Evolução dos comportamentos e do estado de saúde na passagem à reforma
Introdução
O envelhecimento traduz uma realidade do desenvolvimento humano cujo percurso
permanece conotado de uma forma pouco auspiciosa. Os efeitos biofisiológicos,
psicológicos, sociais e ecológicos a este processo associados são em grande
parte responsáveis por esta estigmatização. Contudo, ainda que dominante na
nossa cultura, esta representação social do envelhecimento tende a modificar-
se, e um dos mais evidentes contributos para que esta mudança de paradigma se
esteja a verificar é, sem dúvida, o crescente envelhecimento populacional ao
qual se assiste nas últimas décadas.
Com efeito, num quadro epidemiológico no qual se vive cada vez mais tempo e em
que esse tempo se repercute em acrescidas dificuldades de vivência, o efetivo
investimento em medidas que promovam um envelhecimento ativo torna-se cada vez
mais premente e, neste sentido, torna-se necessário intervir em acontecimentos
de transição que exponham os indivíduos a uma particular fonte de
vulnerabilidade.
A aposentação constitui um dos referidos acontecimentos. A sua ocorrência
sucede habitualmente no final da meia-idade e o seu desenvolvimento exige um
elevado esforço adaptativo à mudança por parte dos seus protagonistas (Melleis,
2010). As evidências empíricas assim o revelam e acrescentam ainda ser, direta
ou indiretamente, responsável por diversas alterações nas várias dimensões do
processo de envelhecimento humano (Belsky, 2001; Fonseca e Paúl, 2004; Fonseca,
2011).
Desconhecem-se, porém, quais são os efeitos que a referida vivência exerce nos
indivíduos em termos de saúde e mais especificamente naquela que é a sua
dimensão física. A exígua vigilância de saúde realizada na idade adulta e a
inexistência de evidências que revelassem as respostas adaptativas que os
indivíduos desenvolvem em saúde durante esta fase transicional foram algumas
das premissas que estiveram na base da formulação da questão de investigação:
Que evolução se verifica nos comportamentos e no estado de saúde dos
indivíduos no período de transição para a reforma?
Quadro teórico
A passagem à reforma é construto atribuído ao período de tempo que envolve o
processo de adaptação à mudança encetado pelo acontecimento de vida designado
de aposentação. Pode ser entendida como um evento, quando associada à descrição
de um acontecimento de vida que marca uma etapa do ciclo vital a partir da qual
as vivências dos indivíduos se manifestam de forma inevitavelmente diferentes
(Belsky, 2001); como um status, quando associada à aquisição de um novo
estatuto social (Fernández-Ballesteros, 2004) ou; como um processo, por
constituir um acontecimento de vida que implica a ocorrência de fenómenos de
transição-adaptação, que se reflectem em termos desenvolvimentais (Fonseca,
2004, p. 361). Trata-se de um processo de transição que envolve perdas e
ganhos, que desencadeia uma perceção ambivalente (sentimentos simultaneamente
positivos e negativos) e que, consequentemente, se faz acompanhar de algum grau
de stress, em função da causa e da motivação que estiveram na base da sua
ocorrência (Lachman, 2001). Assim, se a passagem à reforma foi desejada e
previamente programada, a perceção de stress será à partida menor do que quando
comparado com situações em que este evento se processou de forma inesperada e/
ou externa à vontade dos indivíduos que a protagonizam (ex. reforma compulsiva,
reforma por despedimento). Também a satisfação que detinham relativamente ao
trabalho que exerciam e a satisfação com que perspetivavam a chegada da
reforma, poderão exercer influência na forma como estes se ajustam a esta nova
experiencia.
Todavia, uma vez instalada (a reforma), o indivíduo passa por diferentes fases
de adaptação neste processo de transição. Na perspetiva de Atchley (1996),
ainda que não haja um timing específico, uma ordem, ou uma obrigatoriedade de
experimentar todas elas, os indivíduos que se aposentam passam pela i) fase da
pré-reforma, na qual, na eminente perspetiva de ocorrência deste acontecimento,
começam a fazer a sua despedida do mundo do trabalho e, dependendo do tempo e
das expectativas individuais, realizam alguma preparação para esta transição;
ii) fase da lua-de-mel, na qual tentam colocar em prática todas as expetativas
positivas e projetos que tinham interiorizado durante o exercício profissional
(ex.: passar a realizar mais exercício físico, conviver mais com os amigos,
viajar); iii) fase do desencanto, na qual, na impossibilidade de realizar os
projetos idealizados, esta perceção se traduz num certo descontentamento,
podendo manifestar-se em estados de impotência e de depressão; iv) Fase de
estabilidade, quando passam a encontrar estratégias adaptativas que deem
resposta a um certo equilíbrio na sua vivência. Mas independentemente do
percurso adaptativo que os indivíduos aposentados desenvolvam, parece
consensual ( ) que se trata de uma ocorrência que comporta ganhos e perdas e
cujo resultado final em termos adaptativos dependerá muito quer de fatores
eminentemente individuais (história de vida, saúde, estilo de vida, padrão de
ocupação do tempo extra profissional, etc.) quer, da relação do indivíduo com
os contextos envolventes (relações de convivência, família, inserção social,
etc.) (Fonseca, 2004, p. 376) e que estes, por sua vez, se poderão manifestar
em termos de saúde.
Metodologia
O desenvolvimento do estudo apresentado foi sustentado no paradigma
quantitativo, de tipo descritivo correlacional e teve por objetivo descrever a
evolução dos comportamentos e do estado de saúde dos indivíduos, no período da
passagem à reforma. Porque o referido objetivo exigia aceder a auto relatos
de recente vivência desta transição, um dos principais critérios de inclusão
amostral foi estar aposentado há menos de 5 anos e porque a acessibilidade a
esses casos se tornava difícil, o processo de seleção adotado foi o método de
rede (Figura 1). Para tal, recorreu-se à colaboração de 182 estudantes, a quem,
após explicitação dos objetivos do estudo e do tipo de procedimento a adotar,
foram entregues 10 exemplares do instrumento de colheita de dados, com
respetivo envelope RSF (num total de 1820 questionários distribuídos).
Figura 1 ' Método de seleção amostral
Com uma taxa de receção postal de 29,3% e com a anulação de 101 instrumentos,
por não apresentarem as condições de preenchimento desejadas, a amostra de
estudo ficou constituída por 432 casos. O instrumento de colheita de dados
permitiu caraterizar os respondentes relativamente à evolução dos
comportamentos em saúde [frequência de consultas de vigilância de saúde, regime
alimentar adotado diariamente (número de refeições, ingestão de sopa, legumes e
saladas, fruta, produtos lácteos, água e bebidas alcoólicas), frequência e tipo
de exercício físico adotado, hábitos tabágicos e prática de auto medicação] e à
evolução do estado de saúde (índice de massa corporal e diagnóstico de doença
crónica). O índice de massa corporal foi determinado com base nos parâmetros de
estatura e de peso indicados pelos inquiridos e foram considerados valores de
excesso de peso (≥ 25 <30), de obesidade (≥30 <40) e de obesidade mórbida (≥
40). Os procedimentos éticos e formais foram contemplados em todas as fases do
processo de investigação e os dados obtidos foram analisados com o programa
SPSS17, com recurso a medidas estatísticas de tendência central e aos testes
Qui-Quadrado, Mann-Whitney, McNemar e Sinais.
Resultados
Os elementos da amostra apresentaram idades compreendidas entre os 44 e os 72
anos (x=60,5 anos; s=5,48). O género masculino foi o mais representativo na
amostra (masculino=56,9%; feminino=43,1%), com uma média de idade superior à do
género oposto [masculino (x =60,7 anos; s=5,42); feminino ( x =60,1 anos;
s=5,54)]. Relativamente ao estado civil, a maioria dos respondentes (92,6%) era
casado ou vivia em união de facto, e à exceção de 1,6%, que referiu não ter
realizado qualquer tipo de frequência escolar, todos os restantes inquiridos
mencionaram ser escolarizados (98,4%). Destes, 35,9% frequentou entre 1-4 anos
de escolaridade, 13,9% frequentou entre 5-9 anos de escolaridade e, 58,6%
frequentou mais de 9 anos de escolaridade. Detentores do grau de licenciatura,
responderam 27,7% dos elementos da amostra. Reportando ao nível socioeconómico,
46,1% dos elementos da amostra posicionaram-se num nível médio, a este
seguiram-se o nível elevado e o nível baixo, numa correspondência de 31,0% e de
22,9%. A média de idade de passagem à reforma foi de 58,3 anos (mínimo= 42
anos; máximo= 71 anos; s= 5,37) e, no momento em que foram inquiridos, 69,0%
dos elementos da amostra encontravam-se reformados há mais de 2 anos ( x =2,1
anos; s=1,48). Os inquiridos aposentaram-se maioritariamente das áreas
profissionais de Técnicos e profissionais de nível intermédio (27,8%), de
Trabalhadores não qualificados (16,0%), de Pessoal administrativo e similares
(14,8%) e de Pessoal dos serviços e vendedores (13,4%). A idade limite foi o
principal motivo de passagem à reforma, correspondendo a 56,9% da amostra. A
este motivo seguiram-se, outros motivos (28,7%) (ex. idade e tempo de serviço,
rescisão por mútuo acordo, perspetiva de diminuição do valor da reforma) e
estado de saúde (14,4%) (tendo as patologias do foro cardiovascular e
musculosquelético sido expressas com maior frequência).
Evolução dos Comportamentos em Saúde
A prática de vigilância de saúde adotada pelos elementos da amostra melhorou
após a aposentação. A referida melhoria revelou-se estatisticamente
significativa, em ambos os géneros [masculino (χ2=17,042; p=0,002); feminino
(χ2=83,104; p<0,001)] (Quadro 1). A transição de setting de vigilância foi
também evidente, passando os centros de saúde a constituírem os locais
privilegiados para a sua realização (88,0%).
Quadro 1 ' Evolução do comportamento de vigilância de saúde em função do
género.
Com respeito ao regime alimentar adotado, verificou-se uma idêntica tendência
de melhoria. Esta evidência resultou do facto de se ter constatado que entre os
elementos da amostra: 18,2% passou a adotar uma alimentação mais fracionada;
16,5% e 9,5% passou a incluir com maior frequência a fruta e os legumes e
saladas, nas suas refeições; 7,6% aumentou a ingesta hídrica; 8,8% aumentou a
ingestão de produtos lácteos e, ainda que; 4,1% dos referidos inquiridos
diminuiu o consumo de bebidas alcoólicas. À exceção do consumo de sopa, no qual
a adesão evolutiva verificada se revelou francamente superior no género
feminino, em todos os restantes comportamentos alimentares a referida melhoria
foi protagonizada pelos elementos masculinos. As evidencias foram reveladoras
desta assimetria quando se constatou que foi no género masculino que se
verificou uma notória melhoria do número de refeições diárias efetuadas (Z=-
5,863; p<0,001), um superior aumento do consumo diário de saladas e/ou de
legumes (Z=-4,642; p<0,001), uma superior melhoria da ingestão diária de fruta
(Z=-7,071; p<0,001), uma maior ingestão diária de água (Z=-3,280; p=0,001), uma
superior diminuição do consumo diário de bebidas alcoólicas (Z=-4,000; p<0,001)
e uma superior ingestão diária de produtos lácteos (Z=-4,320; p<0,001) (Quadro
2).
Quadro 2 ' Evolução do comportamento alimentar em função do género.
Também se verificou que a amostra melhorou a sua prática de exercício físico.
Estatisticamente significativa em ambos os géneros [masculino (χ2=53,254;
p<0,001); feminino (χ2=49,000; p<0,001)], essa melhoria foi explícita não
apenas pelo aumento do número de praticantes [masculino (+15,8%); feminino
(+22,6%)] mas também pelo aumento da frequência de realização da referida
prática [>3 vezes por semana: masculino (+24,5%); feminino (+20,9%)].
Relativamente à modalidade de exercício físico adotada, verificou-se que a
prática simultânea de mais do que uma modalidade esteve presente em ambos
momentos avaliados; algumas modalidades anteriormente praticadas foram
abandonadas (ex. yoga, vólei) e outras passaram a ser adotadas (ex.
cardiovascular); a caminhada, a hidroginástica e a ginástica foram as
modalidades desportivas mais praticadas pelos inquiridos, nos dois momentos em
avaliação (Gráfico 1).
Gráfico 1 ' Modalidade de exercício físico praticada antes e após a reforma.
A percentagem de fumadores diminuiu em 3,2%, após a aposentação. Esse
decréscimo ficou a dever-se na sua totalidade aos elementos do género masculino
(5,7%), uma vez que no feminino não se verificou qualquer caso com idêntico
comportamento. No que diz respeito à de quantidade de consumo diário, também
não se verificou qualquer alteração adotada por parte dos elementos do género
feminino. O mesmo já não sucedeu com o género oposto uma vez que, ainda que se
tivesse verificado um aumento de consumo de 3,5%, em 14,0% constatou-se uma
diminuição do número diário de cigarros fumados.
Evolução do Estado de Saúde
Os diagnósticos de hipertensão arterial e de diabetes mellitus foram os que
mais se evidenciaram na amostra, nos dois momentos em avaliação (Quadro 3).
Quadro 3 ' Distribuição dos diagnósticos de doença crónica, antes e após a
passagem à reforma, em função do género.
Foi no género feminino que se verificou a maior incidência de patologia
crónica, após a aposentação, tendo esse fenómeno ficado a dever-se ao
diagnóstico de diabetes mellitus (+ 8 casos). A incidência de patologia do foro
psiquiátrico também se fez manifestar com elevada expressão, mas desta vez
tendo sido mais notório nos elementos do género masculino (75% dos casos).
Mais de metade da amostra apresentou um Índice de Massa Corporal (IMC) superior
ao valor da normalidade (Portugal. Ministério da Saúde. Direcção-Geral da
Saúde, 2005) [antes da reforma (78,7%); após a reforma (80,1%)]. Após a
aposentação essa evidência foi mais notória no género masculino, pelo aumento
de casos de excesso de peso (7,7%) e de obesidade mórbida (1,2%). O estudo
de evolução do IMC em função do género (Quadro 4) veio confirmar esses
resultados quando apresentou uma média superior dos postos positivos no género
masculino (masculino=53,9%; feminino=40,8).
Quadro 4 ' Evolução do IMC em função do género.
Discussão
De uma forma global, verificou-se que os inquiridos passaram a adotar melhores
comportamentos em saúde após a passagem à reforma. A maior frequência de
consultas de vigilância de saúde, a adoção de práticas mais saudáveis em termos
de regime alimentar, o aumento da realização de exercício físico e o decréscimo
do consumo tabágico foram ilustrativos deste facto e, em certa medida, vieram
revelar que este acontecimento de vida poderá ter exercido um efeito promotor
na sua saúde. Ainda assim, foi possível verificar que existiriam algumas
diferenças de comportamento entre os géneros e a análise das mesmas constituiu
uma importante fonte de informação por forma a adequar as estratégias de uma
futura intervenção em saúde.
Relativamente à vigilância de saúde, considerando que por característica
própria a mulher é, em si mesmo, uma utilizadora mais frequente dos serviços de
saúde (Stanhope e Lancaster, 1999) e ainda que sendo a função cuidar da saúde
uma das que habitualmente lhe é atribuída em termos de sistémica familiar
(Wright e Leahey, 2005); a supremacia desta prática relevada por este género
(em ambos os momentos em avaliação) não constituiu assim uma surpresa. O mesmo
já não se pôde afirmar relativamente ao facto dos indivíduos do género
masculino terem passado a realizar com maior frequência estas consultas, uma
vez que a sua elevada auto perceção de saúde os leva a evitar a procura destes
serviços (Vintém, 2008). A maior disponibilidade de tempo para o auto cuidado,
a consciência de se estar a viver uma fase mais avançada de envelhecimento e a
acrescida probabilidade de manifestação de sintomatologia poderão ter sido
alguns determinantes desta maior procura.
Quanto à evolução do regime alimentar, ainda que se tenha constatado uma
melhoria global deste comportamento, a diferenciação de práticas entre os
géneros foi evidente. Tome-se por exemplo a diferenciação que se observou em
termos de consumo de bebidas alcoólicas. Ainda que os padrões do referido
comportamento se estejam a modificar, isto é o consumo efetuado pelas jovens
está a igualar-se ao do género oposto (World Drink Trends, 2006), na geração em
estudo este consumo foi sempre maioritamente protagonizado pelo género
masculino e, tal como ainda hoje, mais frequentemente em contextos sociais. Os
resultados obtidos no presente estudo identificaram-se com esta última
descrição, quando se verificou que o género masculino liderou o consumido
destas bebidas, isto ainda que no segundo momento tenha sido neste mesmo grupo
que se assistiu a um maior decréscimo de ingestão. A razão desta maior mudança
de comportamento, verificada no género masculino, muito provavelmente terá
estado relacionada com o afastamento social a que estiveram sujeitos estes
indivíduos. Com a diminuição das situações de oportunidade deste consumo, a
passagem à reforma parece ter exercido então um efeito promotor da saúde.
Todavia, ainda que tal mudança tenha exercido efeitos positivos em termos de
saúde física, o referido afastamento social poderá ter ocasionado a perceção de
isolamento e solidão cujo efeito poderá ter colocado em causa outras dimensões
desse mesmo estado. Com esta afirmação não se pretende abonar em favor desta
prática, mas ter-se-á de reconhecer que na nossa cultura o ato de beber
permanece associado ao convívio em sociedade.
A prática de exercício físico foi outro dos comportamentos de saúde no qual a
amostra passou a demonstrar significativas melhorias. A mudança de atitude
verificada nesta faixa etária veio revelar que, se no passado a realização de
exercício físico era habitualmente reservada para as gerações mais novas, nos
anos mais recentes a adoção deste comportamento começa a generalizar-se em
todas as faixas etárias e daí resultarem maiores ganhos em saúde pública. As
evidências do presente estudo confirmaram esta mudança e não só foi possível
verificar que os indivíduos desta faixa etária se revelaram mais determinados a
aderir a este comportamento como também se predispuseram a experimentar novas
modalidades que nesta área se pudessem oferecer (ex. treino cardiovascular). Um
outro resultado, cuja análise remete para alguma reflexão, foi a elevada adesão
demonstrada pela amostra relativamente à prática de caminhada. Ainda que
constitua uma fonte de benefício em saúde, será importante fazer notar que tal
como nas outras formas de exercício, também nesta se torna necessário efetuar
um correto acompanhamento da sua prática. Faz-se esta afirmação porque, ainda
que pareça inócua, da sua inadequada prática poderão resultar efeitos
indesejados para o estado de saúde e no sentido de os prevenir será necessário
tomar algumas precauções. Na verdade, sendo nesta faixa etária bastante elevada
a probabilidade de efetuar uma fratura (originada pelo uso de calçado
desajustado e/ou pela utilização de percursos pedonais inadequados, que poderá
ser agravado por estados de osteoporose), de suceder um quadro de hipoglicemia
aguda (originada por um esforço intenso sem reposição de calorias, que algumas
vezes se faz acompanhar pelo diagnóstico de diabetes que é frequente nesta
faixa etária), de acidentes vasculares (originada por uma subida de pressão
arterial que muitas das vezes se faz acompanhar de processo de dislipidemia, já
latentes) ou de ocorrerem outros problemas, esta prática poderá então expor os
indivíduos a um elevado risco de alteração do seu estado de saúde, sem que
nunca tenham sido alertados para tal. Será então importante que os
profissionais de saúde não se cinjam apenas a aconselhar a prática de exercício
físico, mas que tenham igualmente em conta a existência de alguns fatores
controversos à sua prática, para os quais também estes indivíduos deverão ser
alertados. Neste sentido, fornecer indicações adequadas a cada modalidade e
específicas ao estado de estado de saúde individual (Loureiro e Veríssimo,
2009), serão também medidas promotoras de saúde.
No que diz respeito ao consumo tabágico e ainda que seja considerado como um
dos comportamentos que maior resistência oferece em termos de mudança (Carvalho
et al., 2003), também com a passagem à reforma se verificou uma significativa
melhoria desta prática. O facto das evidências empíricas terem revelado que no
género masculino se verificou uma mudança mais significativa neste
comportamento (tanto pela diminuição da quantidade de consumo como pelo
abandono que alguns destes indivíduos passaram a adotar em relação a esta
prática), fez notar que a prevalência deste consumo no género feminino estará
associado a outros fatores que não apenas ao stress laboral fatores esses que
carecem de mais aprofundada investigação.
Relativamente à evolução do estado de saúde e, mais concretamente no que diz
respeito à evolução do diagnóstico de doença crónica, a maior incidência
verificada após a passagem à reforma poderá ter estado relacionada com o
simples facto de ter aumentado a frequência de consultas de vigilância de
saúde. Na verdade, muito provavelmente alguns dos inquiridos já seriam
portadores de patologia mas só quando passaram a efetuar exames complementares
de diagnóstico, tomaram consciência desse seu estado de saúde. Quando se
realiza esta afirmação está-se a reportar de uma forma particular aos
diagnósticos de diabetes mellitus e de hipertensão, cuja incidência é frequente
na meia-idade e cuja manifestação se poderá manter silenciosa por longos anos
(Portugal. Ministério da Saúde. Direcção-Geral da Saúde, 2007).
Quanto aos valores do índice de massa corporal, os resultados vieram uma vez
mais corroborar a tendência de obesidade que persiste nesta faixa etária
(Portugal. Ministério da Saúde. Direcção-Geral da Saúde, 2005). A adoção de
comportamentos e de estilos de vida menos saudáveis, frequentemente observados
na idade adulta (ex. erros alimentares e sedentarismo), poderão ter sido
fomentadores desta situação. Quanto ao facto destes valores terem aumentado
após a reforma, mesmo tendo passado a adotar melhores práticas em saúde (ex.
melhores práticas alimentares, mais exercício físico), este dado veio dar corpo
à ideia de que, para resultarem, as práticas de saúde devem ser adotadas o mais
precocemente possível (Loureiro e Veríssimo, 2009).
Conclusão
Decorrentes da análise anterior, três ideias major emergiram. A primeira
reportou-se ao facto dos resultados deste estudo não terem ido ao encontro da
perspectiva da passagem à reforma constituir um acontecimento de vida passível
de provocar um impacte negativo na saúde física dos indivíduos. Pelo contrário,
num período subsequente a esta vivência, pela libertação do cansaço e da
pressão que o exercício profissional lhes poderia causar, pela maior
disponibilidade de tempo para o auto-cuidado e/ou pela maior consciencialização
da fase de desenvolvimento em que se encontram, os inquiridos passaram a adotar
comportamentos mais adequados em termos de práticas de saúde. A segunda
reportou ao facto de que, embora se tenha verificado uma significativa melhoria
dos referidos comportamentos, o estado de saúde física dos inquiridos piorou (o
que, uma vez mais, veio dar relevo ao facto dos anteriores resultados não terem
estado ligados ao fenómeno de transição em estudo, mas, sim, ao processo de
envelhecimento fisico que inevitavelmente acompanha o desenvolvimento humano.
Por último, a terceira ideia remeteu para o facto de ainda que não se tenha
constatado uma significativa alteração no estado de saúde fisica destes
indivíduos, o mesmo já não sucedeu com relação à dimensão psicoemocional dos
mesmos, uma vez que nesta se verificou uma notória fragilidade (Loureiro,
2011).
Assim, quando na procura permanente da excelência no exercício profissional,
ajudam os clientes a alcançarem o máximo potencial de saúde (Ordem dos
Enfermeiros, 2002, p. 12), os Enfermeiros deverão orientar os individuos e
famílias nos seus processos de envelhecimento e, mais especificamente, nos
efeitos em saúde que a transição agora estudada lhes possa vir a suscitar.