EDITORIAL
EDITORIAL
EDITORIAL
Carlos Manuel Gonçalves
A Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto traz à
estampa, no presente número XXIX de 2015, um conjunto de textos que, não
obstante apresentarem objetos e paradigmas analíticos disjuntos, concorrem para
um conhecimento sociológico denso e sustentado.
O primeiro artigo de Luísa Veloso, Joana Lucas e Paula Rocha explana, demonstra
e discute a utilização do método de pesquisa etnográfica a um campo específico
de atividade como é o da criação e transformação de conhecimento científico e
tecnológico. Em temos empíricos as autoras tomam por objeto de análise diversos
laboratórios e empresas, concluindo, entre outros aspetos relevantes, da
heuristicidade daquele método para a análise das práticas dos atores em
contextos de desenvolvimento de projetos de ciência e tecnologia.
O consumo de medicamentos e de outros produtos para obtenção de melhores
performances em termos de desempenho físico ou cognitivo é o tema do artigo de
Telmo Clemote, que ganha relevância no quadro mais global da “farmacologização”
da ação humana nas suas múltiplas vertentes. São analisados os resultados de um
estudo sobre os jovens portugueses, apontando-se para uma imbricação entre as
disposições e as práticas de consumo ao nível desta categorial populacional.
Joaquim Fialho apresenta-nos um contributo para uma análise sociológica das
redes sociais. São revistas as propostas concetuais de alguns dos cientistas
sociais. A pergunta primeira que atualmente subsiste - “Será a análise de redes
sociais realmente um novo paradigma sociológico? – é equacionada pelo autor no
sentido de explorar os limites e virtualidades das possíveis respostas para a
compreensão das sociedades.
No espaço da problemática do artigo anterior, encontra-se o texto de Filipa
Pinho focalizado nos fluxos migratórios laborais. Especificamente procura
debater-se, num registo teórico, a importância das redes sociais e do capital
social nos processos de recrutamento da mão de obra migrante para os mercados
de trabalho dos países recetores com disponibilidade de empregos.
Pedro dos Santos Boia aborda os usos do corpo, técnicas instrumentais e
materialidade dos instrumentos musicais. Fá-lo num duplo registo como “sujeito
e objeto de conhecimento”, desenvolvendo uma leitura sociológica teoricamente
eclética sobre o tema.
O artigo de Luciana Teixeira de Andrade e Luís Vicente Baptista apresenta o
debate sobre a crise dos espaços públicos. Mobilizando principalmente os
contributos de Simmel, realiza-se uma reflexão sobre as cidades de Lisboa e de
Belo Horizonte no sentido de compreender as mudanças existentes, em particular
no que respeita às apropriações e conflitos na vida quotidiana.
Ricardo Sá Ferreira centra-se no rendimento social de inserção. Com base numa
análise da imprensa escrita diária, entre os anos 2007 e 2011, o autor envereda
por uma análise do processo social de construção daquela política pública e as
consequências, no plano simbólico, para a “transformação do Estado-Providência
em Estado-Penitência”.
Vítor Rosa centra-se no tema dos menores estrangeiros numa situação particular
de isolamento. O estudo empírico apresentado realizou-se em França e Portugal.
Por fim, Natália Azevedo apresenta uma recensão crítica da obra De
l'artification. Enquêtes sur le passage à l'art, uma coletânea organizada por
Nathalie Heinich e Roberta Shapiro. São percorridos os contributos dos textos
para vários aspetos do denominado mundo da(s) arte(s).
Uma boa leitura.