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EuPTCVHe1646-69182012000400008

EuPTCVHe1646-69182012000400008

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN1646-6918
Year2012
Issue0004
Article number00008

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Colangiocarcinoma Intra-Hepático

INTRODUÇÃO O colangiocarcinoma é um tumor com origem nas células do epitélio que reveste os ductos biliares, que representa 2% das neoplasias humanas [1] e 3% dos tumores do tracto gastrointestinal [2]. De acordo com a sua localização, classifica-se em intra-hepático, hilar e extra-hepático, sendo o primeiro tipo o mais raro [1]. Apesar de raro, o colangiocarcinoma intrahepático (CCIhp) é o segundo tumor maligno primitivo mais frequente do fígado, representando entre 5% a 20% das neoplasias hepáticas [2]. A sua incidência e mortalidade têm vindo a aumentar e alguns autores afirmam que é o tumor maligno com a segunda maior taxa de crescimento nos últimos anos; o que contrasta com a progressiva diminuição das localizações extrahepáticas [3].

É particularmente difícil realizar um diagnóstico precoce desta neoplasia, pois é clinicamente silencioso ou apresenta uma clínica inespecífica em fases iniciais [3]. Apenas uma minoria dos doentes apresenta factores de risco caracterizados [3] e não existe ainda um marcador de diagnóstico precoce; apesar de alguns grupos defenderem que, em doentes com colangite esclerosante primária, o doseamento do CA19.9 pode assumir relevância no diagnóstico [3].

O tratamento cirúrgico é o único que se tem revelado capaz de aumentar, de forma consistente, a sobrevida ou inclusivé, curar os doentes com CCIhp [3]. No entanto, na maioria dos casos, o diagnóstico é tardio, impedindo a realização de uma intervenção cirúrgica curativa [3], caracterizada pela presença de margens livres e ausência de invasão vascular venosa ou linfática [4]. Deste modo e apesar dos avanços da técnica cirúrgica, a recidiva tumoral após tratamento cirúrgico é frequente e as taxas de sobrevida são baixas [4].

Com efeito não existe nenhum tratamento curativo consensualmente aceite como alternativo à cirurgia [3]. Várias modalidades paliativas têm, contudo, sido estudadas com o objectivo de avaliar os ganhos obtidos em termos de qualidade de vida e de sobrevida. A quimioterapia não tem permitido alcançar resultados animadores. Os primeiros protocolos, usando o 5-fluorouracil, condicionaram benefícios reduzidos e determinaram efeitos secundários relevantes. Novos esquemas usando gemcitabina isolada ou combinada com derivados da platina, administrados por via sistémia ou intraarterial, têm melhor tolerância e permitiram obter resultados mais animadores [5].

A combinação dum diagnóstico habitualmente tardio com a ausência de alternativas ao tratamento cirúrgico faz com que o CCIhp seja habitualmente considerado um tumor com mau prognóstico. Acresce, também, que, em situações de doença avançada, a sobrevida dos doentes operados não difere, de forma significativa, da que se observa em doentes tratados paliativamente [6]. O conhecimento dos factores prognósticos que influenciam os resultados do tratamento cirúrgico assume assim particular relevância, permitindo distinguir os casos que beneficiam desse tratamento, daqueles em que a exérese cirúrgica pode resultar em perda de qualidade de vida para o doente.

O presente trabalho tem por objectivos avaliar os resultados do tratamento do CCIhp e determinar quais os factores prognósticos da sobrevida em doentes tratados no nosso Serviço.

MATERIAL E MÉTODOS Vinte e um doentes com CCIhp foram tratados no Serviço de Cirurgia III dos HUC (agora incluídos no CHUC), entre Janeiro de 1990 e Novembro de 2010. Neste estudo entendemos como CCIhp os tumores com origem no epitélio da árvore biliar intrahepática de ordem ou inferior.

A população em estudo incluiu oito mulheres (38,1%) e treze homens (61,9%), com a idade média de 64,8±12,5 anos (limites: 39-84); sendo de 60,9±13,0 anos (limites: 39-84) nos homens e de 71,3±8,9 anos (limites: 59-81) nas mulheres.

Em quinze doentes os tumores eram sintomáticos e, em dois, o diagnóstico resultou da realização de exames complementares motivados por outras causas.

Nos restantes quatro casos não existem dados fiáveis relativos à semiologia da doença. O sintoma mais frequente foi dor abdominal (11 doentes), seguida de anorexia (2 doentes) e náuseas (1 doente). A icterícia foi o sinal mais frequente (5 doentes), seguida de massa abdominal palpável (1 doente).

Sublinhe-se que quatro doentes apresentavam um factor de risco para CCIhp: doença hepática crónica de causa alcoólica.

No quadro_I encontram-se detalhados os resultados dos exames biológicos no momento do diagnóstico.

Relativamente aos marcadores tumorais, o CA19.9 foi o que, mais frequentemente, apresentou valores elevados; embora, em cinco casos, os seus valores fossem normais. O CEA apesentou valores anormais em seis pacientes.

Quanto à classificação de Child-Pugh, quatro doentes encontravam-se no estádio B e doze no estádio A. Relativamente à classificação MELD a média foi de 10,94±4,89 (limites: 6 a 22).

No que respeita aos exames imagiológicos, dez doentes realizaram uma ecografia e 16 uma tomografia computorizada (TAC) abdominal. Foram ainda efectuados os seguintes exames complementares de diagnóstico: CPRM (n=12), TAC torácica (n=8), angiografia do tronco celíaco e da artéria mesentérica superior (n=3) e PET (n=1). Em dez doentes foram realizadas biópsias do tumor (guiadas por ecografia ou TAC) previamente ao tratamento.

Em treze casos existia um nódulo único, um doente apresentava duas lesões e em quatro existiam mais de três tumorações; o tamanho médio da lesão de maiores dimensões era de 6,9±4,0 cm (limites: 1,8 a 13,7 cm). Em seis casos o tumor situava-se no lobo esquerdo, noutros seis no lobo direito e nos restantes era bilobar e/ou multifocal.

Dos vinte e um doentes estudados a lesão foi considerada irressecável em seis, nos quais se optou pelo tratamento médico. Quinze doentes foram submetidos a tratamento cirúrgico: em onze a intervenção teve intuitos curativos e em quatro foi considerada paliativa. Os registos indicam um tempo médio de internamento no pós-operatório de 15,8±11,1 dias (limites: 4-43). O quadro_II resume as intervenções cirúrgicas realizadas.

Em dez casos o tratamento foi paliativo: quatro doentes receberam tratamento médico de suporte, um doente foi submetido a quimioembolização seguida de quimioterapia segundo o esquema GEMOX (Gemcitabina e Oxaliplatina); num outro paciente foi colocada uma prótese biliar por via endoscópica. Nos restantes quatro casos foram efectuadas cirurgias paliativas Foi realizada quimioterapia em três doentes: em dois foi utilizada gemcitabina e oxaliplatina (GEMOX) e no terceiro gemcitabina associada a cisplatina e metilprednisolona (GEM-P).

O estudo histopatológico das peças operatórias permitiu verificar que as margens cirúrgicas estavam invadidas em dois doentes.

Os tumores operados foram classificados como bem diferenciados em quatro casos, como moderadamente diferenciados em cinco e como pouco diferenciado num. Foi também possível verificar que em oito casos existia invasão vascular tumoral; que, em quatro, era acompanhada por invasão perineural.

Por último, em três casos encontraram-se alterações da estrutura microscópica do parênquima hepático, características de doença hepática crónica de causa alcoólica. Nos restantes o parênquima hepático foi considerado normal.

As consultas de catamnese nos doentes submetidos a tratamento curativo realizaram-se de três em três meses nos primeiros dois anos, de seis em seis até aos cinco anos e, posteriormente, com peridiocidade anual. Na consulta realizou-se, de forma sistemática, um exame clínico detalhado e requisitaram-se exames complementares de diagnóstico: hemograma, bioquímica, marcadores tumorais (CEA, CA 19.9 e α-FP), ecografia abdominal e/ou TAC tóraco-abdominal.

As curvas de sobrevida foram calculadas de acordo com o método de Kaplan-Meier e na análise estatística usaram-se correlações bivariadas de Pearson para identificar os factores prognósticos de sobrevida. Os factores significativos foram estudados segundo uma regressão linear de forma a avaliar a influência do factor de forma independente. Neste trabalho utilizou-se o programa de análise estatística SPSS versão 17.0 e considerámos significativos valores de p < 0,05.

Para estudo dos factores prognósticos da sobrevida analisou-se o total da população e o subgrupo dos doentes submetidos a tratamento cirúrgico curativo.

Entendeu-se por sobrevida global o período de tempo decorrido entre a data da intervenção cirúrgica com intuitos curativos e a morte do doente; ou a data do fim deste estudo. Designou-se como sobrevida sem recidiva tumoral o período de tempo compreendido entre a data da intervenção cirúrgica com intuitos curativos e a data do diagnóstico da recorrência do tumor.

Foram excluídos da análise estatística os doentes falecidos no período per e pós-operatório. Foram incluídos na mortalidade pós-operatória todos os casos de morte ocorridos nos primeiros 90 dias após o tratamento cirúrgico.

RESULTADOS A mortalidade per-operatória foi de 0% e a pós-operatória de 6%; tratou-se dum doente falecido por hemorragia digestiva alta cataclísmica, refractária à terapêutica.

Relativamente à morbilidade operatória a registar cinco casos (31,2%): duas fístulas biliares tratadas medicamente, dois casos de hemorragia digestiva alta por úlcera duodenal sangrante (um caso tratado medicamente e outro submetido a terapêutica cirúrgica que não viria a impedir a morte do doente) e uma colecção subfrénica esquerda drenada por via percutânea guiada por TAC.

A sobrevida média global dos doentes foi de 1,10 ± 1,34 anos (limites: 0,04- 5,25), sendo de 1,70 ± 1,62 anos (limites: 0,10-5,25) no grupo de doentes que recebeu tratamento curativo e de 0,45 ± 0,38 anos (limites: 0,04-0,95) nos submetidos a tratamento paliativo.

A sobrevida sem recidiva tumoral foi de 1,48 ± 1,65 anos (limites: 0,10-5,25).

As Figuras_1_a_3 mostram as curvas de sobrevida cumulativa, correspondendo a primeira ao total da população (Figura_1), a segunda ao comparativo dos doentes submetidos a tratamento curativo e paliativo (Figura_2) e a última à sobrevida cumulativa livre de doença (Figura_3).

Nos onze doentes submetidos a uma intervenção cirúrgica com intuitos curativos surgiu recidiva tumoral em cinco, 1,09 ± 0,82 anos após a exérese (limites: 0,24-2,08). A recidiva tumoral manifestou-se no fígado em todos os doentes: num dos casos na margem de ressecção e nos restantes no parênquima hepático restante. Três destes pacientes foram submetidos a tratamento médico, num outro foi colocada uma prótese biliar por via percutânea. Os restantes dois casos fizeram quimioterapia, um com o esquema GEMOX e o outro com o esquema GEM-P. O doente que fez o esquema GEMOX foi re-hepatectomizado.

A sobrevida média após recidiva tumoral foi de 0,96 ± 1,16 anos (limites: 0,06- 2,56).

Seis doentes continuavam vivos à data da realização deste estudo, cinco foram perdidos para estudo e dez faleceram. A morte foi de causa tumoral em nove casos e num a causa é desconhecida. Os doentes ainda vivos apresentam uma sobrevida média de 2,00 ± 1,85 anos (limites: 0,55-5,25).

O Quadro_III sintetiza os resultados da correlação bivariada de Pearson para análise estatística dos factores prognósticos de sobrevida no total da população e no subgrupo tratado curativamente.

Os factores que influenciaram a sobrevida global do total dos doentes com CCIhp foram o tratamento cirúrgico com intuitos curativos (p=0,028), a presença de invasão vascular (p=0,002) e o valor da fosfatase alcalina no momento do diagnóstico (p=0,044).

Entre os doentes operados com intuitos curativos, a presença de invasão vascular influenciou a sobrevida global (p=0,025) e a sobrevida livre de doença (p=0,002).

Usando a regressão linear nos factores significativos da análise univariada verificou-se que o único factor que se provou poder influenciar a sobrevida de forma independente foi a presença de invasão vascular (p=0,010).

DISCUSSÃO A sobrevida aos cinco anos dos doentes com CCIhp varia entre os 4% [4] e os 70% [7]. No nosso estudo foi de 14% no total da população e de 26% no subgrupo tratado com intuitos curativos.

A idade média dos doentes tratados foi 64,8±12,5 anos (limites: 39-84), o que se assemelha dos valores citados noutros estudos [8]. Outros trabalhos, tal como o nosso, não conseguiram pôr em evidência uma associação entre a idade e o prognóstico dos doentes9. Na nossa série a distribuição dos doentes segundo o género foi semelhante à da maioria das séries publicadas [3,9] e não teve influência prognóstica.

A ausência de sintomas não se associou a um melhor prognóstico, o que contraria os resultados apresentados por Jan [4]. Embora fosse espectável que o diagnóstico nos doentes assintomáticos aumentasse a probabilidade de se realizar uma intervenção cirúrgica com intuitos curativos, tal não se verificou no nosso estudo.

Recentemente tem-se tentado identificar um marcador que tornasse possível o diagnóstico do CCIh na fase assintomática: CEA, CA19.9, fosfatase alcalina.

Segundo Jan [4], o CEA e o CA19.9 poderiam ser usados no diagnóstico precoce em doentes com colangite esclerosante primária; e, embora não os considere úteis para o diagnóstico precoce, o seu valor elevado correlacionar-se-ia com doença irressecável. Uenishi [9] considera que o CEA, mas não o CA19.9, se associa a um mau prognóstico. Ohtsuka [10] e Huang [11], por seu turno, consideram que seria o CA19.9 que permitiria prever um mau prognóstico. Um conjunto de estudos considera que a presença de mucobilia poderia também ser usada para o diagnóstico precoce, mas apenas em tumores do tipo IG, que a segregariam em maior quantidade [12]. No nosso estudo, o valor da fosfatase alcalina (p=0,044) revelou-se um factor prognóstico de sobrevida global na totalidade dos doentes.

Konstadoulakis relacionou a existência de doença hepática de base com a sobrevida dos doentes [13]. O autor concluiu que quanto melhor fosse a função hepática, melhor seria a sobrevida dos doentes; o que também foi observado no presente estudo. Não pusemos também em evidência qualquer relação, com significado estatístico, entre as sobrevidas e as classificações de Child-Pugh e MELD.

Neste trabalho não se pôs em evidência uma relação com significado estatístico entre o tamanho do tumor, ou o número de nódulos tumorais e a sobrevida. Alguns estudos [8] parecem comprovar uma relação entre o tamanho dos nódulos e a sobrevida enquanto noutras séries tal não aconteceu [14]. Weber confirmou a existência duma relação entre o tamanho do tumor e a sobrevida livre de doença [15]. Relativamente ao número de lesões tumorais, trabalhos recentes têm permitido correlacionar este parâmetro com a agressividade biológica da neoplasia; e, deste modo, com o prognóstico [16].

Nem todos os estudos têm permitido demonstrar a influência prognóstico do tipo histológico, segundo a classificação do Liver Cancer Study Group of Japan (LCSGJ). De acordo com esta classificação, os colangiocarcinomas dividem-se em IG, Formação de Massa (MF) ou Infiltração Periductal (PI). Vários estudos revelam que o tipo IG é o de melhor prognóstico [10], pelo que o tratamento cirúrgico estaria sempre indicado nestes casos [17]. Contudo não existe unanimidade quanto ao tipo histológico com pior prognóstico. Isa [8] defende que o tipo PI representa uma contra-indicação à ressecção. Noutros estudos não se conseguiram encontrar diferenças com significado estatístico entre os diferentes tipos histológicos [18]. Recentemente, Yamamoto [19] e Shimada [20] defenderam que o tipo misto (MF e PI) correspondia ao tipo MF mais avançado, não sendo espectáveis sobrevidas longas neste tipo de tumor. Outros autores têm considerado este tipo misto como o único que seria realmente portador de pior prognóstico [18].

No nosso hospital, a análise histopatológica da peça não classifica os CCIhp segundo os grupos do LCSGJ, mas sim quanto ao grau de diferenciação celular.

Neste estudo, essa classificação não teve correlação com a sobrevida dos doentes, o que também foi verificado por outros grupos [8,9].

No que diz respeito às margens cirúrgicas, os resultados não são consensuais.

Num estudo de Shimada [21] a invasão da margem de ressecção cirúrgica não representou um factor de prognóstico independente. No entanto, nos casos em que não existam metástases ganglionares, a presença de margens cirúrgicas livres de doença associa-se a uma sobrevida significativamente maior. Segundo o autor, a maioria das recorrências hepáticas da doença ocorrem no fígado remanescente e não na superfície de secção. No entanto, outros autores [22], advogam a excisão com margens alargadas. No nosso estudo, o estado das margens cirúrgicas não influenciou a sobrevida dos doentes e observámos, tal como Shimada, que a maioria das recorrências ocorreu no fígado à distância da superfície de secção cirúrgica.

A importância prognóstica do envolvimento ganglionar não tem gerado polémicas entre os diferentes autores. A maioria dos estudos põe em evidência que a metastização ganglionar é um factor de mau prognóstico [22], embora não incompatível com sobrevidas prolongadas; havendo casos relatados na literatura de doentes que sobreviveram mais de cinco anos [15]. No que respeita à indicação para a realização de cirurgia curativa, alguns autores vêem na presença de adenopatias um sinal de doença disseminada e, em consequência, de incurabilidade [23]; outros, defendem que os tumores com metástases ganglionares têm um comportamento particularmente agressivo [8]; Ohtsuka [10] descreveu sobrevidas de mais de três anos em doentes com metásteses ganglionares em que associaram à hepatectomia uma linfadenectomia alargada ao tronco celíaco. Nakagawa demonstrou que a linfadenectomia dos grupos ganglionares N1 e N2, em doentes com menos de dois gânglios invadidos, aumentou a sobrevida [24]. Segundo o mesmo autor, a presença de múltiplas lesões primárias ou de três ou mais gânglios invadidos seria sinal de elevado potencial metastático; pelo que estes doentes não deveriam ser submetidos a tratamento cirúrgico com fins curativos. Recentemente, Shimada analisou o eventual interesse da linfadenectomia em doentes N0 e concluiu que esta não seria vantajosa [20]. Isa defende que as metástases ganglionares e o tipo histológico indicam, não a extensão tumoral mas, sobretudo, a agressividade da neoplasia [8].

No estudo por nós realizado não foi possível obter dados fiáveis relativos ao envolvimento ganglionar. relativamente à invasão vascular, foi possível verificar que se associou a um pior prognóstico. O que representa um tema de discussão actual que se encontram publicados estudos com resultados no mesmo sentido [15,25] e em sentido contrário [8].

A cirurgia de intuito curativo é, segundo os resultados do nosso trabalho, um factor prognóstico com significado estatístico, associando-se a um aumento da sobrevida de forma não independente. A maioria dos estudos publicados demonstrou que a possibilidade de realizar uma intervenção curativa representa um factor prognóstico favorável de sobrevida [10,12,15]. Contudo todas as publicações são consensuais ao afirmar que o problema principal reside na reduzida percentagem de doentes que pode ser submetida a uma intervenção cirúrgica curativa. No nosso estudo, 52,4% dos doentes foram submetidos a uma hepatectomia com intenção curativa; percentagem aliás idêntica à referida noutras séries [14,18].

As vantagens da utilização duma quimioterapia neoadjuvante, adjuvante ou paliativa representam um tema ainda muito controverso. Dados recentes parecem demonstrar uma eficácia significativa, embora modesta, da quimioterapia paliativa [26]. Teriam especial vantagem os esquemas utilizando gemcitabina, ou gemcitabina com derivados da platina [26,27]. Entre estes últimos quem defenda o esquema de associação da gemcitabina com cisplatina [28] e os favoráveis à gemcitabina com oxaliplatina pela sua melhor tolerância, menor toxicidade sistémica e permitirem obter taxas de resposta e tempos de sobrevidas semelhantes [26]. Existem, também, estudos promissores de quimioterapia intra-arterial utilizando estes protocolos [29], com respostas de 30-40% e menos efeitos secundários [5]. No nosso trabalho três doentes foram submetidos a quimioterapia paliativa.

CONCLUSÕES Este trabalho demonstrou que a cirurgia de intuitos curativos aumentou significativamente a sobrevida dos doentes com CCIhp tratados no nosso Serviço.

No entanto, na maioria dos casos, o diagnóstico do CCIhp é apenas realizado numa fase avançada da doença, o que limita as indicações deste tratamento. A presença de invasão vascular e o valor da fosfatase alcalina no momento do diagnóstico assumiram valor prognóstico na sobrevida global dos doentes. Entre os doentes operados com intuitos curativos, a presença de invasão vascular influenciou a sobrevida global e a sobrevida livre de doença. Factores prognósticos consensuais na literatura, como o tipo histológico e a invasão ganglionar, não puderam ser avaliados no presente trabalho.

O futuro da abordagem terapêutica do CCIhp passará assim, na nossa opinião, pela identificação de marcadores de diagnóstico precoce e pelo desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas. Novos estudos sobre os factores prognósticos dos doentes com CCIhp tornarão possível, porventura, seleccionar, objectivamente, quais os casos que poderão beneficiar dum tratamento cirúrgico curativo; e, também, aqueles em que uma tentativa de ressecção não se justifica.


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