p=0,033).

Assim, aceitamos a terceira hipótese de investigação, com excepção da subescala empatia, tal como se verifica relativamente ao tempo de exercício profissional.

TABELA VII Resultados estatísticos relativos à aplicação do Coeficiente de Correlação de Pearson, a capacidade de inteligência emocional e a idade dos enfermeiros

Goleman (2005) refere que ao contrário do quociente de inteligência, que pouco muda após a adolescência, a inteligência emocional é assimilada e continua a desenvolver-se ao longo da vida, à medida que aprendemos com as nossas experiências. Este dado revela-se importante pois, segundo Sprinthall (1980, citado por Veiga Branco, 2004), o sucesso na vida está mais relacionado com a maturidade psicológica do que propriamente com a realização escolar obtida.

De forma a estudarmos a relação entre a categoria profissional e a capacidade de inteligência emocional, formulou-se a seguinte hipótese: H4: relação entre a categoria profissional dos enfermeiros e a sua capacidade de inteligência emocional.

Pela leitura e análise da tabela VIII, que compara a categoria profissional dos enfermeiros e a sua capacidade de inteligência emocional, verificamos que os enfermeiros-chefes apresentavam (no global) um valor médio mais elevado ( =367,79) do que os enfermeiros-especialistas ( =349,08), logo uma maior capacidade de inteligência emocional. Estas tendências mantêm-se em todas as subescalas.

TABELA VIII Resultado da aplicação do teste t para amostras independentes, relativamente à capacidade de inteligência emocional e à categoria profissional dos enfermeiros

A fim de testarmos a quarta hipótese e, desta maneira, verificarmos se existe ou não diferença significativa entre a categoria profissional dos enfermeiros e a sua capacidade de inteligência emocional, utilizámos o teste t de Student para diferença de médias, com grupos independentes, que identificou a existência de diferença significativa (p<0,05) no global da escala e nas suas subescalas autoconsciência, empatia e gestão de relacionamentos em grupos, o que nos permitiu concluir que se confirma parcialmente a quarta hipótese.

Segundo Diogo (2006), o enfermeiro vai assim desenvolvendo modos de lidar com a experiência emocional no decurso da sua experiência profissional. A própria maturidade constrói-se com a formação específica, experiência e com as vivências que vão servindo de referência a situações posteriores.

Com a finalidade de sabermos se existe relação entre o tempo de chefia e a capacidade de inteligência emocional, formulou-se a seguinte hipótese: H5: relação entre tempo de chefia dos enfermeiros e a sua capacidade de inteligência emocional.

Ao relacionarmos o tempo de chefia dos enfermeiros e a sua capacidade de inteligência emocional (correlação de Pearson), observa-se um coeficiente de correlação de intensidade baixa e negativa no global da escala e nas suas subescalas autoconsciência, gestão de emoções e gestão de relacionamentos em grupos e intensidade igualmente baixa e positiva nas subescalas automotivação e empatia (tabela IX). Essas diferenças encontradas não são estatisticamente significativas (p>0,05). O que nos leva a rejeitar esta quinta hipótese de investigação.

TABELA IX Resultados estatísticos relativos à aplicação do Coeficiente de Correlação de Pearson, a capacidade de inteligência emocional e ao tempo de chefia dos enfermeiros

Segundo Goleman, Boyatzis e McKee (2003) quanto mais o líder, com insuficiente preparação para lidar com as emoções (a nível intra e interpessoal), sobe na escala hierárquica, existindo uma falta de acesso às opiniões dos outros, mais este se afasta dos seus subordinados, o que dificulta a sua avaliação. A inteligência emocional como também a liderança é vista como uma área onde é necessário formação própria e habilidades especiais.

Seguidamente são apresentadas as conclusões do estudo.

Conclusão Os objetivos deste estudo não foram voltados para a inteligência como entidade, mas sim para o contributo que a capacidade de inteligência emocional bem gerida pode dar ao desempenho do sujeito, a nível intra e interrelacional.

Como principais dificuldades com que nos deparamos, ressaltam a grande diversidade de abordagens e modelos, bem como a opinião dos autores muitas vezes serem divergentes, dificultaram o sentido a dar ao estudo. Ainda, a grande variedade de terminologias não facilita a orientação metodológica.

Dado a escolha do estudo ter sido numa amostra não-probabilística por conveniência, os resultados não podem ser generalizados para a população dos enfermeiros-chefes e enfermeiros-especialistas em estudo.

Contudo, tendo em conta as limitações inerentes ao estudo, constata-se que os resultados poderão fornecer importantes contributos para os enfermeiros-chefes e enfermeiros-especialistas.

Segundo Goleman (2009), o principal objetivo de todo enfermeiro/líder consiste em ver a sua equipa a trabalhar com prazer e não por obrigação, prestando uma assistência de qualidade e promovendo o bem-estar do cliente, principal alvo de todo planeamento de uma estrutura hospitalar. Mas, todo esse planeamento depara-se com o autoritarismo da direção de algumas instituições que, por desconhecer o processo de enfermagem, não dão a devida importância aos projetos que lhe são apresentados por parte dos líderes de enfermagem ficando apenas no papel, frustrando os sonhos daqueles que vivem numa luta diária na ânsia de melhorar o processo de cuidar em enfermagem.

A enfermagem é hoje vista como uma área onde é necessário formação própria e habilidades especiais. Para poder lidar com o quotidiano em que o comportamento é adaptado à situação (liderança situacional), o enfermeiro precisa estar consciente da sua própria capacidade de inteligência emocional, do sistema (domínio do contexto organizacional) e da tarefa.

Os contextos formativos evoluíram bastante nos últimos anos, no entanto, os resultados deste estudo revelaram que os enfermeiros que obtiveram mais formação percecionaram com maior frequência a sua inteligência emocional face aos seus colaboradores. Estes resultados, por si, deveriam ser conhecidos, para sustentar a necessidade de colocar as entidades formativas no desenvolvimento e fundamentação da pertinência de preparação dos aspetos formativos emocionais.


Download text