Home   |   Structure   |   Research   |   Resources   |   Members   |   Training   |   Activities   |   Contact

EN | PT

EuPTCVHe1646-107X2010000300005

EuPTCVHe1646-107X2010000300005

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN1646-107X
Year2010
Issue0003
Article number00005

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.

Precisão das equações preditivas de 1-RM em praticantes não competitivos de treino de força

O treino de força (TF) é uma das formas de exercício mais utilizadas para o condicionamento físico, tanto de atletas, quanto de não atletas (Fleck & Kraemer, 1999). A popularidade crescente do treino de força tem estimulado investigação sobre os seus efeitos (Baechle & Groves, 2000). São vários os autores (Myer, Ford, Palumbo, & Hewett, 2005; Manso, 1999; O'Conner, Simmons, & O'Shea, 1989) que relatam efeitos do treino de força na melhoria da performance desportiva e do estado de saúde dos indivíduos, nomeadamente, melhoria da composição corporal, prevenção de problemas posturais, articulares e lesões músculo-esqueléticas.

O American College of Sports Medicine (ACSM, 2002), cita a importância do TF para a manutenção da qualidade de vida das pessoas e recomenda que sejam realizados de 2 a 3 sessões por semana, de 8 a 10 exercícios para os principais grupos musculares por sessão e, de 8 a 15 repetições por exercício. Para que um programa de TF produza os efeitos desejados, é muito importante que as cargas de treino sejam criteriosamente determinadas. Somente através da utilização da carga correta é que um programa de exercícios de força poderá atingir o sucesso com atletas (Fleck & Kraemer, 1999).

Existem diferentes formas para prescrever a carga de treino. A forma mais popular e simples para determinação da carga de trabalho é o teste da uma repetição máxima (1-RM) ou teste de carga máxima (Cosgrove & Mayhew, 1997; Manso, 1999), que é a máxima carga que pode ser levantada em apenas uma repetição completa (Pereira & Gomes, 2003). Após a identificação da 1-RM, as cargas de treino serão, então, prescritas de acordo com a percentagem da carga máxima (%1-RM) (Abadie & Wentworth, 2000) que objectiva as adaptações pretendidas. O quadro 1 mostra alguns exemplos sobre o valor das percentagens da carga máxima e respectivas adaptações inerentes ao processo de treino (Dantas, 2002).

Quadro 1 Relação entre adaptações provocadas pelo treino e a percentagem da 1-RM

O teste de 1-RM é frequentemente utilizado por treinadores, especialistas na área de reabilitação e profissionais do fitness e da saúde (Braith, Graves, Leggett, & Pollock, 1993). Porém, por se tratar de uma metodologia que utiliza cargas máximas, este método é contra-indicado para indivíduos iniciantes no TF, para crianças, adolescentes e adultos sedentários, idosos, hipertensos e cardíacos e nos casos de recuperação muscular (Abadie & Wentworth, 2000; Manso, 1999; Pereira & Gomes, 2003), pelo risco elevado de causar lesões musculo-esqueléticas (Mayhew, Ware & Prinster, 1993).

A sua utilização é também na maioria das vezes muito demorada. Devido a estas limitações impostas pelo teste de 1-RM, algumas equações foram desenvolvidas visando estimar a carga máxima que um indivíduo pode suportar através da utilização de cargas submáximas. Destes estudos surgiram, então, equações de regressão para predição da carga máxima através da utilização de cargas submáximas.

Muitos são os trabalhos sobre predição de cargas máximas através da utilização de cargas submáximas. Berger (citado por Abadie & Wentworth, 2000) e Carpinelli (2002), executou 1-RM, 5-RM e 10-RM no exercício supino plano.

Através dos dados coletados, foram estimados valores de 1-RM utilizando valores obtidos com cargas que permitiam a realização de 2-RM a 10-RM, com alto grau de correlação (r = .96). Braith, Graves, Leggett e Pollock (1993) realizaram 7-RM a 10-RM no exercício de extensão de pernas (cadeira extensora), verificando um coeficiente de correlação de r = .94 com o teste de 1-RM. Existem muitos estudos relacionando a precisão de algumas equações de predição de 1-RM (Altorfer, Abadie & Schuler, 1997; Dohoney, Chromiak, Lemire, Abadie & Kovacs, 2002; Ploutz-Snyder & Giamis, 2001). A eficiência destas equações depende da sua fiabilidade de estimação da 1-RM (Mayhew, Prinster, Ware, Zimmer, Arabas, & Bemben, 1995). Apesar da grande quantidade de estudos, muitas equações, com uso generalizado, não apresentam ainda indicadores da sua adequabilidade para praticantes habituais de treino da força em centros de fitness. Muitas destas equações apresentam semelhanças, apresentando em sua composição as mesmas variáveis e possuindo, assim, resultados muito próximos.

Algumas das equações mais frequentemente utilizadas são expostas no quadro 2.

Quadro 2 Equações de predição de 1-RM

As equações de O'Conner et al. (1989) e Baechle e Groves (2000) são muito semelhantes: a carga máxima (1-RM) é o produto de uma constante (cujos valores são muito próximos) pelo número de repetições. Ao valor encontrado, adiciona-se o valor de outra constante. Para alcançar o resultado final multiplica-se o valor encontrado até então pela carga realizada no teste submáximo. A equação proposta por Epley (Epley, 1995) diferencia-se, pois o valor da carga é multiplicado por uma constante e o resultado é novamente multiplicado pelo número de repetições e adicionado à carga atingida no teste submáximo.

As equações de Brzycki (Brzycki, 1993) e Lander (Lander, 1985) apresentam valores de %1-RM similares. Das equações referidas no quadro 2, a equação de Adams (Adams, 1994) considera que para cada repetição realizada, a carga suportada cai em aproximadamente 2%. Assim, multiplicando-se 2% pelo número de repetições realizadas, encontra-se o percentual de queda em relação a 1-RM.

Então, a carga utilizada para um determinado número de repetições corresponde ao valor percentual de perda em relação à carga máxima.

O objectivo deste estudo é investigar a precisão das equações de predição de 1- RM relacionadas no quadro 2, quando comparadas ao teste de 1-RM numa população de praticantes habituais de treino da força.

MÉTODO Amostra Trinta e um indivíduos do sexo masculino, aparentemente saudáveis (média ± DP: idade, 21.8 ± 4.0 anos; peso, 75.9 ± 8.4 kg; altura, 178.1 ± 6.4 cm), praticantes de treino de força numa base regular (3 - 4 sessões/semana) participaram no estudo. Todos os indivíduos foram informados sobre os procedimentos adoptados para a realização dos testes e assinaram a declaração de consentimento informado. O exercício escolhido para a realização do presente estudo foi o supino recto com barra, pelo facto de ser um exercício estrutural e poliarticular. Antes dos testes, os indivíduos receberam instruções padronizadas sobre a técnica de execução. Este estudo está de acordo com as normas da Declaração de Helsinque de 1975.

Instrumentos e Procedimentos O exercício supino recto com barra foi realizado em um banco próprio (Body and Soul, Brasil), utilizando uma barra de 1.80 m e discos de .5 kg a 25 kg. A partir da posição de deitado em decúbito dorsal, com joelhos e quadris semiflexionados, com os pés sobre o apoio do próprio aparelho, dois ajudantes (certificados pelo National Strenght and Conditioning Association), colocavam a barra nas mãos do sujeito, que iniciava o teste com os braços em extensão. A distância entre as duas mãos na pega na barra era medida previamente de forma que, quando os braços assumissem a posição paralela ao solo, os cotovelos descrevessem um ângulo de 90o. O movimento descendente (fase excêntrica), era executado em 2 segundos e até tocar levemente o peito do sujeito, no ponto meso-esternal. Nenhuma assistência física era dada para ajudar os participantes a completar a fase concêntrica da repetição. A repetição era válida quando os braços se encontravam em extensão.

A recolha de dados referentes às cargas de trabalho no supino recto foram divididas em 2 partes: ) carga referente ao teste de 1-RM (carga máxima); e, ) carga referente ao teste submáximo e respectivo número de repetições. O teste de 1-RM e o teste submáximo foram realizados em dias diferentes (entre 48 e 72 horas), de forma a evitar fadiga acumulada.

Protocolo do Teste de 1-RM Antes de realizar o teste propriamente dito os sujeitos realizaram um de aquecimento, que segundo Kraemer e Fry (1995), consiste de 5 a 10 repetições, com uma carga equivalente a 40 a 60% da máxima percebida, seguido de alongamentos por um minuto. A seguir, a carga foi aumentada para uma carga de, aproximadamente, 60 a 80% da máxima percebida. Após este aquecimento, os indivíduos respeitaram um intervalo de 2 minutos, enquanto a carga era incrementada para a realização do teste. O movimento era realizado com o indivíduo podendo ou não vencer a resistência oferecida e após um intervalo de 5 minutos a carga era, respectivamente, aumentada ou diminuída para permitir a realização de uma única repetição (Dias, Cyrino, Salvador, Caldeira, Nakamura, & Papst, 2005). O número máximo de tentativas permitidas na mesma sessão foi de três, conforme procedimento descrito na literatura (Marins & Giannichi, 1996).

Protocolo do Teste submáximo Após a realização do mesmo protocolo de aquecimento do teste de 1-RM, um carga de aproximadamente 80 a 100% da carga máxima percebida era selecionada. Aos sujeitos foi solicitado a realização do maior número de repetições, que no caso deste estudo ficaram entre 4 e 10 repetições máximas.

Análise estatística Os dados foram analisados com o software SPSS 13.0 (SPSS Science, Chicago, USA). A análise exploratória dos dados incluiu medidas descritivas e confirmação do pressuposto de normalidade (teste de Kolmogorov-Smirnov). As diferenças entre medidas foram testadas pela ANOVA com post-hoc de Scheffé. As associações entre variáveis foram investigadas por regressões lineares simples.

Os resultados são apresentados como médias e desvios padrão (M ± DP).

RESULTADOS No teste de 1-RM a carga obtida foi de 76.23 ± 12.52 kg, com valores mínimos e máximos de, respectivamente, 58.0 e 100.0 kg. No teste submáximo, o número de médio de repetições foi de 7.29 ± 1.62 reps, com variação de 4 a 10 RM. A carga média utilizada no teste submáximo foi de 61.9 ± 12.16 kg, com variação de 46.0 a 86.0 kg.

Os valores de carga encontrados com a aplicação das equações preditivas da 1-RM variaram de 73.05 ± 13.75 kg a 77.38 ± 15.19 kg.

Os valores mínimos e máximos encontrados variaram de 50.19 a 107.50 kg (ver quadro 3).

Quadro 3 Valores estimados de 1-RM através da utilização das equações de regressão (n = 31)

A análise de variância mostrou que não diferenças significativas (p > .05) entre os resultados das equações. As equações preditivas da 1-RM tiveram um erro padrão baixo (EP), variando entre 2.7 e 3.2 kg. Os coeficientes de determinação (r2) variaram de .94 a .96, conforme mostra o quadro 4 e as figuras de 1 a 6.

Quadro 4 Correlação (r2) e erro padrão (EP) de estimativa das equações de regressão

Figura 1. Correlação entre o resultado da equação de O’Conner et al. (1989) e o resultado de 1-RM

Figura 2. Correlação entre o resultado da equação de Epley (1995) e o resultado de 1-RM

Figura 3. Correlação entre o resultado da equação de Brzycki (1993) e o resultado de 1-RM

Figura 4: Correlação entre o resultado da equação de Lander (1985) e o resultado de 1-RM

Figura 5. Correlação entre o resultado da equação de Adams (1994) e o resultado de 1-RM

Figura 6. Correlação entre o resultado da equação de Baechle e Groves (2000) e o resultado de 1-RM

DISCUSSÃO O teste de 1-RM é um método muito utilizado para a mensuração da carga máxima nos exercícios de musculação (Manso, 1999). Porém, apresenta algumas contra- indicações quanto a seu uso. De forma a melhorar o acesso à 1-RM, foram desenvolvidos modelos matemáticos para predição de carga máxima através da utilização de cargas submáximas. Tais equações apresentam, hoje, grande utilização entre os profissionais que trabalham nas salas de musculação. O objectivo deste trabalho foi estudar a precisão das equações aplicadas a uma amostra especifica de praticantes de treino da força em ginásios e academias.

Os resultados encontrados no estudo estão em concordância com alguns estudos de predição de 1-RM através da utilização de cargas submáximas realizados com outras populações. Os valores obtidos com a aplicação das equações preditivas apresentam valores de correlação elevados com os do teste de 1-RM. Berger (citado por Abadie & Wentworth, 2000) obteve uma correlação de .96 em sua predição de 1-RM realizando 2 a 10 repetições. Braith et al. (1993) obtiveram correlação de .94 na predição na cadeira extensora. Cummings e Finn (1998), numa investigação com 57 mulheres com idade de 18 a 50 anos, determinaram através de 4-8 RM, o valor de 1-RM para o supino recto com uma correlação de .94. Rose e Ball (1992) avaliaram mulheres de 18 a 25 anos e encontraram correlações de .78 a .82, utilizando cargas de 15.9 kg e 20.4 kg, respectivamente. Pereira e Gomes (2003), através de uma revisão crítica acerca do assunto, também encontraram forte relação entre equações preditivas e o teste de 1-RM. Os referidos autores recomendam que quando os testes forem utilizados em estudos, a fiabilidade das equações deve ser verificada antes do início do estudo.

Concluímos, então, que todas as equações utilizadas no estudo para a predição de carga máxima, podem ser empregues com o intuito de predizer, para o exercício supino recto com barra, o valor de 1-RM com alto grau de confiança, auxiliando, assim, os profissionais na avaliação e prescrição do treino de força. Porém, recomenda-se que sejam realizados outros estudos com outras populações (por exemplo: adolescentes, idosos e mulheres), outros grupos musculares, velocidades de execução, biótipos e tempos de treino diferentes para verificar a precisão de tais equações.


Download text