Zonas alvo de treino em diferentes ergómetros
Zonas alvo de treino em diferentes ergómetros
César Chaves, Rui Garganta, Jorge Roig
IPVC, ESE, departamento de Motricidade Humana
Viana do Castelo, Minho, Portugal.
E-mail:cesarchaves@ese.ipvc.pt
Introdução: O exercício cardiovascular tem-se constituído como um dos meios
fundamentais para a promoção da saúde e bem-estar das populações. As
possibilidades para a sua aplicação são cada vez mais variadas, sobretudo nos
ginásios, onde é usual o recurso a diversos tipos de ergómetros, seja na sala
de cardiofitness ou nas aulas de grupo de cariz aeróbio. Neste sentido, uma
ajuda fundamental é facultada pelos programas de treino, que, actualmente,
permitem considerar os objectivos e as limitações de cada indivíduo,
potenciando os benefícios do exercício e minimizando o tempo necessário para o
alcance dos mesmos. Consequentemente, têm sido desenvolvidas a nível global,
diversas linhas orientadoras para a realização da actividade física aeróbia.
Instituições de referência, como o American College of Sports Medicine (ACSM),
a American Heart Association (AHA), o Centers for Disease Control and
Prevention (CDC), o Department of Human and Health Services(DHHS), o Institute
of Medicine (IOM), o National Association for Sport and Physical Education
(NASPE), o National Institutes of Health (NIH), o Surgeon General e o United
States Dietary Guidelines (USDG), entre muitas outras, propõem várias
directrizes, algumas das quais tendo inclusivamente em conta diferentes
populações e patologias tentando, desta forma, personalizar e potenciar cada
vez os programa de exercícios. De uma forma geral, estas instituições sugerem a
exercitação numa dada percentagem de um valor de referência (frequência
cardíaca máxima ' FCmáx e/ou consumo máximo de oxigénio ' VO2máx), variável em
função do objectivo pretendido. Estes intervalos percentuais, vulgarmente
designados por zonas alvo de treino, são ainda baseados em função do limiar
de lactato ou ventilatório. Todavia, esta estimativa é efectuada de forma
indiferenciada, não contemplando as contingências específicas de cada ergómetro
ou modo de exercício, que se sabe serem capazes de condicionar o comportamento
das respostas fisiológicas e, assim, não corresponder aos objectivos de quem o
pratica.
Objectivo: identificar e comparar os valores da FCmáx, do VO2máx e do limiar
ventilatório (LV), em quatro ergómetros utilizados para o treino
cardiovascular.
Metodologia: a amostra é constituída por 6 sujeitos adultos com idades médias
de 30 ± 8 anos, fisicamente activos e aparentemente saudáveis. Todos os
sujeitos realizaram testes de esforço máximo em condições estandardizadas, nos
ergómetros testados (tapete rolante Stex, modelo 7020 T; bicicleta
SciFit, modelo Iso 1000; elíptica Pulse, modelo 280 F; manivela
SciFit, modelo Pro 1000), não sendo especializados em nenhum deles. A
duração de todos os testes foi definida em 10 minutos e a sua maximalidade
confirmou-se pela constatação de um platô na curva do consumo de oxigénio, um
quociente respiratório superior a 1,10, percepção subjectiva máxima de esforço
através da escala de Borg adaptada e concentração de lactato sanguíneo pós-
esforço superior a 8 mmol/l. As variáveis em análise foram a frequência
cardíaca máxima (FCmáx), a frequência cardíaca ao limiar ventilatório (FCLim),
(com recurso a um cárdio-frequencímetro da marca Polar), o consumo máximo de
oxigénio (VO2máx) e o consumo de oxigénio ao limiar ventilatório (VO2Lim),
(através do oxímetro Cortex, modelo 2000, com registos de respiração a
respiração). A análise das diferenças entre os indicadores avaliados, foi
efectuada a partir da ANOVA (Analysis of Variance) de medidas repetidas,
recorrendo ao teste multivariado com a sugestão de Lambda de Wilks. No caso de
se registarem diferenças com significado estatístico, as múltiplas comparações
foram realizadas através do teste de Bonferroni. O nível de significância foi
mantido em 0,05.
Resultados:obtidos sugerem que: a) de uma forma geral, os valores alcançados
nas variáveis em análise, nos diferentes ergómetros, são substantivamente
distintos (quadros 1 e 2). Os mais elevados são geralmente obtidos no tapete
rolante, seguido da elíptica, do ciclo-ergómetro e, por último, da manivela. É
possível detectar diferenças com significado estatístico entre o tapete e todos
os ergómetros e entre a elíptica e a manivela (quanto à FCmáx e à FCLim), entre
manivela e todos os ergómetros (VO2máx) e entre a manivela e o tapete e
elíptica, e entre tapete e bicicleta (VO2Lim).
Quadro 1: Comparação das FCmáxE (frequências cardíacas máximas de esforço), com
as FCmáxT (frequências cardíacas máximas teóricas ' através da fórmula 220-
idade) obtidas por cada indivíduo em cada ergómetro e a diferença entre as
duas (dif.).
Tapete Elíptica Bicicleta Manivela
FCmáxEFCmáxT|dif.| FCmáxEFCmáxT|dif.| FCmáxEFCmáxT|dif.| FCmáxEFCmáxT|dif.|
a 189 197 |8| 183 197 |14| 178 197 |19| 170 197 |27|
b 192 176 |16| 180 176 |4| 185 176 |9| 173 176 |3|
c 191 188 |3| 180 188 |8| 180 188 |8| 159 188 |29|
d 194 188 |6| 191 188 |3| 185 188 |3| 182 188 |6|
e 193 197 |4| 187 197 |10| 171 197 |26| 180 197 |17|
f 211 194 |17| 204 194 |10| 188 194 |6| 194 194 |0|
Quadro 2: Resumo dos resultados encontrados das diferentes variáveis para cada
ergómetro.
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| _______|FCmá|FCLim|VO2má|VO2Lim|
|Tapete___|195__|184__|52____|48____|
|Elíptica|188__|165__|52____|42____|
|Bicicleta|181__|161__|46____|37____|
|Manivela_|176__|151__|39____|29____|
b) A utilização de fórmulas teóricas (neste caso 220-idade) para a predição
da FCmáx deve ser evitada, dado o seu erro significativo em relação à FCmáxE
(quadro 1). Pelos pontos anteriores se conclui que as zonas alvo de treino
deverão ser necessariamente distintas, para cada ergómetro, ainda que o
objectivo se mantenha o mesmo.
Sugestões: para_a_aplicação_dos_resultados_obtidos_(com_base_na_FC): Para uma
correcta prescrição do exercício em diferentes ergómetros, sugerimos que: 1) se
determine as FCmáx alcançadas em cada ergómetro, ou apenas num deles, sendo as
outras extrapoladas através da consulta do quadro 3; e 2) se determine a
percentagem da FCmáx a que ocorre o LV em cada ergómetro, pela consulta do
quadro 4.
Quadro 3: Estimativa da correspondência entre as frequências cardíacas máximas
obtidas nos vários ergómetros.
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| _______|Elíptic|Bicicleta|Manivela|
|Tapete___|96%_____|93%______|90%_____|
|Elíptica| ______|96%______|94%_____|
|Bicicleta| ______| _______|97%_____|
Quadro 4: Percentagem da frequência cardíaca máxima a que ocorre o limiar
ventilatório em cada ergómetro (PerFCmáx).
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|___________________ __________________|PerFCmá|
|Tapete_________________________________|94______|
|Elíptica______________________________|88______|
|Bicicleta______________________________|89______|
|Manivela_______________________________|86______|
Conclusões: As recomendações para a prescrição do exercício e respectivas zonas
alvo de treino, deverão considerar cada ergómetro ou modo de exercício,
atendendo a que as FCmáx e/ou o VO2máx e o momento de ocorrência do LV são
distintos entre a maioria dos ergómetros, condicionando a efectividade do
treino.