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EuPTCVHe1646-21222012000100004

EuPTCVHe1646-21222012000100004

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN1646-2122
Year2012
Issue0001
Article number00004

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Osteoma osteoide e radiofrequência: Análise dos resultados do tratamento de uma série de 27 casos

INTRODUÇÃO O diagnóstico do Osteoma Osteoide (OO) pode ser histológico, mas é essencialmente clínicoimagiológico. Apesar de ser uma lesão autolimitada,a dor persistente e intensa pode requerer intervenção terapêutica. O tratamento médico (salicilatos e outros anti-inflamatórios não esteroides) é inconsistente e não é bem tolerado por um longo período de tempo.

Assim, muitas vezes, é necessário recorrer à remoção ou destruição do nidus para obter alívio sintomático. Dadas as dificuldades e morbilidade da ressecção "em bloco" e da curetagem, lançou-se mão de várias técnicas "mini-invasivas" de ablação do nidus.

Atualmente estão disponíveis diversas técnicas percutâneas, mas a termo-ablação por radiofrequência (TARF) é a mais relevante. Utilizada no tratamento desta lesão desde 1992, o seu uso ainda não foi devidamente implementado em Portugal, não havendo referência a séries de outras Instituições Hospitalares.

Apresentam-se de seguida os resultados clínicos e imagiológicos de uma série de 27 casos de OO tratados com TARF, bem como uma abordagem pormenorizada dos princípios desta técnica e das especificidades da sua aplicação nesta patologia.

MATERIAL E MÉTODOS Entre janeiro de 2004 e maio de 2011 foram tratados 27 doentes com OO com a seguinte localização: 12 no fémur proximal (cabeça, colo e região subtrocantérica), 4 no fémur diafisário e distal, 3 no úmero distal, 3 na tíbia, 1 no acetábulo, 1 no úmero proximal, 1 no cúbito proximal, 1 no sacro e 1 no corpo da vértebra dorsal (Figura_1).

Figura_1

Destes doentes, 18 eram do sexo masculino. As idades variaram entre os 11 e os 34 anos (média de 22 anos). A evolução dos sintomas foi muito diversa, sendo o caso localizado na vértebra dorsal o de maior evolução (6 anos). Curiosamente não se verificou, neste caso, escoliose. Com a exceção deste, o maior tempo de evolução dos sintomas foi de 15 meses. O doente em que os sintomas tinham menos tempo de evolução foi um dos de localização na cabeça do fémur (2 meses) mas o sufi ciente para se instalar uma atrofia da coxa e uma notória claudicação da marcha (Figura_2). A média dos sintomas, com a exclusão do referido doente da coluna, foi de 5,5 meses. O follow-up médio foi de 2,9 anos (3-78 meses).

Todos os doentes foram propostos para TARF com o diagnóstico feito apenas pela clínica e pela imagiologia.

Os procedimentos foram realizados sob anestesia geral e o posicionamento do elétrodo no nidus controlado por Tomografia Axial Computorizada.

A técnica, simples, observou sempre os mesmos procedimentos. Depois da anestesia, da colocação das placas (elétrodos de retorno) nas duas coxas ou pernas, da escolha do ponto de entrada na pele e da preparação de um pequeno campo esterilizado o elétrodo foi introduzido através de uma incisão punctiforme. Foi utilizado um elétrodo Cool-tipTM RF internamente arrefecido.

Foram aplicados 12 minutos de radiofrequência determinada automaticamente pelo gerador de acordo com a impedância do tecido alvo, controlando-se apenas a temperatura na ponteira da cânula. A temperatura durante o procedimento deve rondar os 20ºC o que, uma vez que a cânula é arrefecida, corresponde a uma temperatura entre os 42ºC e os 48ºC. Estes valores são verifi cados no fim do procedimento quando a bomba perfusora da água destilada, usada para o arrefecimento, é desligada. Em 3 casos foi necessário repetir o procedimento por mais 6 minutos por a temperatura atingida não ultrapassar os 40ºC.

No fim, o trajeto foi infiltrado com 6 ml de Lidocaína a 2%. Em 7 doentes foi usada uma broca canulada para se penetrar o denso osso reativo ou para se atingir o nidus sem perigo de lesão do feixe neurovascular (Figura_3).

Em 3 lesões justarticulares (1 na cabeça do fémur e 2 no fémur distal) a colocação do elétrodo foi feita através da cartilagem articular (Figura_4).

Em nenhum caso se registou qualquer complicação durante o procedimento.

A alta hospitalar foi dada 6 a 8 horas depois do procedimento e os doentes foram medicados com antiinflamatório para o caso de sentirem dor.

RESULTADOS Todos os doentes, exceto um, experimentaram um alívio total da dor ao fim de um período de tempo que variou entre 1 e 3 dias.

O doente que não melhorou da dor teve supuração pelo trajeto do elétrodo e foi tratado cirurgicamente como uma osteomielite por Staphylococcus aureus meticilino suscetível. Tratou-se de um dos casos de localização na tíbia (Figura_5) e suspeitou-se que o diagnóstico clínico-imagiológico de OO não foi correto.

Um outro doente, também com localização do OO na tíbia, teve como complicação tardia uma infeção por Serratia marcescens que se resolveu com antibioterapia oral prolongada.

Não se verificaram outras complicações tardias, mormente nos 3 casos em que a cânula atravessou a cartilagem articular.

Aos 4 meses de evolução todos os doentes fizeram uma TAC e uma cintigrafia de controlo. As cintigrafias mostraram ausência de captação em 14 doentes e franca diminuição em relação à realizada inicialmente nos restantes 10. Na TAC apenas 3 doentes mostraram esclerose do nidus.

DISCUSSÃO O tratamento cirúrgico do OO consiste na exérese completa do nidus e tem uma taxa de sucesso próxima de 100%, com o desaparecimento da típica dor noturna poucas horas após a intervenção.

Foi Campanacci[1] quem descreveu 2 modos de excisar o nidus: 1) ressecção "em bloco" através da área de necrose e 2) curetagem após a sua exposição, com desbaste da zona de esclerose.Quando se opta pela ressecção "em bloco" num osso longo deve-se ponderar a necessidade de um encavilhamento profilático[2]. Na coluna é necessário, muitas vezes, a artrodese posterior que a exérese condiciona instabilidade. Uma particularidade na localização do OO na coluna prende-se com o facto de a escoliose reativa poder não melhorar mesmo depois da exérese, se o tempo de evolução for superior a 15 meses[3,4]. No único caso de OO na coluna desta série, apesar do longo tempo de evolução, a doente não desenvolveu escoliose.

Dependendo da localização, a morbilidade de uma cirurgia pode ser muito elevada como é o caso da cabeça e colo do fémur. Per-operatoriamente pode ser muito difícil localizar o nidus e nem sempre a radioscopia o identifica. Outras desvantagens da cirurgia são as eventuais complicações: fratura  per- operatória, necessidade de enxerto e/ou fixação interna, rigidez articular, recuperação funcional lenta e marcha com carga adiada.

Parece consensual que as recidivas se relacionem com a remoção incompleta do nidus[5-7]; como são raras após os 2 anos, acredita-se que um follow-up de 2 anos seja o adequado[5-7]. Nesta série não houve recidivas ou persistência da dor embora nem todos os casos tenham o tempo de recuo superior a 2 anos.

Várias técnicas "mini-invasivas" têm sido desenvolvidas para substituir o tratamento cirúrgico do OO: a excisão guiada por radionuclídeos ou por Tomografia Axial Computorizada, a fotocoagulação percutânea por Laser, a cirurgia assistida por computador e a radiofrequência, que tem sido a mais usada e sobre a qual existem mais estudos.

O uso de radiofrequência no OO baseia-se no princípio desta corrente sinusoidal (400-500 Hz) atravessar o tecido do nidus, induzindo uma agitação iónica e, por fricção entre as células, um aumento da temperatura tecidular. Atingida uma temperatura de 60ºC a desnaturação celular é irreversível[8].

Uma das dificuldades inerentes ao uso da TARF (e de outras técnicas percutâneas) é a ausência de diagnóstico histológico. Contudo, mesmo quando o tratamento mais frequente era a exérese cirúrgica, o diagnóstico do OO sempre assentou, essencialmente, em critérios clínicos e imagiológicos. O único insucesso nesta série relacionou-se com um erro de diagnóstico, como foi atrás referido.

foi manifestamente comprovado que a TARF é uma técnica eficaz, segura e que apresenta vantagens significativas quando comparada com os restantes procedimentos.

Esta série de 27 casos de OO tratados com radiofrequência é a primeira a ser descrita a nível nacional e confirma a simplicidade e eficácia da técnica.


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