A eficiência propulsiva e a performance em nadadores não experts
A eficiência propulsiva e a performance em nadadores não experts
T.M. Barbosa1, V. Lima2, E. Mejias1, M.J. Costa1, D.A. Marinho3, N. Garrido4,
A.J. Silva4, J.A. Bragada1
O estudo da eficiência propulsiva é um dos assuntos mais interessantes para os
investigadores em natação pura desportiva, já que apresenta uma relação directa
no comportamento biofísico do nadador e na sua performance. Apesar de ser uma
variável que tem sido bastante estudada em nadadores de elevado nível
competitivo, não há nenhuma investigação sobre esta temática em jovens
nadadores não experts. Assim, o objectivo deste estudo foi: (i) estimar a
eficiência propulsiva em nadadores não experts; (ii) identificar os factores
biomecânicos e antropométricos que estão associados à eficiência propulsiva e;
(iii) identificar a associação entre a eficiência propulsiva e a performance.
Vinte e oito nadadores não experts, praticantes regulares de natação numa
Escola Municipal participaram neste estudo. Foram avaliados a eficiência
propulsiva, parâmetros biomecânicos, antropométricos e a performance de nado.
Os principais resultados encontrados mostram que a eficiência propulsiva de
nadadores não experts é inferior à descrita na literatura para nadadores de
outros níveis competitivos e que não há diferenças significativas entre os dois
sexos. Foi também verificado que vários parâmetros biomecânicos,
antropométricos, assim como, a performance estão associados com a eficiência
propulsiva.
Palavras-chave: natação, antropometria, biofísica, crol, nível competitivo
Propulsive efficiency and non- expert swimmers performance
Propulsive efficiency is one of the most interesting issues for competitive
swimming researchers, has it presents significant relationships with the
swimmer's biophysical behavior and his/her performance. Although propulsive
efficiency is a variable that has been quite studied in elite swimmers, there
is no research on this issue in young and non-expert swimmers. Thus, the aim of
this study was to: (i) estimate the propulsive efficiency on non-expert
swimmers; (ii) identify biomechanical and anthropometrical parameters that are
associated with propulsive efficiency; (iii) identify the association between
the propulsive efficiency and swim performance. Twenty-eight non-expert
swimmers participated on this study. It was assessed the propulsive efficiency,
biomechanical and anthropometrical parameters, as well as, the swim
performance. The propulsive efficiency of non-expert swimmers is lower than
data reported in the literature to higher competitive levels swimmers and there
are no significant differences between boys and girls. It was also noted that
several biomechanical and anthropometrical parameters, as well as, the swim
performance are associated with the propulsive efficiency.
Key words: efficiency, anthropometry, biophysics, front-crawl, competitive
level
O principal objectivo de uma prova de natação pura desportiva é percorrer
determinada distância no menor tempo possível. Para que tal seja possível, o
nadador deve deslocar-se à sua máxima velocidade. Com efeito, a velocidade
maximal em natação depende de (Zamparo, Lazzer, Antoniazzi, Cedolin, Avon,
& Lesa, 2008):
Onde vmaxé a velocidade maximal, Emax é a potência metabólica total máxima e C
o custo energético. Verifica-se então que a performance em natação pura
desportiva é fortemente condicionada por pressupostos bioenergéticos [expresso
pelo numerador da equação (1)] e por pressupostos biomecânicos [expresso pelo
denominador da equação (1)] (Barbosa, Keskinen, & Vilas-Boas, 2006). Na
realidade, o Emax pode ser quantificado como sendo (Capelli, Pendergast, &
Termin, 1998):
Onde Emax é a potência metabólica total máxima, Eaer é a potência metabólica
com origem no sistema aeróbio, Eanaer-la é a potência metabólica com origem no
sistema anaeróbio láctico e Eanaer-ala é a potência metabólica com origem no
sistema anaeróbio aláctico. Todavia, mesmo em provas de natação de curtas
distâncias, o contributo percentual do Eanaer-ala para o Emax é negligenciável
(Capelli et al., 1998). Quanto ao C, este pode ser quantificado como sendo
(Zamparo, 2006):
Onde C é o custo energético, ηo a eficiência total, wtot o trabalho mecânico
total e ηp a eficiência propulsiva. Com efeito, o estudo da eficiência
propulsiva é um dos assuntos mais interessantes para os investigadores em
natação pura desportiva, já que tem uma repercussão directa no comportamento
biofísico do nadador e na sua performance (Barbosa et al., 2006). Estima-se que
a eficiência propulsiva na técnica de Crol seja de aproximadamente 50 %
(Pendergast et al., 2003; Toussaint et al., 1988). Neste caso, apenas 50 % da
potência metabólica gerada serve para a produção de trabalho mecânico externo
com repercussão na translação do centro de massa do nadador. A restante
potência metabólica perde-se por diversos fenómenos como a termo-regulação, o
trabalho postural, a co-activação e/ou absorção muscular (Winter, 1990), ou a
transferência de energia cinética para a massa de água (de Groot, & van
Ingen Schenau, 1988).
Uma das técnicas mais citadas na literatura para avaliação da ηpé o MAD
(Measure Active Drag) - system desenvolvido por Hollander et al. (1986). Este
sistema permite que o nadador se desloque na água tendo como pontos de
propulsão uma sucessão de apoios fixos. Outra técnica, sugerida por Cappaert,
Bone, e Troup (1992a), recorre a um sistema tridimensional de análise da
cinemática segmentar. Todavia, a aplicabilidade destas técnicas não é excluída
de limitações, tais como: (i) o custo económico; (ii) o tempo necessário para
montar o equipamento; (iii) o tempo necessário para adquirir e processar os
dados; (iv) o nível de expertise do avaliador na aquisição dos dados e; (v)
salvo melhor opinião, o MAD-system não ter sido validado para sujeitos de
escalões de formação. Neste sentido, o modelo teórico de Martin, Yeater, e
White (1981), e mais tarde desenvolvido por Zamparo, Pendergast, Mollendorf,
Termin, e Minetti (2005), pode ser uma opção a considerar pela sua simplicidade
de operacionalização.
Considere-se o membro superior como um segmento rígido que efectua uma
revolução completa, em que metade dessa revolução é executada com o segmento
imerso (i.e., o trajecto motor) e a outra metade da revolução com o segmento
emerso (i.e., a fase da recuperação) como expresso na figura 1.
Figura 1. Diagrama de corpo livre das forças actuantes sobre um segmento rígido
durante o trajecto motor, apresentado a força de arrasto propulsivo (Fp), a
força ascensional propulsiva (FL), a resultante da soma da Fp e da FL (F) em
cada posição angular (a) e o comprimento do membro superior (l) (modificado de
Zamparo et al., 2005)
Se a posição angular a do membro superior varia entre 0 e p, com uma dada
frequência gestual (FG), a velocidade angular w é dada por:
O trabalho mecânico útil é definido por:
De acordo com 2ª lei newtoniana, esta força deve ser igual e oposta ao arrasto
FD, considerando a massa me a aceleração a. Logo:
Se o movimento for uniforme:
O trabalho mecânico total é calculado com base no momento na articulação
escápulo-umeral, onde l é o comprimento do membro superior:
A eficiência instantânea neste tipo de locomoção é o rácio do trabalho mecânico
útil e o trabalho mecânico total:
Ao longo de um trajecto motor entre ο e π, a eficiência média é:
Como a contribuição dos membros superiores para a propulsão é de sensivelmente
90 % (Hollander et al., 1986):
A equação (11) consiste na estimação da eficiência de Froude. A diferença entre
a eficiência de Froude e a eficiência propulsiva decorre da primeira não tomar
em consideração o efeito do trabalho mecânico interno para o trabalho mecânico
total produzido. Contudo, dada a amplitude de velocidades que os nadadores não
experts atingem, o trabalho mecânico interno pode ser considerado como
negligenciável (Zamparo et al., 2005). Portanto, nesta circunstância, a
eficiência propulsiva apresenta um valor próximo da eficiência de Froude.
Diversos estudos foram desenvolvidos no sentido de compreender a dependência da
ηp de características biomecânicas e antropométricas, assim como, a sua
influência na performance. Teoricamente, foi definida a existência de uma
relação directa da ηp com a distância de ciclo (DC) e inversa com a FG
(Toussaint, & Hollander, 1994). Mais ainda, sabe-se que existe uma relação
inversa entre o C e o ηp (Barbosa, Fernandes, Keskinen, & Vilas-Boas, 2008)
e verificou-se a existência de uma relação positiva entre o C e a FG (Barbosa,
Keskinen, Fernandes, Colaço, Carmo, & Vilas-Boas, 2005). Por outro lado,
sugere-se a existência de uma associação significativa entre a ηp e diversas
características antropométricas. Por exemplo, a envergadura pode induzir
aumentos da DC e, consequentemente, aumentos na ηp (Toussaint, 1990).
Paralelamente, verificou-se que os nadadores de melhor nível competitivo
apresentavam valores superiores de ηp(p.e., Toussaint, 1990) e que esta era
superior na prova na qual o nadador era especialista (Cappaert, Franciosi,
Langhand, & Troup, 1992b).
Não obstante este tipo de estudos ser frequente em nadadores adultos e de elite
(p.e., Barbosa et al., 2008; Cappaert et al., 1992a, 1992b; Toussaint, 1990),
poucos são os trabalhos desta índole nos escalões de formação (p.e., Zamparo,
2006). Mais ainda, tanto quanto é possível apurar não há nenhuma investigação
sobre esta temática em jovens nadadores não experts. Consideram-se para o
efeito como nadadores não experts, sujeitos que, apesar de praticarem de forma
regular a actividade, não participam em quadros competitivos oficiais de
qualquer associação ou federação representativa da modalidade.
Neste sentido, este estudo teve como objectivos: (i) estimar a eficiência
propulsiva em nadadores não experts; (ii) identificar os factores biomecânicos
e antropométricos que estão associados à eficiência propulsiva e; (iii)
identificar a associação entre a eficiência propulsiva e a performance. Em
nosso entender, a análise dos factores que influenciam o rendimento desportivo
revela-se de especial importância, não só em desportistas de elite mas também
em indivíduos não experts. Cada vez mais assistimos à procura de actividades
desportivas por parte da população, em geral, e dos jovens, em particular. Esta
prática tem vindo a ser incentivada pelas políticas desportivas, pelo que a
manutenção destes praticantes nas actividades desportivas deve ser uma
preocupação dos técnicos desportivos. Neste sentido, e sabendo-se da
importância da melhoria do rendimento na motivação para a prática desportiva
(Fernandes, 1999), o estudo dos factores que influenciam a performance em
natação, como parece ser o caso da eficiência propulsiva, pode revelar-se
importante na consecução deste objectivo, através da melhoria dos processos de
treino em nadadores não experts.
Metodologia
Amostra
A amostra foi constituída por um total de 28 nadadores não experts. Quinze
nadadores do sexo masculino (13,54±2,40 anos de idade) e 13 do sexo feminino
(12,54±2,87 anos de idade). Para os objectivos deste estudo foi determinado
como parâmetro de selecção dos indivíduos que fossem clinicamente saudáveis,
não apresentando qualquer patologia músculo-esquelética nos seis meses
antecedentes à recolha de dados. Para além disso, os indivíduos tinham que ser
praticantes regulares de natação numa Escola Municipal de Natação (duas sessões
de 45 minutos por semana) com um mínimo de dois anos de prática mas que não
participavam em quadros competitivos oficiais de qualquer associação ou
federação representativa da modalidade. Foi solicitada autorização aos pais e/
ou encarregados de educação dos nadadores para estes fazerem parte do estudo.
Instrumentos e Procedimentos
Estimação da eficiência propulsiva
Para a estimação da eficiência propulsiva, cada nadador realizou três
repetições de 25 m à velocidade média correspondente à prestação num teste
máximo de 100 m Crol efectuado por todos os nadadores na semana que antecedeu
as avaliações. Assumiu-se um intervalo mínimo de 60 s entre repetições. A
partida foi efectuada dentro de água, de modo a minimizar o deslize e o
percurso subaquático. Cada nadador executou o percurso sozinho, de forma a
reduzir o efeito de drafting ou a alteração do ritmo de nado imposto. A ηp foi
estimada como descrito na equação (11). O comprimento do membro superior foi
calculado com recurso a uma correcção trigonométrica da distância entre a
articulação escápulo-umeral e o terceiro dedo, considerando o ângulo relativo
médio entre o antebraço e o braço descrito por Zamparo (2006) para nadadores de
igual idade cronológica e sexo.
Avaliação biomecânica
Os três percursos de 25 m para estimação da eficiência propulsiva foram
gravados por duas câmaras de vídeo. Uma câmara (JVC, GR-SXM26EG, Yokoama,
Japão) encontrava-se no plano sagital, com o eixo óptico perpendicular à
trajectória do nadador, no cais da piscina e captando os 15 m intermédios do
percurso a ser nadado. A outra câmara (JVC, GR-SXM26EG, Yokoama, Japão) estava
no plano oblíquo, numa banca, alinhando o seu eixo óptico com a pista. A partir
das imagens gravadas pelas duas câmaras foi calculada a velocidade de nado nos
15 metros intermédios de cada percurso:
Onde v é a velocidade de nado (m.s-1), d é a distância percorrida (m) e t o
tempo dispendido para percorrer a distância (s). De igual modo, a partir das
mesmas imagens, foi avaliada a frequência gestual (FG, Hz) nos 15 metros
intermédios do percurso, com um crono-frequencímetro de base 3 (Golfinho Sports
MC 815, Aveiro, Portugal) e posteriormente convertida em unidades do sistema
internacional (Hz). A distância de ciclo (DC, m) foi calculada sabendo que
(Craig, & Pendergast, 1979):
Onde DC é a distância de ciclo, v a velocidade de nado e FG a frequência
gestual.
Avaliação antropométrica
Para avaliação da estatura e da massa corporal utilizou-se, respectivamente,
uma balança (SECA, 884, Hamburgo, Alemanha) e um estadiómetro (SECA, 242,
Hamburgo, Alemanha). A área de superfície corporal foi estimada como sendo
(Haycock, Schwartz, & Wisotsky, 1978):
Onde ASC(m2)é a área de superfície corporal, mc a massa corporal (kg) e h a
estatura (m). Realizou-se a medição da envergadura através de uma fita métrica
(Lufkin, EUA) entre o 3º dedo médio da mão direita e o 3º dedo médio da mão
esquerda, com os membros superiores em abdução e a efectuar um ângulo relativo
com o tronco de 90º.
Efectuaram-se as medições dos comprimentos e das larguras palmar e plantar
através de dois medidores (ROSSCRAFT, Campbell, Caliper 20, Canada; ROSSCRAFT,
Campbell, Capiler 10, Canadá) de acordo com os procedimentos descritos por
Alves (1995). A área palmar foi estimada como sendo (Fragoso, & Vieira,
1994):
Onde Apalmar é a área palmar (m2) e ASC a área de superfície corporal (m2). Por
sua vez, a área plantar foi estimada (Fragoso, & Vieira, 1994):
Onde Aplantar é a área palmar (m2) e ASC a área de superfície corporal (m2). O
índice longitudinal da mão foi calculado através da seguinte equação (Alves,
1995):
Onde ILmão é o índice longitudinal da mão, Cmão é o comprimento da mão e Lmão é
a largura da mão.
O índice longitudinal do pé foi calculado através da seguinte equação (Alves,
1995):
Onde ILpé é o índice longitudinal do pé, Cpé é o comprimento do pé e Lpé é a
largura do pé.
Avaliação da performance
A performance foi obtida com recurso ao melhor tempo (s) nas provas supra-
máximas de 50 m, 100 m, 200 m e 400 m livres. A partida foi realizada do bloco
e pediu-se aos sujeitos para cumprir a prova à máxima velocidade, como se uma
situação competitiva se tratasse. A ordem das provas entre os sujeitos foi
aleatória e com um intervalo mínimo de 24 horas entre elas. Todas as provas
foram realizadas à mesma hora do dia para minimizar o possível efeito do ritmo
circadiano. Todas as provas foram realizadas mais uma vez com o nadador
sozinho, sem outro nadador na pista de forma a reduzir o efeito de drafting ou
de alteração do ritmo de nado.
Procedimentos estatísticos
A análise exploratória dos dados incluiu a determinação dos pressupostos de
normalidade através do teste de Shapiro-Wilk, testando a hipótese nula que a
amostra seleccionada tem origem numa população com distribuição normal
(p≤0,05). Foi calculada a estatística descritiva (média e um desvio-padrão) de
todas as variáveis em estudo. Para comparação das variáveis entre sexos
utilizou-se o teste de Mann-Whitney para amostras independentes. Para
determinação do grau de associação entre a eficiência propulsiva e as
características antropométricas, a performance e as características
biomecânicas adoptou-se o coeficiente de correlação de Spearman. Em todas as
situações o nível de significância foi determinado para p≤0,05.
Resultados
O quadro 1 apresenta a estatística descritiva de todas as variáveis estudadas e
a sua comparação com base no sexo dos sujeitos. A ηpnão apresentou diferenças
significativas entre os dois sexos. Relativamente às variáveis biomecânicas,
apenas a v foi significativamente superior no sexo masculino do que no feminino
(p<0,01).
Quadro 1. Estatística descritiva (média ± desvio-padrão) das variáveis
estudadas e respectiva comparação em função do sexo
_______________________________________________________
|Variáveis |Sexo Masculino|Sexo Feminino |p |
|___________________|M±DP_________|M±DP_________|_____|
|ηp(%)_____________|20,56_±_10,00|20,51_±_10,41|ns___|
|v_(m.s-1)__________|0,77_±_0,12__|0,69_±_0,09__|<0,01|
|FG_(Hz)____________|1,04_±_0,19__|0,99_±_0,19__|ns___|
|DC_(m)_____________|0,76_±_0,15__|0,71_±_0,14__|ns___|
|Estatura_(m)_______|1,62_±_0,15__|1,56_±_0,12__|ns___|
|Massa_corporal_(kg)|55,7_±_14,4__|48,8_±_11,21_|ns___|
|Envergadura_(m)____|1,62_±_0,17__|1,52_±_0,14__|<0,01|
|ASC_(m2)___________|1,58_±_0,27__|1,46_±_0,22__|ns___|
|Apalmar_(m2)_______|0,021_±_0,003|0,018_±_0,003|0,04_|
|Aplantar_(m2)______|0,030_±_0,005|0,025_±_0,004|<0,01|
|Cmão_(m)__________|0,17_±_0,03__|0,16 _±_0,04|0,01_|
|Lmão_(m)__________|0,09_±_0,01__|0,09 _±_0,02|0,02_|
|ILmão_____________|1,93_±_0,12__|1,95_±_0,11__|ns___|
|Cpé_(m)___________|0,24_±_0,03__|0,22 _±_0,04|0,02_|
|Lpé_(m)___________|0,10_±_0,02__|0,09 _±_0,03|0,04_|
|ILpé______________|2,61_±_0,19__|2,63_±_0,21__|ns___|
|50m_Livres_(s)_____|41,9_±_8,47__|46,80_±_7,25_|<0,01|
|100m_Livres_(s)____|90,93_±_16,98|101,29_±_15,8|<0,01|
|200m_Livres_(s)____|219,39_±_36,8|241,84_±_35,9|<0,01|
|400m_Livres_(s)____|465,62_±_70,8|516,08_±_64,9|<0,01|
ns: Não significativo
No caso das variáveis antropométricas, as variáveis Envergadura (p<0,01),
Apalmar (p=0,04), Aplantar (p=001), Cmão (p=0,01), Lmão (p=0,02), Cpé (p=0,02)
e Lpé (p=0,04) foram significativamente superiores no sexo masculino. No que
concerne à performance, o sexo masculino apresentou em todas as provas melhores
resultados desportivos do que o sexo feminino (p=0,01).
O quadro 2 apresenta a associação entre a <η pe os parâmetros biomecânicos,
antropométricos e da performance seleccionados.
Quadro 2. Associação entre a eficiência propulsiva e as restantes variáveis
________________________________________________
|Variáveis_________|Sexo_Masculino|Sexo_Feminino|
|v_(m.s-1)__________| _0,81_**____| _0,90_**___|
|FG_(Hz)____________|-0,79_*_______|-0,93_**_____|
|DC_(m)_____________| _0,90_**____| _0,97_**___|
|Estatura_(m)_______| _0,76_*_____| _0,83_*____|
|Massa_corporal_(kg)| _0,71_*_____| _0,86_*____|
|ASC_(m2)___________| _0,74_*_____| _0,89_*____|
|Envergadura_(m)____| _0,74_*_____| _0,79_*____|
|Apalmar_(m2)_______| _0,79_*_____| _0,89_**___|
|Aplantar_(m2)______| _0,79_*_____| _0,89_**___|
|Cmão_(m)__________| _0,83_*_____| _0,86_**___|
|Lmão_(m)__________| _0,69_*_____| _0,57______|
|ILmão_____________| _0,28_______|-0,33________|
|Cpé_(m)___________| _0,80_*_____| _0,74_*____|
|Lpé_(m)___________| _0,65_______| _0,75_*____|
|ILpé______________| _0,68_*_____|-0,19________|
|50m_Livres_(s)_____|-0,85_**______|-0,96_**_____|
|100m_Livres_(s)____|-0,90_**______|-0,93_**_____|
|200m_Livres_(s)____|-0,85_**______|-0,79**______|
|400m_Livres_(s)____|-0,92_**______|-0,89**______|
*p£0,05 ** p£0,01
Todos os parâmetros biomecânicos apresentaram associações elevadas e
significativas com a ηp em ambos os sexos (-0,79 ≤ rs ≤ 0,90). No caso dos
parâmetros antropométricos, no sexo masculino não se verificaram associações
significativas com a ILmão e Lpé; já no sexo feminino foi a Lmão, o ILmão e o
ILpé a não apresentar correlações significativas. Quanto à associação com a
performance as relações foram elevadas, negativas e significavas em todas as
situações nos dois sexos (-0,96 ≤ rs ≤ -0,79).
Discussão
O presente estudo teve como objectivos estimar a eficiência propulsiva em
nadadores não experts, assim como, identificar os factores biomecânicos,
antropométricos e da performance associados à ηp.Os principais resultados
demonstram que a ηp não apresentou diferenças significativas entre os dois
sexos e que diversos parâmetros biomecânicos, antropométricos e a performance
estão associados a esta variável.
Os valores médios da ηp foram 20,56±10,00%, para o sexo masculino e
20,51±10,41%, para o sexo feminino. Com efeito, os valores obtidos revelam-se
bastante inferiores aos descritos na literatura para nadadores de competição,
estando estes próximos dos 50% (Toussaint et al., 1988), com recurso ao MAD-
system; ou de 61,5 ± 10,2%, para nadadores de longas distâncias, adoptando a
cinemetria como metodologia de avaliação (Cappaert et al., 1992b). Comparando
estes valores com nadadores de igual idade cronológica, mas de nível
competitivo superior, estimados pela mesma metodologia, continuam a ser
inferiores (Zamparo et al., 2008). Nadadores de 13 anos e nadadoras de 12 anos
apresentaram uma ηp de 33±3% e 32±4%, respectivamente. Com efeito, confirma-se
que um dos melhores marcadores do nível competitivo é a ηp, como sugere o
estudo clássico de Toussaint (1990).
A ηpnão apresentou diferenças significativas entre os dois sexos. Este mesmo
facto foi descrito no único estudo que incluiu nadadores de idêntica faixa
etária (Zamparo, 2006). Ao analisar esta variável numa amostra de nadadores com
idades compreendidas entre os 9 e os 59 anos, a ηp não apresentou diferenças
significativas até ao momento da puberdade. Dado o reduzido nível competitivo,
ambos os sexos apresentaram velocidades de deslocamento muito reduzidas e
frequências gestuais semelhantes. Da equação (11) emergem como variáveis
independentes da ηp a velocidade de nado, a frequência gestual e o comprimento
do membro superior. Ainda assim, a velocidade de nado foi significativamente
superior no sexo masculino do que no feminino. Já a FG não apresentou
diferenças significativas. Isto sugere que a ηp poderá decorrer da capacidade
de gerar apoio na água e de minimizar a transferência de energia cinética para
a massa de água. Por outras palavras, existem factores que não foram tomados em
consideração e que podem ser explicativos da não existência de diferenças
significativas na ηpentre os dois sexos. Isto apesar de duas das principais
variáveis independentes tenderem a impor essa diferença. Assim, especula-se que
a variável comprimento do membro superior poderá conter a capacidade
justificativa da ausência de diferenças na ηp.
Todos os parâmetros biomecânicos apresentaram associações elevadas e
significativas com a ηp em ambos os sexos. Mais uma vez, dado que a ηpé
estimada com base na velocidade de nado e na frequência gestual, é natural que
as associações sejam significativas. Mais ainda, como descrito na equação (13),
a DC é obtida através dessas mesmas variáveis. Logo, algum cuidado deve ser
tido na interpretação destes dados, já que se pode configurar como estando na
presença de uma situação de multicoliniaridade. Ainda assim, na literatura,
descreve-se de forma sustentada que a <ηp está positivamente associada a níveis
superiores de ve de DC (p.e., Toussaint, & Hollander, 1994; Zamparo et al.,
2005). Por outro lado, sabe-se que existe uma relação inversa entre o custo
energético e a ηp, como expresso na equação (3). Logo, valores superiores de
custo energético decorrem de maiores frequências gestuais e/ou menores
distâncias de ciclo para uma dada velocidade de nado (Barbosa et al., 2005;
2008).
No caso dos parâmetros antropométricos, não se verificaram associações
significativas entre a ηp e a ILmão ou o Lpéno sexo masculino. Já no sexo
feminino, não se verificaram associações significativas entre a ηpe a Lmão, o
ILmão e o ILpé . Ou seja, a maioria das variáveis antropométricas seleccionadas
para o estudo apresentaram associações significativas com a ηp. Com efeito,
determinadas dimensões antropométricas estão associadas à performance e à
eficiência ou ao custo energético de nado (Grimston, & Hay, 1986; Meira,
Reis, Silva, Carneiro, Reis, & Aidar, 2008). Desde logo, sujeitos mais
altos tenderão a apresentar uma maior envergadura; esta, por sua vez, impõe uma
maior DC para uma mesmav e; consequentemente, um menor C ou uma maior ηp. Mas
não só as dimensões têm repercussões no perfil bioenergético. Também as áreas
têm uma influência nesse mesmo perfil. A título ilustrativo, verificaram-se
associações positivas e significativas entre a ηp e as Apalmare Aplantar. Ora,
partindo de uma análise de escoamentos estáveis, a força propulsiva total é a
soma vectorial da força de arrasto propulsivo e da força ascensional. Quer uma,
quer outra, são condicionadas pela área de secção transversa na direcção do
deslocamento (Marinho et al., 2009;in press). Que é o mesmo que dizer que,
considerando as restantes variáveis constantes, o aumento da área propulsiva
(no caso, das mãos e pés) induz aumentos da força propulsiva; a qual,
considerando, mais uma vez, que o arrasto não apresenta variações
significativas, promove o aumento da velocidade de deslocamento do sistema
biológico de forma mais eficiente. Na verdade, uma das variáveis
antropométricas mais associadas à performance (Grimston, & Hay, 1986) e à
resposta hidrodinâmica (Kjendlie & Stallman, 2008) é a estatura. Por
exemplo, a estatura é uma factor determinante no número de Froude, no qual o
aumento da primeira induz diminuições na segunda e, portanto, reduzindo a
intensidade da força de arrasto hidrodinâmico que se opõe ao deslocamento do
nadador (neste caso, na sua componente de onda).
Quanto à associação com a performance, as relações foram elevadas, negativas e
significavas em todas as situações em ambos os sexos. Zamparo et al. (2005)
descreveram a existência de uma relação positiva entre a eficiência total, a
qual se relaciona com a ηp, como descrito na equação (3), bem como da própria
ηp, com a velocidade de nado, onde aumentos da eficiência imprimiam aumentos na
velocidade. Ora, sendo a velocidade um elemento-chave para a consecução da
distância da prova no menor intervalo de tempo possível, considera-se que
existirá uma relação entre a ηpe a performance. Esta relação positiva entre a
ηpe a performance vem reforçar a importância dos aspectos técnicos e do treino
técnico na melhoria do rendimento desportivo. Mesmo em nadadores não experts,
as melhorias do rendimento desportivo parecem ser fortemente condicionadas pela
eficiência de nado e estas decorrem em grande medida do treino técnico. Neste
sentido, e sabendo-se da importância que a melhoria do rendimento pode ter no
aumento da motivação e adesão à prática desportiva, os técnicos desportivos
deverão focalizar a sua atenção também nos aspectos técnicos que influenciam a
eficiência propulsiva e, desta forma, a performance em natação (Fernandes,
1999).
Conclusões
Pode-se então concluir que a ηp de nadadores não experts é inferior à descrita
na literatura para nadadores de outros níveis competitivos e como não havendo
diferenças significativas entre os dois sexos. A ηp associa-se de forma
significativa e elevada com diversos parâmetros biomecânicos e antropométricos.
Elevados valores de ηp estão fortemente associados a melhores performances.
Ainda assim, algumas limitações serão de elencar: (i) o facto de esta abordagem
ser uma estimativa e não uma avaliação da eficiência propulsiva; (ii) a
impossibilidade de estimar esta variável nas restantes técnicas de nado; (iii)
a subestimação da ηpdecorrente de não tomar em consideração o contributo da
acção dos membros inferiores para a velocidade de deslocamento do centro de
massa do nadador; (iv) a necessidade de implementar um estudo semelhante a um
grupo substancialmente mais alargado de sujeitos; (v) o controlo de variáveis
associadas ao processo ensino-aprendizagem das sessões e sua relação com a ηp.
No futuro, parece ser interessante alargar este estudo a nadadores não experts
de outros escalões etários, nomeadamente adultos e jovens adultos que
participam regularmente em aulas de natação, tentando-se compreender melhor o
tipo de associações que se estabelecem entre a ηp e a performance ; ̄o. Mais em
natação. Mais ainda, a utilização da ηp como variável de avaliação do produto
de um ou vários programas alternativos de ensino de natação pura desportiva.
Por outro lado, a análise da ηp noutras técnicas de nado que não apenas a
técnica de crol parece ser um tópico com bastante pertinência para ser estudado
em investigações futuras, ainda que com uma metodologia diferente da aqui
apresentada.