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EuPTCVHe1646-21222013000300015

EuPTCVHe1646-21222013000300015

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN1646-2122
Year2013
Issue0003
Article number00015

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Fratura proximal do fémur bilateral: Incidência e fatores de risco de fratura contralateral

INTRODUÇÃO As fraturas da extremidade proximal do fémur constituem um importante problema de saúde pública[1]. O sucesso no tratamento cirúrgico destas fraturas permite que muitos destes voltem a uma vida ativa, durante muitos anos[2].

O aumento da esperança de vida, a osteoporose estabelecida, as alterações neuro-cognitivas e as comorbilidades predispõem os doentes a outras fraturas osteoporóticas. Dentro das mais frequentes, a fratura proximal do fémur é a que tem maior morbimortalidade[3].

Cerca de 8% dos doentes que sofreu uma fratura proximal do fémur sofrerá uma fratura semelhante contralateral[2]. Estes doentes têm um prognóstico de vida e função francamente inferior ao observado nos doentes que sofreram apenas uma fratura, como será discutido adiante.

Para melhor caracterização da nossa população, foi feito o levantamento de todos os doentes operados por fratura proximal do fémur num intervalo de sete anos, no nosso Serviço.

Foi feito o registo de todos os doentes com fratura contralateral. Foram analisadas as comorbilidades médicas. Apresentamos aqui os dados desta revisão, com ênfase nos dados estatisticamente relevantes que podem levar a uma melhoria no acompanhamento deste tipo de doentes.

MATERIAL E MÉTODOS População Todos os doentes com fratura proximal do fémur tratados no Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital de Curry Cabral entre janeiro de 2003 e dezembro de 2009. Foram excluídos os doentes com fraturas de alta energia (ou com história de queda superior à própria altura), com fraturas patológicas por tumor primário ósseo ou metástases, ou com idade inferior a 50 anos.

Métodos Em cada um dos itens analisados, foi feita a comparação estatística entre o grupo em que apenas ocorrem uma fratura (Grupo Unilateral) e o grupo em que ocorreram duas fraturas não simultâneas (Grupo Bilateral).

Foi realizado um estudo retrospetivo, com análise do processo de internamento informatizado, do Sistema de Apoio ao Médico (SAM). Foram visualizadas as radiografias, para classificação e agrupamento dos doentes por tipo de fratura, e para determinação do procedimento cirúrgico realizado. Os dados de follow-up, das comorbilidades e diagnósticos secundários foram obtidos do processo informatizado (SAM) de cada doente.

Na análise estatística foi utilizado o teste do Quiquadrado para estudo da independência e o Método de Regressão Logística para avaliação da relação entre a primeira e a segunda fratura, com o auxílio do programa informático SPSS.

Testaram-se ainda as diferenças entre as proporções das comorbilidades nos dois grupos de doentes do estudo. As diferenças foram consideradas significativas se p<0.05.

RESULTADOS Incidência Obtiveram-se 1911 doentes, e destes 3,24% (n=64) sofreram fratura bilateral da extremidade proximal do fémur.

Género No Grupo Unilateral apurámos 394 homens (26,7%) e 1460 mulheres. No Grupo Bilateral apurámos 8 homens (14.3%) e 56 mulheres. No teste de comparação de proporções não diferença estatisticamente significativa (p=0.09).

Idade A média de idades no Grupo Unilateral foi de 81 anos. No Grupo Bilateral, a primeira fratura ocorreu, em média, aos 80 anos, e a segunda fratura ocorreu aos 82 anos.

Tipo de fratura A proporção entre fraturas intracapsulares e extracapsulares manteve-se sensivelmente constante ao longo do período de 7 anos em que foi analisada a nossa população (Figura_1). Totalizamos 45,3% (n=895) fraturas intracapsulares e 54,7% (n=1080) de fraturas extracapsulares.

No Grupo Unilateral (n=1854) houve 831 (44,8%) fraturas intracapsulares e 1023 fraturas extracapsulares. No Grupo Bilateral totalizamos 66 fraturas intracapsulares (51,5%) e 62 fraturas extracapsulares. A distribuição das mesmas está representada no Figura_2.

Foi feita a análise estatística da comparação entre a primeira e a segunda fratura (Quadro_I), no Grupo Bilateral, pelo Teste de Qui-Quadrado e por Regressão Logística.

Apurou-se que a localização da fratura é dependente da primeira. A localização da fratura é significativa/determinante para a localização da , com p=0,03 na equação do modelo associado à regressão logística.

Não se apurou significado estatístico na localização da fratura em função do tempo. Apesar de tudo, 70% das segundas fraturas ocorreram nos 3 primeiros anos após a primeira (Figura_3).

Tipo de tratamento cirúrgico Apesar de não ser este um dos objetivos do trabalho, registámos os tipos de osteossíntese para averiguar se haveria mudança de atitude numa fratura (eventual escolha por um método artroplástico, por exemplo). Como se constata na Figura_4, a escolha do método foi quase sobreponível nos dois episódios de fratura. , inclusive, uma pequena preponderância da osteossíntese sobre a hemiartroplastia no tratamento da segunda fratura, mas sem significado estatístico.

Comorbilidades médicas Foram registadas as principais comorbilidades desta faixa etária, e analisadas as suas proporções dentro de cada um dos Grupos. Testaram-se as hipóteses de que não diferenças estatisticamente significativas entre essas proporções.

No quadro_II estão agrupadas as comorbilidades dos doentes com fraturas da extremidade proximal do fémur e verifica-se que com base nos valores das estatísticas do teste obtidos que foram todos positivos, o que significa que no grupo das pessoas com fraturas bilaterais a proporção de todas as doenças é maior do que no grupo das pessoas com fraturas unilaterais.

Da análise do risco relativo de sofrer uma fratura contralateral da extremidade proximal do fémur, tendo por base as comorbilidades, verificou-se que nos doentes com doença de Parkinson, Hipertensão Arterial, doença Cardíaca, Anemia e alterações da Visão, existe um aumento do risco de fratura, com significado estatístico. De salientar ainda, que embora sem forte significado estatístico (p=0,09), o risco relativo de sofrer uma segunda fratura da extremidade proximal do fémur, está também aumentado nos doentes com demência[4;5].

DISCUSSÃO Ao nosso estudo temos de apontar como limitações: - O facto de ser um estudo retrospetivo, com análise do processo de internamento hospitalar.

- O número de doentes em que foi perdido a follow-up, constitui o verdadeiro viés deste estudo, pois não se conseguiu determinar a mortalidade após o primeiro evento. E provavelmente pela falta de follow-up em muitos dos doentes não se conseguiu verificar a ocorrência da segunda fratura. Uma provável razão de discrepância entre este estudo, e outras séries internacionais[6,5] é a mortalidade que não foi possível apurar após a primeira fratura. Uma vez que se sabe que a mortalidade após fratura da extremidade proximal do fémur é muito elevada, ao não se conseguir apurá-la após a primeira fratura, os doentes foram incluídos no grupo de controlo (fraturas unilaterais), Como vantagens, devemos assinalar que constitui um ponto de partida e um primeiro trabalho para uma reflexão e avaliação mais rigorosa, de preferência multidisciplinar aos doentes com osteoporose que sofrem uma fratura da extremidade proximal do fémur. Com a continuação e novos estudos, permitirá a identificação de doentes em risco de fratura contralateral da extremidade proximal do fémur e o estabelecimento de normas de vigilância e medidas de prevenção de novas fraturas.

Incidência A literatura aponta para uma incidência significativa de uma fratura contralateral da extremidade proximal do fémur em diversas populações.

Nos EUA esta ocorre em 0,023 doentes / ano, o que corresponde a um risco 4 vezes superior ao constatado para a ocorrência de uma primeira fratura[7].

Na população oriental[5] este risco é de 0,043 doentes / ano.

Uma análise realizada na Dinamarca envolvendo 169000 doentes, mostrou que 27800 (16,4%) sofreu uma fratura contralateral da extremidade proximal do fémur[3].

Na nossa amostra obtivemos uma incidência global de 64 doentes com fraturas bilaterais (3,24%), valores inferiores aos da literatura, que estão relacionados com os vieses deste estudo.

Idade A idade média de vários trabalhos aponta para os 83 anos, mas esta não parece constituir um fator de risco específico para a fratura contralateral da extremidade proximal do fémur[7], mas é provável que a sua ocorrência seja estatisticamente inferior abaixo dos 71 anos.

No Reino Unido esta ocorre, em média, aos 79 anos quando a fratura contralateral da extremidade proximal do fémur ocorre mais de dois anos após a primeira; ocorre em média aos 83 anos quando a fratura contralateral da extremidade proximal do fémur ocorre menos de dois anos após a primeira.

Na nossa amostra, a idade média do grupo das fraturas bilaterais aquando da primeira fratura, foi ligeiramente menor que a do grupo unilateral.

Intervalo de tempo entre a primeira e a segunda fratura Numa amostra Britânica[9] cerca de 48% da fratura contralateral da extremidade proximal do fémur ocorre nos primeiros dois anos. Estes dados são ligeiramente diferentes duma amostra japonesa, que regista que 41% da fratura contralateral da extremidade proximal do fémur ocorre no primeiro ano, 67 % ocorrem nos primeiros dois anos e 86% ocorrem nos três primeiros anos após a primeira fratura.

Na nossa amostra apurámos que a fratura contralateral da extremidade proximal do fémur tende a ocorrer de forma precoce, verificando-se que 70% ocorreu nos primeiros 3 anos após o primeiro evento.

Tipo de fratura Em vários trabalhos[5,9,3] parece haver uma elevada concordância entre o tipo de fratura (intra vs extracapsular) entre a primeira e a segunda fratura.

Genericamente, em dois terços dos doentes a fratura contralateral da extremidade proximal do fémur é igual à primeira.

Na nossa amostra, apurámos uma relação com significado estatístico entre a primeira e a segunda fratura, em que a fratura contralateral da extremidade proximal do fémur tende a ser do mesmo tipo que a primeira. Contudo, esta relação tende a ser menos significativa quanto maior é o tempo de intervalo entre as duas fraturas.

Como conclusão pretendemos salientar que a ocorrência de uma segunda fratura osteoporótica do fémur é um dado para o qual a comunidade médica esta pouco sensibilizada.

A sua etiologia, como todas as fraturas de fragilidade, é multifatorial, mas acreditamos que deve haver um papel importante do ortopedista na sua prevenção secundária.

forte evidência que a medicação anti osteoporótica reduz[10] o risco de novas fraturas. Negligenciar esta medida é, portanto, ignorar o impacto desta doença e um cuidado deficiente aos nossos doentes.

É necessário identificar nos doentes com fratura da extremidade proximal do fémur, os que apresentam os fatores de risco (como a idade, doença de Parkinson, Hipertensão Arterial, doença Cardíaca, Anemia e alterações da Visão) para fratura contralateral. Estes doentes, devem ter um follow-up mais rigoroso nos primeiros três anos após a fratura e devem ser estabelecidas melhores formas de prevenção de fraturas e otimização das comorbilidades, por forma a prevenir a fratura contralateral da extremidade proximal do fémur.


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