Terapia de Grupo para Familiares de Pessoas com Perturbação Mental Grave:
Estudo de Caso Múltiplo
Terapia de Grupo para Familiares de Pessoas com Perturbação Mental Grave:
Estudo de Caso Múltiplo
INTRODUÇÃO
Os familiares são, frequentemente, os prestadores de cuidados mais importantes
para as pessoas com perturbação mental grave (PMG), sendo o tipo de apoio
fornecido pela família dependente das necessidades e problemas do doente.
Contudo, também apresentam necessidades que necessitam de serem satisfeitas,
que muitas vezes não são valorizadas. O enfermeiro deve identificar na família
as suas dificuldades e forças, para que dessa forma consigam estabelecer
estratégias de satisfazer as necessidades familiares e contribuir para a
resolução de problemas (Waidman, & Elsen, 2004).
Conviver com uma pessoa com PMG pode causar sobrecarga emocional, financeira e
social pesada, na medida em que afeta o relacionamento familiar, trabalho e a
vida social dos familiares que cuidam destas pessoas (Borba, Schwartz, &
Kantorski 2008; Campos 2009; Guedes, 2008; Jorge, Freitas, Luz, Cavaleiro e
Costa, 2008). Melman (2001) e Saunders (2002, cit. por Zanetti e Galera, 2007)
referem que o impacto da PMG na família traduz-se em sofrimento, sobrecarga dos
cuidadores e isolamento das atividades sociais. O mesmo autor refere que para a
família a única alternativa para ajudar a pessoa com perturbação mental é o
isolamento, uma vez que não dispõem de redes de apoio na comunidade que lhes
permita realizar atividades sociais. Também Sales, Schuhli, Santos, Waidman e
Marcon (2010) referem a falta de suporte das redes sociais como fator
primordial para a existência da sobrecarga familiar.
Esta engloba habitualmente duas componentes:
• Sobrecarga objetiva (impacto concreto e observável resultante da presença
da pessoa com perturbação mental na família, como por exemplo alteração das
rotinas familiares, redução das atividades sociais, dificuldades no trabalho e
financeiras) (Bandeira e Barroso, 2005; Gonçalves-Pereira, Xavier, Neves,
Barahona-Correa e Fadden, 2006).
• Sobrecarga subjetiva (conjunto de perceções pessoais sobre a situação,
incluindo sentimentos de tristeza, culpa, vergonha, perda, tensão, medo)
(Bandeira et al., 2005; Gonçalves-Pereira et al., 2006).
As mudanças que ocorrem devido à presença de PMG na família vão prejudicar o
relacionamento e a manutenção de sentimentos positivos no dia-a-dia,
contribuindo para o aumento da sobrecarga subjetiva (Bandeira et al., 2005).
Estes autores referem ainda que a existência de sobrecarga vai afetar a saúde
mental dos familiares e consequentemente a sua qualidade de vida e por outro
lado pode ainda contribuir para o aumento de situações conflituosas na família.
O distanciamento social é comum nos familiares de pessoas com transtorno
mental, bem como o cansaço físico e emocional. Apesar de surgirem
frequentemente conflitos familiares, estas famílias preocupam-se sempre com o
bem-estar do doente, ficando melhor preparadas para cuidar dos seus familiares
se receberem informação adequada sobre a doença e o tratamento, bem como se
receberem aconselhamento familiar que lhes dê apoio emocional e conselhos
práticos sobre como controlar o comportamento da pessoa doente (Navarini &
Hirdes, 2008).
Os grupos de apoio podem ser uma boa fonte de informação para a família, uma
vez que as intervenções em grupo são feitas em função dos problemas de vida
quotidiana. A sua utilidade reside na possibilidade de melhorar as capacidades
de comunicação, de ensino e de aprendizagem de estratégias para lidar com o
stress para que a família consiga cuidar melhor da pessoa com PMG (Guimón,
2002). Reduzem também o isolamento social e o estigma associado à possível
doença ou ao sofrimento que a própria pessoa se impõe (Bechelli e Santos,
2004).
Para este estudo foi considerado o grupo psicoterapêutico e psicoeducacional
com liderança de um enfermeiro com formação em saúde mental que possa intervir
nas necessidades e resolução de problemas, de cada elemento participante, uma
vez que a questão de investigação colocada foi: "Como é que a Terapia de Grupo
promove a resolução de problemas dos familiares de pessoas com PMG?".
Definindo-se como objetivo: avaliar o impacto da terapia de grupo ao nível da
resolução de problemas de familiares de pessoas com PMG.
METODOLOGIA
O tipo de estudo utilizado para este trabalho foi o estudo de casos múltiplos,
do tipo exploratório com experimentação (Fortin, 2003), dado que antes e após a
intervenção de enfermagem, foram avaliados os problemas familiares com recurso
a um questionário, de cada elemento participante.
O instrumento de avaliação foi constituído por duas partes. A primeira parte
foi composta pelos dados pessoais, familiares e clínicos e a segunda parte foi
constituída pelo Questionário de Problemas Familiares (FPQ), traduzido e
adaptado para a população portuguesa por Xavier e Caldas de Almeida em 2002.
A autorização formal para a utilização do FQP foi pedida e concedida por meio
de correio eletrónico pelo autor principal que mantêm os direitos autorais do
instrumento. Para se proceder ao estudo foi solicitado autorização formal ao
diretor executivo do Agrupamento de Centros de Saúde Oeste Norte para a recolha
dos dados e antes do início da mesma. A participação da amostra foi voluntária,
tendo sido respeitados os princípios éticos.
A intervenção consistiu na realização de 9 sessões de terapia de grupo de base
psicoterapêutica e psicoeducativa, desenvolvidas semanalmente, durante uma hora
e trinta minutos. Nesta, foi dado ênfase a estratégias terapêuticas de base
cognitivo-comportamental para lidar com os problemas familiares.
A seleção da amostra realizou-se de forma não probabilística/intencional. Tendo
sido constituída por três familiares de pessoas com PMG, em idade adulta, a
efetuarem terapêutica injetável psiquiátrica na unidade de saúde, e a
conviverem no mesmo domicílio, que aceitaram participar no grupo.
O tratamento estatístico dos dados recolhidos foi efetuado informaticamente,
com recurso ao programa Statistic Package for the Social Sciences, versão 14.0
para Windows XP, sendo utilizada a estatística descritiva (frequências
absolutas).
ANÁLISE DOS RESULTADOS
· Caso A
A senhora A com 30 anos é filha de uma utente com 60 anos, com o diagnóstico de
doença bipolar. Vivia no momento da intervenção com ela, sendo a principal
cuidadora da mãe. Acompanha frequentemente a mãe às consultas de psiquiatria a
nível privado e gere a terapêutica no domicílio, apesar de tentar que a mãe
mantenha as suas atividades de vida diárias de uma forma mais independente
possível.
Na entrevista inicial, com uma postura tensa e fácies triste. Manteve um
contacto fácil e um humor depressivo. No que diz respeito às suas emoções e
afetos, salientou-se alguma labilidade emocional e preocupação, relacionada com
a doença da mãe e sobrecarga familiar. Manifestou interesse em adquirir algumas
estratégias para "ter paciência", pois nem sempre é fácil lidar com ela e "o
que fazer quando a medicação seja tomada quando estamos ausentes" e "apoios
sociais, económicos e psicológicos existentes atualmente e tratamentos,
medicamentos e ou técnicas mais eficazes".
Apesar de se encontrar desempregada, manifestou nas sessões iniciais não ter
tempo para si, nem para fazer algumas coisas de que gosta.
Os pais são divorciados há cerca de 15 anos, tendo esta na altura ficado com a
mãe e o irmão, mais velho, ficado com o pai. Referiu manter um relacionamento
com o pai e o irmão distante mas cordial, considerando que para o divórcio dos
pais também contribuiu a incapacidade que o pai teve em conseguir lidar com a
doença da mãe.
Referiu que a mãe começou a manifestar a doença, a cerca 40 anos, tendo ficado
mais exacerbada após o seu nascimento, no entanto só foi feito o diagnóstico de
doença bipolar a cerca de 10 anos. Mencionou ainda que também tem um tio
materno com o diagnóstico de esquizofrenia, sendo neste caso a principal
cuidadora a avó com 92 anos, sentindo necessidade de a ajudar sempre que
possível.
Com a evolução da intervenção, tendo apenas faltado à sessão número quatro, foi
evidente a mudança de atitude e comportamento da senhora A. No final da
intervenção, com uma aparência cuidada manteve uma postura expansiva e fácies
alegre. No que diz respeito às suas emoções e afetos, apesar de manifestar
alguma preocupação com a mãe, não apresentou no entanto labilidade emocional.
Conseguiu estabelecer alguns planos de resolução de problemas, bem como colocá-
los em prática, nomeadamente relativamente a forma de comunicar com a mãe e
relacionamento com os seus familiares, indo de encontro ao descrito por
Bechelli et al. (2004), Brito (2006), Guimón (2002), Gonçalves-Pereira et al
(2006), Navirini et al. (2008) e Pereira e Pereira Jr. (2003), que as
intervenções em grupo facilitando a resolução de conflitos familiares melhoram
as capacidades de comunicação e diminuem o isolamento social.
Relativamente aos resultados obtidos no questionário estes encontram-se
descritos na figura 1.
Figura 1: Resultados obtidos no FQP ' Caso A
Dos problemas familiares avaliados pelo FQP salienta-se os valores obtidos nas
dimensões da sobrecarga objetiva e subjetiva em que se verifica uma diminuição
em 13 pontos e 5 pontos antes e depois da intervenção respetivamente.
Relativamente à dimensão da ajuda recebida verifica um aumento em cerca de 7
pontos após a intervenção, uma vez que a utente recebeu ajuda dos profissionais
de saúde ao longo destas semanas, sendo esta uma necessidade evidenciada pela
utente ao longo das sessões. Verifica-se ainda uma ligeira melhoria da atitude
positiva bem como uma diminuição da sua atitude crítica para como o familiar e
situação de vida, após a intervenção indo de encontro às atitudes e
comportamentos demonstrados com o evoluir da intervenção.
Em síntese a intervenção efetuada ao longo destas sessões permitiu que a utente
conseguisse adquirir estratégias de coping de forma a resolver alguns dos
problemas identificados, tendo contribuído para diminuição da sobrecarga
objetiva e subjetiva. Referiu manter atualmente um relacionamento com a mãe
mais assertivo, contribuindo para o seu bem-estar e familiar.
· Caso B
O senhor B com 53 anos, pai de um utente com 24 anos, com o diagnóstico de
esquizofrenia e consumo de substâncias associado, e marido de uma utente com 61
anos, também com o diagnóstico de esquizofrenia. Coabitava, no momento da
intervenção, com o filho, a esposa e a mãe desta, numa aldeia perto da cidade.
Sendo o principal cuidador, acompanha os restantes elementos às consultas de
psiquiatria.
Com uma idade aparente superior à real (60 anos), na entrevista inicial, a sua
motricidade apresentou-se inquieta, com uma postura tensa e fácies triste.
Manteve um contacto fácil e um humor depressivo. Não apresentando alterações a
nível do discurso, no entanto manteve um pensamento perseverante quanto a
necessidade de "ajuda diária na gestão de dinheiro". No que diz respeito às
suas emoções e afetos, salientou-se alguma labilidade emocional e preocupação
relacionada com a dificuldade em gerir a situação de doença na família. Mostrou
interesse em adquirir algumas estratégias para ter "paciência" e alguns
"conhecimentos sobre a doença e de como lidar com ela".
Encontrando-se, no momento da intervenção, sem trabalho, ocupava algum do seu
tempo na agricultura, não tendo vontade em sair de casa nem de manter outra
atividade. Não beneficiava de nenhum apoio social, vivendo dos rendimentos
obtidos no café. Referiu ainda que os restantes elementos do agregado familiar
usufruíam da reforma. Sendo com esse dinheiro, que conseguem gerir o orçamento
familiar.
Tinha seis irmãos com os quais mantinha uma boa relação, ajudando-
o pontualmente com o filho. Com este referiu que mantinha um relacionamento
difícil e por vezes conflituoso, devido à questão da gestão do dinheiro. Com a
esposa e a sogra, mantêm um relacionamento cordial, no entanto fica
"aborrecido" quando estas ajudam o filho com dinheiro. Considera que a sogra
sempre foi muito protetora e permissiva com o neto.
Mencionou também que a esposa já teve vários internamentos, tendo sido o último
a cerca de 14 anos, em Condeixa. Nessa altura, o filho teria 10 anos e começou
com alterações do comportamento em casa e na escola. No entanto apenas com
cerca de 20 anos e associado aos consumos de substâncias, foi-lhe diagnosticado
esquizofrenia.
O senhor B esteve presente em todas as sessões do grupo e com a evolução da
intervenção, foram observadas algumas mudanças na atitude e comportamento. No
final da intervenção, com uma aparência cuidada demonstrou uma postura
expansiva e fácies expressivo. Manteve um contacto fácil e um humor eutímico,
não apresentando alterações a nível do discurso nem do pensamento. No que diz
respeito às suas emoções e afetos, manteve a preocupação relacionada com a
dificuldade em gerir a situação de doença do filho na família, apesar de ter
encontrado algumas soluções. Não referindo alterações das funções biológicas
vitais, nomeadamente as ideação suicida que manifestou durante algumas sessões.
Conseguiu tomar consciência da sua situação familiar e necessidade de
estabelecer alguns planos de resolução de problemas nomeadamente quanto a forma
de conviver com a doença dos seus familiares
Relativamente aos resultados obtidos no questionário estes encontram-se
descritos na figura 2.
Figura 2: Resultados obtidos no FQP ' Caso B
Dos problemas familiares avaliados pelo FQP no caso B, observa-se que os
valores obtidos na dimensão da sobrecarga objetiva diminuem ligeiramente (4
pontos) depois da intervenção e que ocorre uma subida ligeira de 2 pontos na
sobrecarga subjetiva. Relativamente à dimensão da ajuda recebida, observa-se
uma alteração de 1 ponto nos dois momentos de avaliação e no que diz respeito à
dimensão do criticismo não se verifica qualquer variação. Por outro lado,
verifica-se uma melhoria significativa (5 pontos) na dimensão da atitude
positiva, indo de encontro às alterações observadas a nível da postura e
comportamento ao longo das sessões.
Em suma, a intervenção efetuada ao longo destas sessões permitiu que o utente
conseguisse identificar e exprimir os seus problemas, bem como executar algumas
soluções que foi encontrando ao longo da intervenção, tendo esse facto
contribuído para a diminuição da sobrecarga objetiva. Quanto à sobrecarga
subjetiva apesar de ter aumentado ligeiramente, verifica-se que mantém uma
atitude mais positiva para com a situação, conseguindo identificar estratégias
de coping ao longo das intervenções.
· Caso C
A senhora C, com 73 anos é mãe de uma utente com 33 anos, com esquizofrenia e
história de consumos de substâncias associada durante cerca de 10 anos. Referiu
no momento da intervenção, que a filha deixou de consumir há cerca de 3 anos.
Viúva vive em casa própria com esta filha e com um filho que se encontra
paraplégico há cerca de 7 anos e com a companheira do filho e a filha desta.
Apesar de a filha ser independente nas atividades de vida diária, demonstra
preocupação com a ocupação dela ao longo do dia, uma vez que não tem nenhuma
atividade.
Na entrevista inicial a sua motricidade apresentou-se livre, com uma postura
expansiva e fácies expressivo. Manteve um contacto fácil e um humor eutímico.
No que diz respeito às suas emoções e afetos, salienta-se alguma preocupação
relacionada com ao facto da sua filha ponderar deixar a medicação. Não
mencionando alterações das funções biológicas vitais, referiu alterações da
memória recente. Mostrou interesse em adquirir alguns conhecimentos para
"compreendê-la", "o que fazer quando está com a crise.... Como é que devo lidar
com a minha filha....".
Encontrando-se reformada ocupando o seu tempo na lida da casa, passeios com as
amigas e ida à igreja. Referiu ainda que mantêm um relacionamento muito próximo
com os filhos, no entanto com a filha mais nova surgem alguns conflitos e
dificuldades em conseguir comunicar com ela. Com os restantes elementos da
família refere manter um bom relacionamento.
Com a evolução da intervenção, não foi evidente a mudança de atitude e
comportamento da Sra. A., dado a que ela só participou em metade das sessões
previstas, tendo sido observado uma crescente preocupação e ansiedade com a
situação familiar.
Relativamente aos resultados obtidos no questionário estes encontram-se
descritos na figura 3.
Figura 3: Resultados obtidos no FQP - Caso C
Dos problemas familiares avaliados pelo FQP no caso C, observa-se que os
valores obtidos na dimensão da sobrecarga objetiva aumentam um ponto depois da
intervenção e que ocorre uma diminuição ligeira de dois pontos na sobrecarga
subjetiva. Relativamente à dimensão da ajuda recebida, observa-se uma
diminuição de dois pontos e no que diz respeito à dimensão da atitude positiva
verifica-se uma diminuição em quatro pontos entre os dois momentos de
avaliação. Observa-se ainda um aumento de um ponto a nível da dimensão do
criticismo.
Em síntese, a intervenção efetuada ao longo destas sessões, neste caso
especifico apenas cinco, não mostrou ter causado impacto positivo,
evidenciando-se apenas uma diminuição ligeira da sobrecarga subjetiva, tendo as
outras dimensões sofrido alterações negativas.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A utilização de uma intervenção psicoterapêutica e psicoeducacional em grupo
possibilitou que os intervenientes para além de reconhecer no outro semelhanças
com a sua situação, permitiu a expressão de sentimentos relativos a mesma bem
como desenvolver estratégias para fazer face aos problemas do dia a dia. Estes
resultados vão de encontro ao referido por Guimón (2002), Bateman, Brown e
Pedder (2003), Bechelli e Santos, (2005) e Guerra e Lima (2005) que referem a
importância da terapia de grupo neste aspeto, uma vez que os participantes
podem mais facilmente descobrir como o seu comportamento e atitudes podem ser
prejudiciais, permitindo ainda a comunicação e expressão de sentimentos que de
outra forma não aconteceria.
As primeiras sessões foram importantes para o estabelecimento da relação
terapêutica, tendo sido apenas efetuado intervenções a nível da expressão
emocional. Tal como referem Bateman et al. (2003, p. 156), "o terapeuta pode
assim facilitar, explicar e interpretar numa primeira fase [...] ajudar na
criação de uma atmosfera terapêutica e na descoberta, pelo grupo, das soluções
capacitadoras face às inevitáveis tentações que ele experimenta." De salientar
que os problemas identificados neste grupo foram de encontro ao descrito no
enquadramento teórico deste capítulo, no entanto, o planeamento da intervenção
deverá ser sempre direcionado para os participantes em questão de forma a
usufruírem da intervenção na globalidade.
No que diz respeito aos resultados obtidos ao nível dos problemas familiares e
mais concretamente à dimensão da sobrecarga objetiva verifica-se uma diminuição
nos casos A e B e um aumento ligeiro no caso C. Enquanto a nível da sobrecarga
subjetiva verifica-se uma diminuição nos casos A e C e um aumento ligeiro no
caso B. Tal como refere Borba et al. (2008), Brito (2006), Gonçalves-Pereira et
al. (2006), Guedes (2008) e Jorge et al. (2008), a sobrecarga em familiares de
pessoas com PMG é comum, sendo que as intervenções para famílias em grupo podem
diminuir os níveis da mesma. Nestes casos específicos verifica-se uma
diminuição mais concreta a nível da sobrecarga objetiva relacionada com o
impacto nas rotinas familiares, redução das atividades sociais e dificuldades
financeiras.
Relativamente à dimensão da ajuda recebida verifica-se a nível do caso A um
aumento significativo no segundo momento de avaliação. É importante realçar que
esta dimensão estando relacionada com ajuda fornecida pelos profissionais de
saúde e rede social existente, foi uma necessidade evidenciada pela utente no
início da intervenção e obtida ao longo da mesma, não só parte dos enfermeiros
envolvidos na intervenção mas também pelos familiares da utente, tal como
referido por esta em algumas sessões. Brito (2006) e Waidman et al. (2004)
referem também a importância dos enfermeiros no desenvolvimento de intervenções
de forma a ajudar os familiares a satisfazerem as suas necessidades e
contribuir para a resolução de problemas. No que diz respeito ao caso B
verificou-se apenas o aumento de um valor, sugerindo que a ajuda recebida
percecionada por este utente não se alterou significativamente, de notar no
entanto que já possuía antes da intervenção de uma rede de apoio a nível da
saúde e de familiares a quem recorria com alguma frequência. No que se refere
ao caso C mais concretamente houve uma diminuição de dois valores, sugerindo
que a ajuda recebida ao longo da intervenção quer por parte dos profissionais
de saúde quer pelos familiares não foi percecionada. De ressalvar que no final
da intervenção a utente referiu algumas dificuldades em conseguir conciliar os
horários da intervenção com as atividades domésticas, podendo também este facto
ter contribuído para o agravamento, mesmo que ligeiro, da sobrecarga objetiva.
Na dimensão da atitude positiva verifica uma melhoria significativa no caso A e
B depois da intervenção, demonstrado que estes dois utentes se encontram mais
satisfeitos com o seu familiar no que esse refere a cooperação deste com a
família e reconhecem neles mais qualidades, indo de encontro ao descrito por
Maldonado, Urízar e García (2009) que as intervenções psicoeducativas modificam
as atitudes negativas relativas ao familiar com PMG. De salientar o caso B que
considerou inicialmente que o filho não teria qualidades numa das sessões e
onde se obteve mais alterações em termos de resultado quantitativo depois da
intervenção comparativamente com os outros casos. No que se refere ao caso C,
obteve-se uma diminuição da atitude positiva relativa à situação do familiar,
destacando-se no entanto a sua ausência em várias sessões ao longo da
intervenção.
Brito (2006) e Gonçalves-Pereira et al. (2006) referem que as intervenções
familiares, partindo das necessidades e problemas das famílias, devem ter pelo
menos seis semanas de duração. De facto a utente do caso C apenas esteve
presente em cinco sessões e de forma descontinuada, sendo apenas possível
deduzir que serão necessárias mais intervenções, no entanto de uma forma
contínua no tempo, para que se possa avaliar a eficácia da mesma na utente ou
se por outro lado se mantém os mesmos resultados. De facto a intervenção não
tendo sido efetuada de uma forma contínua, não permitiu que a utente estabelece
com os intervenientes uma relação terapêutica nem conseguisse identificar os
seus problemas ou desenvolver estratégias de coping para conseguir solucionar
os mesmos.
Refletindo sobre os resultados obtidos no caso C e sabendo que existem
variáveis que não foram controladas, poderemos questionar o efeito negativo
desta intervenção em caso de descontinuidade quer pela falta do utente ou pelo
profissional de saúde. Guimón (2002) refere que na terapia de grupo orientada
para a ação, utilizando técnicas cognitivo comportamentais, é importante
estabelecer o objetivo terapêutico de uma forma clara, para que se consiga
estabelecer o limite temporal da intervenção. Sendo o utente uma parte ativa da
intervenção e responsável pelo resultado da intervenção é fundamental que se
mantenha a assiduidade às sessões de forma a obter benefícios, sendo também
esta uma regra da terapia de grupo.
Apesar de se ter efetuado uma sessão zero em que se procurou conhecer
individualmente os participantes bem como as suas necessidades, pode ser
necessário um período inicial de terapia individual a fim de se conhecer melhor
os mesmos e a que estes usufruam mais significativamente deste tipo de
intervenção. Boch e Aveline (1999) e Bateman et al. (2003) reconhecem a
importância de uma intervenção inicial entre terapeuta e utente, de modo a que
se motivem os participantes para o tratamento e se consiga planear
adequadamente a intervenção de acordo com as características dos elementos.
Relativamente aos resultados obtidos na dimensão do criticismo, esta
relacionada com a satisfação da situação vivenciada e de se obter algo positivo
apesar das condicionantes, verifica-se alterações pouco significativas nos três
casos em estudo. Apenas no caso A se verifica uma diminuição de um valor,
obtendo-se o inverso no caso C. Estes valores obtidos não vão de encontro ao
referindo por Bandeira et al. (2007) e Campos (2009) que falam das repercussões
positivas percecionadas ao conviver com uma pessoa com PMG tais como a
satisfação e o desenvolvimento pessoal.
CONCLUSÕES
Através da análise e discussão dos resultados obtidos neste estudo podemos
concluir que a intervenção efetuada em grupo com vista a avaliar o impacto ao
nível da resolução de problemas familiares de pessoas com PMG contribuiu para a
resolução de alguns problemas identificados pelos participantes, não tendo sido
contudo evidente ao nível do caso C.
Através das técnicas utilizadas em grupo foi possível que os familiares
identificassem as suas necessidades e problemas atuais, tendo sido útil na
promoção da resolução de alguns problemas destes familiares de pessoas com PMG.
Permitiu ainda a aproximação destes utentes aos cuidados de saúde,
estabelecimento de uma rede de ajuda e interação entre alguns elementos,
identificação de estratégias de como atuar perante os problemas, diminuição da
sobrecarga e promoção do bem-estar.
O número de sessões efetuadas bem como a amostra reduzida constituem limitações
do estudo na medida em que com um maior número de sessões e de participantes se
poderá chegar a resultados mais credíveis, apesar daqueles que se obtiveram
indicarem que esta intervenção poderá ser uma opção.
O instrumento utilizado na avaliação dos problemas familiares revelou-se útil
na medida em que permitiu identificá-los e reconhece-los nos elementos em
estudo, no entanto poderia ter sido utilizado um instrumento que permitisse
avaliar mais concretamente a comunicação em família, uma vez que este foi um
dos problemas identificados pelos três casos.
A realização deste estudo evidenciou assim importância deste tipo de
intervenção na resolução de problemas de familiares de pessoas com PMG, não só
pelos resultados obtidos da aplicação das escalas de avaliação, mas também pelo
comportamento e verbalização dos utentes. Foi também o ponto de partida, para
que na unidade de saúde onde decorreu se continuasse a desenvolver este tipo de
intervenção com características semelhantes.