Emprego e Trajetórias Profissionais: o caso dos diplomados do Instituto
Superior Politécnico de Viseu
Introdução
Atualmente os diplomados do Ensino Superior são predominantemente sujeitos a
novas formas de emprego, cada vez mais caracterizadas pela precariedade
contratual e incerteza face ao futuro profissional. Tendo presente que o
trabalho representa uma condição de integração, seleção ou exclusão dos
indivíduos nas sociedades, a problemática da transição para o trabalho, por
parte dos diplomados do ensino superior, extravase os parâmetros puramente
funcionais do (des)emprego. Eles evidenciam cada vez maior dificuldade em
aceder ao emprego, denotando, simultaneamente, uma crescente dificuldade em
encontrar empregos enquadrados na área da formação académica obtida, o que
levanta a questão do equilíbrio entre oferta formativa, oportunidades e
exigências ao nível laboral. Assistimos, atualmente, a um conjunto de
desajustamentos entre as qualificações necessárias para os diferentes setores
da economia e as qualificações verdadeiramente detidas pelos licenciados.
Durante o século XX assistimos, segundo Vaz (1997) e Givord (2005), a uma
erosão do modelo de emprego a tempo inteiro e ao surgimento de formas
particulares de emprego. O desemprego3 apresenta-se hoje como um problema
estrutural, assistindo-se a uma diferenciação da intensidade deste movimento
entre a Europa e os EUA, que assenta na rigidez dos mercados laborais europeus
e num elevado nível de regulação e intervenção pública. Consequentemente
segundo Teichler (2000) assiste-se a uma deterioração do mercado de trabalho
para os que não possuem diplomas escolares e o aumento de concorrência pelo
emprego, graças a uma diminuição evidente dos custos inerentes à frequência do
ensino superior, reflexo das políticas de investimento público de apoio aos
estudantes. A aposta na educação deixou, também, de representar uma vontade
política, para representar, cada vez mais, um reflexo das expectativas
individuais e familiares, face ao aumento de exigências do mercado laboral e à
desvalorização progressiva dos diplomas.
As dificuldades na transição para o trabalho ganhou, nos últimos anos,
dimensões preocupantes, quando se pensa nas consequências sociais que implica,
tendo presente, a crescente procura de educação e a hierarquização e regulação
da oferta de emprego, que continuam a denotar, de uma forma cada vez mais
evidente, dificuldades de absorção de uma mão de obra progressivamente mais
qualificada. O conceito de transição profissional, tendo presente Rose (1987;
1998), critica a Teoria da Segmentação pelo facto desta defender a importância
central da empresa no mercado de trabalho, afirmando que se deverá ter em
consideração igualmente diversos fatores/atores (Estado e entidades
empregadoras). Assim, a vantagem da utilização do conceito de transição é o de
salientar as dimensões institucionais que circunscrevem este processo,
elevando-o a nível macro, desviando-se assim da perspetiva da Teoria do Capital
Humano ao assumir que este processo é, fundamentalmente, um entrelaçar de
períodos de formação, emprego e desemprego. Salienta, simultaneamente, que
existe uma dinâmica de socialização onde se constrói a relação entre educação,
trabalho/ emprego e suporta a inserção dos indivíduos nas relações laborais.
Para Lefresne (2003), a transição para o trabalho constitui paralelamente um
campo de observação privilegiado de evolução dos comportamentos sociais entre
géneros, constituindo-se, como um dos mais importantes vetores de análise
socioeconómica na comunidade científica, até porque influi diretamente no
funcionamento económico e social das sociedades, sobretudo das populações mais
jovens, justificando a sua contemporaneidade analítica. Assim, o conceito de
transição, além de envolver os diversos atores sociais, indivíduos, família,
instituição formadora, mercado de trabalho e Estado, apresenta-se como um
fenómeno pluridimensional e multifacetado, arrastando-se temporalmente, com
consequências diretas na vida pessoal e social dos indivíduos, sobretudo no que
respeita à sua passagem à vida adulta. Mais do que um processo delimitado por
questões económicas, a transição para o trabalho apresenta-se fundamentalmente
como um processo de caráter social, indutor ou redutor de trajetos de vida,
cada vez mais díspares dos projetos e expectativas iniciais dos mais jovens
quando acedem ao ensino superior. Assim, a área científica do curso, as
características da instituição de ensino, os contornos de procura de emprego, e
as dinâmicas do mercado de trabalho (recrutamento e integração profissional)
influenciam decisivamente os primeiros anos da vida ativa dos jovens
diplomados. Gautié (2003) apresenta, a nível estrutural, três tipos de
transição: emprego-emprego, emprego-desemprego e desemprego-desemprego e avança
com o conceito de transições involuntárias, como forma de caracterizar a
subjetividade que circunscreve, cada vez mais, o processo de transição para o
trabalho. Esta proposta tem a vantagem de acrescentar à análise o conceito de
transição involuntária, salientando a pertinência da questão da qualidade de
emprego como aspeto determinante neste processo. Incide a atenção sobre a
efetiva qualidade do emprego, medida pela disponibilidade dos indivíduos para
mudarem de emprego ou desistirem do emprego detido e também pelo facto de
questionar quais as características que potenciam carreiras, e equaciona a
possibilidade de existirem cada vez mais trajetórias de transição inacabadas,
como demonstram a instabilidade e precariedade crescente que caracterizam os
mercados de trabalho, sobretudo nos níveis mais desqualificados. Esta
problemática situa-se assim numa perspetiva determinista, contrapondo-se à
perspetiva "Téléologique", tendo presente que a primeira se refere
à transição como um processo fundamentalmente determinado pelas características
individuais e a segunda defende que as transições são voluntárias e
determinadas pelo sistema de motivação com o qual o indivíduo se confronta.
Para apresentar conceptualmente os diversos trajetos que caracterizam este
processo, Rose (1998) e Nauze-Fichet e Tomasini (2005) definem, em termos
temporais, três tipos de transições: as transições rápidas, as transitórias e
as contínuas/crónicas. Esta perspetiva centra-se, sobretudo, no tempo de acesso
a um emprego e a uma estabilidade da situação profissional efetiva, tendo o
mérito de hipotecar a ideia do emprego para a vida, e abrangendo principalmente
os que detêm uma posição mais débil no mercado de trabalho (possuem baixas
qualificações). O êxito da transição, como podemos observar, varia consoante as
perspetivas. Teichler (2005) refere que, para falarmos em sucesso a este nível
(transição suave), temos que assistir a movimentos regulares de acesso ao
primeiro emprego e a primeiros anos de experimentação profissional com baixos
níveis de desemprego, uma proporção baixa de emprego precário e não corrente
(part-time, ocasional) e êxito dos diplomados em termos verticais e horizontais
(relação formação/emprego elevada). A progressiva aquisição de experiência
profissional apresenta-se aqui como um fator central neste processo,
verificando-se que a categoria de inexperiente é mais pertinente do que a de
jovem e o critério de antiguidade de mercado de trabalho é mais operatório do
que o da idade: ( ) l'influence de l'expérience varie énormément selon les
secteurs d'activité et les types d'emplois et, combien il est simpliste de
support que l'expérience est un critère majeur et homogène dans toutes les
situations professionnelles. (Rose, 1998:216). As teorias do dualismo e da
segmentação do mercado de trabalho, posicionadas no paradigma
institucionalista, permitem uma outra leitura das relações entre a escola e o
mundo do trabalho. A teoria da segmentação do mercado de trabalho, tendo
presente Doeringer e Piore (1971) e Piore e Berger (1980), vem impor uma nova
perspetiva a toda esta problemática. Esta teoria abandona a perspetiva de
ajustamento automático entre oferta e procura de trabalho, representando o
mercado de trabalho como uma articulação de cadeias de mobilidade nas quais a
mão de obra se insere e não como um mecanismo que distribui aleatoriamente as
pessoas pelos empregos. Assim, a segmentação do mercado de trabalho ( ) répond
donc à un double processus d'externalisation de certaines tâches et de
flexibilisation des modes de gestion de la main-d'uvre. (Giret, 2000:101). A
teoria da segmentação refere-se ao mercado de trabalho (os mercados são formas
sociais, organizadas pelas instituições ou acordos coletivos) como um sistema
dividido, onde cada segmento possui os seus critérios próprios de contratação,
promoção, níveis de salário e trabalhadores diferenciados. Afirma a existência
de duas subdivisões, no mercado de trabalho: um setor primário, que agrupa os
empregos mais bem remunerados, mais estáveis, sendo os seus membros os mais
privilegiados ao nível da população ativa, e um setor secundário, caracterizado
por particularidades inversas, indivíduos em desvantagem, com empregos mal
remunerados e instáveis. Rejeita muitos dos pressupostos da teoria do capital
humano, ao assumir que existem vários mercados de trabalho, cada um com
especificidades ao nível do recrutamento, promoção e remuneração, além de
assumir a existência de um mercado primário (empregos estáveis, bem
remunerados, boas condições laborais e possibilidade de promoção) e um mercado
secundário, que representa o oposto. O conceito de mercado local deve ser
equacionado nesta perspetiva. Couppié e Mansuy (2006) acrescentam ainda que o
contexto geográfico possui a nível micro, importância para a vida individual e
ao nível da educação/formação (habilidades de trabalho, competências e
capacidades); a nível macro, refere-se, sobretudo, à relação sistema educativo
e mercado de trabalho. Esta questão tem particular importância tendo presente o
contexto geográfico que envolve a nossa vertente empírica4.
1. Questões Metodológicas
A população em análise é constituída pelos finalistas do ano letivo 2005/06, e
pelos diplomados que terminam as respetivas licenciaturas até setembro de 2006
sendo a nossa questão de partida perceber como se processa a transição para o
trabalho destes, após a saída do sistema de ensino superior. Em termos
empíricos abarcamos os seguintes cursos do ISPV: Comunicação Social (CS) da
Escola Superior de Educação de Viseu e da Escola Superior de Tecnologia de
Viseu os cursos de Gestão de Empresas (GE), Gestão Comercial e da Produção
(GCP), Turismo (T), Contabilidade e Administração (CA) e as diversas
Engenharias: Madeiras (EM), Ambiente (EA), Eletrotécnica (EE); Informática e de
Sistemas (EI), Civil (EC), Mecânica e da Produção (EMGI). Por uma questão de
simplificação analítica, salvaguardamos desde já que estes cursos serão, a
partir deste momento, referidos pelas suas iniciais. A estratégia metodológica,
em termos das técnicas de recolha e tratamento da informação, assenta na
interligação e complementaridade entre um inquérito por questionário aos
finalistas e outro aos diplomados, entrevistas semidiretivas a diplomados e a
coordenadores dos cursos, além da incontornável análise documental5. Com o
objetivo de tipificar as trajetórias profissionais iniciais dos licenciados,
foi aplicada ainda uma técnica de análise multivariada em que se conciliou a
análise fatorial de correspondências múltiplas (AFCM) e a análise
classificatória (AC), sendo utilizado no seu tratamento estatístico o programa
informático SPAD ' Logiciel d' analyse des donnés, seguindo a linha de
investigação já utilizada em Parente (2003), Veloso (2004) e Gonçalves (2009).
A pertinência da aplicação da AFCM deve-se ao facto de permitir identificar
estruturas de associação entre as variáveis, tratando-se de um procedimento de
análise relacional das diferentes variáveis que caracterizam os sujeitos,
procede-se ao agrupamento dos indivíduos em diversos tipos (grupos ou classes)
de trajetórias profissionais. A análise assenta, consequentemente, na ( )
constituição de agrupamentos por combinatórias das incidências das frequências
simples das variáveis, os quais foram ponderados em função do significado dos
valores das variáveis no quadro dos objetivos de pesquisa ( ) (Veloso, 2004:
560). A descrição destes grupos ou classes permite aceder, por um lado, à
identificação das suas especificidades, obtida a partir das associações entre
os valores ou modalidades das variáveis em análise e, por outro, à visualização
do posicionamento relativo de cada grupo, assim como às relações de proximidade
e afastamento entre eles. Para além das variáveis referidas, há um conjunto de
outras, também de caracterização do percurso profissional, que não foram
consideradas, de modo a contornar a excessiva diferenciação e heterogeneidade
que as mesmas introduziriam na análise, dificultando a classificação das
trajetórias. Referimo-nos, em particular, às questões relativas à formação
profissional realizada, à classificação/média final da licenciatura e aos
setores de atividade de exercício profissional, que, contudo, não foram
negligenciados ao nível da análise descritiva simples, em SPSS. No caso da
análise fatorial de correspondências múltiplas, as tipologias têm como base o
dendrograma e descrição da partição em classes/grupos ' apresentação gráfica em
forma de dendrograma ou corte da árvore que define o número de classes
obtidas. Na sua base encontram-se todos os indivíduos e, no topo, a agregação
completa dos mesmos (Veloso, 2004). Através da visualização das diferentes
partições, e de acordo com os objetivos da pesquisa, optou-se pelo agrupamento
mais adequado. Esta metodologia foi comum a todas as análise AFCM apresentadas
a partir daqui.
2. Caracterização profissional dos diplomados
De forma a ser possível traçar as trajetórias profissionais iniciais dos
diplomados6, exige-se um esforço de sistematização que estabeleça o ponto da
situação face aos dados anteriores, sobretudo dos diplomados que viram a sua
situação alterar-se relativamente ao seu primeiro emprego obtido ou face ao
exercido no último ano do curso. Aqui procede-se à comparação dois momentos de
inquirição (aos finalistas e aos diplomados), os dados absolutos serão
apresentados em coluna.
Desta forma e na sua totalidade, segundo quadro_1, 63,5% dos diplomados mantêm
o emprego e a situação profissional, destacando-se os cursos de EMGI, EM, EI e
GCP (100%), salientando-se os Especialistas das profissões intelectuais e
técnicas, 22,4% possuem um novo emprego (EE, GE e EC) e 8,2% dos indivíduos
mantêm emprego mas alteraram circunstâncias do seu exercício (CA, EA e EC). Por
outro lado, 22,4% possuem um novo emprego (EE, GE e EC), mas que, em termos
práticos, não implica uma mudança significativa nos contornos laborais desta
população, são sobretudo Especialistas das profissões intelectuais e técnicas
(57,9%), trabalham a tempo inteiro (94,7%), têm contratos a termo (55,6%),
ganham entre 801-1500 Euros (57,9%), trabalham preferencialmente na Banca e
Seguros (21,1%), localizadas em Viseu (57,9%). Finalmente, 8,2% dos indivíduos
mantêm o emprego mas alteraram circunstâncias do seu exercício, sendo que 71,4%
são Especialistas das profissões intelectuais e técnicas (EE, EC, CA e GE,
salientam-se os Bancários ' C e GE; e Engenheiros Técnicos ' EC) e exercem a
Tempo inteiro (100%). São sobretudo Funcionários efetivos (57,1%) e auferem
entre 601-1500 Euros (57,1%) e trabalham em organismos preferencialmente entre
50-199 trabalhadores ou com mais de 500 trabalhadores com 28,6%) e localizadas
no distrito de Viseu (71,4%), ( ) costumo dizer a colegas meus que estão em
pequenas empresas que é uma perda de tempo, porque não evoluem muito ( )
(ENTRV I).
Verifica-se assim que, independentemente de alterarem a posição detida ou
alcançarem um novo emprego, é sobretudo o tipo de formação académica que define
muitos dos percursos, mais do que a experiência profissional, sendo mesmo a
área do diploma detém particular pertinência nestes percursos. Na perspetiva de
Teichler (2007), que se refere à dimensão horizontal na forma de analisar a
relação entre formação académica e emprego, assente numa ligação entre campos
de estudo e conhecimento (entre área de trabalho e tipo de tarefas), destacam-
se, nas áreas de engenharia, EMGI/EI/EC e EE (com níveis elevados de ligação
entre formação académica e emprego, apesar de condições precárias no exercício,
sendo o exemplo mais visível EC, ao nível do rendimento ' já referido
anteriormente ' e EE, com a instabilidade de colocações no ensino). Mas nem
todas as áreas refletem este movimento. Nas áreas de engenharia destacam-se
pelas dificuldades evidenciadas os cursos de EA e EM (taxa elevada de
desemprego e baixos níveis de relação formação académica e emprego), nas áreas
de GE, GCP (apesar de das altas taxas de empregabilidade) e, numa posição
intermédia, GE. Nas áreas de CS e T, a situação apresenta-se complexa, com
níveis de desemprego elevado, salientando-se o de inserção e baixos níveis de
relação formação académica/emprego para os que afirmam desempenhar uma
atividade regular. Estas ilações são confirmadas pelo nível de procura ativa de
emprego dos que afirmam exercer uma atividade regular a tempo inteiro.
Verifica-se que 48,3% reconhecem procurar novo emprego (EA ' 85,7%, EE ' 80% e
EM ' 66,7%). Porém 38,2% não procura; estes são, sobretudo, os que afirmam
exercer funções próximas da área de formação académica. Quanto às justificações
destas posições, 23,4% não respondeu, 17% declaram que procuram Emprego que
corresponda à formação (GCP ' confirma ilações anteriores; EE ' confirmam
situação alternativa da docência), 14,9% afirma que procuram Emprego que
permita um projeto de carreira (EC ' atesta as condições débeis vividas num
trabalho, apesar do nível elevado da relação formação académica/emprego; EE e
EM), 12,8% porque se encontram Desempregados (T' 25%; EE ' 20%; EA e T com
14,3% confirmam dados anteriores) e finalmente 10,6% asseguram que o objetivo é
encontrar um Emprego que permita estabilidade (CA) e um Emprego melhor
remunerado (EI), o que reafirma a ideia, já defendida anteriormente, que mesmo
os que afirmam exercer as atividades mais qualificadas têm condições de
exercício laboral longe das ideais. Estes resultados confirmam que são os que
possuem situação laboral mais débil (CS, T, EA, EE e EM) que apresentam
percentagens de desemprego mais elevadas e que se apresentam mais ativos na
procura de emprego, o que, tendo presente Gautié (2003), confirma uma frágil
relação entre formação académica e emprego ou simplesmente um descontentamento
com a situação profissional vivida, não esquecendo que o fim da transição só
ocorrerá após se atingir a estabilidade de emprego, assente na durabilidade do
mesmo. De salientar ainda situações que elevam este movimento a níveis de
disponibilidade extrema: ( ) se não há a nível regional, uma pessoa tem que
começar a procurar por longe ( ) Vou partir para um projeto no estrangeiro ( )
tenho em mente procurar e sei que há ofertas fora da área, sejam elas
trabalhar num aeroporto, trabalhar num hotel ( ) Será o que calhar. (ENTRV D).
Tal contexto é confirmado pelos baixos níveis de formação profissional.
Verifica-se que somente 22,5% dos diplomados asseguram ter recebido formação
profissional no trabalho (GCP, EMGI e CA). Contudo estes casos não exteriorizam
uma especialização formativa; é mais de caráter geral e de adaptação ao
trabalho (Atendimento ao cliente; Inglês) e por vezes em área díspares da
formação inicial (Ex: Técnico de vendas ' CA; Costureira ' EM). Genericamente,
existe pouco investimento por parte das entidades empregadoras na
profissionalização dos diplomados, permitindo questionar a qualidade do
trabalho exercido e dando força a indicadores anteriores onde é evidente a
frágil relação entre formação académica obtida e emprego exercido por parte dos
muitos destes diplomados. Essa situação é ainda reafirmada pela fraca
mobilidade profissional (78,3% somente exerceram até ao momento um emprego),
que poderá ser reflexo do próprio mercado de trabalho ou incapacidade de
alterar situação detida, eventualmente consequência da origem social,
comprovada pelos elevados índices de aceitação da primeira oportunidade de
emprego. Dos que acederam ao primeiro emprego, 72,2% mantêm-no, sendo que os
restantes saíram sobretudo por Iniciativa própria (42,9% ' saliente-se CS e EC)
ou por Cessação de contrato a termo (35,7% ' salientando-se EE e GE), contudo
destes 75% referem ter Acedido de imediato a novo emprego, o que explica o
facto de não terem recorrido ao subsídio de desemprego. Quanto ao período de
permanência no primeiro emprego, os resultados asseguram que ele foi mantido
até 12 meses (27,8%). Os factos confirmam as dificuldades já referidas e são
comprovados pelo indicador Ordenados em atraso (7,1%) o que aponta para que a
precariedade é mais evidente em termos de rendimento e contrato (contratos a
termo certo, principalmente, mas também situações de recibo verde, sem contrato
e na situação de estagiário) de que, por vezes, ao nível do tipo de profissão
exercida. Mesmo os que detêm posições mais coerentes com a formação académica,
denotam instabilidade, destacando-se novamente o curso de EC, a que se junta
aos já visíveis T, CS e EA como as formações que mostram mais dificuldades ao
nível do primeiro emprego).
3. Diplomas e Desemprego
Tendo presente Béduwé e Giret (2004), Gonçalves, Parente e Veloso (2004) ou
Gonçalves (2009) que apontam as áreas científicas mais expostas ao desemprego,
interessa-nos explorar os efetivos índices de empregabilidade exteriorizada
pelos diplomados, a nível da Formação Geral (letras, línguas, ciências humanas,
direito, serviços).
Verifica-se assim, ao nível do exercício laboral, que 25% não acedem ao
primeiro emprego regular ' EA, GE, EE e CS - 23,8% após o primeiro emprego
regular ' EC, T, EA e EE e 4,7% atualmente ' EA e CS, situação tanto mais grave
quando recordamos Bruyère e Lemistre (2005), que demonstram que as inserções
mais longas (tempo de acesso ao primeiro emprego, número de meses desempregado)
conduzem, menos frequentemente, a um emprego adequado.
O quadro_3 evidencia dois aspetos fundamentais: que a problemática aqui tratada
só recentemente é alvo de preocupação e representatividade evidente das
autoridades estatais (somente existem dados a partir do ano letivo de 2002/
2003) e os seus dados trazem maior profundidade analítica aos resultados
obtidos no quadro anterior. Estes dados estatais apontam para que os diplomados
de GE, CS e EA apresentam dificuldades em aceder ao primeiro emprego e que a
inscrição no centro de emprego continua a representar uma das estratégias mais
utilizadas no acesso ao emprego, permitindo paralelamente questionar a
pertinência da origem social neste processo. Saliente-se que no final de 20077,
EA possui 27 inscritos, CS ' 41 e GE ' 40; em junho de 2008 GE tem 24
inscritos, EA ' 21, não surgindo CS; em junho de 2009, EA apresenta 21
inscritos, não surgindo referenciada qualquer um das outras duas formações
académicas, de acordo com os números do GPERI (2007; 2008; 2009). Esta situação
pode ser explicada pelo facto de, a partir de 2007, este tipo de análise
estatal só incluir os cursos com mais de 60 diplomados por ano e por formação
académica, quando antes desta data, o valor mínimo era de 20 diplomados. Isto
implica que se possa questionar se estas formações não continuam, ainda hoje, a
denotar estas dificuldades. De salientar que dos três cursos aqui representados
devemos salientar o de CS que apresenta valores ascendentes, contrariamente a
GE que apresenta um sentido contrário, de redução de inscritos no centro de
emprego, embora esta tendência possa ser o reflexo da diminuição do número de
diplomados durante este período. Esta realidade possui, paralelamente,
consequências a nível pessoal na vida dos indivíduos, comprovada pelo facto de
68,4%8 dos diplomados residirem ainda com os progenitores, o que se compreende,
pelas origens sociais e pela tendência já verificada em Teichler (2007) e
Martins, Mauritti e Costa (2005). Enquadrando-se na perspetiva de Iannelli e
Soro-Bonmati (2006) sobre o Modelo Mediterrânico da Juventude (caracterizado
por trajetórias escolares longas, dificuldades ao nível do primeiro emprego.
Importa referir, contudo, que a pouca representatividade numérica dos cursos de
EI e CA impediu que os resultados alcançados apresentassem uma maior
representatividade analítica, já que foram os diplomados destas áreas
científicas que apresentaram transições para o trabalho mais fluidas e com
condições de exercício laboral favoráveis. Perante estes resultados, foi
possível traçar as trajetórias profissionais que iremos identificar e analisar
de seguida.
4. Emprego e Trajetórias Profissionais
Consideramos aqui, que o conceito de trajetória nos permite interpretar os
percursos de aprendizagem e profissionais como resultado da articulação entre
as estruturas sociais objetivas, que a determinam, e a ação social do sujeito,
relativa à margem de liberdade e de escolha de que este dispõe na orientação da
sua vida; deste modo, ao nível educativo, formativo e profissional, a
trajetória constitui uma ( ) articulação entre a estrutura do mercado de
trabalho e o percurso socioeconómico e educativo dos indivíduos ( ) (Paul,
1989:107). A trajetória é um percurso que se inicia com a entrada na vida ativa
se prolonga até ao emprego atual. É precedida da frequência do sistema de
ensino formal e inclui a eventual realização de cursos de formação e de
atividades profissionais complementares, a análise dos movimentos de mobilidade
escolar e social, a origem social e o lugar de classe, atendendo, em
particular, à natureza do vínculo contratual. A análise SPAD veio não somente
confirmar tendências já verificadas, mas também ordenar em classes, permitindo,
de uma forma mais efetiva, circunscrevê-las e caracterizá-las de forma
objetiva. Podemos agrupá-las em três grandes grupos9
Conclusões
Os diplomados que apresentam trajetórias profissionais híbridas (imobilismo
profissional), são sobretudo trabalhadores-estudantes que não viram alterada a
sua situação laboral e nunca estiveram desempregados (salientando-se os
diplomados de EI, EMGI, CA e T). Esta manutenção da situação laboral, após a
obtenção do diploma, pode refletir uma estruturação da vida pessoal, como
transparece do facto de a maioria destes diplomados afirmar ser casado e viver
com cônjuge. Quanto aos diplomados que apresentam as trajetórias funcionais,
com rápido acesso ao primeiro emprego concentram-se sobretudo no distrito de
Viseu. Equaciona-se se esta postura inicial evidencia uma instrumentalização
efetiva do diploma ou se reflete somente a falta de alternativas de emprego, no
mercado de trabalho local. Relativamente aos diplomados que progrediram na
carreira já projetada (sobretudo os trabalhadores-estudantes), apresentam
trajetórias profissionais evolutivas (destacando-se os cursos de CA, T e GE). É
a este nível que se verifica uma efetiva rentabilização dos diplomas alcançados
a nível laboral, através do desenvolvimento de um projeto profissional já
instituído, o que nos permite afirmar que os diplomas potenciaram, sobretudo,
carreiras já estruturadas. Por fim, os diplomados em situação de precariedade
laboral manifestam trajetórias de instabilidade profissional efetiva,
particularmente visível ao nível dos conteúdos de trabalho, contratos e
rendimentos (destacando-se os diplomados de CS e EC que acederam rapidamente ao
primeiro emprego regular).
Podemos, assim referir, face aos resultados alcançados, que, neste caso
específico, o diploma só revela pertinência a nível laboral no caso dos que já
possuíam, antes de terminar o seu curso superior, uma atividade profissional
regular e que alteraram a situação laboral, nomeadamente mudando de emprego.
Podemos então concluir que a obtenção do diploma não se traduziu, até ao
momento, numa melhoria significativa na qualidade laboral dos empregos detidos
no último ano da formação académica ou mesmo na proteção em relação ao
desemprego. Estes dados confirmam duas populações distintas: os diplomados de
CS (instabilidade e precariedade evidentes) e de EC (instabilidade nas
profissões na área e rendimento mais elevados, mas precariedade contratual),
mais visível ao nível da profissão exercida do que nas condições laborais,
comprovando que também as formações das áreas de engenharia denotam
dificuldade, sobretudo no exercício do primeiro emprego regular. Verifica-se
que, ao nível do primeiro emprego, as dificuldades de acesso não são
significativas, mas a precariedade laboral a este nível é evidente. Não
podemos, contudo, deixar de equacionar a pertinência do contexto geográfico
regional e o enquadramento temporal para a explicitação destas tendências,
equacionando a rigidez do mercado laboral. A experiência e a idade continuam a
ser muito importantes no mercado laboral, sobretudo a nível da natureza dos
contratos e rendimentos. O ensino superior politécnico continua, desta forma, a
cumprir um dos seus principais objetivos - o de oferecer o acesso ao ensino
superior a nível regional. Porém, face aos novos desafios e contextos
socioeconómicos e tendo presente a crescente competitividade entre instituições
de ensino e pelo acesso ao emprego, é questionável que o mercado local tenha
capacidade de absorver estes mesmos diplomados, o que reequaciona os objetivos
futuros do ISPV, tendo presente o atual contexto educativo a nível nacional e
europeu. Esta situação poderá justificar os resultados aqui obtidos, sobretudo
no que diz respeito às dificuldades de acesso ao primeiro emprego, revelados
por estes diplomados, bem como o crescente fenómeno de sobrequalificação
académica em Portugal.
Notas
1 Este artigo baseia-se em: Sousa (2010), Diplomas e (Des)Emprego: um estudo de
caso, Dissertação de Doutoramento em Sociologia, Porto, FLUP.
2 Professor-Adjunto no Departamento de Comunicação e Arte da Escola Superior de
Educação de Viseu ' Instituto Politécnico de Viseu (ESEV-IPV) (Viseu,
Portugal). E-mail: luissousa@esev.ipv.pt
3 O conceito de desemprego surge, segundo Maruani e Reynaud (1993), no último
quartel do século XIX (por volta de 1870) referindo se fundamentalmente à
situação de trabalhadores involuntariamente privados de trabalho, ganhando
somente em finais do século XIX características de supressão de trabalho. Para
Aznar (1996), com a evolução progressiva dos processos produtivos,
principalmente a nível tecnológico, e com o surgimento dos movimentos
demográficos naturais das populações (sobretudo ao nível do aumento da
população ativa), o desemprego afirma se progressivamente como uma
característica estrutural das sociedades pós industriais.
4 Tendo presente dados do INE (1991; 2001), a região centro caracteriza se
economicamente por apresentar dinâmicas de criação de emprego nos setores
secundário e terciário, associadas a um declínio do setor primário. Sendo os
preços dos terrenos simbólicos e dotados, muitas vezes, de infraestruturas,
assiste se a um incremento de empresas nas áreas industriais e de construção e
finalmente a uma diversificação em termos de setores de atividade e
especialização em indústrias de transformação (confeções, metalomecânica,
indústria automóvel e componentes, produtos para o lar e produtos alimentares
são os mais representativos e com exportação). Apesar disso, o tecido
empresarial é diversificado, possuindo empresas com elevados níveis de
competitividade, mas globalmente pouco evoluído tecnicamente e com
características de pequena e média dimensão. A produtividade da região, tendo
presente os dados do INE (2006; 2008), tem se revelado inferior à média
nacional. Em termos globais, as atividades económicas dominantes no distrito de
Viseu, tendo em conta o emprego que proporcionam, situam se na indústria
têxtil, na indústria da madeira e da cortiça e na indústria alimentar, bebidas
e tabaco. São dignos de destaque os casos pontuais da indústria automóvel
(Mangualde) e da indústria metalúrgica de base de produtos metálicos (Tondela e
Viseu). Nos Serviços, destaque para o Turismo, alicerçado na exploração de um
rico património histórico e monumental e também nas potencialidades termais
(ex: São Pedro do Sul). No setor primário, salientam se a avicultura, a
produção de vinho e a floresta. Confirma se a contração do setor primário, onde
se continuam a salientar as explorações de cariz familiar. Contudo, segundo INE
(2009), os fracos níveis de formação das pessoas a nível regional podem
constituir limitações ao crescimento e desenvolvimento.
5 Foi assim estabelecido a seguinte cronologia metodológica: o primeiro momento
ocorreu em maio de 2006, com a aplicação de um inquérito por questionário aos
finalistas, em dezembro de 2008 (num segundo momento analítico), incluímos a
entidade formadora no processo de análise, realizando entrevistas
semiestruturadas a coordenadores ou responsáveis dos cursos em causa. Num
terceiro momento (ocorrido em maio de 2008), foram aplicados os inquéritos por
questionário aos diplomados, colocados durante três semanas On-Line e
finalmente, e num quarto momento (ocorrido em setembro de 2008), realizam se as
entrevistas aos diplomados, selecionados segundo percursos profissionais. Estes
últimos dois momentos constituem a base dos resultados apresentados no presente
artigo. Nota para o facto de, operacionalmente, constituírem as formações em
análise as que analiticamente (face às suas características) permitiam uma
análise efetiva do processo de transição para o trabalho e o questionamento das
trajetórias profissionais iniciais. Assim, os cursos de educação (formação de
professores e restantes cursos da Escola Superior de Educação de Viseu, que por
serem muito recentes e pelas características não reuniam condições de análise)
e o curso de enfermagem não reuniam condições analíticas, face à linearidade da
aplicabilidade destas formações no mundo laboral. Já o caso da Escola Superior
Agrária de Viseu, pelas particularidades que encerrava (limitação na oferta
formativa) e pelo diminuto número diplomados/alunos, foi assumidamente colocado
de parte. Reconhecemos, desta forma, que a opção de analisar estes cursos
decorreu na base da sua funcionalidade e particularidades face ao emprego.
6 Num total de 354 inscritos finalistas em 2005/06 obtivemos a participação de
244 finalistas, constituindo 68,9% dos inscritos no ano letivo de 2005/06;
deste grupo, somente acedemos a 43,7% diplomados que responderam 18 meses
depois de terem terminado a licenciatura.
7 Estes dados incluem sempre valores relativos aos diplomados nos últimos três
anos letivos anteriores à data a que se referem.
8 Confirma se esta situação: dos que afirmam não ter acedido ao primeiro
emprego, 68,4% dos jovens entre os 23 30 anos afirmam viver ainda com
progenitores
9 De destacar, ainda, a Classe 4 com uma representatividade de 30,6%. É
constituída por dois grupos distintos, (esta concentração de duas populações na
mesma classe é explicada pela estrutura do inquérito): os que não acederam ao
primeiro emprego (já que 55,8% afirma estar À procura do primeiro emprego),
constituindo o que apelidámos de Suspensas; além desta população, verifica se a
presença, nesta classe, dos trabalhadores estudantes que não viram alterada a
situação laboral detida no seu último ano de formação académica, evidenciando
um imobilismo profissional e, pelo menos até ao momento, uma não rentabilização
do seu novo estatuto académico Híbridas. De destacar ainda a Classe 5 (1,8%)
que apelidámos de Precárias. São constituídas por Desempregados-após primeiro
emprego de curta duração; Tempo de permanência no primeiro emprego: 3-6 meses
100%.