Abandono no andebol na Região Autónoma da Madeira
INTRODUÇÃO
Este estudo visa compreender o fenómeno do abandono desportivo no andebol na
Região Autónoma da Madeira, usando os postulados da teoria do intercâmbio
social.
A teoria do intercâmbio social
(13)
começa com a concepção de que o comportamento humano é governado primeiramente
pelo desejo de maximizar as experiências positivas e minimizar as experiências
negativas. Nesta perspectiva, as pessoas participam em relações e actividades
somente enquanto os resultados de participação são suficientemente favoráveis.
O favoritismo é determinado pelo balanço entre os benefícios e os custos. Na
maioria dos modelos, a análise dos custos/benefícios é expressa por uma
variável atractiva, como satisfação
(8, 9)
ou divertimento
(11)
.
De acordo com Thibaut e Kelley(13), a decisão de manter-se numa relação ou numa
actividade não é baseada somente no balanço entre os benefícios e os custos. A
decisão de persistir ou abandonar também depende da visibilidade e da atracção
pelas alternativas. Consequentemente, alguém pode escolher continuar envolvido
no desporto, mesmo que os custos excedam os benefícios (recompensas) porque não
existem alternativas ou não são acessíveis. No domínio desportivo, recompensas
poderão envolver consequências tangíveis, como as medalhas, diplomas e outros
troféus, ou até algumas vezes dinheiro. Mas também são psicológicas, como
atingir os objectivos desejados.
O paradigma do intercâmbio social foi considerado efectivo na predição do
compromisso e permite distinguir entre indivíduos que ficam numa relação ou no
trabalho e aqueles que abandonam.
Scanlan et al.(11) apresentaram um modelo teórico específico para o desporto –
o modelo de compromisso desportivo – que está centrado em processos
psicológicos subjacentes à participação desportiva. Este modelo tem a sua base
na psicologia organizacional e social.
O compromisso é o termo que significa a força motivacional por trás da
persistência. No domínio desportivo, Scanlan et al.(11) definem o compromisso
como um constructo psicológico, que representa o desejo para continuar na
participação desportiva. Em resumo, o compromisso representa o estado
psicológico individual de ligação à sua participação ou uma força motivacional
para continuar envolvido.
O compromisso desportivo pode ser estabelecido em função de quatro
antecedentes: a análise dos custos/benefícios, feita pelo atleta, da sua
experiência desportiva; uma atracção ou não pelas alternativas desportivas;
nível de investimento; os sentimentos do atleta acerca dos constrangimentos
sociais.
No domínio desportivo, os investimentos são o tempo, o esforço e o dinheiro que
os indivíduos colocam directamente no seu envolvimento e que não pode ser
recuperado se desistirem(11). Existe a hipótese de que um grande investimento
pessoal irá promover um grande compromisso desportivo.
O constrangimento social acentua a pressão social para participar, é necessário
manter-se na actividade para agradar os outros
(1, 5, 11,12)
. Fazendo o transfere para o desporto significa que outros incluem pais,
amigos, treinadores e outras pessoas no geral
(11)
.
Apesar das inúmeras razões apontadas pelos jovens conducentes à sua
participação desportiva, Petlichkoff
(6)
identificou o divertimento como o principal motivo pelo qual estes se mantêm
envolvidos nas actividades ou a abandonam.
Contudo, embora crianças e adolescentes possam argumentar que a razão da
participação em actividades desportivas é o divertimento, este pode não ter o
mesmo significado para ambos. Para uma criança pode ter um significado
relacionado com os aspectos do envolvimento desportivo e do próprio jogo,
enquanto que para um adolescente pode ser conectado com a excitação competitiva
(2)
.
Uma revisão de literatura sobre a motivação em jovens atletas definiram como
fontes de divertimento 6 dimensões, nomeadamente, competência, autonomia,
relação com os outros, progresso, apoio do treinador e jogar muito tempo. Estas
dimensões foram consideradas preditoras da satisfação dada pelo andebol. Como
tal, também foram utilizadas neste estudo para definir divertimento no modelo
do compromisso desportivo.
Burton
(3)
menciona que as percentagens de abandono desportivo poderão eventualmente ser
interpretadas de um modo optimista ou pessimista. Na primeira perspectiva,
refere que o abandono desportivo faz necessariamente parte da natureza dos
jovens e adolescentes que, pelo método experimental da tentativa e erro,
procuram encontrar a actividade que mais lhes agrada e lhes permita atingir a
natural necessidade de afirmação das suas capacidades. Numa perspectiva
pessimista, o mesmo autor indica que essas percentagens de abandono podem pôr
em evidência que os programas e as exigências das diferentes modalidades
desportivas não estão de acordo com o nível de capacidades e maturação dos
jovens que as praticam. Esta situação impede que eles atinjam os objectivos que
perspectivaram obter quando se envolveram na prática desportiva.
Petlichkoff
(7)
refere que todos os anos cerca de 70 milhões de jovens atletas em todo o
planeta, com idades compreendidas entre os 6 e os 16 anos, aderem a práticas
desportivas. Paradoxalmente, também estimou que até cerca dos 17 anos, 80% dos
jovens abandonaram o desporto organizado em que estavam envolvidos.
Existem vários tipos de abandono referidos na literatura. Assim é importante
definir o conceito de abandono desportivo que utilizámos para este estudo.
Consideramos abandono desportivo no andebol, como sendo o abandono da prática
federada do andebol.
MATERIAL E MÉTODOS
Amostra
A amostra foi recolhida tendo por base os atletas inscritos pela primeira vez
na Federação Portuguesa de Andebol nas épocas 1995/96 a 2004/05 (10 épocas), o
que totalizou 4721 indivíduos. O número médio de entradas por época, por género
e por idade pode ser observado nos gráficos da Figura 1.
Figura 1. Número médio de entradas por época.
Para tratar especificamente as questões do abandono, delimitámos a nossa
amostra em termos de idade, com base no número médio de entradas por época
(Figura 1). Assim, trabalhámos com as raparigas que iniciaram a modalidade
entre os 10 e os 14 anos e com os rapazes que iniciaram entre os 10 e os 15.
Figura 2. Caracterização da sub-amostra.
Os atletas com menos de 10 anos foram excluídos da análise pois nesta etapa de
formação os objectivos passam por sensibilizar os atletas para a modalidade.
Apesar de esses atletas representarem a maior percentagem da amostra em todas
as épocas, como em média cerca de 45% abandonaram após a primeira época,
admitimos que muitos deles estão em fase de experimentação e, por tentativa e
erro, irão optar por esta modalidade ou por outra.
Com a ressalva do ponto anterior, os atletas que analisámos foram aqueles cujas
idades apresentaram as maiores percentagens de entradas. De facto, a
percentagem de entradas decresce bruscamente para além dos escalões
considerados em cada género.
Para a aplicação dos questionários, a nossa amostra foi constituída por 230
atletas (180 atletas no activo, 50 atletas que abandonaram).
Questionário
Com base nas percepções que definimos para o divertimento e nas dimensões de
alternativas do envolvimento e constrangimentos sociais aplicámos o
questionário para obter informações relativas a três situações: caracterização
do atleta (data de nascimento, género, número de anos de prática e de horas de
treino, nível competitivo e grau de empenhamento); razões que levaram ao
abandono e, paralelamente, razões pelas quais os atletas se mantêm na prática.
Para cada dimensão e respectivas componentes foram criadas frases, sendo a
escala de Likert, de 1 (corresponde a discordo totalmente) a 5 (corresponde a
concordo totalmente) a utilizada com mais frequência.
Para avaliar a consistência dos questionários calculámos o coeficiente de
“alpha” de Cronbach e obtivemos os seguintes valores: para o questionário
aplicado aos atletas activos o valor foi “alpha” = 0.692 e mediu 48 itens. Para
o questionário aplicado aos atletas que abandonaram o valor foi “alpha” = 0.784
e mediu 53 itens.
Os questionários foram aplicados aos atletas que tinham abandonado a prática
desportiva federada, de ambos os sexos e com as idades onde esse processo
acontece com maior frequência. Fomos à procura daqueles que abandonaram apenas
na última época do nosso estudo (2004/2005), para que não houvesse um
distanciamento muito grande do acontecimento estudado.
Os atletas que estavam no sistema e que tinham as idades determinadas pelo
estudo, foram igualmente interrogados. Assim ficámos com uma perspectiva
integrada do andebol federado da Região Autónoma da Madeira.
A aplicação dos questionários foi realizada na época 2006/2007. A amostragem
dos atletas que abandonaram foi por conveniência porque muitos dos atletas
encontrados não quiseram participar no estudo e outros não se encontravam na
ilha.
Os questionários que aplicámos aos atletas que abandonaram e àqueles que ainda
se mantinham no sistema desportivo foram muito semelhantes. A diferença
prendeu-se com questões relacionadas com os tempos verbais.
Depois de seleccionar os atletas que já tinham abandonado, optámos por procurá-
los nas escolas da sua área de residência e aplicar-lhes directamente os
questionários. O envio do questionário para casa pareceu-nos pouco eficaz,
visto que muitos dos atletas foram contactados primeiro por telefone e
demonstraram pouca receptividade para o assunto. Outra questão que constatámos
foi o facto de muitos atletas já terem regressado à prática da modalidade em
questão e outros não estarem na região, por vários motivos.
Tratamento dos dados
Para caracterização da amostra calculámos médias, por género e por faixa
etária. Relativamente à sub-amostra, para além do procedimento anterior,
apresentámos mais medidas de localização (mínimo, primeiro quartil, mediana,
terceiro quartil e máximo) referentes ao número de épocas, à idade de abandono,
por género e por faixa etária. Além disso, utilizámos a análise de
sobrevivência para determinar as estimativas de Kaplan-Meier da função de
sobrevivência, por género, quer relativo ao número de épocas, quer à idade de
abandono.
Os procedimentos estatísticos utilizados nos questionários foram:teste de
Pearson do qui-quadrado; gráficos de barras para caracterização das respostas
de algumas questões.
RESULTADOS
Com base na amostra inicial, a taxa média de abandono, por época, nas raparigas
é de 37%, enquanto que nos rapazes é de 33%. No entanto, em ambos os géneros,
as taxas têm valores díspares ao longo das épocas, embora sem apresentar
qualquer tipo de tendência.
Relativamente à sub-amostra, no caso do género feminino, verificámos que a taxa
média de abandono é de 38% para as atletas que iniciaram a modalidade entre os
10 e os 12 anos e de 44% entre os 13 e os 14. Quanto ao género masculino, a
taxa é de 27% entre os 10 e os 11 anos, de 37% entre os 12 e os 13 e de 50 %
entre os atletas que iniciam com 14 ou 15 anos.
Uma vez que existe uma correlação negativa significativa entre a idade em que o
atleta se iniciou na modalidade e o número de épocas que se manteve em
actividade, ou seja, quanto menor é a idade de entrada maior é o número de
épocas, averiguámos a percentagem de abandono de acordo com o número de épocas,
tendo em conta a idade de início.
Ao observar os gráficos da figura 3 podemos notar que a percentagem de abandono
é muito elevada nas duas primeiras épocas, tanto no género masculino como no
feminino. Nas raparigas a percentagem é semelhante para as duas faixas etárias
ao longo das épocas embora a faixa etária dos 13 e 14 anos apresente um ligeiro
acréscimo nas duas primeiras épocas, compensado por um decréscimo notório a
partir da sexta época. Nos rapazes, à excepção da terceira e da sétima época, a
percentagem de abandono é semelhante para as faixas etárias 10 e 11 anos e 12 e
13 anos. Relativamente aos 14 e 15 anos, a percentagem é muito elevada nas
primeiras épocas, observando-se 90% de abandono ao fim de apenas três épocas.
Figura 3. Percentagens de abandono, por época, faixas etárias e género.
Ao analisar a sub-amostra globalmente comparámos as distribuições da idade de
abandono e do número de épocas nos dois géneros.
Figura 4. Distribuições do número de épocas e da idade de abandono nos dois
géneros.
A semelhança dos dois géneros relativa ao número de épocas é bem visível, pois
os valores do mínimo (1), primeiro quartil (1), mediana (2), terceiro quartil
(3) e máximo (10) coincidem. No entanto, sob o ponto de vista da idade de
abandono, as semelhanças resumem-se as mínimo (11) e à mediana (14). Quanto às
diferenças, 25% das raparigas abandonam até aos 12 anos, enquanto que os
rapazes só o fazem até aos 13. Observa-se o mesmo tipo de diferença
relativamente aos 75%, com as raparigas a abandonarem até aos 15 anos e os
rapazes até aos 16. Assim, no geral, podemos concluir que as raparigas
abandonam a modalidade mais cedo do que os rapazes.
No que diz respeito à aplicação da análise de sobrevivência, começámos por
determinar as estimativas de Kaplan-Meier da função de sobrevivência, por
género, onde o tempo de vida é o tempo desde que o atleta inicia a modalidade a
nível federado até ao abandono. Os resultados encontram-se na figura 5, sendo
que, no primeiro caso tivemos em conta o número de épocas, enquanto que no
segundo foi a idade de abandono.
Figura 5. Estimativas de Kaplan-Meier da função de sobrevivência, por género.
Ao analisar o comportamento dos atletas através do número de épocas, novamente
é visível a ausência de diferença significativa entre os dois géneros. No
entanto, ao analisarmos através da idade de abandono, já podemos notar que, até
aos 18 anos, as raparigas têm uma taxa de abandono mais elevada. Além disso,
também se observa uma quebra acentuada da prática desportiva dos 13 para os 14
anos nas raparigas e dos 14 para os 15 nos rapazes.
Parece-nos importante realçar algumas diferenças encontradas na análise dos
questionários, nomeadamente no género e entre os atletas activos e os que
abandonaram. Essas diferenças foram detectadas através do teste de Pearson do
qui-quadrado. Apenas apresentámos e discutimos os dados cujos valores de p
foram significativos, com a seguinte interpretação: entre 0,05 e 0,01 existem
diferenças significativas (*); entre 0,01 e 0,001 existem diferenças muito
significativas (**); menor do que 0,001 existem diferenças extremamente
significativas (***).
Foi na dimensão compromisso que encontrámos as diferenças mais significativas
entre os atletas activos e os que abandonaram, como se pode verificar através
da análise das afirmações que se seguem.
CO.2. Eu estou determinado em continuar a jogar andebol.
Figura 6. Percentagens das respostas dos atletas activos e daqueles que já
abandonaram, pelas diferentes categorias, na questão CO2.
Existem diferenças extremamente significativas entre os atletas activos e os
que abandonaram, p<.000. Nesta questão, os atletas activos apresentam
percentagens claramente superiores nas categorias muito determinado e
muitíssimo determinado. Os atletas que abandonaram apresentam uma percentagem
muito superior nas categorias nada determinado e pouco determinado.
CO.3. É difícil para ti abandonar o andebol?
Nesta questão existem diferenças muito significativas entre os rapazes que
abandonaram e aqueles que permanecem no activo, p=0.001. Isso pode-se verificar
com a ajuda do gráfico que se segue.
Figura 7. Percentagens das respostas dos atletas activos e daqueles que já
abandonaram, pelas diferentes categorias, na questão CO3.
As diferenças são mais expressivas nas categorias de muitíssimo difícil, onde
os activos apresentam uma percentagem de 35% e os que abandonaram apenas 9%
aproximadamente. Nas categorias nada difícil e pouco difícil, os atletas que
abandonaram apresentam percentagens muito superiores às dos activos, com a
particularidade de nenhum destes últimos ter assinalado a primeira categoria.
Existem diferenças extremamente significativas entre as raparigas que estão no
activo e aquelas que abandonaram,p<0.000, como é visível na Figura 8.
Figura 8. Percentagens das respostas das atletas activas e daquelas que já
abandonaram, pelas diferentes categorias, na questão CO3.
As grandes diferenças encontram-se nas categorias dos extremos, ou seja, as
activas optaram maioritariamente pela categoria muitíssimo difícil e apresentam
uma percentagem nula na categoria nada difícil. As atletas que abandonaram
distribuíram-se por todas as categorias de uma forma mais ou menos homogénea.
CO.4. O que és capaz de fazer para não abandonares o andebol?
Os rapazes que estão no activo apresentam diferenças muito significativas em
relação aos que abandonaram,p = 0.001.
Essas diferenças são bem evidentes nas categorias poucas coisas e muitas coisas
(Figura 9). Na primeira são os atletas que já abandonaram que têm uma
percentagem de 38% versus 9% e na segunda os activos 35% versus 3%.
Figura 9. Percentagens das respostas dos atletas activos e daqueles que já
abandonaram, pelas diferentes categorias, na questão CO4.
Nesta mesma questão existem diferenças extremamente significativas entre as
atletas que estão no activo e aquelas que abandonaram,p<.000. As primeiras
optaram claramente pelas categorias bastantes coisas e muitas coisas, enquanto
que as raparigas que já abandonaram têm uma maior percentagem nas categorias
nada e algumas coisas (Figura 10).
Figura 10. Percentagens das respostas das atletas activas e daquelas que já
abandonaram, pelas diferentes categorias, na questão CO4.
Nas restantes dimensões e componentes os resultados foram os seguintes: tanto
os atletas que estão no activo, como aqueles que abandonaram têm a percepção de
que não estagnaram tecnicamente e melhoraram tacticamente no andebol (percepção
de competência); os atletas inquiridos apresentam uma boa relação com os outros
(percepção de relação com os outros); podemos acrescentar que as raparigas se
apresentam mais satisfeitas com o papel do treinador (percepção de progresso);
os atletas inquiridos, de uma maneira geral, conseguem conciliar os estudos com
o andebol (alternativas do envolvimento); em termos gerais a atracção por
outras actividades não é uma realidade nesta amostra; os atletas inquiridos não
têm preocupações em agradar aos pais nem aos treinadores, apesar da tendência
para agradar ao treinador ser ligeiramente superior.
Discussão
Um dos postulados da teoria do intercâmbio social é que as pessoas participam
numa actividade, se o balanço entre os custos e os benefícios forem favoráveis
(13). É recomendado que os treinadores tenham conhecimento desta realidade
quando trabalham com os atletas. Em resumo, e como implicação prática, este
estudo sugere que uma das prioridades dos treinadores e de outros líderes
desportivos seja a criação de um envolvimento social que permita que os atletas
alcancem os seus motivos de participação. Especificamente, temos de assegurar
que as expectativas dos atletas relacionados com o progresso, relação com os
outros, competência, autonomia, e suporte dado pelo treinador sejam alcançados,
se quisermos que o divertimento e o correspondente compromisso sejam elevados e
que os atletas continuem envolvidos.
Da análise dos questionários concluímos que as grandes diferenças entre os
praticantes que abandonaram e aqueles que se mantiveram no activo, são as
respostas às questões da dimensão compromisso. Os atletas que estavam no activo
eram mais comprometidos com o andebol e por isso não abandonaram. O nosso
estudo está em consonância com a teoria do intercâmbio social e com o modelo do
compromisso desportivo.
Nas questões da percepção de progresso, tanto os activos como os que
abandonaram apresentam-se satisfeitos com o trabalho do treinador em relação ao
progresso dos atletas. Poderá ser útil educar os treinadores para o impacto dos
seus comportamentos nas motivações dos atletas
(14)
. Um elemento chave poderá ser encorajar os treinadores a utilizar um clima
direccionado para a tarefa, no sentido de ajudar os atletas a centrarem-se em
dimensões de mestria de actividade e não em dimensões extrínsecas. Assim o
sucesso deverá ser definido como o melhoramento pessoal ao contrário de
enfatizar a vitória.
Nas alternativas do envolvimento, grande parte dos inquiridos não se sentiu
atraído por outras actividades, existiu apenas uma pequena percentagem de
atletas que abandonaram que optaria por fazer outras coisas. Este facto
contraria a linha de investigação que diz que os conflitos de interesse e/ou
interesses por outras actividades são os motivos mais consistentes para o
abandono desportivo
(4)
.
Nos constrangimentos sociais, os atletas inquiridos não têm preocupações em
agradar aos pais ou/e aos treinadores, apesar da tendência para agradar ao
treinador ser ligeiramente superior. Não existiram sentimentos de
obrigatoriedade nesta amostra (activos/abandonaram). Os atletas que abandonaram
não sentiram pressão, logo o compromisso diminuiu.
Nos investimentos pessoais e especificamente no grau de empenhamento, são os
rapazes que abandonaram que tiveram maiores percentagens na categoria quase
sempre. Este dado poderá ser revelador de que os jovens abandonaram porque
sentiam-se injustiçados ou porque sentiam que mesmo com um grau de empenhamento
elevado não conseguiam atingir determinados patamares.
A compreensão do fenómeno do abandono passa necessariamente por um cruzamento
de teorias e comparação de paradigmas afins de decidir qual é que melhor poderá
explicar este assunto
(10)
. Por vezes, só essas pontes entre as teorias conseguem obter a diversidade dos
factores e processos implicados neste fenómeno.
De acordo com os resultados quer da análise descritiva quer da análise de
sobrevivência, tendo em conta o número de épocas, pudemos concluir que o género
não constituiu uma variável explicativa do fenómeno que estudámos. No entanto,
com base na idade de abandono, já notámos alguma diferença. Esta última
observação não entra em contradição com a anterior: no primeiro caso estávamos
a considerar quantas épocas o atleta se mantinha na modalidade, enquanto que no
segundo considerámos qual a idade em que abandonava. Significa pois que as
raparigas tendem a iniciar mais cedo o andebol, mas também tendem a abandoná-lo
mais cedo.
Concluímos ainda que a taxa média de abandono, por época, sobe à medida que
aumenta a idade de entrada dos atletas.
Verificámos também que a percentagem de abandono nas primeiras épocas é tanto
maior quanto maior for a idade de entrada dos atletas.