Nota de Abertura
Nota de Abertura
Fruto de uma agradável coincidência, este número não temático de COeGreúne
vários trabalhos realizados por autores unidos por uma mesma língua, a
portuguesa, e oriundos do Brasil e de Portugal. A variedade é, uma vez mais,
uma das características principais das pesquisas agora apresentadas ao
escrutínio dos nossos leitores. Os temas são muito diversos, abrangendo a
gestão do conhecimento e a satisfação; as metodologias incluem estudos
quantitativos e abordagens qualitativas; as aplicações abarcam o marketing, as
finanças, ou a gestão; os contextos vão do sector da electrónica e da
computação ao de uma feira hippie.
No primeiro trabalho, uma equipa composta por autores oriundos do meio
académico e de um organismo público (Vasco Eiriz, Universidade do Minho; Jorge
Simões, Instituto Politécnico de Tomar; Miguel Gonçalves, Instituto do Emprego
e Formação Profissional) identifica os óbices à gestão do conhecimento nas
escolas de gestão e economia do ensino superior público em Portugal. Estes
autores conduzem um inquérito com questionário aplicado a docentes das escolas
de gestão e economia do ensino público, e registam 142 respostas válidas. Os
resultados apontam para os principais obstáculos à gestão do conhecimento, como
sejam a liderança e a organização, a comunicação, e os recursos
organizacionais.
No segundo estudo, Mário Franco e Tânia Ferreira (Universidade da Beira
Interior), exploram um modelo da 'organização que aprende'
(learning organisation) assente em quatro dimensões - cultura
organizacional, desenho organizacional, partilha da informação, e liderança
-, tendo, para o efeito, recorrido à Ydreams, uma empresa portuguesa com
um elevadíssimo índice de patentes no nosso país. Estes investigadores
constatam um elevado grau de concordância dos atributos teóricos com a
realidade na Ydreams, apresentando, em conclusão, uma breve discussão de como
se poderá operar mudanças no sentido da aprendizagem.
No terceiro artigo, Leonor Cardoso (Universidade de Coimbra), analisa cinquenta
organizações industriais do distrito de Viseu, com o fim de testar a hipótese
da influência da gestão do conhecimento sobre a competitividade organizacional.
A gestão de conhecimento foi definida operacionalmente através de um
questionário, com três dimensões: práticas de gestão do conhecimento,
orientação cultural para o conhecimento, e gestão social e discursiva do
conhecimento. Como medidas de desempenho, foram usados múltiplos indicadores
económicos e financeiros (e.g. rendibilidade do activo, taxa de crescimento
real média). Os resultados alcançados sugerem a existência de um impacto
positivo da gestão do conhecimento sobre a competividade da organização, facto
que é discutido pela autora.
O quarto trabalho tem origem num estudo etnográfico e discursivo, realizado por
uma equipa da Universidade Federal de Minas Gerais, composta por Thiago
Pimentel, Alexandre Carrieri, e Alfredo Leite-da-Silva. Estes autores
aproveitam a existência de várias organizações familiares presentes na Feira
Hippie de Belo Horizonte, em Minas Gerais, para discutir as ambiguidades
identitárias vividas pelos múltiplos actores sociais. Os resultados
apresentados ilustram os processos de construção e desconstrução de
identificações por parte dos gestores familiares, relativamente à Feira, em
determinados contextos ao longo de sua história.
No quinto estudo, Teresa Oliveira e Stuart Holland (Universidade de Coimbra)
produziram um texto em língua inglesa, no qual redefinem o conceito de capital
intelectual, remetendo para os conceitos de conhecimento, competências, e
experiência. Realçam ainda os constructos de conhecimento tácito e aprendizagem
implícita, em concreto para a aquisição de vantagem competitiva. Apresentam o
contributo desses dois constructos para a aquisição de competências formais e
informais. Por fim, explicitam a relação entre conhecimento tácito e explícito.
No sexto artigo, Éder Pinto (Fundação Getúlio Vargas) une dois quadros teóricos
da motivação e da satisfação - a teoria bi-factorial de Herzberg e o
modelo de Spitzer - com o fim de investigar a relação entre a
insatisfação com os sistemas organizacionais e a dissonância cognitiva no
atendimento a clientes. Baseado em questionários desenvolvidos a partir dos
quadros teóricos, analisou vendedores e respectivos clientes, em três unidades
de uma rede de vendas de veículos no Sul do Brasil. Os resultados permitem-nos
indagar sobre alguns refinamentos necessários às teorias, particularmente à de
Herzberg.
Por último, o artigo de opinião deste número de COeGé assinado por três autores
- Luciano Toledo, Karen Prado, e José Petraglia - da Universidade
Mackenzie (São Paulo, Brasil). A reflexão-ensaio que nos apresentam aponta para
a relevância do plano de marketing no contexto das actividades de marketing. O
tema é tratado na perspectiva de um sistema hierárquico de decisões, colocando-
se em destaque o marketing como uma função da troca e a importância do papel do
marketing no direccionamento da gestão estratégica. É ainda estudado o lado
determinante do plano de marketing bem como os seus principais equívocos. Este
trabalho conclui com a afirmação de que o plano de marketing não é uma solução
para todos os problemas de uma empresa. Apesar de tudo, ele tem uma função de
auxílio na antecipação dos estados futuros desejados, direccionando o caminho a
ser percorrido.
JORGE F. S. GOMES (Instituto Superior de Psicologia Aplicada)
ISPA - Instituto Superior de Psicologia Aplicada
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