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EuPTCVHe1646-706X2013000300005

EuPTCVHe1646-706X2013000300005

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN1646-706X
Year2013
Issue0003
Article number00005

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Risco da exposição à radiação ionizante durante procedimentos endovasculares

Introdução É difícil imaginar a Medicina do século XXI sem a utilização de Raio X. De facto, desde a sua descoberta em 1895 a sua aplicação diversificou-se por inúmeras técnicas de diagnóstico e de terapêutica que abrangeram todas as áreas do conhecimento da Medicina. A Cirurgia Vascular em particular, que cedo usufruiu desta radiação para a execução de exames angiográficos de diagnóstico, intensificou nas ultimas duas décadas essa utilização, fruto da generalização do uso da radiação em exames de diagnóstico a que se associou a capacidade de tratamento endovascular. Tal intensificação na utilização da radiação X, pode acarretar efeitos nefastos para a saúde dos profissionais se medidas de proteção individual não forem consideradas1. Pretende-se com este trabalho, determinar a quantidade de radiação dispersa emitida por um aparelho de radioscopia portátil durante a sua utilização no bloco operatório, avaliando a sua distribuição pelos elementos da equipa, quer quanto à sua posição na mesa operatória, quer quanto à zona corporal envolvida. Por fim, pretendeu-se determinar o impacto dos meios de proteção radiológica individual na quantidade de radiação absorvida.

Material e métodos A determinação da taxa de dose de exposição à radiação dispersa foi efectuada em sala do bloco operatório reproduzindo as condições habituais em que decorrem os procedimentos endovasculares. O aparelho de radioscopia portátil utilizado foi um Siemens Arcadis Advantic. As medições foram realizadas utilizando um fantoma para simular um doente padrão posicionado sobre uma marquesa de bloco operatório convencional, radiotransparente, que permite a realização de procedimentos endovasculares. O aparelho de radioscopia foi posicionado com a ampola de raios X debaixo da marquesa. O fantoma é um bloco cilíndrico constituído por PMMA com 15 cm de espessura e 32 cm de diâmetro, utilizado habitualmente na avaliação dosimétrica do doente. Por baixo do fantoma foi colocado um detetor RaySafe Xi R/F para avaliação da radiação incidente no doente, com o objectivo de medir a taxa de dose de exposição na superfície de entrada da pele. A radiação dispersa foi avaliada para as posições de cirurgião, ajudante, anestesista e enfermeira instrumentista. As distâncias do centro do fantoma ao monitor de radiação dispersa são de 50, 80, 80 e 100 cm respectivamente. Para cada posição foi medida a taxa de dose de exposição aos 24, 50, 75, 100, 120, 150 e 165 cm de altura ao solo. Para estas determinações correspondem as distâncias de 75 cm e de 165 cm, à posição das gónadas e do cristalino, respectivamente, num adulto com 170 cm de altura. A avaliação foi feita com o monitor de radiação portátil RaySafe Xi Survey Detector com incerteza na medição da taxa de dose até 10%. O registo da dose foi efectuado em folha de cálculo Excel, através de software informático próprio que conecta o detector a um computador portátil. Os modos de fluoroscopia avaliados foram a fluoroscopia pulsada a 4 qps, a subtração digital e o modo de roadmap. Para o cálculo do efeito dos meios de proteção individual foi utilizado uma espessura de 0,5 mm de proteção plumbífera para o avental e de 0,75 mm de proteção plumbífera para os óculos de proteção.

Resultados e Discussão A análise dos dados recolhidos permitiu determinar a distribuição da radiação dispersa pela equipa assistente, constatando-se como nível máximo de radiação dispersa, a altura ao solo de 24 cm e de 120 cm, a que correspondem num adulto com 170 cm à altura calculada para as pernas e para o tórax. Se considerarmos a taxa de dose de exposição à radiação dispersa aos 100 cm de altura como 100%, no modo de fluoroscopia 4 qps, aos 24 cm e aos 120 cm, cons tatamos valores quase duplicados de exposição, com 182% e 170% respectivamente (fig._1). Com a utilização de meios de proteção individual como o avental plumbífero com 0,5 mm de Pb e óculos de proteção com 0,75 mm de Pb, os valores descem para 2,3% aos 120 cm e 0,3% aos 165 cm, ao nível do cristalino.

A distribuição da radiação incidente no doente que dispersa pela equipa, durante o modo de Fluoroscopia a 4 qps, traduz valores de exposição com 0,39% para o cirurgião, 0,26% para o cirurgião ajudante, 0,17% para o anestesista e 0,11% para a enfermeira instrumentista. No modo de subtração digital ou roadmap a distribuição é de 0,47% para o cirurgião, 0,32% para o cirurgião ajudante, 0,21% para o anestesista, e 0,13% para a enfermeira instrumentista (fig._2).

Embora as percentagens de distribuição se mantenham sensivelmente sobreponíveis nos dois modos de fluoroscopia, a apreciação dos valores de taxa de dose de exposição revelam que esta é cerca de cinco vezes superior quando são utilizados os modos de Roadmap e subtração digital, com consequente aumento proporcional da exposição por cada elemento da equipa. Também é de notar que, embora o cirurgião ajudante e o anestesista se encontrem à mesma distância relativamente ao centro do fantoma, as suas doses de exposição diferem. Este fato pode dever-se à assimetria do nosso dispositivo experimental tendo em conta o alinhamento do feixe de raios X com o fantoma, ou ainda, devido ao efeito anódico presente na ampola de raios X.

A magnificação electrónica, disponível em três modos de intensidade no aparelho utilizado, permite a ampliação da imagem e é cada vez mais útil à medida que o tratamento endo vascular envolve vasos de menor calibre. Com a análise dos dados constatou-se uma diminuição progressiva da exposição à radiação dispersa em função do aumento da magnificação electrónica. No modo de fluoroscopia pulsada a 120 cm, com magnificação de Mag 1, 2 e 3, as taxas de dose de exposição são de 77%, 61% e 43%, respectivamente, do obtido para a mesma altura sem magnificação em modo de fluoroscopia 4 qps (fig._3). Inversamente a exposição à superfície de entrada do doente aumenta cerca de três vezes na fluoroscopia 4 qps e cerca de duas vezes na subtração digital e roadmap, com a utilização de magnificação Mag3, quando comparada ao mesmo modo de fluoroscopia, sem magnificação (fig._4).

Se assumirmos que durante um ano o cirurgião realiza cerca de 100 procedimentos endovasculares, com 25 minutos de fluoroscopia cada, 80% da qual em modo fluoroscopia 4 qps e 20% em modo de subtração digital, a sua dose anual de corpo inteiro devido à exposição à radiação dispersa, sem protecção individual, é estimada em 34,6 mGy. A dose equivalente anual no cristalino sem óculos de protecção seria estimada em 12,1 mGy.

Com base na lei do inverso do quadrado da distância é possível estimar a dose de exposição acumulada na mão, ao longo dos mesmos procedimentos. Embora esta lei não seja respeitada para fontes dispersas de radiação a curtas distâncias, esta permite obter um valor subestimado da exposição. Definindo uma distância de 15 cm da mão ao centro do volume de exposição do doente, estima-se a sua dose anual de exposição à radiação dispersa na mão em 384,4 mGy.

Conclusões A utilização prolongada de radiação tem efeitos nefastos comprovados na saúde.

A percepção do risco pode influenciar o comportamento na utilização dos aparelhos de radioscopia e de proteção individual. Segundo as reco mendações da International Commission on Radiation Protection2,3 os limites de dose equivalente para o cristalino e para as mãos são de 20 mSv/ano e de 500 mSv/ ano, respetivamente.

Ainda segundo estas recomendações, a avaliação anual do dosímetro de corpo inteiro permite uma dose efetiva de 6 mSv/ano para o trabalhador categoria B e de 20 mSv/ano para o trabalhador categoria A.

Da análise dos resultados obtidos determinou-se que, globalmente, os valores de exposição à radiação dispersa pela equipa são aceitáveis e diminutos se forem utilizados meios de proteção individual. Em maior risco determinaram-se as extremidades inferiores, fruto da ausência de cortinas de chumbo na marquesa, as mãos pela proximidade à ampola e ao campo de exposição e o cristalino, pela ausência frequente de utilização de óculos de proteção com chumbo. Efectuaram- se cálculos, tendo em conta hipotéticos modos conjugados de fluoroscopia, variação da duração e do número de procedimentos. Os valores de dose de exposição registados encontram-se dentro dos parâmetros aceitáveis, para uma utilização regular, semelhante à que é usual nos serviços de Cirurgia Vascular.

A dose na mão do cirurgião não foi determinada, por se tratar de um elemento móvel durante a cirurgia, cuja dose de exposição à radiação pode ser avaliada com maior precisão através de um dosímetro de extremidade. Contudo a simulação apresentada permite inferir que é um órgão alvo de dose de radiação não desprezível, sobretudo em procedimentos longos e que requerem proximidade do campo de exposição do doente, podendo em casos extre mos, atingir o limite de dose anual aceitável de radiação. A utilização de luvas com proteção de chumbo permite uma redução significativa do risco.

O cérebro, enquanto órgão não protegido da radiação, continua sob investigação, preocupações recentes foram levantadas quanto ao risco de aparecimento de tumores cerebrais em profissionais com elevada exposição à radiação durante procedimento endovasculares4.

Se em relação à equipa cirúrgica o risco pode ser minimizado com a utilização de meios de proteção radiológica, especial preocupação deve ser tida com o doente.

Procedimentos prolongados, com utilização de magnificação electrónica ou de subtração digital e roadmap, podem condicionar queimaduras na pele do doente5.

Como meio para diminuir a quantidade de radiação incidente no doente e consequente radiação dispersa, preconiza-se a aproximação do intensificador de imagem ao doente e o controlo eficaz do tempo, modo de fluoroscopia e magnificação.

uma monitorização dos valores de radiação e da adequação dos meios de proteção radiológica pode permitir condições de segurança para a equipa médica e para o doente.

Os autores reconhecem como limitação do estudo o fato das doses avaliadas de radiação dispersa se referirem a posições estáticas da equipa assistente e por conseguinte estarem subvalorizadas se ocorrer aproximação do elemento à ampola de raio X. A utilização da ampola durante procedimentos endovasculares em doentes produzirá doses de radiação dispersa variáveis consoante o tipo de tecidos ou órgãos envolvidos, que podem divergir dos valores obtidos com a utilização de um fantoma.

Deve ser reconhecida que a utilização de magnificação electrónica e de modos de subtração digital e roadmap aumentam consideravelmente a taxa de dose de radiação incidente no doente. A ampliação da imagem, recorrendo à magnificação electrónica, aumenta a taxa de dose de exposição na superfície de entrada da pele do doente e reduz a radiação dispersa pela equipa assistente. Sempre que possível, deve ser dada preferência à utilização da fluoroscopia pulsada pois permite reduzir a taxa de dose de exposição na superfície de entrada da pele do doente e consequentemente a radiação dispersa pela equipa assistente.


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