Modelo explicativo sobre a intenção empreendedora
Introdução
As empresas são um dos factores mais importantes para o progresso económico e social de
uma localidade ou região, sendo hoje em dia uma das principais soluções para o problema do
desemprego. É difícil imaginar-se uma sociedade avançada sem uma florescente actividade empresarial, onde os empresários como agentes empreendedores desempenham um papel fundamental.
Por outro lado, Pereira (1991) considera que, à incapacidade das economias para criar novos
empregos em número suficiente para a satisfação das necessidades de uma população activa crescente, aliam-se as supressões massivas de emprego em sectores e empresas em reestruturação ou
compressão de efectivos, com amplitude variável de país para país.
A criação de novas empresas, em muitos países, é vista como um factor importante para o
desenho de estratégias de recuperação e crescimento económico (Birley, 1989). Deste modo,
Lumpkin e Ireland (1988) consideram que as novas empresas nos Estados Unidos da América são
um importante mecanismo para a criação de empregos, apesar de neste país uma grande parte dos
negócios fecharem no primeiro ano de vida. Contudo, verifica-se também que nos Estados Unidos
da América o número de empresas tem vindo a aumentar em consequência do excesso acumulado
de criação de empresas sobre a extinção das mesmas (Samuelson & Nordhaus, 1988).
As instituições de ensino superior detêm em seu poder um conjunto de conhecimentos e
sabedoria indispensáveis para formar pessoas competentes (Goñi Gaztelu, 1999). Segundo Ussman
e Postigo (2000) o fomento à actividade empresarial promove o auto-emprego como alternativa de
carreira ao mesmo tempo que proporciona aos jovens competências requeridas para a criação de
empresas. Deste modo, as instituições de ensino superior devem apostar na formação orientada
para a criação de empresas, onde os alunos são potenciais criadores.
Parece, deste modo, interessante investigar a figura do aluno como potencial empresário,
como uma pessoa que identifica uma oportunidade, cria um novo negócio e é capaz de reunir os
recursos necessários face ao risco e incerteza, com a finalidade de obter lucro e fazer crescer o
negócio (Scarborough & Zimmerer, 1993). Estes potenciais empresários podem englobar-se na
categoria dos empreendedores ou fundadores de negócios, sendo fundamental para o sucesso das
suas empresas terem competências para o entrepreneurship, ou seja, estes devem ser pessoas com
uma forte intenção empreendedora e, ao mesmo tempo, deve reunir determinadas características
individuais para o desempenho da função empresarial.
Podemos concluir que nos últimos anos tem vindo a aumentar o interesse pelo estudo da intenção empreendedora (Krueger, 1993; Krueger & Carsrud, 1993; Krueger & Brazeal, 1994; Davidsson,
1995; Krueger, Reilly & Carsrud, 1995; Reitan, 1996; Niittykangas & Laukkanen, 1996; Kolvereid,
1996; Autio, Keeley, Klofsten & Ulfstedt, 1997; Rubio López, Cordón Pozo & Agote Martín,
1999; Summers, 1999; Audet, 2000; Krueger, Reilly & Carsrud, 2000; Raijman, 2001; Brice,
2002).
O nosso estudo tem como finalidade continuar esta linha, principalmente porque o modelo
proposto nesta investigação incorpora vários factores que influenciam a intenção empreendedora.
Deste modo, o objectivo geral deste trabalho de investigação é produzir um conjunto de informações
base, com a finalidade de elaborar um modelo explicativo sobre a intenção empreendedora aplicado
aos alunos do ensino superior, onde são apresentados também os instrumentos, que consideramos
serem mais convenientes para a avaliação dos diversos factores considerados no modelo.
Modelo sobre a intenção empreendedora
O modelo proposto visa identificar os factores determinantes da intenção empreendedora.
Segundo Bird (1988) a intenção pode ser vista como um estado de espírito em que a atenção da pessoa
está dirigida para uma determinada situação, com vista a alcançar uma meta. Podemos então considerar que a concretização da ideia de criar uma nova empresa é precedida pela intenção, a qual
por sua vez pode ser planeada durante algum tempo, porém, em alguns casos a intenção é formada
no momento antes de se concretizar a ideia, e noutros casos, a intenção nunca coincide com a realização do comportamento. Assim, a análise da intenção empreendedora pode ser assumida como
servindo para prever, embora de forma imperfeita, um determinado comportamento de um indivíduo
em relação a fundar a sua própria empresa (Davidsson, 1995).
De acordo com o objectivo deste trabalho, esta investigação tem de ser aplicada numa envolvente onde possam existir potenciais empresários, sendo um exemplo ideal demonstrativo desta
situação as instituições de ensino superior, porque nestas os estudantes passam parte do caminho que
antecede a sua entrada no mercado de trabalho. Por outro lado, as preferências em termos de
carreira dos alunos do ensino superior podem ser influenciadas por vários factores, e tal como refere
Trice (1991), podemos considerar que as aspirações profissionais dos adolescentes permitem
prever de uma forma significativa uma eventual escolha profissional futura.
O presente modelo conceptual foi desenvolvido com base numa revisão da literatura sobre os
conhecimentos empresariais, características pessoais dos empresários, intenções empreendedoras,
e teve em conta principalmente os modelos de Spencer e Spencer (1993), Ajzen (1991), Shapero
(1982), Davidsson (1995) e Autio, Keeley, Klofsten e Ulfstedt (1997). Em termos gerais este modelo
foi construído tendo em conta os estudantes do ensino superior e os aspectos ligados à criação da
empresa e ao desempenho da função empresarial.
Assim, o modelo base do nosso estudo é o apresentado na Figura 1.
Tendo em conta o modelo proposto, a seguir apresentamos o significado de cada um dos elementos que compõem o modelo: antecedentes pessoais, conhecimentos empresariais, motivações
empreendedoras, auto-eficácia empreendedora, envolvente institucional e intenção empreendedora.
Desenvolvimento do modelo
Antecedentes pessoais
Podemos considerar que existe uma relação importante entre determinadas variáveis referentes
aos antecedentes pessoais e o comportamento empreendedor (Stanworth, Blythe, Granger & Stanworth,
1989). Além dos traços próprios de personalidade de cada indivíduo, diversas investigações põem
em relevância outros factores de natureza socio-demográfica que podem influenciar o comportamento empreendedor (Rubio López, Cordón Pozo & Agote Martín, 1999). Mais concretamente, os
que interessam na nossa investigação foram os elementos académicos, os elementos demográficos
e a envolvente familiar e social.
A formação académica dos empresários é também um tema que tem merecido especial atenção na literatura relacionada com a criação de empresas (Brockhaus, 1982; Cooper & Dumkelberg,
1984; Jacobowitz & Vidler, 1982; DeCarlo & Lyons, 1979; Hisrish & Brusch, 1983; Gasse, 1982).
Podemos também encontrar na literatura um conjunto de variáveis que têm uma aplicação específica
no contexto estudantil, como são exemplo a área científica, o ano frequentado pelo aluno e o seu
estatuto de estudante.
O resultado verificado nos estudos onde se analisa a relação entre o nível de educação do
empresário e o entrepreneurship é controverso (Davidsson, 1989; Storey, 1994). Na Suécia verifica-se
que, em média, os fundadores de empresas tem tradicionalmente um nível educacional baixo.
Contudo, neste país nos últimos anos os fundadores de novas empresas já apresentam um nível de
educação mais elevado (Wärneryd, Davidsson & Wahlund, 1987). Nos EUA os dados revelam que
quanto maior é o nível de educação menor é o interesse para seguir uma carreira empresarial
(Reynolds, 1995; Reynolds & Miller, 1990). Podemos, contudo, estabelecer uma relação positiva
entre o nível de educação e a intenção empreendedora, embora devesse ser reconhecido que tal
relação pode estar dependente do custo de oportunidade (Wärneryd, Davidsson & Wahlund, 1987),
ou seja, as pessoas com um nível educacional mais elevado podem ter melhores hipóteses de
conseguirem atingir as suas metas pessoais não só como empresários, mas também como trabalhadores
por conta de outrem. Uma outra perspectiva é apresentada por Veciana (1989a), segundo a qual os
empresários normalmente deixaram de frequentar a escola quando eram ainda bastante jovens. Este
autor considera ainda que o nível de formação não é uma característica peculiar que distinga o
empresário do resto da população, nem é uma garantia do sucesso da empresa, embora a formação
seja necessária.
Como vimos, as investigações revelam que não é estritamente necessário ter um nível de educação elevado para criar um negócio. Contudo, constata-se que um maior nível educativo, e especialmente se relacionado com o campo das ciências empresariais, pode pressupor uma vantagem de
base para o potencial empresário (Hisrich, 1990). Em concreto, cabe esperar que os futuros alunos
diplomados na área científica relacionada com as ciências empresariais manifestem uma maior
propensão empreendedora.
Algumas investigações têm mostrado que a criação de uma empresa é valorizada e perspectivada como carreira de futuro por alunos do ensino superior (Brenner, Pringle & Greenhaus, 1991).
Os estudantes do ensino superior têm de tomar a decisão acerca de qual vai ser a sua carreira profissional futura, muitas vezes antes de ficarem graduados (Autio, Keeley, Klofsten & Ulfstedt, 1997),
o que nos permite estabelecer uma relação entre o ano frequentado e a intenção empreendedora. Em
concreto, cabe esperar que os alunos dos últimos anos manifestem uma maior propensão à criação
de empresas.
Convém acrescentar que o estatuto de estudante pode ter influência na intenção empreendedora, uma vez que a experiência profissional pode funcionar como um factor bastante importante
na criação de empresas. Em concreto, cabe esperar que os alunos que sejam trabalhadores e estudantes
manifestem uma maior propensão à criação de empresas.
Podemos encontrar na literatura um conjunto de variáveis sobre a informação acerca dos
empresários, como são por exemplo a idade, o sexo, a situação como filho, a origem e a experiência
profissional anterior.
Os estudos sobre o tema têm vindo a demonstrar que a idade é uma variável importante para
determinar a propensão para fundar uma empresa (Brockhaus, 1982; Reynolds, 1995). A pessoa que
toma a decisão de converter-se em empresário tem uma idade compreendida entre os 25 e 40 anos
(Shapero, 1971). De acordo com o estudo de Petrof (1980) a idade média para a criação de uma
empresa é de 30,1 anos. Segundo Davidsson (1995) a idade mais frequente para criar uma empresa
situa-se ao redor dos 35 anos.
Em relação ao sexo são muitos os estudos onde se encontram evidências empíricas que mostram
a existência de diferenças nos rasgos de personalidade entre sexos, o que pode influenciar a atitude
empreendedora (Rubio López, Cordón Pozo & Agote Martín, 1999). No caso da investigação de Brenner
(1992), este autor indica que os homens são mais empreendedores e estão mais orientados para a
necessidade de realização pessoal. Em termos gerais podemos considerar que os homens tem uma
maior propensão a criar empresas, isto tendo em conta os estudos desenvolvidos em vários países (Wit
& van Winden, 1989, na Holanda; Reynolds, 1995 nos EUA; Carvalho, 1997 em Portugal, etc.). A
justificação deste facto encontra-se nas diferenças entre homens e mulheres em relação à valorização do trabalho (Brenner, Pringle & Greenhaus, 1991) e também em relação às características psicológicas (Sexton & Bowman-Upton, 1990). A variável sexo pode estar relacionada com a convicção
para criar uma empresa e, deste modo, ter alguma influência na intenção empreendedora
(Davidsson, 1995).
Segundo Petrof (1980) na maior parte dos casos relativamente à situação como filho, verifica-se
que o empresário é o irmão mais velho. Em muitas situações também se verifica que os empresários
pertencem a famílias muito numerosas, como se pode constatar no estudo de Carvalho (1997) em
que, em média, os empresários tinham três irmãos. Em concreto, cabe esperar que manifestem uma
maior propensão para a criação de empresas, os alunos que pertencem a famílias muito numerosas
e este seja o irmão mais velho.
Veciana (1989a), por seu lado, considera que as pessoas desempregadas, os imigrantes, certas
minorias étnicas e até os próprios estudantes do ensino superior tem dificuldades em encontrar
emprego, são pessoas por vezes socialmente marginalizadas e que normalmente se encontram
numa posição insegura consequentemente são como que obrigadas a tomar uma decisão sobre o
seu futuro profissional, que passa em muitas situações pela criação de uma empresa ou negócio.
Encontramos estudos que demonstram que os imigrantes têm um espírito mais competitivo, dão
muita importância ao dinheiro e à realização pessoal (Lynn, 1991; Hofstede, 1980), aspectos estes
que aprofundaremos de uma forma mais detalhada quando abordarmos as motivações empreendedoras. Em concreto, cabe esperar que a origem das alunos, e mais concretamente os imigrantes,
manifestem uma maior propensão à criação de empresas.
Os estudos apresentam muitas razões para explicar a relação entre a discriminação social e a
criação de empresas (Hagen, 1962; Stanworth & Curran, 1973). É provável que estas diferentes
explicações sejam em parte verdadeiras, todavia, Hoselitz (1971) e Wilken (1979) referem que as
pessoas ou grupos sociais que normalmente são objecto de marginalidade, seja de origem religiosa,
cultural ou étnica, tendem a lançar-se na criação de negócio como uma forma de escapar a esta
situação. O facto de as pessoas terem também passado por uma mudança radical na sua vivência
pode aumentar a probabilidade de fundarem a sua própria empresa (Davidsson, 1995; Reynolds,
1995). Então as pessoas que moraram em vários lugares diferentes deveriam ser mais propensas a
fundar os seus próprios negócios do que as outras que não passaram por esta situação.
Os conhecimentos adquiridos com a educação formal, juntamente com experiência profissional anterior, são factores bastante importantes na criação de empresas. Em relação à formação, o
facto de se obterem mais conhecimentos e habilidades por parte das pessoas pode incrementar a
sua capacidade para conceber e iniciar actividades produtivas (Hagen, 1968). A experiência profissional como trabalhador por conta de outrem vai permitir uma aprendizagem sobre a função
empresarial em termos práticos (Gibb, 1993). Segundo este mesmo autor o indivíduo vai aprender
por ele próprio, observando as pessoas a fazer as coisas, quando e com quem fazer as coisas; e
aprende também a relacionar-se com os clientes, fornecedores, entidades financeiras, etc., tudo num
processo de interacção pessoal que vai mais além do que a simples instrução formal. Também
existe evidência empírica que demonstra que 64,5% das pessoas que tinham criado um negócio
tinham tido dois ou mais empregos anteriormente (Cooper & Dunkelberg, 1984), o que mostra a
grande importância da experiência profissional anterior no potencial empresário.
Entre os inúmeros factores apontados na literatura especializada sobre o tema como tendo
influência no comportamento empreendedor destacam-se os factores relacionados com os antecedentes
familiares (Rubio López, Cordón Pozo & Agote Martín, 1999) e um conjunto de factores sociais
(Reynolds, 1991). Podemos encontrar na literatura um conjunto de variáveis que têm uma
aplicação específica neste contexto, como são exemplos o facto de haver na família do empresário
antecedentes familiares empreendedores, as habilitações académicas dos pais do empresário e
também o nível de rendimento dos pais do empresário.
Existe uma forte evidência empírica que mostra que os empresários fundadores descendem
em grande parte de famílias em que alguns dos seus membros, principalmente os pais, foram ou são
ainda empresários ou auto-empregados (Collins & Moore, 1970; Cooper & Dumkelberg, 1984;
Jacobowitz & Vidler, 1982; Shapero & Sokol, 1982; Wit & van Widen, 1989; Davidsson, 1995; Rubio
López, Cordón Pozo & Agote Martín, 1999). Assim, cabe também esperar que os alunos com progenitores ou familiares mais próximos que tenham estado envolvidos em actividades empreendedoras, tenham uma maior probabilidade de virem a ser empresários no futuro (Hisrish, 1990; Kets
de Vries, 1996; Grant, 1996), ou seja, podemos considerar que os antecedentes familiares empreendedores podem funcionar como um factor bastante importante na intenção empreendedora.
Uma infância difícil é um dos traços que caracteriza alguns empresários, levando-os a criar
uma empresa como forma de fugir à pobreza, à insegurança e ao abandono familiar (Collins & Moore,
1964; Veciana, 1989a). Além desta situação, segundo o estudo de Carvalho (1997), o nível educacional e o nível de rendimento do agregado familiar do empresário fundador na maioria dos casos
são bastante baixos. Assim, por este motivo seria interessante analisar as habilitações académicas
dos pais do aluno e também o nível de rendimento dos pais do aluno de forma a poder estabelecer-se uma relação com a intenção empreendedora.
Conhecimentos empresariais
Na literatura sobre o tema encontram-se vários estudos com a finalidade de investigar os conhecimentos empresariais, dos quais destacamos os estudos de alguns autores (McClelland, 1987; Mitton,
1989; Adam & Chell, 1993; Durkan, Harrison, Lindsay & Thompson, 1993; Martín & Staines, 1994;
Snell & Lau, 1994; Thompson, Stuart & Lindsay, 1996; Gasse, d`Amboise, Simard & Lasker,
1997; Lau, Chan, & Man, 1999; Man, 2001). Estes trabalhos sobre empresários abordam fundamentalmente a componente das competências necessárias para um desempenho do exercício da
actividade empresarial, tendo em conta diversas áreas do conhecimento relacionadas com a gestão
de empresas, das quais destacamos a oportunidade, a organização, a estratégia, o relacionamento, o
compromisso e o conceptual.
Uma das características mais distintivas do empresário é os seus conhecimentos relacionados com o sentido de oportunidade (Man, 2001). McClelland (1987) refere que se deve observar e
agir conforme as oportunidades, sendo então esta uma das características que deve estar presente
nos empresários de sucesso. Chandler e Jansen (1992) referem que uma das funções do empresário
é a habilidade que este deve ter para identificar e tirar o maior proveito das oportunidades de negócio que vão surgindo. Em Hong Kong, num estudo empírico realizado por Snell e Lau (1994),
chegou-se à conclusão que a rapidez que o empresário tem para aproveitar as oportunidades de
negócio que vão surgindo é uma característica muito importante para o crescimento da sua empresa.
Estas competências são semelhantes às identificadas pelo economista austríaco Kirzner (1979), em
que a visão por parte do empresário de novas oportunidades de negócio é considerada como sendo
um factor muito importante no processo de entrepreneurship. Outro aspecto igualmente importante
é a atitude proactiva que deve estar presente no empresário, para que este identifique novas oportunidades de negócio, apoiada por uma estratégia de marketing bastante agressiva direccionada para
as vendas (Adams & Chell, 1993; Hood & Young, 1993; Lau, Chan, & Man, 1999; Thompson,
Stuart & Lindsay, 1996). Deste modo, podemos considerar que esta área do conhecimento está
directamente relacionada com a constante procura, identificação e desenvolvimento de novas oportunidades de negócio, sendo esta uma capacidade que o empresário deve ter presente para um bom
desempenho da sua actividade empresarial.
Um empresário não trabalha sozinho e, obrigatoriamente, necessita de lidar com as outras
pessoas que fazem parte da empresa. Portanto, uma tarefa importante do empresário é tirar o maior
partido dos seus contactos e conhecimentos pessoais (Mitton, 1989). Assim, o empresário precisa
de desenvolver de forma correcta este aspecto, que pode estar presente na sua capacidade de comunicação, persuasão e nas relações inter-pessoais (McClelland, 1987; Durkan, Harrison, Lindsay &
Thompson, 1993; Lau, Chan, & Man, 1999; Gasse, d`Amboise, Simard & Lasker, 1997; McGregor,
Tweed, Kolb & Henley-King, 2000). Um estudo recente de Lau, Chan e Man (1999) veio demonstrar a importância da capacidade de relacionamento, que deve estar presente de forma constante nos
empresários de PME de Hong Kong, sendo este factor fundamental para o sucesso empresarial. Deste
modo, podemos considerar que as capacidades de relacionamento do empresário estão relacionadas
com a compreensão por parte deste das outras pessoas que trabalham na empresa, nomeadamente a
capacidade para interagir com os colegas, motivar os subordinados e dirigir projectos em equipa.
A área do conhecimento designada por conceptual representa uma categoria de competências que não é facilmente identificável no indivíduo, contudo, é considerada uma competência
importante para o sucesso empresarial. A capacidade cognitiva, o pensamento analítico, a aprendizagem, a tomada de decisões e a resolução dos problemas, são aspectos a ter em conta quando se
está a fazer uma análise das capacidades ao nível conceptual que devem estar presentes no empresário (Baum, 1994; McClelland, 1987; Bird, 1995; Hood & Young, 1993; Mitton, 1989). Podemos
considerar que os empresários podem melhorar o desenvolvimento da função empresarial no futuro.
Por exemplo, a capacidade que estes têm de aprender permite levar a cabo a utilização de uma
forma mais eficiente dos recursos da empresa (Lau, Chan, & Man, 1999; Snell & Lau, 1994),
assim como o pensamento analítico quando o empresário tem que enfrentar situações mais complexas
(Durkan, Harrison, Lindsay & Thompson, 1993; Eyre & Smallman, 1998). Convém referir que esta
área do conhecimento empresarial também é importante para manter a eficácia e a orientação do
empresário (Hunt, 1998; Lau, Chan, & Man, 1999). Da mesma forma os conhecimentos ao nível
da estratégia e os conhecimentos necessários ao nível conceptual requerem, por parte do empresário,
um nível mais abstracto de capacidades. Deste modo, podemos considerar que as capacidades
conceptuais do empresário estão relacionadas com a compreensão por parte deste da interacção
entre o meio envolvente e a empresa, nomeadamente a capacidade para ter uma visão alargada das
questões, ter uma perspectiva de longo prazo e tomar decisões complexas.
As capacidades que o empresário deve ter ao nível da organização são também um aspecto
importante para o bom desempenho da função empresarial. Esta característica distintiva do empresário
está relacionada com os conhecimentos administrativos que este deve ter para poder organizar bem
a sua empresa. A este respeito McClelland (1987) refere que a orientação para a eficiência, uma
elevada qualidade de trabalho e a formação dos trabalhadores deveriam ser factores fundamentais
para uma boa administração das várias áreas funcionais numa PME, para deste modo a manter a
funcionar de uma forma eficaz. Chandler e Jansen (1992) referem a importância da função administrativa
para um bom desempenho da função empresarial. Num estudo desenvolvido em Hong Kong, Snell e
Lau (1994) identificaram os factores que são necessários para o desempenho da função empresarial e
que devem estar relacionados com os conhecimentos de gestão financeira e de gestão de recursos
humanos. De facto, a gestão do pessoal é uma área do conhecimento bastante importante que deve
estar presente no administrador de uma PME e que requer por parte deste capacidades de liderança,
delegação e aprendizagem (Gasse, d`Amboise, Simard & Lasker, 1997; Martin & Staines, 1994),
bem como habilidades para trabalhar com o pessoal da empresa (Chandler & Jansen, 1992;
Durkan, Harrison, Lindsay & Thompson, 1993). Podemos considerar que, em geral, as competências da
organização são semelhantes às competências administrativas ou de gestão identificadas na literatura
(Boyatzis, 1982; Woodruffe, 1992; Cockerill, Hunt & Schroder, 1995; Evers & Rush, 1996).
Partindo do pressuposto que o empresário tem como função principal a direcção da empresa
no seu todo, logo, exige-se por parte deste uma visão bastante alargada do seu negócio (Durkan,
Harrison, Lindsay & Thompson, 1993; Mitton 1989; Snell & Lau, 1994; Thompson, Stuart & Lindsay,
1996), capacidades para definir bem quais são os objectivos da sua empresa (Snell & Lau, 1994) e,
por conseguinte, formular e implementar estratégias em conformidade com os objectivos do seu
negócio. A estratégia é o conjunto de decisões e acções da empresa que, de uma forma consistente,
visam proporcionar aos clientes mais valor que o oferecido pela concorrência (Freire, 1999). Assim,
para um bom desempenho da função empresarial é necessário ter capacidades para liderar a elaboração do planeamento estratégico da empresa (Bird, 1995; McClelland, 1987; Lau, Chan, & Man,
1999). Os investigadores Lau, Chan e Man (1999) consideram que a capacidade para implementar
o planeamento estratégico numa empresa, assim como a habilidade para lidar com as várias áreas
funcionais que foram definidas como estratégicas para a empresa, são fundamentais para o desempenho da função empresarial. Em resumo, esta área do conhecimento empresarial é fundamental
porque obriga o empresário a ter capacidades e habilidades numa perspectiva de visão alargada e
de longo prazo.
Os empresários de sucesso são caracterizados normalmente como pessoas diligentes e com
uma atitude responsável no seu trabalho, ou seja, eles têm um elevado rigor para com os seus compromissos, sendo pessoas determinadas e dedicadas e têm uma atitude proactiva relativamente às
suas responsabilidades e deveres. Os empresários que possuem esta capacidade terão então um forte
espírito de missão (Mitton, 1989). Esta área do conhecimento também poderá estar relacionada com
o motivo de realização de McClelland (1961) e que posteriormente vem referida em vários estudos
(Durkan, Harrison, Lindsay & Thompson, 1993; Eyre & Smallman, 1998; Hood & Young, 1993;
Martin & Staines, 1994). Outro aspecto que convém referir, relativamente a esta área do conhecimento, é a iniciativa ou orientação proactiva, que leva os empresários a desenvolverem determinadas
acções que prevêem de alguma forma os acontecimentos (McClelland, 1987). Podemos então
considerar que é necessário um grande sentido de responsabilidade, sendo esta uma capacidade
que deve estar presente no empresário para o bom desempenho da função empresarial.
Convém referir que, se compararmos a grande quantidade de estudos no campo dos conhecimentos sobre gestão, verificamos que o estudo dos conhecimentos para o desempenho da função
empresarial ainda está emergindo (Man, 2001). Enquanto a maioria dos estudos tende apenas a abordar
e identificar os vários tipos de conhecimentos empresariais, apenas alguns estudos analisam o desempenho da empresa (Baum, 1994; McClelland, 1987; Chandler & Hanks, 1994a). Na sua investigação
McClelland (1987) apenas investigou os empresários com um elevado nível de desempenho, contudo,
encontramos outros estudos empíricos desenvolvidos por Chandler e Hanks (1994a) e Baum (1994)
que analisaram os efeitos do nível dos conhecimentos empresariais no desempenho da empresa.
De acordo com a análise que fizemos sobre as diversas áreas do conhecimento, podemos
considerar que é razoável acreditar que os conhecimentos exigidos para o desempenho da função
empresarial têm um âmbito mais abrangente do que, por exemplo, as funções do simples gestor
empresarial. O empresário é responsável pelas decisões mais importantes na empresa, assim deve
mostrar um elevado nível de conhecimentos para aproveitar as boas oportunidades de negócio, para
relacionar-se com os outros, para ter capacidade de liderança, para correr riscos, para desempenhar
funções de gestão, para implementar o planeamento estratégico na empresa e para assumir
compromissos. Assim, podemos considerar que com estes conhecimentos empresariais é possível
construir uma empresa de sucesso.
Deste modo, foram incluídas no modelo seis áreas de conhecimentos empresariais (Quadro 1).
Por conseguinte, agrupamos os conhecimentos empresariais de acordo com o instrumento de avaliação
apresentado por Man (2001).
Podemos então supor que quanto mais (menos) elevados forem os conhecimentos empresariais maior (menor) será a probabilidade do indivíduo ter uma intenção favorável relativamente à
alternativa de criar a sua própria empresa, porque este sente-se melhor (pior) preparado para o
desempenho da função empresarial.
Motivações empreendedoras
Na literatura sobre o tema encontram-se vários estudos com a finalidade de investigar os
motivos que levam os empresários a criarem a sua própria empresa (Quadro 2). Por conseguinte,
agrupamos assim quatro motivações empreendedoras, de acordo com os trabalhos de Dubini (1988),
Scheinberg e MacMillan (1988), Alänge e Scheinberg (1988), Jesuíno, Reis e Cruz (1988), Carvalho
(1997), e Pereira (2001).
Estes trabalhos sobre empresários abordam fundamentalmente a componente das competências relacionada com as motivações para criarem o seu próprio negócio, tendo em conta quatro factores
motivacionais, dos quais destacamos a necessidade de independência, a necessidade de desenvolvimento pessoal, a percepção da instrumentalidade da riqueza e a necessidade de aprovação.
O empresário é caracterizado pela sua resistência a trabalhar em organizações hierárquicas,
sujeito a uma autoridade, sentindo então a necessidade de criar a sua própria empresa (Collins &
Moore, 1964; Shapero, 1975; Genesca & Veciana, 1984). Segundo Veciana (1989a) o desejo de independência está associado à realização pessoal, à possibilidade de pôr em prática as próprias ideias,
assim como de criar o próprio negócio. A necessidade de autonomia ou independência é um dos
motivos empreendedores que aparecem mais frequentemente citados nos estudos (Bamberger, 1986;
Cromie, 1988; Hamilton, 1988; Scheinberg & MacMillan, 1988; Scott & Twomey, 1988; entre outros).
A necessidade de desenvolvimento pessoal é um factor motivacional que foi investigado inicialmente por McClelland (1961) e que aparece também referido posteriormente noutros trabalhos
de investigação sobre empresários (Dubini, 1988; Alänge & Scheinberg, 1988; Jesuíno Reis & Cruz,
1988; Carvalho, 1997). As investigações de McClelland (1961) sobre as motivações revelaram que
os empresários são indivíduos que se caracterizam por terem grande necessidade de realização ou
necessidade de desenvolvimento pessoal, que este investigador designa nos seus trabalhos por
Need for Achievement (N-Ach). O factor necessidade de desenvolvimento pessoal pode ser entendido
como a necessidade que um indivíduo tem de realizar bem as suas tarefas, alcançando para o efeito
certos standards de excelência; não com o objectivo de obter um reconhecimento ou prestígio
social, mas sim para alcançar um sentimento de realização pessoal (McClelland, 1961; McClelland
& Winter, 1969). Os empresários são pessoas que normalmente têm uma grande necessidade de
realização, às quais estão associados seguintes atributos: assunção de responsabilidades individuais de
acordo com os resultados das suas acções (realização pessoal); tendência a correr riscos moderados;
capacidade de inovação; capacidade de avaliar o resultado das suas acções; capacidade de planear a longo
prazo (McClelland & Winter, 1969).
Segundo Veciana (1989a) alguma evidência empírica vem refutar a ideia bastante generalizada de que a obtenção de lucro é um dos principais factores motivacionais do empresário. Encontramos estudos empíricos onde se pode constatar esta situação (Bamberger, 1986; Cromie, 1988;
Hamilton, 1988; Carvalho, 1997), sendo ainda muito menor a importância deste factor nos países
escandinavos (Scheinberg & MacMillan, 1988). Shapero (1982) considera que o acto de criação de
uma empresa deve-se mais a factores negativos relacionados com a insatisfação pessoal do que a
factores positivos, como por exemplo o ganhar dinheiro ou obter lucro. No entanto, podemos considerar que este factor é sempre bastante importante na tomada de decisão de criar uma empresa.
A necessidade de aprovação é um factor que explica o valor que tem o empresário na sociedade (Davidsson, 1995). Convém referir que um elevado reconhecimento social da figura do empresário numa determinada sociedade tem influência na criação de novas empresas (Wilken, 1979;
Carvalho, 1997). Porém a inclusão deste factor no modelo pode ter uma menor importância quando
se estudam os factores motivacionais em outros países ou culturas (Scheinberg & MacMillan, 1988;
McGrath & MacMillan, 1992). No entanto, também podemos considerar que o enorme reconhecimento e importância que a figura do empresário tem na maior parte das sociedades tornam este
factor motivacional bastante importante na tomada de decisão de criar uma empresa.
Podemos então supor que quanto mais (menos) elevadas forem as motivações empreendedoras,
designadas por necessidade de independência ou autonomia, necessidade de desenvolvimento
pessoal, percepção da instrumentalidade da riqueza e necessidade de aprovação, maior (menor) será a
probabilidade do indivíduo ter uma intenção favorável relativamente à alternativa de criar a sua
própria empresa.
Auto-eficácia empreendedora
A teoria da auto-eficácia foi apresentada em 1977 por Bandura. A auto-eficácia explica o grau
em que uma pessoa acredita nas suas próprias capacidades para desempenhar uma determinada
tarefa. Trata-se de um traço de personalidade que afecta a motivação para realizar com sucesso as
tarefas, ou a selecção de uma carreira profissional, ou o grau de tolerância para enfrentar determinadas situações adversas e a percepção individual acerca do risco (Bandura, 1982).
Esta teoria faz a distinção entre a expectativa de eficácia e a expectativa de resultado. A expectativa de resultado define-se como a estimativa que o indivíduo faz de que determinado comportamento conduz a um determinado resultado, enquanto que a expectativa de eficácia é a convicção
de que ele próprio consegue realizar com sucesso, o comportamento necessário para produzir tais
resultados, ou seja, a expectativa de resultado e a expectativa de eficácia diferenciam-se porque o
indivíduo pode acreditar que determinada acção conduz a determinado resultado, mas, se tiver
dúvidas acerca da sua capacidade para realizar essa acção, a crença inicial não influencia o seu
comportamento (Bandura, 1977).
A teoria da auto-eficácia foi aplicada, por alguns autores, no estudo da intenção empreendedora.
Os modelos de Davidsson (1995) e Autio, Keeley, Klofsten e Ulfstedt (1997) apresentam como
principal determinante da intenção empreendedora a convicção individual. Este conceito é semelhante
à percepção da auto-eficácia, já apresentado noutros trabalhos teóricos (Boyd & Vozikis, 1994;
Krueger & Brazael, 1994; Krueger & Carsrud, 1993), como também em trabalhos empíricos na
área de investigação da intenção e do comportamento empreendedor (Scherer, Adams, Carley &
Wiebe, 1989; Krueger, 1994; Kolveried, 1996).
A convicção empreendedora adaptada do estudo de Davidsson (1995) refere-se à percepção
da viabilidade desenvolvida no modelo de Shapero e à percepção do controlo de comportamento, apresentada no modelo de Ajzen. Este conceito avalia a percepção individual sobre a viabilidade da criação
de um novo negócio.
Na avaliação da auto-eficácia os investigadores questionam os indivíduos sobre se conseguem
realizar com um determinado nível uma tarefa específica (as respostas são do tipo sim ou não) ou então
questionam-nos, utilizando para o efeito uma escala de avaliação que pode variar entre a total certeza
até à total incerteza, acerca do seu grau de confiança no desempenho de uma determinada tarefa (Lee
& Bobko, 1994).
Assim, foram incluídas as seguintes afirmações adaptadas do trabalho de Kolveried (1996), com
o objectivo de avaliar a auto-eficácia empreendedora (Quadro 3). Instrumento para a avaliação da auto-eficácia empreendedora).
Podemos então supor que quanto mais (menos) elevado for a auto-eficácia empreendedora, maior
(menor) será a probabilidade do indivíduo ter uma intenção favorável relativamente à alternativa de
criar a sua própria empresa.
Envolvente institucional
A percepção individual acerca da influência do meio-envolvente relacionado com a instituição
de ensino superior pode demonstrar até que nível este factor vai influenciar as aspirações empresariais
dos alunos (Autio, Keeley, Klofsten & Ulfstedt, 1997). De acordo com o trabalho destes autores
foram incluídas as seguintes afirmações, com o objectivo de avaliar a percepção individual da
influência da envolvente institucional (Quadro 4).
Pretende-se com este instrumento de avaliação analisar se existe um ambiente na instituição
de ensino superior que favorece e incentiva a iniciativa empresarial dos alunos. Podemos então supor
que quanto mais (menos) elevada for a percepção individual acerca da influência da envolvente da
instituição de ensino superior, maior (menor) será a probabilidade do indivíduo ter uma intenção
favorável relativamente à alternativa de criar a sua própria empresa.
Intenção empreendedora
Segundo Bird (1988) a intenção pode ser vista como um estado de espírito em que a atenção
da pessoa está dirigida para uma determinada situação, com vista a alcançar uma meta. Podemos
então considerar que a concretização da ideia de criar uma nova empresa é precedida pela intenção,
a qual por sua vez pode ser planeada durante algum tempo, porém, em alguns casos a intenção é formada no momento antes de se concretizar a ideia, e noutros casos, a intenção nunca coincide com a
realização do comportamento. Assim, a análise da intenção empreendedora pode ser assumida como
servindo para prever, embora de forma imperfeita, um determinado comportamento de um indivíduo em relação a fundar a sua própria empresa (Davidsson, 1995).
O factor intenção empreendedora tem sido abordado de forma diferente nos trabalhos de
investigação sobre o tema. Krueger (1993) utilizou no seu estudo uma variável dicotómica, sim ou
não, com a seguinte pergunta: Pensa em criar o seu próprio negócio? Davidsson (1995) utilizou uma
metodologia diferente, em que fez a análise da intenção empreendedora utilizando para o efeito um
conjunto de três questões: Já alguma vez pensou em criar o seu próprio negócio?; Considera que
dentro de um ano vai criar a sua própria empresa?, e Considera que dentro de cinco anos vai criar a
sua própria empresa? No estudo de Autio, Keeley, Klofsten e Ulfstedt (1997) a intenção empreendedora é apenas avaliada pela resposta à questão: Considera que dentro de um ano vai criar a sua
própria empresa?
No presente estudo consideramos ser melhor efectuar a análise da intenção empreendedora
utilizando apenas uma questão Pretendo vir a criar a minha própria empresa? Nos casos em que a
resposta é afirmativa, é pedido ao inquirido que refira se vai criar a empresa dentro de um ano, ou
dentro de um a cinco anos, ou então se já é empresário.
Conclusão
O actual clima de incerteza no emprego dos jovens demonstra a necessidade de criar alternativas para o futuro, sendo claro que o auto-emprego e, mais concretamente a criação de empresas,
pode funcionar sem dúvida como uma das soluções para resolver este problema. Não obstante já
terem sido efectuados diversos estudos empíricos sobre criação de empresas, pouca investigação
tem sido feita com o objectivo de detectar a vocação empresarial, pelo que este estudo pretendeu
acrescentar evidência empírica ao corpo do conhecimento sobre a intenção empreendedora. O
modelo explicativo sobre a intenção empreendedora descrito no presente estudo pode funcionar
como meio de detecção de potenciais empresários nas instituições de ensino superior, ou seja, pode
ser um instrumento essencial para o lançamento de novos empresários com formação superior.
De acordo com a apresentação e desenvolvimento do modelo podemos estabelecer um
quadro representativo das variáveis que fazem parte do modelo base de investigação (Quadro 5).
O modelo proposto pode vir a ser melhorado com a inclusão de alguns factores relacionados
com os traços de personalidade dos empresários, como por exemplo o locus de controlo, a tolerância
da ambiguidade, a auto-confiança, a propensão para correr riscos, a propensão para inovar,
perspicácia, etc., e também elementos relacionados com outras características e factores que
normalmente são estudadas nos trabalhos sobre esta área, como são o caso da insatisfação profissional,
o desemprego, obstáculos e as barreiras, os apoios institucionais, desenvolvimentos tecnológicos, a
estabilidade macro-económica, entre outros.
A finalidade do nosso trabalho entra em linha de conta com os aspectos referentes às componentes das competências denominadas por antecedentes pessoais, conhecimentos empresariais,
motivações empreendedoras, auto-eficácia empreendedora e envolvente institucional. Assim, constatamos ser também importante fazer um levantamento dos estudos que abordam de uma forma mais
específica as variáveis representativas de cada um dos factores. Apresentamos também os instrumentos, que consideramos serem mais convenientes para a avaliação dos diversos factores considerados no modelo.
Uma pergunta central que se pode estabelecer sobre este modelo é até que ponto as relações
entre as variáveis podem ser directas ou indirectas. De acordo com as características do modelo proposto apresentamos apenas a influência directa entre todos os factores de forma independente tendo
em atenção a intenção empreendedora, ao contrário doutros estudos (Krueger & Carsrud, 1993;
Davidsson, 1995; Autio, Keeley, Klofsten & Ulfstedt, 1997) em que a intenção empreendedora é
moderada por outros factores que fazem parte dos modelos por estes autores apresentados. Os
motivos pelos quais não analisamos as relações indirectas entre as diversas variáveis são porque o
modelo proposto é apenas exploratório e também não encontramos fundamentação teórica suficiente
para podermos estabelecer as relações entre os diversos factores que fazem parte deste modelo.
Contudo, encontram-se na literatura trabalhos onde algumas das variáveis representativas dos
antecedentes pessoais têm influência directa na auto-eficácia empreendedora (Autio, Keeley,
Klofsten & Ulfstedt, 1997; Reynolds, 1995).