Validação de conteúdo de ações tático-técnicas do Teste de Conhecimento Tático
Processual: Orientação Esportiva
INTRODUÇÃO
A avaliação do nível de rendimento tático do atleta em competições, durante o
processo de treino, nas fases de formação ou no alto rendimento possibilita o
aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem nos jogos desportivos
coletivos (JDC). O termo jogos desportivos coletivos (JDC) abrange, segundo
Garganta (1995), desportos a exemplo do basquetebol, futebol, futsal, andebol e
voleibol. Em tais modalidades, a ação do jogador apresenta um comportamento
tático, resultante de um processo intencional dirigido e regulado psiquicamente
(Nitsch, 2009).
Pode-se observar que as ações no jogo são condicionadas por pressões e
restrições externas (posição e movimentos dos colegas e adversários, espaço de
jogo, comportamento defensivo, relação com o objetivo/meta/alvo, trajetórias
dos jogadores, trajetória e velocidade da bola, etc.) e internas (motivação,
cansaço, etc.). Portanto, a capacidade percetiva e a tomada de decisão
desempenham um papel crucial na aprendizagem das ações de jogo, possibilitando
a apropriação do conhecimento tático declarativo e processual.
O conhecimento tático declarativo é definido como o nível de compreensão da
lógica do jogo verbalmente declarado pelo jogador (Mitchell & Oslin, 1994).
O conhecimento tático processual manifesta-se quando o mesmo realiza ações em
diferentes condições e situações por meio da concretização de um movimento
(McPherson & Thomas, 1989). A execução da técnica desportiva em situação de
jogo surge como o resultado do conhecimento tático adquirido (processual e
declarativo).
Os instrumentos existentes que avaliam o conhecimento processual de forma
ampliada nos JDC intitulam-se Team Sport Assessment Procedure - TSAP (Gréhaigne
et al., 1997), Game Performance Assessment Instrument (Griffin et al., 1998) e
Game-test situations (Memmert & Roth, 2003). Estes contemplam uma aferição
das ações por peritos, porém não foi apresentado o ajustamento dos itens à
semântica das ações táticas encontradas nos jogos como os professores/
treinadores as intitulam na área desportiva. O Game-test situations avalia
formas de pensamento convergente e divergente da tomada de decisão. Porém, o
mesmo avalia os jogadores em ações de ataque (sem bola), não permitindo
considerar a interseção das diferentes fases dos jogos desportivos coletivos,
ataque, defesa e transição (Bayer, 1986), bem como a disputa pela posse da
bola.
No levantamento bibliográfico realizado por Costa, Garganta, Fonseca e Botelho
(2002) e complementado até o ano de 2012, na revisão realizada para o
desenvolvimento deste trabalho, nos últimos 15 anos, apenas os estudos de
Gréhaigne, Godbout e Bouthier (1997), Oslin, Mitchell e Griffin (1998), Memmert
e Roth (2003), Blomqvist, Luhtanen, Laakso e Keskinen (2000) em badminton;
Blomqvist, Vänttinen e Luhtanen (2005) em futebol e Costa, Garganta, Greco,
Mesquita e Maia (2011) em futebol desenvolveram instrumentos que avaliam o
conhecimento tático processual. Os demais estudos foram realizados, em sua
maioria, apenas na perspetiva do conhecimento tático declarativo dos jogadores.
A maior parte da amostra dos estudos foi dividida por nível competitivo, porém
sem a apresentação de uma ampla visão sobre como as variáveis se comportam no
decorrer dos anos de prática nas modalidades desportivas.
Nesse contexto, os testes são procedimentos avaliativos importantes do processo
pedagógico, que possibilitam o levantamento de dados de determinada variável,
auxiliando o professor na tomada de decisão sobre os modelos de ensino mais
adequado para abordar os conteúdos e atividades planeadas (Greco, Memmert &
Morales, 2010).
Um segundo aspeto a mencionar é o facto de que muitos pesquisadores têm
utilizado, principalmente, participantes adultos para identificar as
características dos processos cognitivos nos desportos. Poucos são os
pesquisadores que têm examinado se as diferenças nesses processos também são
visíveis nos atletas jovens e, se a melhoria dos processos cognitivos também
ocorre em função da maturação e da prática (Williams, Ward, & Smeeton,
2004).
Objetivou-se identificar evidências de validade de conteúdo do teste para
avaliação do conhecimento tático processual de orientação esportiva (TCTP-OE),
por meio do cálculo do coeficiente de validade de conteúdo proposto por
Hernández-Nieto (2002). Este procedimento também foi aplicado nos estudos de
validação de questionário de valores olímpicos (QVO-27) (Secco et al., 2009),
protocolo de categorização de metodologias de ensino nos desportos (Soares,
Santos, Lima, Aburahcid, & Greco, 2010), escala de autopercepção para
crianças (Valentini, Villwock, Vieira, Vieira, & Barbosa, 2010) e cenas de
teste de ténis (Aburachid & Greco, 2011).
A validade de conteúdo foi uma das validades internas realizadas junto a outros
procedimentos aplicados posteriormente, tais como, a verificação da
dimensionalidade, da fidedignidade e da validade de construto.
MÉTODO
Amostra
Os procedimentos de validade de conteúdo seguiram os passos metodológicos
apresentados por Hernández-Nieto (2002) através da avaliação de 11 juízes (4 de
basquetebol, 3 de andebol e 4 de futsal), respeitando o número mínimo de três e
máximo de cinco juízes por modalidade desportiva, como recomendado por este
autor. Além disso, conforme Balbinotti, Benetti e Terra (2006) os juízes não
podem participar de nenhuma parte do processo de pesquisa e acumular
experiência ativa de no mínimo 10 anos na área, neste caso, na área dos JDC. No
presente estudo os peritos tinham experiência profissional em diferentes
categorias e níveis de rendimento.
Uma primeira versão do Teste de Conhecimento Tático Processual: Orientação
Esportiva (TCTP-OE) foi estabelecida a partir das ações táticas confirmadas por
meio do cálculo do coeficiente de validade de conteúdo (CVC). Essa foi aplicada
na avaliação do conhecimento tático processual em 321 crianças de ambos os
sexos, praticantes e não praticantes de "escolinhas desportivas", com
média de idades de 10.32 ± 1.45 anos. Para a computação das ações foram
analisados 108 jogos simulados (isto é, joga-se 3 × 3 conforme descrito a
seguir), sendo que um mesmo sujeito foi avaliado por duas vezes, realizando o
jogo com os pés e com as mãos.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Federal
de Minas Gerais sob o número CAAE ' 0734.0.203.000-12. Foi obtido para todos os
participantes deste estudo o respetivo Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido assinado pelos pais ou seus tutores.
Consolidação das ações desportivas
As ações desportivas foram elencadas a partir de ações tático-técnicas
realizadas com as mãos e os pés. Semelhantemente à aplicação do teste Game-test
situations(GTS) de Memmert e Roth (2003) (aplicado durante 3 minutos, em um
quadrado de 9 × 9 metros, com dois grupos de 3 × 3 jogadores num mesmo espaço),
a proposição de nova validação partirá dessa mesma situação, porém alterando a
duração do teste para 4 minutos em sua forma de execução. Para isso, a troca de
passes será realizada de maneira contínua e caso os jogadores na defesa
recuperem a posse de bola, deverão iniciar imediatamente a troca de passes
(ataque). Dessa maneira, o teste possibilita uma situação semelhante a como
acontece nas modalidades desportivas coletivas.
Os desportos mais associados à verificação das ações esportivas são: futsal
utilizando os pés, e andebol e basquetebol utilizando as mãos. Caracterizam-se
pela prática num espaço comum, com ações simultâneas entre ataque e defesa, o
que permite distingui-las a partir das fases do jogo em ofensivas, defensivas e
de transição (contra-ataque e reorganização de defesa) (Bayer, 1986). O
voleibol não se adequa como um desporto para a construção desse teste porque a
estrutura do jogo inclui a rede, classificando-se como desporto de rede/ parede
e de prática do jogo em espaço separado (Griffin et al.,1997; Moreno, 1994).
As 18 ações esportivas de observação do TCTP-OE propostas inicialmente para
compor o instrumento e avaliar o comportamento tático-técnico dos sujeitos,
tiveram como base a classificação espacial e comportamental, as fases do jogo,
assim como a posse ou não da bola. Sendo assim, os pesquisadores do Centro de
Estudos de Cognição e Ação criaram as ações esportivas incutidas nas seguintes
dimensões:
− Jogador no ataque sem bola (JSB);
− Jogador no ataque com bola (JCB);
− Marcação ao jogador sem bola (MJSB);
− Marcação ao jogador com bola (MJCB).
O critério definido para a computação das ações consiste do registo da
frequência com que esses comportamentos são observados. Ou seja, na análise dos
vídeos os observadores registam cada ação tático-técnica realizada pelos
sujeitos nesses jogos simulados contidos nos quatro itens que compõem cada
dimensão identificados de um a dezasseis (ver tabela_5).
Procedimentos de validade de conteúdo
Conforme sugerido por Pasquali (2003), objetivou-se nesta etapa do procedimento
de validação testar, de maneira teórica, a hipótese do pesquisador. Ou seja, os
itens construídos representam adequadamente o construto? A análise de conteúdo
antecede a análise de construto, pois se procura verificar a adequação da
representação comportamental do(s) atributo(s) latente(s).
O coeficiente de validade de conteúdo (CVC) mede o grau de concordância entre
os juízes a respeito de cada item e vem preencher a lacuna das propriedades
métricas do teste estatístico Kappa Cohen, que avalia apenas a fidedignidade e
consistência (Balbinotti, 2005; Hernández-Nieto, 2002;). As instruções de
avaliação dos itens propostas aos peritos incluíram uma escala de Likert de 5
pontos, além de permitir aos mesmos comentários livres sobre cada ação
desportiva. A explanação dos critérios para escolha das ações tático-técnicas
se apresenta a seguir.
Clareza de Linguagem
Avaliou a linguagem escrita das ações, levando-se em conta a compreensão da
forma como as ações poderão ser executadas em movimento. Foram apresentadas as
seguintes questões aos peritos: "As ações são compreensíveis quanto à
execução de movimento? É possível imaginar e executar esta ação após sua
leitura?"
Pertinência prática
Avaliou as ações esportivas como forma de representar as situações tático-
técnicas para a tomada de decisão no jogo. Foram apresentadas as seguintes
questões aos peritos: "Você acredita que estas ações representam situações
que realmente ocorrem no momento que um jogador atua em jogo?"
Relevância teórica
Avaliou a relevância das ações como forma de demonstração dos processos
cognitivos que se tinha interesse de avaliar. Pergunta feita aos peritos:
"Você acredita que estas ações esportivas permitem a análise da tomada de
decisão tático-técnica de um jogador?"
Hernández-Nieto (2002), Balbinotti et al. (2006) e Pasquali (1999) recomendam
que os itens do instrumento devam apresentar um valor mínimo de CVC igual a
0.80. Com relação à clareza de linguagem, caso o item apresente valores
inferiores a 0.80, os autores preconizam que a linguagem seja reformulada antes
que a bateria de testes seja administrada à população alvo. Em relação à
relevância teórica, para este estudo os itens com valores inferiores a 0.80
também foram reformulados, conforme as sugestões e observações dos juízes para
que se enquadrassem na formulação do instrumento posteriormente proposto. Os
itens julgados como insatisfatórios no termo da pertinência prática foram
rechaçados na análise dos resultados do exame.
Aplicação do TCTP-OE
O TCTP-OE foi aplicado por professores de educação física com experiência no
processo de ensino-aprendizagem nas modalidades desportivas coletivas. Para
isso, todas as ações tático-técnicas dos participantes realizadas com as mãos e
com os pés foram filmadas durante a realização da situação de jogo de 3 × 3. O
conhecimento tático processual foi avaliado, por meio das ações tático-técnicas
que alcançaram valores satisfatórios de validade de conteúdo (CVC≥ 0.80). Foi
necessária a realização do treino de dois observadores por meio de análise de
vídeos do jogo simulado junto aos pesquisadores responsáveis. Dessa maneira,
foi possível tirar as dúvidas que surgiram e alinhar o entendimento em relação
à aplicação dos critérios de observação.
Análise Estatística
As escalas respondidas foram inseridas e analisadas no programa Microsoft
Office Excel 2010 através da fórmula do CVC. A análise dos dados foi computada
a partir das fórmulas específicas apresentadas a seguir (Tabela_1).
A validade de construto do TCTP-OE foi determinada, por meio da análise
fatorial exploratória (AFE). O método utilizado foi o de componentes principais
com rotação ortogonal Varimax e normalização Kaiser. Os dados foram analisados
por meio do pacote estatístico SPSS® 16.0.
A fiabilidade do TCTP-OE foi estabelecida, por meio do método teste-reteste em
dias diferentes (interavaliadores). O intervalo de tempo entre uma observação e
a outra foi de 7 dias. A técnica usada foi a correlação intraclasse (ICC),
considerando no mínimo 10% da amostra total. Para este estudo 154 participantes
foram reavaliados, configurando 27% da amostra (Tabachnick & Fidell, 1989).
RESULTADOS
Os resultados deste estudo se apresentam a partir dos valores de CVCtotal para
os critérios de validação (clareza da linguagem, pertinência prática e
relevância teórica) avaliados pelos juízes no basquetebol (Tabela_2). Nos três
critérios o CVCtotal foi satisfatório, levando-se em consideração a nova
aceitação do item 11 (Apoia aos colegas na defesa ' cobertura ' quando são
superados pelo adversário) e o descarte dos itens 5 e 8.
Na Tabela_3 observam-se os valores de CVCtotal para os critérios de validação
levando-se em consideração a modalidade andebol. O CVCtotal dos três critérios
foi satisfatório, exceto na clareza da linguagem. Os itens de número 1 a 11,
que em primeira instância obtiveram valores de CVCt de 0.79, foram reavaliados
e aceites em nova análise do painel de juízes, com CVCt de 0.80.
Os valores de CVCtotal para os critérios de validação na modalidade futsal
estão evidenciados na Tabela_4. Nos três critérios, o CVCtotal foi
satisfatório, levando-se em consideração a nova aceitação dos itens 1, 2, 11 e
17 e o descarte dos itens 3, 4 e 5. Mesmo que o item 4 tenha sido aceito no
critério de relevância teórica após sua reformulação, no critério pertinência
prática foi desconsiderado, o que o excluiu definitivamente do rol de itens
válidos.
Após a análise da validade de conteúdo, os itens com CVC baixo (≤ 0.80) na
pertinência prática foram retirados do instrumento proposto, por não serem
ações tático-técnicas típicas dos JDC de invasão (basquetebol, andebol e
futsal), que são o foco deste estudo. Foram eles: item 3 (Afasta-se do portador
da bola criando linhas de passe sem prejudicar sua progressão), item 4
(Aproxima-se do portador da bola criando linhas de passe sem prejudicar sua
progressão), item 5 (Finta e avança/dribla ou passa a bola) e item 8 (Passa ao
colega sem marcação e desloca em sua direção para passar pelas costas e
receber).
O rol das ações a serem visualizadas em forma de ocorrências no teste piloto,
próximo passo da validação, foi finalizado com 16 ações desportivas tático-
técnicas, agora intituladas itens.
Embora tenham sido retirados quatro itens dos 18 propostos, optou-se por criar
um novo item em substituição ao item 4, assim como a reformulação do item 15
(Pressiona ao adversário tentando tirar a bola ou induzindo ao erro). Pela
avaliação dos juízes o item 4 (Procura espaços livres executando deslocamentos
com mudanças de direção e de velocidade) deveria ser parte da dimensão de
marcação ao jogador com bola (MJCB) e não sem bola, como havia sido proposto
pelos pesquisadores.
Dessa maneira e conforme os ajustes, o instrumento final comtemplou quatro
itens para cada dimensão (jogador no ataque sem bola - JSB, jogador no ataque
com bola - JCB, marcação ao jogador sem bola - MJSB e marcação ao jogador com
bola ' MJCB), totalizando 16 itens a serem observados na Tabela_5.
Em relação à validade de construto o TCTP- OE executado com a mão, a AFE
identificou seis itens que carregaram satisfatoriamente em um dos dois fatores
definidos pela regra de Kaiser (componente 1= 2.630 e 43.83% de variância
explicada e componente 2= 1.341 e 22.35% de variância explicada). Nesse
contexto, o item 1 (Movimenta-se procurando receber a bola - JSB) e item 7
(Passa ao colega sem marcação e posiciona-se para receber - JCB), relacionados
com ações no ataque sem bola e com bola apresentaram carga fatorial
satisfatória no fator 2. O item 11 (Apoia aos colegas na defesa cobertura
quando são superados pelo adversário - MJSB), item 12 (Apoia ao colega na
defesa quando o jogador com bola tem dificuldade para dominá-la - MJSB), item
14 (Pressiona ao adversário e acompanha seus deslocamentos - MJCB) e item 16
(Pressiona ao adversário levando-o para os cantos do campo de jogo - MJCB),
relacionados a situações de defesa marcando ao jogador no ataque sem bola e com
bola, carregaram satisfatoriamente no fator 1. Assim, os pesquisadores optaram
por denominar o fator 1 de defesa e o fator 2 de ataque. A percentagem total de
variância explicada pelo modelo final alcançado foi de 66.18%.
O valor do KMO calculado com os cinco itens que apresentaram cargas fatoriais
satisfatórias no modelo final resultante foi de 0.74, indicando que a técnica
da análise fatorial pode ser utilizada para a amostra em questão. A prova de
esfericidade de Bartlett demonstrou que existem correlações significativas
(Qui-quadrado= 883.28, df= 15, p< 0.001) entre as variáveis e o modelo fatorial
é pertinente.
A AFE do TCTP-OE executada com o pé identificou cinco itens que carregaram
satisfatoriamente em um dos dois fatores definidos pela regra de Kaiser
(componente 1= 2.101 e 42.01% de variância explicada e componente 2= 1.256 e
25.12% de variância explicada). Portanto, os itens 1 (Movimenta-se procurando
receber a bola - JSB) e 7 (Passa ao colega sem marcação e posiciona-se para
receber - JCB), relacionados com ações no ataque sem bola e com bola
apresentaram carga fatorial satisfatória no fator 2. Os itens 11 (Apoia aos
colegas na defesa cobertura quando são superados pelo adversário - MJSB), 12
(Apoia ao colega na defesa quando o jogador com bola tem dificuldade para
dominá-la - MJSB) e 16 (Pressiona ao adversário levando-o para os cantos do
campo de jogo - MJCB), relacionados a situações de defesa marcando ao jogador
no ataque sem bola e com bola, carregaram satisfatoriamente no fator 1. Dessa
maneira, os pesquisadores optaram por denominar o fator 1 de defesa e o fator 2
de ataque. A percentagem total de variância explicada pelo modelo final
alcançado foi de 67.13%.
O valor do KMO calculado com os cinco itens que apresentaram cargas fatoriais
satisfatórias no modelo final resultante foi de 0.63, indicando que a técnica
da análise fatorial pode ser utilizada para a amostra em questão. A prova de
esfericidade de Bartlett demonstrou que existem correlações significativas
(Qui-quadrado= 405.68, df= 10, p<0.001) entre as variáveis e o modelo fatorial
é pertinente.
No que se refere à fidedignidade do TCTP-OE, os valores do ICC calculados foram
satisfatórios (ICC= 0.40'0.74) e excelentes (ICC≥ 0.75) determinando a
fidedignidade do instrumento (Szklo & Nieto, 2000). Portanto, para a
situação JSB os valores foram de 0.74 para mão e 0.76 para pé. Na situação JCB
os valores foram de 0.77 para mão e 0.79 para pé. Na situação MJSB os valores
foram de 0.72 para mão e 0.67 para pé. Na situação MJCB os valores foram de
0.76 para mão e 0.73 para pé.
DISCUSSÃO
Como o objetivo deste trabalho foi avaliar a utilização do método de validade
de conteúdo para validar ações para a composição de um teste de orientação
desportiva, a avaliação dos juízes permitiu resultados satisfatórios quanto à
manutenção de 16 itens que representam ações desportivas tático-técnicas. Este
número representativo de itens 88.8% contribuiu para verificar que os processos
cognitivos e motores utilizados para a execução dessas ações se baseiam na
classificação das fases do jogo propostas por Bayer (1986). Além disso, pôde-se
perceber semelhanças entre as ações desportivas, mesmo que estas sejam
realizadas com os pés ou com as mãos, o que se apoiou nas teorias de
classificação dos desportos de Griffin et al. (1997) e Moreno (1994).
Em sua maioria, as ações desportivas apresentaram relevância teórica e uma
linguagem clara, que se define como a compreensão das ações que ocorrem em
movimento no jogo interpretadas por meio da leitura da linguagem escrita. Os
fatores limitantes nos valores de corte na validação evidenciaram-se no
critério de pertinência prática, o que já era esperado. Como a pertinência
prática se caracteriza pela forma de representação das situações tático-
técnicas para tomada de decisão no jogo, existe uma representativa dificuldade
semântica para se definir o conceito deste tipo de ações no âmbito desportivo.
Como exemplo apresenta-se a situação do drible: driblar no futsal é considerado
fintar, ou seja, realizar movimentos com o corpo (com ou sem bola) para enganar
o adversário. Já no basquetebol e no andebol, o driblar significa ressaltar a
bola em deslocamento ou parado.
O bloqueio no andebol é outro exemplo discrepante entre as modalidades, pois no
basquetebol e no futsal é nomeado como "corta luz" (bloquear com o
corpo a movimentação do adversário para que seu companheiro de equipe tenha
espaço livre para finalizar).
Vale ressaltar que a concretização das ações desportivas a serem validadas por
seu conteúdo serão úteis tanto para avaliar a aprendizagem dos alunos quanto
para, através da verificação de ocorrência ou não das mesmas, ofertar o maior
uso dessas ações nas sessões de treinos per se. O instrumento a ser validado
pretende ser mais do que uma avaliação ou uma mensuração do produto esperado de
uma unidade pedagógica (Harvey & Van Der Mars, 2010). O instrumento deve
alcançar uma perspetiva de aprendizagem, permitindo que os alunos demonstrem
suas técnicas e conhecimento tático que poderão ser aplicados no contexto do
mundo real.
Os valores de corte dos estudos de Pasquali (1999), Balbinotti et al. (2006) e
Hernández-Nieto (2002) foram mantidos, com CVC≥ 0.80, sugerindo que o rol de
ações tático-técnicas desportivas selecionadas fosse pertinente baseada numa
análise de forma empírica.
Acredita-se que a validação de construto dos itens embasada na teoria
psicométrica de Pasquali (2003) cobriu grande parte significativa da extensão
semântica do construto. A partir de uma sequência de estudos realizados na área
da Educação Física (Aburachid & Greco, 2011; Secco et al. 2009; Soares et
al. 2010; Valentini et al. 2010;) torna-se possível comprovar, mais uma vez,
que os procedimentos estatísticos de Hernández-Nieto (2002) para a validação de
conteúdo se adequam a esta área.
CONCLUSÕES
A hipótese de validar um número satisfatório de ações tático-técnicas,
ocorrentes em jogos coletivos, para a criação de um instrumento de avaliação do
conhecimento tático processual, voltado à orientação desportiva, pôde ser
confirmada após a aplicação do CVC. Demonstrou-se que este método também se
ajusta na validação de ações a serem realizadas em avaliações processuais.
Este tipo de desafio contribui para um processo criterioso de validação e será
utilizado como meio pedagógico, para a unificação conceitual das ações tático-
técnicas nos desportos coletivos. A aplicação do TCTP-OE permitirá planificar
os processos de ensino-aprendizagem das capacidades do rendimento desportivo
relacionadas à cognição e ação, bem como aplicar avaliações temporais dentro
dos períodos de treino adequando a regulação desse processo, seja na formação
ou na descoberta de talentos desportivos. A utilização deste teste universaliza
o conceito e execução das ações ocorrentes no jogo, o que facilita para o
professor/treinador aplicar o instrumento e saber interpretá-lo. Torna-se
possível avaliar o conhecimento tático processual nas modalidades desportivas
coletivas de invasão, particularmente basquetebol, andebol e futsal, por meio
de um teste simples, de baixo custo, aplicável em diferentes níveis de
rendimento. Recorrendo ao solicitado por Harvey e Van Der Mars (2010), o TCTP-
OE apresenta situações reais de jogo que são avaliadas e assim, diretamente
relacionadas com os conteúdos do ensino dos jogos, e integrá-los na elaboração
de processos de ensino-aprendizagem-treino mais precisos, direcionados ao
desenvolvimento das potencialidades dos praticantes.
Dos 16 itens validados no TCTP-OE por meio do cálculo do CVC, a AFE confirmou 6
itens com a mão e 5 itens com o pé, configurando a segunda e definitiva versão
do teste. Pode-se afirmar que as ações tático-técnicas, definidas na AFE, são
suficientes para avaliar o conhecimento tático processual na iniciação
desportiva nas modalidades desportivas de basquetebol, futsal e andebol.
Recomenda-se que os interessados em aplicar o teste compreendam a interpretação
das ações de forma universal e que as mesmas sirvam como ações inclusive a
serem estimuladas no processo de ensino-aprendizagem.