Imagiologia no Carcinoma da Mama
INTRODUÇÃO
Desde sempre o Cancro da mama foi percepcionado como um grave problema clínico,
impulsionando o desenvolvimento de técnicas de diagnóstico e terapêutica que
recentemente têm conhecido uma evolução exponencial, possibilitando melhores
resultados no prognóstico.
Neste contexto, a Imagiologia mamária tem um papel central e transversal na
abordagem do Cancro da mama, no rastreio populacional, na vigilância de grupos
de risco, no diagnóstico e estadiamento imagiológicos, na orientação de recolha
de amostras para diagnóstico anátomo-patológico, na avaliação da resposta ao
tratamento sistémico e no seguimento pós tratamento.
Existem várias ferramentas para visualização da mama, desde as mais clássicas,
mamografia e ecografia, sem dúvida os pilares em que assenta a Imagiologia
mamária, alvo de sucessivos refinamentos tecnológicos, até técnicas com cerca
de quinze anos como a Ressonância Magnética Mamária (RM) que muito se modificou
e mais recentemente a Tomossíntese.
O diagnóstico imagiológico é utilizado também para avaliar adenopatias
axilares, envolvimento da parede torácica e ainda metástases a distância,
situação em que têm um papel fundamental outras técnicas como a Radiologia
Convencional, a Tomografia Computorizada (TC), a Cintigrafia óssea e a
Tomografia de Emissão de Positrões (PET).
Iremos abordar de forma sucinta as diferentes técnicas de imagem da mama, a sua
semiologia, as suas indicações e alguns aspectos tecnológicos que correspondem
a melhorias recentes.
As técnicas de intervenção mamária com controlo imagiológico têm também uma
importância crescente na abordagem da patologia mamária pelo que nos
referiremos igualmente a elas.
MAMOGRAFIA
A mamografia permanece a técnica "gold standard" para a detecção
precoce do cancro da mama, especialmente nas mulheres com mais de 40 anos.
A técnica mamográfica modificou-se substancialmente em poucos anos.A Mamografia
ANALÓGICA era baseada na exposição de uma película fotográfica à radiação X.
Com o advento da imagem digital esta foi também aplicada à mamografia,
existindo actualmente dois tipos de soluções:
- A digitalização indirecta, Mamografia Digital Computorizada - CR, corresponde
a uma solução intermédia que tenta implementar capacidades digitais na
tecnologia écran-película. Utilizam-se écrans de fósforo dentro de um chassis
(IP). Após a exposição a imagem latente é digitalizada para formar a imagem. O
IP é introduzido num processador CR.Implica tal como no processamento analógico
inserir cassete no mamógrafo, inserir cassete no leitor e o tempo do
processamento de película.
Permitiu a conversão de alguns equipamentos analógicos existentes à imagem
digital. Tem no entanto ,em relação à mamografia digital directa, maior ruído,
maior consumo de tempo, maior dose de radiação e as imagens podem associar
artefactos dos IPs, que são sensíveis ao pó e marcas no écran.
- A digitalização directa, Mamografia Digital Directa - DX, baseia-se na
aquisição e processamento directo de imagens digitais. Os detectores estão
embutidos no mamógrafo e a conversão em imagem digital é feita de forma directa
sem necessidade de manuseamento de IPs. Esta tecnologia permite maior resolução
espacial e de contraste e maior rapidez de aquisição e processamento em relação
à tecnologia CR.
Foi aprovada pela FDA em 2000 e o DMIST (Digital Mammographic Imaging Screening
Trial) promovido pelo US Nacional Cancer Institute, demonstrou em 2005
equivalência entre a tecnologia analógica e digital. (1)
O desenvolvimento da MAMOGRAFIA DIGITAL (processamento secundário ou aquisição
directa) implicou transformações na tecnologia dos detectores, nos sistemas de
processamento, no pós-processamento e na apresentação da imagem.
Ocorrem estadios independentes na detecção, aquisição e apresentação da imagem
com optimização de cada estadio individualmente.
A imagem deixou de ser lida em película e passou a ser lida em ecrãs dedicados,
com elevada resolução espacial.
A digitalização da imagem permitiu ainda o desenvolvimento de técnicas
informáticas de auxílio ao Radiologista, nomeadamente o Diagnóstico Assistido
por Computador (CAD). (2 3)
O CAD consiste na aplicação de um algoritmo na leitura da imagem mamográfica
digital, para detecção de possíveis lesões. O computador coloca marcas nas
alterações suspeitas, cabendo ao radiologista a valorização destas marcas.
Existem alguns programas de CAD em uso clínico, aprovados pela FDA, que se
subdividem em dois tipos:
- CADe focado na detecção de lesões:
Ajuda a reduzir os falsos negativos e foi idealizado para aplicação em
programas de rastreio como ajuda ou substituição à dupla leitura. Nos EUA cerca
de 50% das mamografias de rastreio são lidas com CADe.
- CADx focado no diagnóstico:
Ajuda na decisão sobre a necessidade de biopsia ou não de uma determinada
lesão, incidindo sobre os erros de interpretação/decisão.
O CAD na mamografia, em utilização há 10 anos, tem elevada sensibilidade para
microcalcificações e menor sensibilidade para massas (sobretudo grandes massas)
e distorções arquitecturais.
O CAD com um leitor é no mínimo tão eficaz como a leitura dupla independente
mas implica uma curva de aprendizagem no manuseamento das marcas.
Permanece em investigação, persistindo o objectivo da melhoria das técnicas
existentes e descoberta de novas aplicações com o objectivo de reduzir a
variabilidade intra e inter radiologista e melhoria da produtividade.
A Mamografia é utilizada em duas abordagens distintas:
- Rastreio: tem como objectivo o screening populacional.
Consta de um exame periódico com vista à detecção precoce de cancro da mama, em
fase pré-clínica assintomática.
Há uma leitura dupla dos exames (dois radiologistas independentes).
A periodicidade e intervalo de idades do rastreio são controversos mas de
acordo com as guidelinesdo American College of Radiology (ACR) consideram-se as
seguintes indicações: (4)
- Início consensual aos 40 anos para a população geral.
- Inicio mais precoce no caso da existência de história familiar e/ou
portadoras de mutação BRCA-1 ou 2 (25 a 35 anos com RMM)
- A periodicidade anual reduz os cancros de intervalo.
- A idade em que termina o rastreio é controversa.
- A dificuldade da mamografia existe perante seios muito densos, em que a
sensibilidade da técnica baixa para 30-48%
De um modo geral, considerando as diferentes densidades radiológicas, a
Mamografia associa 5-15% de falsos negativos (5).
A Ecografia possibilita 60-100% de detecção em seios densos, sendo no entanto
uma técnica complementar.
- Diagnóstico: associa sempre a avaliação ecográfica, após inspecção e
palpação. As indicações são as seguintes:
- Pesquisa de lesão primária desconhecida
- Alteração clínica - nódulo ou massa palpável na mama ou na axila, corrimento
mamilar patológico, alterações cutâneas (espessamento, casca de laranja,
eritema)
- Mastalgia não cíclica ou focal
- Follow-up de alterações provavelmente benignas (6 meses)
A semiologia mamográfica é variável de acordo com a constituição em tecido
adiposo e parênquima fibro-glandular mamário, existindo variabilidade inter-
pessoal.
O American College of Radiology classificou os padrões radiológicos de
densidade em 4 tipos, desde o Tipo 1 pouco denso aos Tipos 2, 3 e 4, opaco. (6)
Os factores que influenciam esta variabilidade individual são: a idade, o
estado hormonal fisiológico e a terapêutica farmacológica hormonal.
O Carcinoma da Mama apresenta-se frequentemente sob a forma de 4 padrões
básicos que podem ser únicos ou associados:
- Nódulo/ massa/ opacidade circunscrita - por definição é uma lesão ocupando
espaço observada em dois planos diferentes
- Distorção da arquitectura - espiculas radiárias que emergem de um ponto ou
retracção focal da margem do parênquima
- Assimetria de densidade - observada num plano
- Microcalcificações de morfologia e distribuição suspeita:
Irregulares, polimórficas
Distribuição em ramificação linear no sentido dos ductos ou agrupamento local
FIGURA_1
Há ainda os sinais de espessamento cutâneo localizado ou generalizado, com
aumento da densidade que impõem diagnóstico diferencial entre carcinoma
inflamatório, mastite inflamatória ou edema.
O BIRADS (Breast Imaging Reporting and Database System) é considerado pelo ACR
o método standard para classificar os achados mamográficos. (6)
Esta classificação estendeu-se aos achados ecográficos e de Ressonância
Magnética Mamária (RMM):
BI-RADS 0 - Imagem indeterminada que necessita de outros exames complementares
(utilizada sobretudo em mamografia de rastreio)
BI-RADS 1 - Exame normal
BI-RADS 2 - Alterações benignas - exame negativo
BI-RADS 3 - Alterações provavelmente benignas- implica follow-up a curto prazo
(6 meses).
Risco malignidade <2%
BI-RADS 4 - Alterações suspeitas de malignidade com indicação para biópsia
4 A - Baixa suspeição - (3 a 30% de probabilidade de malignidade )
4 B - Intermédia suspeição - (30 a 65% de probabilidade de malignidade)
4 C - Moderadamente suspeita (65 a 95% de probabilidade de malignidade)
BI-RADS 5 - Alterações fortemente suspeita de malignidade - biópsia obrigatória
BI-RADS 6 - Alterações com diagnóstico histológico de malignidade
A interpretação mamográfica implica determinados requisitos como a qualidade do
equipamento, e a utilização de uma técnica adequada.É essencial o controlo de
qualidade dos equipamentos e a leitura das imagens em monitores adequados de
elevada resolução. O sucesso dos resultados depende ainda da experiência do
Radiologista que é claramente potenciada com a participação em Reuniões
multidisciplinares.
Diversos estudos revelaram também a importância da comparação das imagens com
exames anteriores, na melhoria da sensibilidade. (7)
FIGURA_4
TOMOSSÍNTESE
A Tomossíntese (por vezes designada mamografia 3D) é uma técnica de imagem
mamária que consiste na realização de imagens tomográficas contíguas da mama,
permitindo assim ultrapassar algumas limitações da mamografia relacionadas com
ocultações de lesões por sobreposição de estruturas.
A necessidade desta técnica adveio da constatação que a mamografia digital
directa embora permitindo o diagnóstico de mais de 90% das lesões de cancro da
mama, tem uma performance limitada em mamas com elevada densidade, com
sensibilidade reduzida.
A Tomossíntese pode assim ser utilizada em conjunto com a imagem de mamografia
com ganho significativo na sensibilidade. (8) Esta técnica é realizada num
equipamento de aspecto semelhante ao mamógrafo mas preparado para a realização
de imagens sucessivas com diferentes angulações. À semelhança da tomografia
clássica, a tomossintese produz imagens de cortes finos, em geral de 1 mm de
espessura que são lidas, em sequência, numa estação de trabalho dedicada.
A Tomossíntese permite:
- A detecção de lesões não visíveis na mamografia, normalmente ocultadas pelo
estroma mamário sobreposto ;
- O esclarecimento de imagens duvidosas da mamografia, muitas vezes apenas
imagens compostas por adição de estruturas, sem significado patológico;
- Maior nitidez na avaliação dos contornos de lesões nodulares;
Estas vantagens estão relacionadas com a capacidade de ultrapassar a
sobreposição de estruturas.
As principais desvantagens estão relacionadas com o maior tempo dispendido quer
na aquisição da imagem, quer na sua leitura pelo Radiologista e com a maior
dose de radiação em relação à mamografia, aspectos que poderão ser importantes
sobretudo no âmbito da sua aplicação ao rastreio.
Existindo equipamentos de tomossíntese aprovados pela FDA desde 2011 para o uso
clínico, esta é uma técnica disponível no presente, com vantagens conhecidas
sobre a mamografia isolada, sobretudo na avaliação da mama densa.
A definição exacta do seu papel e valor no rastreio e diagnóstico carece ainda
da conclusão de estudos clínicos em curso.
ECOGRAFIA
A Ultrassonografia ou Ecografia (US) foi alvo de importantes melhorias
técnicas. Actualmente a imagem ecográfica, proporcionada por sondas
multifrequência que se adaptam ao volume e constituição mamária, permite a
identificação de lesões milimétricas.
Tem como principal desvantagem a dificuldade de avaliação de toda a mama se
esta for volumosa, bem como a incapacidade teórica de detecção de
microcalcificações e distorções arquitecturais, embora com as melhorias
técnicas seja possível actualmente, em correlação com o estudo mamográfico, a
identificação de microcalcificações e focos de distorção para orientação de
biópsia. (9)
É a técnica adequada para avaliação mamária isoladamente em examinadas com
idade inferior a 30 anos.
É um exame complementar à mamografia em todas as idades, sendo especialmente
útil em examinadas com densidade mamária elevada, onde há redução de forma
significativa da acuidade da mamografia. (10) Não utiliza radiação ionizante e
caracteriza nódulos detectados por mamografia ou massas palpáveis. Permite
também a avaliação das adenopatias axilares.
É uma técnica que associa um alto valor preditivo negativo (99,5%) na distinção
entre critérios de benignidade e malignidade.
Permite em tempo real guiar procedimentos de biópsia ou colocação de arpão para
marcação de lesões infra-clinicas. Utiliza-se igualmente para colocação de
clips em lesões que vão ser alvo de quimioterapia prévia à cirurgia e para
referenciação de pequenas lesões submetidas a biópsia.
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (RMN)
A RMM evoluiu de forma a integrar as técnicas de diagnóstico e de manuseamento
do carcinoma da mama.
Permite a avaliação da mama com uma elevada sensibilidade na detecção de lesões
malignas (cerca de 90%). (11) A especificidade varia entre os 60 e 90%, sendo
mais baixa na mulher jovem, nomeadamente, por falsos positivos relacionados com
o ciclo ou terapêutica hormonal. Lesões benignas como fibroadenomas, papilomas
e outras lesões proliferativas, podem por vezes ter comportamento sobreponível
a lesões malignas na imagem de RMM.
A especificidade tem vindo a melhorar, fruto da melhoria da técnica dos
equipamentos actuais com maior resolução espacial, temporal e o desenvolvimento
de técnicas adicionais que permitem avaliar a difusão de água (difusão) ou a
constituição molecular (espectroscopia).
As indicações correntes para a RMM incluem: (12)
Estadiamento: define a extensão do carcinoma ou presença de carcinoma
multifocal ou multicêntrico no seio ipsilateral e para screeningdo seio contra-
lateral na altura do diagnóstico inicial;
Identificação de carcinoma primário perante adenopatias axilares ou doença de
Paget do mamilo, perante exame físico, mamografia ou ecografia negativa;
Rastreio em doentes assintomáticas, mas com alto risco de carcinoma da mama,
nomeadamente portadoras de mutação BRAC;
Estudo da mama com próteses e na mastectomizada com implante
Avaliação da resposta à Quimioterapia (QT) neo-adjuvante, antes, durante e/
ou após tratamento;
Distinção entre cicatriz e recidiva em situações de mama operada ou após RT;
Identificação de doença residual em doentes com margens positivas após
tumorectomia;
Intervenção: orientação de biopsia para lesões apenas detectadas por RMN;
Caracterização de imagem duvidosa na mamografia com tradução apenas numa
incidência;
Pessoal, Instalações e Equipamento de RMN (12)
O equipamento deve ser de campo 1.5 T ou superior e a espessura de corte deve
ser de 3 mm ou menos sendo a resolução de 1 mm ou menos.
Para detectar pequenas lesões é exigida alta resolução espacial e temporal e a
utilização de contraste para-magnético (0.1 mmol/kg) que é fundamental para
potenciar o contraste entre o tecido normal e o carcinoma.
São obtidas aquisições em T1 e T2 e utilizam-se técnicas de supressão de
gordura.
O scan dinâmico é realizado em T1 e os processamentos de subtracção (T1 com
contraste menos T1 sem contraste) são importantes na interpretação, uma vez que
sobressaiem as lesões captantes.
Nas mulheres em idade fértil o estudo tem de ser realizado entre o 6º e o 12º
dia do ciclo menstrual, para reduzir os falsos positivos relacionados com o
ciclo.
A RMM deve ser realizada e interpretada por imagiologistas expertem Senologia e
integrados em equipas multidisciplinares.
Deve existir a possibilidade de efectuar procedimentos guiados por RM.Os falsos
positivos na RMM são comuns. A decisão cirúrgica não deve basear-se apenas nos
achados da RMM pelo que biópsias adicionais às zonas duvidosas são recomendadas
A utilidade da RMM no follow-up perante prévio carcinoma da mama não está
definida. Deve ser considerado em casos em que o risco de um segundo carcinoma
for maior de 20%, baseado em modelos largamente dependentes na história
familiar.
Na RMM faz-se uma análise integrada de diferentes parâmetros: morfologia da
lesão, características do sinal, padrão e cinética da captação de contraste,
estudo por difusão e espectroscopia.
FIGURA_7
A avaliação morfológica é a base fundamental da avaliação RMN, tendo sido muito
melhorada com o incremento tecnológico que permite a realização de exames com
elevada resolução espacial e de contraste. As massas são descritas quanto à
forma e contornos. Há em certas situações captação de contraste sem associar
massa, o que pressupõe captação do tecido glandular, descrevendo-se se é
simétrico ou assimétrico e a sua distribuição (área focal, linear, ductal,
segmentar).
Captações sem massa lineares e irregulares sugerem carcinoma ductal in situ
(CDIS). Os padrões de captação são homogéneo, heterogéneo, em anel, captação
com septos internos ou ausência de captação.
A cinética de captação do contraste é um aspecto essencial na avaliação das
lesões detectadas, A captação inicial (geralmente os primeiros dois minutos), é
descrita como rápida, média ou lenta. Após os dois minutos há um padrão de
perda de captação (washout), captação mantida (plateau) ou aumento de captação
(persistente). O carcinoma da mama demonstra tipicamente rápida captação e
washout. As lesões benignas em regra têm captação lenta e persistente no tempo.
Há uma considerável sobreposição entre as curvas de captação de lesões benignas
e malignas, sobretudo no que diz respeito a lesões in situ. O estudo da
morfologia e da difusão contribui no diagnóstico.
Difusão - A possibilidade de avaliação da difusão de água a nível celular foi
um importante incremente tecnológico, pois no mesmo exame e sem significativo
aumento do tempo de aquisição, é possível a avaliação desta característica que
por estar reduzida nas lesões de elevada celularidade, se encontra restringida
no caso do cancro da mama, possibilitando uma melhoria na especificidade. (13)
Espectroscopia (14)
A Espectroscopia é uma aplicação da RMM que permite avaliar a concentração de
algumas moléculas num tecido, nomeadamente a colina, que é uma molécula que
está presente em elevadas concentrações na maioria dos tecidos malignos.
Pode providenciar alta especificidade em distinguir benignidade de malignidade,
o que complementa a alta sensibilidade da RMM com contraste.
A espectroscopia pode ser usada para avaliar a resposta precoce dos tumores à
QT, ao reconhecer a depleção precoce da colina.
São necessários melhoramentos na metodologia para que sejam desenvolvidos
procedimentos standarde ocorra maior divulgação no uso da técnica. (15) Numa
análise multivariada os investigadores verificaram que a dimensão do tumor a
meio do tratamento de QT é o parâmetro que actualmente melhor prevê a resposta.
(16)
TÉCNICAS DE INTERVENÇÃO MAMÁRIA E AXILAR GUIADAS POR IMAGEM
Biopsia Mamária
São diversos os tipos de amostra para avaliação anatomo-patológica que podem
ser recolhidas de lesões mamárias, sendo a mais frequente a microbiópsia, em
que são usadas agulhas tru-cutcom calibre entre 14 e 18 Gaugeque recolhem
fragmentos da lesão que permitem a avaliação histológica.
Em situações particulares poderá ser efectuada apenas a punção aspirativa de
agulha fina, técnica que permite apenas a caracterização citológica e
actualmente é utilizada quase somente em lesões quísticas sem componente sólido
importante.
A biopsia assistida por vácuo (BAV) é uma técnica mais recente, em que são
usadas agulhas de calibre um pouco maior, de 8 a 10 Gauge, combinando a
aspiração da lesão para a câmara da agulha e a possibilidade de rotação da área
de corte em 360º, permite a recolha de uma quantidade muito maior de tecido em
comparação com a tradicional microbiópsia. Por vezes, em lesões mais pequenas,
pode até retirar a totalidade da lesão. Esta técnica sendo mais dispendiosa e
invasiva do que a microbiópsia, demonstrou vantagem na avaliação de
agrupamentos de microcalcificações e distorções arquitecturais.
As técnicas de biopsia mamária poderão ser orientadas pelas diferentes técnicas
de imagem, sendo habitualmente a técnica mais usada a ecografia pela
possibilidade de controlo do procedimento em tempo real e maior disponibilidade
de ecógrafos nos Serviços de Radiologia.
A mamografia com estereotaxia é utilizada para guiar biópsias em lesões que não
se conseguem identificar ecograficamente e apenas em mamografia. São em geral
microcalcificações ou pequenas distorções do estroma. Através de um sistema
computorizado a lesão é marcada e são identificadas três coordenadas nos eixos,
X, Y e Z que permitem a progressão da agulha e a retirada das amostras sob
controlo radiológico. Em regra este procedimento é mais demorado do que quando
se usa a ecografia, uma vez que não se faz em tempo real.
A RM pode ser usada para guiar a biópsia de lesões apenas detectadas nesta
técnica de imagem, sendo nestes casos sempre efectuada a técnica de BAV.
Marcação de Lesões
As lesões infraclínicas com indicação para terapêutica cirúrgica conservadora
são habitualmente alvo de marcação pré cirúrgica pela colocação de um arpão
guiado por ecografia ou esterotaxia. Podem ser colocados vários arpões para
delimitação de uma área ou serem marcadas várias lesões.
FIGURA_9
Em certos centros a marcação da lesão mamária é feita pela injecção, guiada por
imagem, de radioisótopos.
Podem também ser colocados clips de marcação guiados por imagem. Uma das
utilizações mais frequentes é a marcação do leito da BAV, sobretudo se a
evidência imagiológica de lesão deixar de existir. São também utilizados clips
para marcação de tumores antes de ser iniciada QT neoadjuvante, uma vez que a
lesão pode regredir completamente.
Avaliaçao de Gânglios Axilares
As técnicas de imagem utilizadas na mama permitem identificar os gânglios
axilares. No cancro da mama existem características morfológicas e dimensionais
dos gânglios axilares que são detectados e que podem sugerir invasão
ganglionar. Assim, é recomendável a realização de ecografia axilar com eventual
citologia ou microbiópsia na avaliação inicial dos doentes com cancro da mama e
axila clinicamente negativa.
A punção ganglionar positiva permite obviar a técnica do gânglio sentinela, ao
passo que a punção negativa não permite concluir sobre o status ganglionar,
obrigando a investigação adicional, habitualmente pela pesquisa do gânglio
sentinela.
Estadiamento do Cancro da Mama
A Radiologia desempenha um papel fundamental no estadiamento. Existem várias
técnicas de imagem disponíveis que devem ser criteriosamente seleccionadas de
acordo com a extensão da doença. É recomendável a existência de um protocolo em
cada Instituição que se dedique ao tratamento desta doença de forma a
uniformizar os procedimentos de diagnóstico e terapêutica, só assim sendo
possível a sua avaliação e melhoria.
Tendo por base guidelinesde consenso seria recomendável efectuar os seguintes
exames de imagem. (17)
Estadios iniciais: Estadio I ou IIA
Estadiamento local - mamografia eco mamária e axilar e RMM
Estadio IIB (T2, N1, M0/T3, N0, M0)
Estudos adicionais orientados por sinais ou sintomas
Ex. cintigrafia óssea em caso de dor óssea
TC torácica, abdominal ou pélvica em caso de sintomas ou alterações
laboratoriais
Estadio avançado: Estadio IIIA
T3 N1, MO
Considerar
Tc tórax, abdominal e pélvico Cintigrafia óssea
PET/TC - casos de Tc equívocos
Outras Técnicas de Imagem da Mama
A mamografia de emissão de positrões consiste numa tomografia de emissão de
positrões dedicada apenas à visualização da mama. É uma técnica experimental e
dispendiosa, disponível apenas em alguns centros de investigação ainda sem um
papel definido na prática clínica.
CONCLUSÕES
A panóplia de possibilidades da Imagiologia mamária actualmente disponível
obriga ao clínico o seu conhecimento, para as poder integrar na sua prática,
tirando o melhor partido das potencialidades existentes.
A mamografia digital coadjuvada pela ecografia representam os exames de base de
trabalho actual na imagem mamária, possibilitando a avaliação e esclarecimento
da maior parte das situações.
A tomossíntese é uma técnica disponível, com vantagens conhecidas, com especial
indicação na avaliação de mamas com padrão denso.
A Ressonância Magnética é uma técnica que tem no presente um papel essencial na
Imagiologia do cancro da mama, obedecendo a indicações precisas onde apresenta
um elevado desempenho.
O diagnóstico imagiológico e as técnicas de biópsia guiadas pela Imagem
adquiriram um papel central no diagnóstico, planeamento da terapêutica e
estadiamento do cancro da mama.
A utilização da Imagiologia mamária deve ser enquadrada de forma adequada em
equipas multidisciplinares que integrem todos os intervenientes na abordagem do
cancro da mama.