Em busca de novas formas de intervenção
Em busca de novas formas de intervenção
A quest for new forms of intervention
J. Vasconcelos-Raposo, H.M. Fernandes
Direcção da Revista Motricidade ' Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
O sucesso na vida académica, ao nível Universitário, é, cada vez mais,
dependente da divulgação dos trabalhos de pesquisa que os docentes/
investigadores realizam nas suas instituições. É de todos sabido que para esse
sucesso contribuem, de forma expressiva, os meios utilizados para essa
divulgação. De entre os vários formatos para tornar público os novos saberes, e
de entre os múltiplos que estão disponíveis à comunidade científica, as
revistas, por enquanto, ainda são os veículos de eleição. Por quanto mais
tempo, dependerá das adaptações que a academia e as instituições de ensino e
investigação fizerem às novas realidades da economia de mercado que se
redesenha no mundo actual.
Se por um lado a investigação se apresenta como uma mais-valia para a criação
de novos produtos a serem introduzidos na rede produtiva, por outro as
revista são um dos instrumentos a serem utilizados na promoção desse mesmo
"produto". No entanto, aquilo que nos é dado a entender é que apesar
dessa "aparente" relevância dos meios de divulgação, em quase nada as
revistas partilham dos lucros que advêm dos projectos industriais. Importa que
saibamo-nos organizar, construir e promover estratégias que nos permitam manter
a relevância que ainda vamos tendo na comunidade científica. A realidade que
adivinhamos para o futuro é que com o actual ritmo de acesso aos meios
electrónicos, as páginas pessoais dos investigadores se transformem no meio
privilegiado para a divulgação dos saberes por eles gerados. Neste quadro
importa saber, quanto antes que papel poderemos desempenhar na comunidade
científica.
Todo e qualquer director de uma revista científica, tem por missão fundamental
pensar em estratégias para consolidar e ampliar a credibilidade dos trabalhos
que lhe são confiados. Mas para isso tem de estar atento e atempadamente
alertar os seus colaboradores para as necessárias melhorias, de forma a se
assegurar da continuidade do progresso possível, caso não disponha de matéria-
prima suficiente tanto em número como em qualidade. Felizmente, na Motricidade,
temos vindo a beneficiar de um maior número de pesquisadores que confiam em nós
para tornar públicos os seus trabalhos. Agora importa que a Motricidade se
torne mais exigente no que se refere aos critérios de aceitação de manuscritos
a serem publicados. Assim, passaremos a ser mais selectivos no que se refere a
aspectos como por exemplo os tamanhos das amostras dos trabalhos.
Como estratégia para aumentar o número de publicações a serem contabilizadas
para os seus índices de produtividade, alguns pesquisadores desenvolveram o
hábito de acrescentar nomes aos autores de trabalhos. Isto é feito na base de
um princípio de reciprocidade. Nada de maior seria de realçar se não fosse o
caso de serem submetidos trabalhos em que há mais autores do que sujeitos
estudados sem que para isso o tema do trabalho, assim como as características
da amostra, o justifiquem. Enquanto responsáveis pela divulgação destes
trabalhos procuramos respeitar aqueles que são os pareceres dos revisores e
desde que estes afirmem que os manuscritos se apresentam com qualidade e
relevância para a comunidade científica, publicamos esses artigos. Mas tal
facto não nos isenta de uma reflexão mais profunda e séria sobre o papel que
efectivamente desejamos ter na divulgação científica.
O ano que agora começa reveste-se da maior importância para a Motricidade. É um
ano de consolidação de um esforço "gigantesco" de todos aqueles que
generosamente têm dado o seu tempo e saber para este projecto. No momento em
que escrevo estas linhas a preocupação é já 2012. O que poderemos fazer para
sermos mais eficazes nos nossos propósitos e mais eficientes na nossa gestão? É
certo que estaremos em mais bases de indexação, que teremos mais gente a
procurar os artigos que publicamos e mais pessoas a desejarem publicar na
Motricidade. Um exemplo do primeiro acontecimento é a recente indexação da
Motricidade na base de dados da PsycINFO, a qual é da responsabilidade da
American Psychological Association. Esta é uma das mais importantes e
procuradas fontes de indexação e de referenciação bibliográfica para as
investigações produzidas no âmbito da psicologia, desenvolvimento humano e
saúde, constituindo por isso um motivo de orgulho para o trabalho editorial
desenvolvido, mas também um motivo de maiores responsabilidades e exigências em
relação à qualidade editorial futura.
No que se refere à divulgação estamos bem e continuaremos a crescer e a nos
afirmarmos como uma revista de referência em língua portuguesa nas áreas em que
intervimos. Mas a nossa ambição não se cinge a divulgar ciência produzida.
Desejamos desempenhar um papel activo na formação de novos investigadores e no
processo de criar novas gerações de pesquisadores e para isso importa estar
atentos aos novos desafios e às novas realidades socioculturais que de alguma
forma condicionam os ritos de passagem a que são sujeitas as novas gerações.
Durante 2011 faremos uma reflexão sobre eventuais formas de acção sobre como
atrair para o nosso espaço de intervenção trabalhos que aprofundem a teoria,
que desafiem o academismo instalado e que é tipicamente pouco inovador nas suas
práticas científicas.
Em suma, durante 2011 esperamos encontrar respostas para a seguinte questão:
Como poderemos ser um instrumento para acrescentar saber mais do que linhas
aos CVs ?