Excelência no desporto: Para uma compreensão da arquitectura psicológica dos
atletas de elite
Na última década, a necessidade de compreender os desempenhos excelentes no
desporto suscitou o interesse da Psicologia e das Ciências do Desporto,
tornando-se num tópico central de investigação na comunidade científica. No
entanto, apesar da diversidade de estudos, muitas são ainda as dúvidas
relacionadas com o conceito de excelência, começando pela sua (in)definição.
Neste sentido, coexistem vários termos que lhe estão directa ou indirectamente
associados, tais como, expertise, eminence, expert performance, alto
rendimento, elite, mestria e talento, entre outros. Todos estes termos têm
implícita a ideia de uma performance elevada e consistente num domínio
específico. A par desta dificuldade conceptual, está a multiplicidade de
teorias compreensivas da excelência e a diversidade de factores associados,
tornando assim evidente a complexidade inerente à sua operacionalização.
Quando reflectimos sobre a psicologia da excelência aplicada a contextos
desportivos, atletas como Tiger Woods, Venus Williams, Roger Federer, Yelena
Isinbayeva, Cristiano Ronaldo, Ian Thorpe, Sebastien Loeb ou Usain Bolt,
surgem-nos, quase de forma automática, devido aos seus desempenhos
excepcionais. Também inevitavelmente nos surgem questões como: Quais as
características ou competências que tornam estes atletas extraordinários? O que
os distingue dos restantes? Como é que desenvolveram essas competências? A
resposta a estas questões tem despertado o interesse generalizado dos
investigadores na área, daí resultando uma procura sistemática da
arquitectura psicológica dos atletas de elite.
Deste modo, os objectivos do presente estudo consistiram em: a) apresentar uma
breve panorâmica das principais abordagens teóricas ao estudo da excelência em
contextos de realização; b) explorar os factores associados à excelência em
contextos desportivos; c) identificar, descrever e analisar as características
e competências psicológicas associadas ao sucesso dos atletas, e como as mesmas
se desenvolvem; e d) analisar a importância dos processos emocionais e
afectivos, bem como das estratégias de copingno sucesso desportivo.
DESENVOLVIMENTO
Abordagens teóricas ao estudo da excelência
Em termos históricos, Galton (1869) é apontado como o primeiro investigador a
estudar a excelência em diferentes domínios e áreas de realização. Desde então,
aumentaram os estudos em torno do fenómeno e emergiram vários modelos
teóricos para o seu enquadramento. Entre eles, destacam-se as abordagens da
sobredotação, em que a excelência se associa a conceitos como habilidades
inatas, talentos e elevadas competências intelectuais; as abordagens da
expertise, onde se destacam conceitos como rendimento superior, peak
performance, rendimento perito ou especializado, desempenho excepcional; e,
finalmente, as abordagens da sabedoria, em que a excelência se encontra mais
associada à experiência de vida (pessoal e profissional) e ao compromisso com
os valores e a própria sociedade.
Quando nos centramos na perspectiva da sobredotação, temos inevitavelmente de
mencionar os trabalhos pioneiros de Terman (1925), para quem o indivíduo
sobredotado deveria apresentar um QI igual ou superior a 145. Esta leitura da
sobredotação confinada ao QI permaneceu no tempo, e só a partir dos anos 60 do
século passado outras variáveis psicológicas foram consideradas. Nesta altura,
a própria sobredotação deixa de ser entendida como um estado e, antes, como
um processo de desenvolvimento, para o qual convergem variáveis de natureza
pessoal e contextual. A título de exemplo, Gagné (2004), no seu Modelo
Diferenciado de Sobredotação e Talento (DGMT), considera que as habilidades
naturais se traduzem em talento ou excelência numa determinada área quando
sujeitas a processos de aprendizagem e de prática, intervindo aí catalisadores
de natureza intrapessoal, ambiental e factores de sorte ou oportunidades.
Refira-se, também, o trabalho desenvolvido por Sternberg (1998, 2001, 2005)
onde a excelência é entendida como interacção de competências cognitivas e
metacognitivas, competências de aprendizagem e conhecimento, motivação e
contexto de realização, no quadro do modelo WICS (wisdom, intelligence,
creativity, synthesized) que entende a sobre-dotação como síntese de sabedoria,
inteligência e criatividade. Corroborando esta perspectiva, importa alargar o
conceito de sobredotação a outras dimensões de capacidade e desempenho, para
além do domínio estritamente cognitivo (Almeida & Oliveira, 2000).
Por sua vez, as abordagens da expertise/ rendimento superior constituem outra
forma de compreender o estudo da excelência, substituindo a importância dada
pela perspectiva anterior às habilidades naturais por um maior destaque ou
papel à experiência e à prática deliberada. De Groot (1946) iniciou esta
perspectiva nos seus trabalhos, comparando o desempenho de jogadores de xadrez
expertse novatos. Estes estudos continuaram com Simon e Chase (1973),
enfatizando o treino nos processos cognitivos para a excelência. Mais
recentemente, Ericsson e colaboradores (Ericsson & Charness, 1994;
Ericsson, Krampe, & Tesch-Römer, 1993; Ericsson & Lehmann, 1996;
Ericsson & Ward, 2007; Williams & Ericsson, 2005) desenvolveram uma
nova abordagem da excelência, também conhecida como Abordagem ao Rendimento
Superior (ARS), salientando a importância decisiva da prática estruturada,
sistemática e deliberada.
Uma última abordagem, mais recente na literatura, e desenvolvida na sequência
do movimento da Psicologia Positiva, é a perspectiva da sabedoria associada
aos estudos de Baltes e colaboradores (Baltes & Kunzmann, 2004; Kunzmann
& Baltes, 2005; Staudinger, Maciel, Smith, & Baltes, 1998). Segundo
estes autores, entende-se por sabedoria o conhecimento sábio sobre as questões
fundamentais da vida (Baltes & Staudinger, 2000, p. 122), ou seja, sobre
assuntos importantes e, geralmente, contro-versos. Mais recentemente, Kunzmann
e Baltes (2003) desenvolveram uma investigação com adultos, concluindo que para
além do conhecimento, a sabedoria estava associada a outras forças humanas,
nomeadamente a um elevado envolvimento afectivo, integridade pessoal,
conhecimento da vida e valores centrados no bem-comum. Estes autores vêm,
assim, salientar a importância de três dimensões psicológicas: afectividade,
motivação e relacionamento interpessoal.
Em suma, à semelhança de alguma investigação nacional em torno da excelência em
diferentes contextos de realização (e.g., Araújo, Cruz, & Almeida, 2007,
2009; Garcia-Santos, Almeida, Werlang, & Veloso, 2010; Monteiro, Castro,
Almeida, & Cruz, 2009) têm sido notórias as dificuldades inerentes aos
estudos nesta área, destacando-se a necessidade de ponderação de diferentes
abordagens e dos múltiplos factores que consideram. De qualquer modo, enquanto
a perspectiva da sobredotação aparece mais utilizada na análise do desempenho
escolar na infância e adolescência, a abordagem do rendimento superior está
mais dirigida e centrada no estudo da performanceou realização profissional em
jovens-adultos e adultos. Por sua vez, a abordagem da sabedoria parece mais
investigada em adultos numa fase de maior integração de conhecimentos e
destrezas, colocando a tónica no bem comum.
A excelência em contextos desportivos
No desporto, assim como noutros contextos de realização (e.g., ciência, música
ou artes), alcançar a excelência torna-se o principal objectivo de muitos
indivíduos ainda que, só uma pequena parte, consiga realmente alcançar e
manter-se no topo (Gagné, 2007). Como consequência, o estudo da excelência
ganha crescente relevância na Psicologia e nas Ciências do Desporto, procurando
perceber as características e competências dos atletas excelentes, o que os
distingue dos restantes atletas, ou como iniciam, desenvolvem e mantêm essas
características e competências.
Uma primeira análise ao estudo da excelência neste contexto específico, revela
algumas particularidades que não se fazem necessariamente sentir noutros
contextos de realização (Thomas & Thomas, 1994). Assim, a título meramente
ilustrativo, enquanto em muitas outras áreas a velocidade na tomada de decisão
não é necessariamente essencial para se ser bem sucedido, no caso do desporto,
pelo contrário, o sucesso implica processos de tomada de decisões extremamente
rápidos e precisos. Outra particularidade, por exemplo, relaciona-se com a
possibilidade de não coincidência entre o conhecimento e o desempenho. O atleta
pode saber exactamente como e quando fazer um determinado movimento, mas
simplesmente não é capaz de o executar com êxito. Ainda, contrariamente ao que
acontece noutros domínios, identificar um atleta excelente na maioria das
modalidades não é, a priori, uma tarefa tão difícil e complexa, pois
geralmente em cada uma delas os atletas são classificados através de
características e rendimentos objectivos, recorrendo a medidas do tipo gold
standard (Ericsson, 1996).
Um olhar sobre a investigação actualmente existente em torno da excelência no
desporto permite-nos perceber que esta se vai repartindo por estudos que se
centram mais nos aspectos sociais e contextuais, enquanto outros estão
dirigidos para factores pessoais ou de personalidade. Com efeito, as
perspectivas sociais e contextuais começam desde muito cedo a ter um lugar
cativo no estudo da excelência no desporto. Embora não centrado
exclusivamente no contexto desportivo, Bloom (1985) foi pioneiro na
investigação também nesta área, ao analisar longitudinalmente as carreiras
profissionais de jovens talentosos (e.g., músicos, atletas, cientistas e
artistas) e ao destacar a importância de determinadas pessoas (influentes e
decisivas) nas suas carreiras. Referimo-nos aqui a outros significativos como
a família, treinadores, professores, amigos e outros agentes que assumem um
papel de destaque no percurso dos atletas, fornecendo-lhes apoio social,
emocional e/ou instrumental (e.g., económico ou logístico). A importância do
apoio social no desenvolvimento de talento em atletas de sucesso é bem
ilustrada em estudos recentes, com atletas bem sucedidos, de ambos os sexos e
em diferentes modalidades (e.g., Holt & Dunn, 2004; Morgan & Giacobbi,
2006). Além da relevância do apoio social positivo por parte das pessoas
significativas, outros estudos fazem referência à coesão e coordenação das
equipas, à eficácia colectiva e à relação e comunicação eficaz entre treinador
e atletas no caminho para a excelência (e.g., Gould, Guinan, Greenleaf,
Medbery, & Peterson, 1999; Salas, Cannon-Bowers, & Johnston, 1997).
Relativamente aos factores de natureza mais individual e pessoal, vários
estudos salientam a prática deliberada para um desempenho excepcional no
desporto (e.g., Baker & Horton, 2004; Ericsson & Charness, 1994;
Ericsson et al., 1993; Ericsson & Lehmann, 1996; Ward, Hodges, Starkes,
& Williams, 2007; Williams & Ericsson, 2005). No seu estudo clássico
sobre a expertise no xadrez, Simon e Chase (1973) sugerem pelo menos 10 anos de
intensa preparação, sublinhando, pela primeira vez, a importância decisiva da
regra dos 10 anos de prática necessária para atingir desempenhos e
rendimentos excepcionais em termos internacionais. Esta regra, suportada por
dados de diferentes domínios, constitui uma premissa fundamental da chamada
nova ciência do rendimento expert e excepcional (Ericsson & Ward, 2007),
correspondendo a expertisea um rendimento superior consistente num conjunto
específico de tarefas representativas de um domínio (Ericsson & Lehmannn,
1996, p. 277). Para alcançar este nível de rendimento é necessária uma intensa
preparação, designada por prática deliberada, que se traduz num treino
individualizado, preparado por um treinador ou professor para aumentar aspectos
específicos do desempenho de um indivíduo, através de repetição e refinamentos
sucessivos (Ericsson & Lehmannn, 1996, p. 278). Importa explicitar que a
prática deliberada possui algumas especificidades que a tornam diferente do
mero treino ou da experiência. Ou seja, esta inclui as actividades que são
intencionalmente desenhadas para promover o nível de desempenho actual, é
altamente estruturada, implica elevada concentração, é exigente em termos de
tempo e energia, não é inerentemente agradável/motivadora, requer feedback
imediato, e deve ser realizada num curto período de tempo em cada dia, durante
extensos períodos, sem levar à exaustão (Ericsson et al., 1993; Ericsson &
Lehmannn, 1996; Ericsson, Nandagopal, & Roring, 2009; Ericsson & Ward,
2007).
Da mesma forma são salientadas as competências perceptivo-cognitivas dos
atletas com desempenhos excelentes e excepcionais. Alguns autores (ver Hodges,
Huys, & Starkes, 2007; Williams & Ward, 2003) concluem pela
superioridade dos experts em processos cognitivos, como a memória, percepção e
antecipação, subjacentes aos desempenhos superiores. Por último,
investigações mais recentes (Connaughton, Wadey, Hanton, & Jones, 2008;
Duda & Treasure, 2006; Durand-Bush & Salmela, 2002; Gould, Dieffenbach,
& Moffet, 2002; Holt & Dunn, 2004; Ruiz, Sánchez, Durán, & Jiménez,
2006) destacam factores e processos psicológicos de natureza mais motivacional,
afectiva e emocional. É o caso, entre outros, de elevados níveis de motivação,
comprometimento e disciplina, concentração e focalização atencional, eficácia
da liderança, auto-confiança e auto-conceito, competências de auto-regulação e
regulação emocional, estratégias de visualização mental e de formulação de
objectivos, resiliência/ resistência mental ou estratégias de planeamento e
simulação. De algum modo, recuperam-se assim variáveis descritas no trabalho
pioneiro de Griffith (1928) quando recorreu a termos como luta, esforço
sobre-humano ou resistência mental para descrever os atletas de sucesso.
Competências psicológicas e sucesso desportivo
interesse pela compreensão da excelência impulsionou desde cedo, a investigação
sobre as características e/ou competências dos atletas de sucesso, para além
das estritamente físicas. Foi neste sentido que Morgan e colaboradores (Morgan,
1978, 1985; Morgan & Costill, 1972) desenvolveram investigações iniciais na
área, estudando as características de personalidade de atletas de elite e de
nível mundial de diferentes modalidades, através do Perfil de estados de
Humor ((Profile of Mood States - POMS). Nestes estudos verificou-se que os
atletas de sucesso evidenciavam um perfil psicológico do tipo iceberg, com
resultados inferiores à média da população em factores negativos como a tensão,
depressão, raiva, fadiga e confusão, e resultados significativamente mais
elevados no vigor-psicológico, dimensões que integramos no conceito de
arquitectura psicológica dos atletas de elite.
Numa perspectiva um pouco diferente, outros investigadores (Gould, Weiss, &
Weinberg, 1981; Mahoney & Avener, 1977), procuraram avaliar e identificar
estratégias ou competências psicológicas (e.g., auto-verbalizações e
visualização mental; estratégias de coping, formulação de objectivos,
concentração, confiança, motivação para a realização), onde a superioridade
dos atletas bem sucedidos se manifestava. Na continuidade desta lógica de
investigação, Mahoney, Gabriel e Perkins (1987), numa amostra de 713 atletas de
23 desportos dos EUA, de diferentes níveis competitivos, identificaram as
competências psicológicas relevantes para o rendimento e sucesso desportivo,
utilizando o Inventário de Competências Psicológicas para o Desporto
(Psychological Skills Inventory for Sports - PSIS). Os resultados demonstraram
que os atletas de elite experienciavam menos problemas de ansiedade,
evidenciavam maior concentração, auto-confiança, e motivação para o sucesso,
recorriam mais à preparação mental, e centravam-se mais no seu próprio
rendimento do que no da equipa. Na mesma altura, mas no Canadá, um outro estudo
foi realizado por Orlick e Partington (1988) sobre as competências e
prontidão mental de 235 atletas olímpicos, de 31 modalidades diferentes.
Combinando metodologias qualitativas e quantitativas, os autores enfatizaram a
utilização da visualização mental, o estabelecimento de objectivos, a simulação
da competição, a elaboração de planos detalhados da competição e o
desenvolvimento de planos para lidar com a distracção. Posteriormente,
corroborando as conclusões de estudos anteriores, destacam-se igualmente as
investigações de Gould e colaboradores (Gould, Eklund, & Jackson, 1993;
Gould et al., 1999; Greenleaf, Gould, & Dieffenbach, 2001), onde foi também
evidente a contribuição de outros factores mais contextuais (e.g., coesão de
equipa, comunicação efectiva treinador-atleta e suporte positivo por parte dos
outros significativos), na diferenciação e caracteri-zação dos atletas de
elite. Procurando colmatar uma lacuna da investigação e a focalização
predominante no estudo de competências psicológicas durante a competição,
Thomas, Murphy e Hardy (1999) desenvolveram para este efeito o Test of
Performance Strategies (TOPS), avaliando a utilização das competências e
estratégias psicológicas tanto no treino como na competição. Este instrumento,
na sua primeira versão, foi aplicado junto de 472 atletas de diferentes níveis
competitivos, permitindo concluir que as estratégias de motivação,
visualização, relaxamento, controlo atencional e emocional eram fundamentais na
preparação dos atletas para a competição, sendo igualmente utilizadas durante
os treinos (Thomas et al., 1999).
Várias revisões da literatura e investigações posteriores (Jones, Hanton, &
Connaughton, 2002; Williams & Krane, 2001) sintetizaram e especificaram as
competências mentais e características psicológicas associadas a atletas
olímpicos com elevados níveis de sucesso: (a) ter uma rotina e planos pré-
competitivos e competitivos bem estruturados, (b) elevados níveis de motivação
e comprometimento, concentração, auto-confiança e optimismo, (c) estratégias de
copingeficazes para lidar com distracções e situações ou eventos inesperados,
(d) regulação da activação e ansiedade, (e) estabelecimento e formulação de
objectivos, e (f) visualização e prática mental. Por sua vez, a investigação
nacional com atletas portugueses de elite (e.g., Barbosa & Cruz, 1997;
Bodas, Lázaro, & Fernandes, 2007; Cruz, 1994, 1996; Dias, Cruz, &
Fonseca, 2009a, 2009b; Vasconcelos-Raposo, 1993) apresenta dados similares e
evidencia padrões de competências e características comuns aos encontrados no
panorama internacional. Mais recentemente, procurando também alguma
sistematização dos factores que facilitam o sucesso dos atletas, MacNamara,
Button e Collins (2010), realizaram um estudo qualitativo com 7 atletas de
elite mundial e respectivos pais. Neste estudo, além de apresentarem uma
síntese da investigação anterior sobre esta temática, os autores identificaram
as características psicológicas para desenvolver a excelência (Psychological
Characteristics of Developing Excellence - PCDEs), que incluíam a
competitividade, o comprometimento, a percepção sobre o que é necessário para
ser bem sucedido, a visualização, a importância de trabalhar os pontos fracos,
o coping sob pressão, o conhecimento do jogo e a auto-confiança. De referir que
algumas destas importantes dimensões psicológicas aparecem contempladas
igualmente no Athletic Coping Skills Inventory (ACSI-28), desenvolvido por
Smith, Schutz, Smoll e Ptacek (1995). Adicionalmente, sugerem que os programas
de identificação e desenvolvimento do talento devem promover precocemente
estas características psicológicas para optimizar o desenvolvimento e
desempenho dos atletas.
Sintetizando, a investigação internacional e nacional em torno das
características e competências dos atletas excepcionalmente bem sucedidos
parece sugerir e evidenciar que o sucesso desportivo se associa ao ajustamento
em termos psicológicos e à presença de um conjunto de características e
competências importantes para lidar com a alta competição desportiva.
Mais direccionados para a compreensão da forma como se desenvolvem estas
características psicológicas, podemos mencionar os trabalhos desenvolvidos por
Bloom (1985), Côté (1999), Durand-Bush e Salmela (2002), Gould, Dieffenbach e
Moffett (2002), Holt e Dunn (2004) e Morgan e Giacobbi (2006). Numa
investigação qualitativa longitudinal, Bloom (1985) estudou um grupo de jovens
talentosos, dos quais 21 eram nadadores olímpicos e 18 jogadores de ténis muito
bem classificados em termos de ranking. O estudo identificou três estádios
críticos no desenvolvimento do talento: os primeiros anos/estádio de iniciação
(divertimento, actividades lúdicas, orientação, estimulação do interesse e
apoio por parte dos pais), os anos intermédios/estádio de desenvolvimento
(orientados para a realização, as crianças assumem as suas actividades de forma
mais séria, praticam mais, e mostram mais dedicação para serem bem sucedidas),
e os últimos anos/estádio da especialização e aperfeiçoamento (quando os
indivíduos se tornam experts, mais autónomos e conhecedores sobre o seu treino
e competição e a actividade em causa torna-se parte central na vida dos
indivíduos). Posteriormente, Côté (1999) não só com o intuito de perceber o
desenvolvimento da carreira desportiva mas também o papel da família nesse
processo, levou a cabo um estudo qualitativo com 4 atletas de elite, das
modalidades de remo e ténis, e respectivas famílias. A análise das entrevistas
permitiu concluir a existência de três estádios de participação no desporto. Os
sampling years (dos 6 aos 13 anos), que se caracterizam pela prática de uma
grande variedade de actividades desportivas agradáveis e divertidas,
incentivada pelos pais. Os specializing years (dos 13 aos 15 anos), por sua
vez, correspondem àqueles em que os atletas se especializam numa ou duas das
actividades em que se encontram envolvidos, procurando desenvolver competências
específicas da modalidade. O apoio dos pais neste estádio faz-se sentir ao
nível da ênfase dos desempenhos escolares e desportivos, do comprometimento em
termos financeiros e de tempo e do interesse crescente pelo desporto do filho.
Por último, nos investment years (por volta dos 15 anos), os atletas
pretendem desenvolver-se ao nível da táctica e competências competitivas, daí
que aumente o seu envolvimento em actividades de prática deliberada, procurando
alcançar um nível elevado de excelência na modalidade. Os pais apoiam
emocionalmente os atletas, ajudando-os a ultrapassar obstáculos. Partindo das
limitações deste modelo, em que os estádios identificados não consideravam toda
a carreira desportiva, Durand-Bush e Salmela (2002), num estudo com 10 campeões
do mundo e campeões olímpicos concluíram a existência de quatro estádios,
acrescentando aos propostos por Côté (1999) uma última etapa que denominaram de
anos de manutenção (maintenence years), durante o qual os atletas continuam a
treinar e competir, com o intuito de manterem e melhorarem o seu desempenho,
sendo esta a fase em que habitualmente alcançam o topo da carreira desportiva.
Neste estudo, os autores verificaram, ainda, que além de alguns atributos
pessoais (paixão pelo desporto, confiança, trabalho árduo, perseverança,
talento natural e determinação), a capacidade dos atletas se focarem no
processo de desempenho, e não tanto nos resultados, também era um relevante
factor para a manutenção do sucesso desportivo.
Reconhecendo a escassez de investigação relativa à forma como as competências
psicológicas são cultivadas e desenvolvidas, Gould et al. (2002) estudaram as
características psicológicas de 10 campeões olímpicos e os processos implicados
no seu desenvolvimento desportivo. Em termos de resultados, identificaram
algumas variáveis psicológicas centrais para a caracterização dos atletas
excepcionais, nomeadamente: (a) auto-regulação da activação e ansiedade; (b)
elevados níveis de auto-confiança, concen-tração e focalização atencional,
determinação e compromisso, e controle emocional; (c) discurso interno e
visualização mental de natureza positiva; (d) boas competências e recursos
psicológicos de confronto com a competição desportiva; (e) planos mentais bem
desenvolvidos; (f) formulação de objectivos e preparação mental; e (g)
estratégias de controle do pensamento. Evidenciaram, ainda, algumas variáveis
negligenciadas em pesquisas anteriores, como o perfeccionismo adaptativo, uma
elevada orientação para o optimismo e para o "lado" positivo da vida, além de
uma tendência disposicional para a esperança. Do mesmo modo, os resultados
demonstraram a importância de diferentes pessoas e instituições (e.g., a
comunidade, a família, as pessoas/ambiente do desporto), que podem influenciar
o atleta de forma directa (e.g., ensinar ou enfatizar algumas lições
psicológicas) e indirecta (e.g., modelagem ou criação/simulação de alguns
ambientes psicológicos). Este estudo permitiu também confirmar os estádios
identificados por Bloom (1985) e o papel crucial que as famílias desempenham no
desenvolvimento dos talentos desportivos (e.g., Bloom, 1985; Coté, 1999).
Adicionalmente, Holt e Dunn (2004), no seu estudo qualitativo com 34 atletas de
futebol e 6 treinadores, verificaram que uma carreira de sucesso no futebol
profissional implica três etapas de desenvolvimento. Numa primeira etapa a
criança tem de demonstrar competências acima da média. Na segunda, o atleta
adolescente vai para uma organização profissional e, demonstrando as qualidades
exigidas, mais facilmente passará à etapa seguinte em que se torna um jogador
profissional de futebol. Num outro estudo qualitativo, em que participaram 8
atletas universitários de elevado sucesso, 12 pais e 6 treinadores, Morgan e
Giacobbi (2006) concluíram que o desenvolvimento do talento resulta da
interacção de um conjunto de factores de natureza genética, de treino,
ambientais e psicológicos, que ocorre ao longo de 9 fases: (a) nascimento
(aquisição de predisposições genéticas mentais e físicas); (b) iniciação no
desporto (primeiras influências para participar no desporto por parte dos
outros significativos); (c) desenvolvimento da juventude e influências
(período de oportunidades ambientais e influências sociais críticas); (d)
desenvolvimento das características psicológicas (e.g., motivação, estratégias
de coping, e/ou competitividade); (e) decisão de se especializar (quando o
atleta se encontra no secundário ou a transitar para a faculdade, sendo nesta
altura que ocorre a especialização apenas numa modalidade); (f) confrontar-se
com a adversidade (surge um acontecimento de vida crítico ou adverso); (g)
lidar adequadamente com adversidades (aplica com sucesso as suas competências
psicológicas e o sistema de suporte social prévio para ultrapassar esse
obstáculo/adversidade); (h) consequência positiva (maior motivação para ser bem
sucedido); e (i) resultado (torna-se num atleta de elevado sucesso, com
oportunidades para progredir no desporto e na vida). Três aspectos merecem
especial atenção neste estudo. Em primeiro lugar, refira-se que, face aos
estudos anteriores, este é o único a salientar a importância dos factores
genéticos no desenvolvimento do talento. Um segundo aspecto, reporta-se às
fases identificadas e à sua aproximação aos acontecimentos de vida. De facto,
enquanto os modelos anteriores estabelecem marcos desportivos como forma de
diferenciar os estádios, este modelo faz predominantemente referência a
situações e transições de vida que despoletam a passagem para um novo estádio
(e.g., a entrada na faculdade). No entanto, saliente-se que, apesar deste
estudo explorar o desenvolvimento do talento, as características da amostra
(atletas universitários) tornam-na qualitativamente inferior, quando
comparada com as da investigação anterior, colocando assim alguns problemas de
generalização dos resultados a atletas de elite.
De um modo geral, os estudos abordados permitem apontar duas dificuldades
centrais na investigação neste domínio. Por um lado, parece evidente que apesar
da existência de alguns modelos de desenvolvimento de talento, ainda há um
longo caminho a percorrer nesta área em face da escassez de investigações que
se dediquem exclusivamente ao seu estudo no contexto desportivo, a que se
associa alguma falta de consenso relativamente aos estádios a considerar. Por
outro lado, parece ser evidente a existência de várias e diferentes
trajectórias para a excelência. Como refere Durand-Bush e Salmela (2002) os
atletas podem seguir diferentes caminhos, usar vários recursos e estratégias, e
serem inovadores e criativos à medida que desenvolvem e mantêm a sua expertise
no desporto (p. 169).
Concluindo, estes estudos, uns preocupados apenas com o que caracteriza os
atletas de sucesso, outros interessados na compreensão da forma como estes
desenvolvem o seu talento, demonstram a importância de uma grande variedade de
características e competências psicológicas no desenvolvimento da excelência e
sucesso desportivo. Entre estes factores, a relevância atribuída a variáveis e
processos de natureza afectiva e emocional, bem como às estratégias de coping,
parece ser evidente na investigação actual. Seguidamente explorase com maior
detalhe as relações destas variáveis com o sucesso desportivo, procurando
sintetizar os principais dados evidenciados pela literatura neste domínio.
Emoções, eficácia do coping e sucesso desportivo
A investigação em torno dos estados emocionais no desporto centrou-se, inicial-
mente, sobretudo em emoções predominantemente negativas, como é o caso da
ansiedade competitiva. Apenas nos últimos anos é que a Psicologia do Desporto
começou a constatar que esta ênfase não contemplava outras reacções e
experiências emocionais dos atletas (Gould et al., 2002; Hanin, 2000; Lazarus,
2000; Pensgaard & Duda, 2003; Ruiz et al., 2006), sugerindo a variedade e
a complexidade da vida emocional em contextos desportivos (Cruz, 1996, p.
204). Na realidade, alguns estudos destacam que os atletas experienciam várias
emoções de natureza positiva e negativa (ver Hanin, 2000; Lazarus, 2000),
afirmando Skinner e Brewer (2004) que perante tantas evidências de que as
emoções positivas são comummente experienciadas pelos atletas durante as
competições, é surpreendente que muito pouca investigação se tenha debruçado
sobre as consequências destas emoções no desempenho actual (p. 287). Estes
autores defendem, por exemplo, a importância de se explorar as emoções de
valência positiva experienciadas antes da competição e o seu impacto na
preparação e desempenho dos atletas.
A par das emoções, também a forma como se lida com elas, ou seja, as
estratégias e competências de coping têm sido estudadas e evidenciadas.
Actualmente, já não existem dúvidas relativamente ao papel primordial
desempenhado pelos processos de coping no sucesso e excelência desportiva
(Gould et al., 1993, 1999), até porque os atletas com esse estatuto terão
mesmo que ser capazes de lidar eficazmente com uma grande variedade de factores
estressores e ambientes potencialmente ameaçadores para o seu bem-estar e auto-
estima. Explicitando, Lazarus (2000) salienta que o tipo adequado de coping
numa competição importante pode levar os atletas a tornarem-se re-motivados e,
consequentemente, capazes de manterem a atenção e concentração para
desencadearem os seus padrões tipicamente elevados de excelência (p. 237).
Quando abordamos o coping em contextos desportivos é impossível não ter em
atenção os trabalhos de Lazarus e de Folkman que o descrevem como os esforços
cognitivos, afectivos e comportamentais para lidar com exigências específicas
externas ou internas, podendo ser de dois tipos: focado no problema ou focado
nas emoções (Lazarus & Folkman, 1984; Lazarus, 1991). O primeiro consiste
nos esforços que visam actuar sobre a situação/problema e implica a utilização
de estratégias que se centram na análise e definição do problema, criação de
soluções, avaliação de custos e benefícios dessas soluções e a selecção da
melhor solução. O segundo tipo de coping consiste nos esforços para regular as
respostas emocionais resultantes de um estressor e implica a utilização de
estratégias como a fuga/ evitamento, o distanciamento do problema, a atenção
selectiva ou a desvalorização dos acontecimentos negativos (ver Cruz, 1996;
Lazarus & Folkman, 1984; Lazarus, 2000).
Várias têm sido as investigações em torno da identificação das competências de
coping e da respectiva eficácia. Poczwardowski e Conroy (2002) procuraram
identificar e categorizar as respostas de coping perante o sucesso e insucesso
em oito atletas de elite de desportos individuais e colectivos e oito
performers das artes (dança, ópera, música e teatro). Os autores concluíram que
o reportório de estratégias de coping era variado e individual, e que os
performers de elite usavam estas estratégias de forma combinada. Na mesma
linha, uma investigação de Holt e Dunn (2004) sugere que: a) a avaliação e as
respostas de coping interagem de forma transaccional e recursiva; b) os
estressores são identificados quando os objectivos pessoais relevantes são
colocados em causa; e c) o coping focado nas emoções parece ser a escolha mais
adequada quando os estressores são incontroláveis, enquanto o coping focado no
problema parece ser mais eficaz em situações controláveis, e o evitamento em
resposta a estressores que são de curta duração e incontroláveis. Procurando
perceber a natureza e significado do coping eficaz e adaptativo, Nicholls, Holt
e Polman (2005) realizaram um estudo com atletas de elite no golfe, concluindo
que a avaliação positiva, a paragem de pensamento e a adesão a rotinas pré-
competitivas constituíam estratégias de coping eficazes. Numa outra
investigação, mas com atletas internacionais de râguebi da Irlanda e Nova
Zelândia (Nicholls, Holt, Polman, & Bloomfield, 2006), verificou-se uma
utilização diferenciada e combinada das diferentes estratégias de coping, sendo
as mais utilizadas a concentração na tarefa, seguida da paragem de pensamento,
do aumento de esforço e, por fim, da reavaliação positiva. Ainda a propósito da
importância das competências de coping, refira-se um estudo de Pensgaard e Duda
(2003), com 61 atletas olímpicos, demonstrando que o facto de os atletas
experienciarem frequentemente emoções positivas e optimistas, resultava da
eficácia do coping, sendo este o único preditor positivo do desempenho.
Finalmente, em Portugal, Dias et al. (2009a) estudaram 11 atletas portugueses
de elite em várias modalidades desportivas quanto às (suas) principais fontes
de estresse e ansiedade, estratégias de coping utilizadas e emoções
experienciadas. A análise das entrevistas permitiu concluir que: (a) as
principais fontes de estresse estavam relacionadas com aspectos ligados à
natureza da competição, pressões externas e ao seu próprio desempenho; (b) os
atletas recorriam simultaneamente a diversas estratégias de coping (centradas
no problema e/ou nas emoções), por norma adaptativas; e, (c) além da ansiedade,
existem outras emoções, positivas e negativas, que influenciam o seu
desempenho.
Perante a importância atribuída aos factores afectivo-emocionais e ao processo
de coping no rendimento e na excelência no desporto competitivo, importa
conhecer como as emoções e reacções emocionais são activadas e geradas. Neste
sentido, e sendo ainda difícil emergir uma teoria unificadora, a investigação
recente tem sugerido crescente evidência para as vantagens teóricas e
metodológicas de uma abordagem de natureza cognitiva, motivacional e relacional
ao estudo do estresse, da ansiedade e de muitas outras emoções, positivas e
negativas, num amplo espectro emocional que caracteriza os contextos
desportivos (Cruz, 1994, 1996; Cruz & Barbosa, 1998; Lazarus, 2000; Skinner
& Brewer, 2004).
CONCLUSÕES
As contínuas exigências colocadas aos indivíduos e às instituições têm feito
emergir uma preocupação, generalizada a diferentes domínios, com a compreensão
da excelência e potencial humano. As questões inquietantes sobre este tópico
relacionam-se, sobretudo, com aquilo que caracteriza os indivíduos excelentes,
com a forma como estes desenvolveram essas características e com o modo como
estes realizam as suas actividades.
A este respeito, verifica-se que, apesar de existir um grande interesse em
torno do estudo e explicação da excelência, não surgiu ainda uma teoria
unificadora e compreensiva. Esta dificuldade prende-se sobretudo com a
complexidade inerente ao estudo da excelência, que se tem traduzido no
aparecimento de diferentes modelos teóricos, entre os quais se salientam
abordagens predominantemente associadas à sobredotação, expertise e sabedoria.
Neste sentido, a análise das teorias e estudos da excelência em contextos
desportivos permite-nos verificar que este fenómeno tem sido associado a
variáveis de carácter social e contextual, à prática deliberada, às
competências perceptivo-cognitivas e a variáveis psicológicas de natureza
motivacional, afectiva e emocional. Recentemente, Baker e Horton (2004), numa
revisão sobre a aquisição e manifestação de desempenhos excepcionais, sugerem a
organização dos factores em dois tipos: os primários e os secundários. Os
factores primários têm uma influência directa na aquisição de desempenhos
excepcionais e incluem os elementos de carácter pessoal, onde se inserem os
factores de treino e prática deliberada, os factores perceptivo-cognitivos e os
factores motivacionais, afectivos e emocionais. Os factores secundários
influenciam frequentemente os primários e dizem respeito aos aspectos sociais e
contextuais, como o suporte social ou o apoio de outros significativos.
No presente estudo, entre os factores de influência primária demos especial
ênfase às características e competências psicológicas e às dimensões afectivas
e emocionais que, segundo alguns autores (e. g., Cruz, 1994, 1996; Dias et al.,
2009a, 2009b; Gould et al., 2002; Pensgaard & Duda, 2003), assumem um papel
crucial na compreensão do desenvolvimento e manutenção de desempenhos de alto
nível no desporto. De acordo com a nossa síntese, a excelência desportiva
associa-se a níveis elevados de motivação e comprometimento, ao uso de
estratégias de coping adaptativas, a elevados níveis de concentração e de auto-
confiança, à auto-regulação, à formulação de objectivos, e às estratégias de
visualização. Este perfil psicológico que caracteriza os melhores vai sendo
construído e desenvolvido com o tempo, sendo influenciado por um conjunto de
pessoas significativas para os atletas (e.g., pais, treinadores, dirigentes,
colegas) e por diferentes organizações e instituições desportivas.
Considerando a importância das dimensões afectivas e emocionais, a capacidade
do atleta para se confrontar com uma determinada situação, utilizando, para
isso, estratégias de coping eficazes, parece ter um papel determinante no seu
sucesso. Aliás, são cada vez mais frequentes as investigações centradas no
papel das emoções e no estudo da eficácia do coping em termos de rendimento e
sucesso competitivo. Esta associação é assinalada por Poczwardowski e Conroy
(2002) ao defenderem que a excelência no coping precede a excelência no
desempenho (p. 313).
Assim, de um modo quase consensual, a investigação considera que as
competências específicas no domínio e as qualidades físicas deixaram de
constituir um passaporte para o êxito, passando outras variáveis a assumir um
papel de destaque. Neste sentido, torna-se fundamental o estudo das variáveis
psicológicas que influenciam o rendimento desportivo, tendo em vista a
compreensão de uma potencial arquitectura psicológica dos atletas excelentes.
Traçar este perfil de competências ou desvendar uma tal arquitectura
psicológica não parece constituir tarefa fácil, uma vez que a excelência está
associada a diferentes dimensões, não se sabendo contudo o peso ou a
importância de cada uma delas e, em menor grau, de que forma é que se combinam.
Esperamos que a presente síntese, em torno dos atletas com desempenhos
excepcionais, possa incentivar uma nova vaga de investigação tendo em vista a
compreensão do fenómeno da excelência no desporto.