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EuPTCVHe1646-107X2013000400006

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National varietyEu
Year2013
SourceScielo

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Reprodutibilidade do teste anaeróbio de Wingate em ciclistas

A força e potência muscular são parâmetros fundamentais para identificar a performance atlética. Por isto, conhecer os níveis de força e potência muscular individuais é importante para identificar níveis de capacidade funcional ocupacional, assim como para a prescrição de exercícios, tanto visando o desempenho atlético quanto a reabilitação neuromuscular (Brown & Weir, 2001). Neste sentido, o teste anaeróbio de Wingate (TAW) tem recebido especial destaque da literatura especializada e embora não seja considerado gold standard para a avaliação anaeróbia, muitos testes têm sido validados comparando seus resultados a ele (Arslan, 2005; Coso & Mora-Rodrigues, 2006; Sands et al., 2004). Mesmo com o passar dos anos e a evolução das ciências do exercício, o TAW continua sendo muito utilizado para avaliar a potência e a capacidade anaeróbia (Carvalho et al., 2011; Kohler, Rundell, Evans & Levine, 2010), predizer performance (Inoué, Filho, Mello & Santos, 2012), verificar adaptações positivas ao treinamento desportivo (Hespanhol, Maria, Silva Neto, Arruda & Prates, 2006; Oosthuyse, Viedge, McVeigh & Avidon, 2013) e em pesquisas que se propuseram a investigar exclusivamente os detalhes metodológicos do teste (Bielik, 2010; Coso & Mora-Rodrigues, 2006; Guerra, Giné-Garriga & Fernhall, 2009; Hachana et al., 2012).

Um teste para ser válido ou fidedigno precisa medir o que se propõe, ser sensível a modificações no condicionamento físico e ser reprodutível. Sendo que a reprodutibilidade é definida como a capacidade de se reproduzir um teste e se obter valores idênticos ou aproximados (Thomas, Nelson & Silverman, 2007).

Ainda, a reprodutibilidade é uma variável fundamental para a validação de testes físicos, uma vez que os efeitos do treinamento desportivo para atletas treinados muitas vezes são mínimos. Portanto, um teste com boa reprodutibilidade e sensibilidade conseguiria identificar estas pequenas alterações na performance. Alguns estudos têm-se proposto a verificar a reprodutibilidade do TAW em mensurar a potência e capacidade anaeróbia em adolescentes com síndrome de Down (Guerra et al., 2009) e em uma amostra de homens e mulheres, com níveis de atividade física variando de sedentários a muito ativos (Weinstein, Bediz, Dotan & Falk, 1998). O TAW é um teste realizado tradicionalmente em cicloergómetro para membros inferiores, que simula a atividade característica do ciclismo. Contudo, não foram encontrados trabalhos investigando a reprodutibilidade do TAW em ciclistas, que é a atividade que possui o mesmo gesto motor do teste. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi verificar a reprodutibilidade de variáveis específicas do teste de anaeróbio de Wingate (potência pico: PP, potência média: PM, potência mínima: Pmin e índice de fadiga: IF) e de alguns marcadores fisiológicos (concentração de lactato: [Lac] e frequência cardíaca: FC) e percetuais (percepção subjetiva de esforço: PSE) associados ao teste em ciclistas treinados.

MÉTODO Participantes A amostra foi composta de 15 ciclistas de nível regional do sexo masculino e suas características antropométricas estão relatadas na tabela_1. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas da Universidade Católica de Brasília (CEP/UCB 011/2003). Após as informações dos riscos e benefícios da sua participação no estudo, os sujeitos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, e fizeram parte da pesquisa de forma voluntária.

Instrumentos e Procedimento Os testes foram realizados no Laboratório de Avaliação Física e Treinamento (Lafit) da UCB, em um período máximo de 15 dias, com intervalo mínimo de 48 horas entre cada sessão, para cada voluntário. Os avaliados foram orientados a não treinarem ou praticarem outras atividades físicas durante o estudo. A temperatura e humidade relativa do ar no interior do Laboratório foram mantidas entre 18 e 22°C e entre 50 e 70%, respetivamente, conforme orientado por Guimarães et al. (2003).

Os testes foram realizados sempre no mesmo horário do dia para cada voluntário, de acordo com sua disponibilidade, evitando assim a influência de diferentes ciclos circadianos sobre o desempenho físico (Souissi et al., 2012).

Previamente às sessões experimentais, os voluntários realizaram uma sessão de adaptação aos equipamentos e procedimentos do TAW. A ordem dos ciclistas nos vários testes foi sempre a mesma.

Protocolo experimental do Teste Anaeróbio de Wingate O aquecimento foi feito em cicloergómetro, com uma carga de 1 kp e com duração de quatro minutos. O voluntário era estimulado a realizar sprints de quatro a oito segundos no final dos três primeiros minutos de aquecimento. No final do aquecimento, após três a cinco minutos de recuperação era iniciado o TAW propriamente dito (Inbar, Bar-Or & Skinner, 1996). Os protocolos experimentais constituíram-se de três TAW com carga fixa correspondente a 0.087 vezes a massa corporal do indivíduo, que corresponde a uma produção de energia de 5.13 joules por revolução do pedal por kg (Bar-Or, 1987; Dotan & Bar-Or, 1983), em um cicloergómetro com frenagem mecânica (Monark Ergomedic 834E, Suécia). Os indivíduos foram orientados a pedalar em intensidade máxima durante 30 segundos, contra uma resistência previamente estabelecida para uma potência mecânica supramáxima e indução do desenvolvimento de fadiga. Para isto também foram orientados a não se utilizarem de estratégias que permitissem a conservação de energia (Inbar et al., 1996). A contagem do número de repetições por minuto foi feita através de filmagem do experimento, com posterior verificação e cálculo dos valores de potência obtidos (Bar-Or, 1987; Denadai, Gugliemo & Denadai, 1997). Os avaliados foram estimulados verbalmente para produzirem a maior potência possível durante os testes.

Frequência cardíaca e perceção subjetiva de esforço A FC foi monitorada durante os testes, utilizando-se um frequencímetro (Polar Sport Tester S810i, Finlândia), sendo obtidos os valores imediatamente após a realização do experimento. Para análise da PSE foi utilizada a escala original de Borg (1982), sendo coletados os valores imediatamente após o TAW.

Coletas e Análises Sanguíneas As coletas das amostras sanguíneas foram realizadas no lobo da orelha, sete minutos após o término dos testes, como empregado por Pardono et al. (2009), utilizando capilares de vidros calibrados para 25 µL de sangue, depositados em tubos Eppendorff's, contendo 50 µL de fluoreto de sódio (NAF 1%).

Posteriormente as amostras foram analisadas para quantificação da lactatemia a partir de um analisador eletroenzimático (YSI 2700 SELECT, Estados Unidos da América) no Laboratório de Estudos em Educação Física e Saúde (Leefs) da UCB, Brasil.

Análise Estatística Foi verificada a normalidade dos dados a partir do teste de Shapiro-Wilks. Para verificar diferenças entre os testes foi utilizada a análise de variância para medidas repetidas, com post-hoc de Tukey. Para análise da reprodutibilidade foi usado o coeficiente de correlação intraclasse (CCI). Ainda, foi utilizada a técnica de Bland & Altman (2010) para verificar a concordância entre as variáveis. Em todas as análises o nível de significância estabelecido foi de p< .05.

RESULTADOS Os resultados não demonstraram diferenças significativas nas variáveis PP, IF, [Lac], FC e PSE entre os três TAW. a PM e Pmin apresentaram diferença significativa (p< .05) entre o segundo e terceiro TAW (tabela_2).

Os valores de CCI estão expressos na tabela_3 e a maioria das variáveis estudadas apresentaram valores altos e significativos (PP, PM, Pmin, FC e PSE).

Para o IF obteve-se boas correlações entre os testes, com exceção da correlação entre o teste 1 e o teste 3 (CCI= .475, p> .05). para a [Lac], não se obteve correlação significativa entre o teste 1 e o teste 2 (CCI= .469, p> .05) e entre o teste 2 e 3 (CCI= .361, p>.05). A técnica de concordância de Bland- Altman foi aplicada somente na PP, por ter sido a única variável específica do teste que não apresentou diferença significativa entre os testes e apresentou altos valores de CCI, e como resultado verificamos boa concordância entre as PP obtidas nos três diferentes testes (Figuras_1A,_1B_e_1C).

DISCUSSÃO O presente estudo teve como objetivo verificar a reprodutibilidade de variáveis específicas do teste de Wingate (PP, PM, Pmin e IF) e de alguns marcadores fisiológicos ([Lac] e FC) e percetuais (PSE) em ciclistas treinados. A PP, IF, [Lac], FC e PSE não apresentaram diferença significativa entre os testes.

Entretanto, a PM e Pmin apresentaram diferença significativa do teste 2 para o teste 3 (tabela_2). O TAW apresentou altos CCI para as variáveis específicas do teste, como a PP, PM e Pmin, assim como a FC e PSE. Contudo, o IF não apresentou CCI significativo entre os testes 1 e 3, ao passo que as [Lac] não apresentaram entre os testes 1 e 2 e entre 2 e 3 (tabela_3). Os valores de PP apresentaram ainda boa concordância através da técnica de Bland-Altman (ver figuras_1A,_1B_e_1C).

O TAW está altamente relacionado ao metabolismo anaeróbio, tanto pelas reservas fosfagénicas quanto pela via metabólica da glicólise, uma vez que a característica do teste é de esforço máximo com duração de 30 segundos (Hachana et al., 2012). O marcador fisiológico mais utilizado para mensurar a taxa da produção de energia através da glicólise é a [Lac]. Weinstein et al. (1998) utilizaram a [Lac] e a FC para testar a reprodutibilidade do TAW em indivíduos com diversos níveis de condicionamento físico e observaram alto CCI das [Lac] e FC entre o teste e o reteste do TAW. No presente estudo a FC e a PSE confirmaram os resultados das variáveis específicas do teste. Porém as [Lac] apresentaram CCI não significativos entre alguns momentos, pelo que estes resultados da [Lac] são controversos à literatura; portanto sugerimos futuros estudos para elucidar essa questão. Contudo, o TAW foi desenvolvido para ser um teste de simples aplicação, visando a avaliação do desempenho anaeróbio. Ainda, o TAW não foi criado com o objetivo de se analisar a contratilidade muscular, bem como o desenvolvimento de fadiga muscular, seja por acúmulação de metabólitos ou outros mecanismos envolvidos na fadiga (Bar-Or, 1987).

Guerra et al. (2009) analisaram a reprodutibilidade do TAW em adolescentes com síndrome de Down. A carga utilizada no estudo foi uma para adolescentes acima de 14 anos (0.5 × peso corporal) e outra para os adolescentes abaixo de 14 anos (0.7 × peso corporal). Os autores encontraram bons escores de CCI para PP (.93, p<.05) e PM (.86, p< .05). Contudo, a PM apresentou diferença estatística entre o teste 1 e o teste 2. Não obstante, através da técnica de Bland-Altman foi possível verificar grande variabilidade entre os indivíduos, trazendo restrições às interpretações dos scores de CCI. Devido a estes achados os autores concluíram que a reprodutibilidade do TAW em crianças com síndrome de Down é questionável. Embora a metodologia utilizada tenha sido particularmente alterada para a população do estudo, a diferença estatística verificada na PM confirma os achados do presente estudo onde encontramos diferença estatisticamente significante na PM e Pmin.

Também foi verificada a reprodutibilidade do TAW com esforço unilateral, utilizando somente a perna dominante, em crianças de diferentes estágios maturacionais. Em dois testes realizados em dias distintos, foi verificada uma melhora significativa no desempenho físico entre o teste e o reteste (p< .001), embora tenham-se obtido bons valores de CCI (.89'.98). Os autores atribuíram este ganho de performance a efeitos provenientes do aprendizado do teste (Hebestreit et al., 1999). Jacobs, Mahoney e Johnson (2003), em uma amostra composta por voluntários com paraplegia completa, não encontraram diferenças estatisticamente significantes entre os valores de potência obtidos em teste e reteste do teste anaeróbio de Wingate para membros superiores. Adicionalmente, estes autores observaram também alta associação entre os resultados de potência obtidos nos dois testes, através do uso de regressões.

Como limitação do trabalho fica a não investigação da carga ideal para a amostra do presente estudo. Ainda, a não utilização de um dispositivo eletrônico para quantificação da potência gerada, embora tenhamos utilizado uma metodologia validada e amplamente utilizada na literatura (Bar-Or, 1987; Denadai et al., 1997). Não obstante, recomendamos a proposição de estudos que se dediquem a investigar a carga ideal e a sensibilidade ao treinamento/ destreinamento esportivo, do protocolo do teste anaeróbio de Wingate em ciclistas.

CONCLUSÕES O teste anaeróbio de Wingate apresentou, de uma maneira geral, boa reprodutibilidade em ciclistas. Contudo, nem todas as variáveis responderam conforme esperado, trazendo algumas ressalvas quanto a sua utilização para prescrição de exercícios e acompanhamento de evoluções advindas de um determinado treinamento. Entretanto, a potência pico, principal variável obtida no teste, apresentou resultados consistentes, nos permitindo afirmar com segurança, que é uma variável reprodutível em ciclistas, podendo ser utilizada para avaliar ganhos/perdas de performance dentro de um programa de treinamento/ destreinamento.


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