Crentes e descrentes na globalização*
INTRODUÇÃO
As condições tecnológicas, o nível de conhecimento humano e científico e as alterações sociais que se verificam em muitos países, estão a criar as condições para que se
verifiquem mudanças em todas as sociedades. O aumento e o desenvolvimento de
novas tecnologias, dos meios de transporte, de informação e de comunicação, a profusão de produtos e serviços têm proporcionado mais conforto e satisfação a um
número sempre crescente de indivíduos que podem aceder a estes benefícios.
Porém, para os governantes, o actual processo de globalização pode não consistir no
modelo ideal, caso não se verifiquem melhorias nas condições de vida ou de conforto em todas as populações. A insatisfação de alguns contribui para o descontentamento geral e provoca instabilidade social que se reflecte a nível económico.
O termo globalização tem sido usado para descrever o actual processo de reestruturação político-económica mundial. A globalização é «(...) um conjunto variado de
processos que avançam graças a uma mistura de apoios políticos e económicos. Está
a alterar a vida quotidiana, (...), ao mesmo tempo que cria novos sistemas e poderes
transnacionais» (Giddens, 1999, p. 38). Para Giddens (1998, 1999), Llosa (2001) e
Wallerstein (2000a, 2000b, 1999), este é um processo de evolução da Humanidade e
que pode contribuir para que surja um novo sistema mundial, democrático e igualitário em termos de oportunidades. Globalização é um processo que pode transformar o mundo num espaço comum, eliminando as diferenças, ou melhor, as divergências conflituantes entre as nações e aproximando as culturas para a convivência pacífica.
A multiplicidade dos meios de informação e tecnologias permitem que a informação circule e esta pode despertar na consciência dos jovens alguns sentimentos
positivos e de esperança para o futuro ou de perigos e de descrença num mundo global dividido e cheio de inimizade entre os povos. Queremos, por isso, conhecer quais
os sentimentos e valores que os jovens associam ao presente modelo de desenvolvimento mundial.
VALOR
Num âmbito mais social, o termo valor pode ser definido como o princípio que
guia uma pessoa ou uma colectividade, a forma de ser ou de agir, que reconhecem
como ideal relativamente a outra (Kamakura e Novak, 1992). Representa a crença de
que uma condição é preferível a outra, assumida como pensamento ou comportamento de interesse comum. Para a Psicologia, é considerado «um julgamento relati-
vo permanente (apreciação subjectiva) (...) do que é importante procurar na vida (...),
quais os comportamentos mais apropriados para conseguir atingir os valores finais»1,
representando, estes últimos, os princípios que orientam o comportamento dos indivíduos.
Os valores associados à globalização representam as sensações ou a forma como os
indivíduos caracterizam o futuro que resultará do processo de globalização. Os receios
e as esperanças que esperam do futuro proveniente de uma crescente internacionalização das economias e consequente permuta de valores e ideias (Santos e Reis, 2005).
A diversa literatura sugere que os sentimentos face à globalização podem resultar ou
derivam das condições de vida dos indivíduos (Chomsky, 1999) e da evolução tecnológica que nos coloca a todos em contacto permanente (Naisbitt, 1994). Podem,
também, resultar das tensões sociais provocadas pelo aumento do desemprego em virtude da deslocalização da produção (Martin e Schuman, 1999; Santos, 1998).
Resulta, ainda, do maior nível de informação, da melhoria dos níveis de vida numa
grande parte da população mundial (Séguéla, 1998), da maior permuta de valores
(Therborn, 2000) e da grande mobilidade dos indivíduos (Belk e Costa, 1998;
Calantone et al., 1989).
GLOBALIZAÇÃO
O processo de globalização contribui para a permissibilidade das nações à invasão
de influências externas, o que pode pôr em causa ou destruir o que cada cultura tem
de único (Therborn, 2000; Ger, 1997). Alimenta uma maior propensão ao consumo
e sustenta as desigualdades (Ger e Belk, 1996; Gómez, 2000). Proporciona as
condições para a deslocalização das unidades de produção, com os consequentes
riscos para as economias e os problemas sociais inerentes (Murteira, 1995; Chomsky,
2003), contribuindo para o desemprego (Santos, 1998; Giddens, 1998). A procura
das multinacionais por países mais pobres com menores exigências de políticas
ecológicas e sociais contribui para uma maior ameaça ao ambiente (Ger e Belk,
1996), alerta para a ameaça de controlo da mão-de-obra, para o possível fim da
democracia (Casanova, 2000) e para o aumento dos excluídos (Murteira, 1995).
Existem, também, sentimentos positivos que se vislumbram neste processo de
aproximação de nacionalidades, das economias e da diluição das culturas. Um maior
desenvolvimento e crescimento económico (Giddens, 1999; Wallerstein, 2000a,
Greenspan, 2001). A globalização comporta um acesso da população em geral a
maior e melhor informação (Dickson, 2000) e a mais e melhores produtos (Kotler e
Armstrong, 1987; Watson, 2000; Twitchell, 2000).
A intensificação da concorrência consegue uma melhoria no nível de vida de todos
(Bagwell e Staiger, 2001) e é o caminho para uma maior aceitação das diferenças e,
provavelmente, para uma efectiva democracia (Giddens, 1998, 1999; Murteira,
1995).
A permuta de influências culturais não significa perdas de identidade ou o fim dos
diferentes normativos de cada cultura (Robinson, Landry e Rooks, 1998). A adopção
pelas empresas de políticas diferenciadas na produção (Ger e Belk, 1996), nos apelos
publicitários (Holbrook, 1993; Brodberick e Mueller, 1999) em países ocidentalizados, constitui a garantia da existência e sustentação de diferenças culturais. O aparecimento e desenvolvimento estilizado das diferenças culturais para cativar o turismo
(Ger e Belk, 1996; Belk e Costa, 1998) são a prova de que não é necessário nem se
tende para a homogeneização (Levitt, 1983), antes se alimenta a criatividade e diversificação (Thomas, 1999).
O processo de globalização também é tido como algo natural, que resulta da
evolução da Humanidade (Llosa, 2001; Wallerstein, 2000a; 2000b), que se traduz
numa repetição de outros momentos históricos (Wolf, 2001; Belk, 1997). A evolução
tecnológica, a permuta e mobilidade de pessoas e bens e a abertura dos mercados têm
consequências na forma como se organizam os Estados (Strycker, 1998; Wolf, 2001;
Giddens, 1999), proporcionando maior poder a organizações internacionais ou
transacionais (Chomsky, 2003; Casanova, 2000). Contudo, para todos os autores, é
pacífico que este processo coloca novos desafios às empresas e ao papel do Estado para
encarar a nova forma de organização mundial e das trocas comerciais.
D’Aquino (1996), citando Meyer, afirma que o desenvolvimento de muitos países
tem melhorado o nível de educação da população, produzindo uma classe média
global que partilha «similar concepts of citizenship, similar ideas about economic
progress, and a similar picture of human rights» (p.108). O que pode significar o
esbater das diferenças entre povos não como um processo de uniformização empobrecido, esquecendo ou eliminando as diferenças, mas como princípios comuns que
facilitam o entendimento entre populações.
Para as empresas os desafios colocam-se quer ao nível da organização interna
(Campos, 1997) quer ao nível da produção e inovação (Mesdag, 1999), bem como
no tipo de apelos ou na forma como se dirigem aos consumidores, (Kotler e
Armstrong, 1987; Cutler e Javalgi, 1992; Aaker e Maheswaran, 1997), razão pela
qual é necessário entender e conhecer os indivíduos e os seus valores. Neste sentido,
o nosso trabalho pretende verificar de que forma os jovens assistem e quais as preocupações e as vantagens que encontram neste processo de globalização.
METODOLOGIA
Santos e Reis (2005) apresentaram, através de uma validação da análise factorial da
escala de medida relativa aos valores associados à globalização, as 6 dimensões que
caracterizam e medem os sentimentos para com o processo de globalização, sintetizadas na Tabela 1.
TABELA 1
Dimensões ou valores associados ao Processo de Globalização
O estudo foi conduzido em diferentes países para garantir que os resultados proporcionavam informação que indiciasse os sentimentos da população mundial face ao
processo de globalização. Privilegiamos a população jovem universitária dos diferentes países, de forma a garantir a obtenção de opiniões mais precisas e melhor
definidas, em resultado da sua maior formação.
A dimensão total da amostra foi de 2012 estudantes universitários, repartidos
pelos diferentes países, grupos etários e sexo, de acordo com os dados da Tabela 2.
A partir das respostas obtidas, foi efectuada uma análise de componentes principais que, com a análise de consistência interna de cada dimensão (Agresti e Finley,
1999; Churchill, 1995; Leung e Bond, 1989), permitiu identificar e validar as
dimensões ou valores que os jovens associam ao processo de globalização (Santos e
Reis, 2005).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Efectuámos, posteriormente, uma análise de clusters ou agrupamentos de casos.
Uma metodologia que pretende identificar os grupos ‘naturais’ de jovens que apresentam sentimentos similares relativamente ao processo e conceito de globalização
(Chatfield e Collins, 1992; Reis, 2001). Esta análise permite-nos identificar os grupos de jovens com preocupações similares entre si e permite, ainda, encontrar as diferenças de opinião associadas com o processo de globalização.
Para escolher a melhor solução quanto ao número de grupos a definir, procedeu-se, em
primeiro lugar, a diversas análises exploratórias de agrupamentos com base em análise de
clusters hierárquicos para diferentes amostras aleatórias de 5% dos casos. Utilizou-se o
critério de agregação dos casos com base no método de Ward por ser aquele que mais se
assemelha com o método de K-means e utilizou-se como medida de semelhança o
quadrado da distância euclidiana (Reis, 2000). A solução escolhida foi a que identifica 4
grupos, porque apresenta conjuntos de indivíduos em proporções mais equilibradas
(Churchill, 1995; Hair et al., 1998) e porque esses subconjuntos representam sentimentos bem diferenciados face ao conceito de globalização. Posteriormente, através do método K-means e impondo a solução de 4 grupos, obteve-se a média dos scores estandardizados das componentes principais de cada grupo, conforme a Tabela 3.
Para confirmação desta classificação em quatro agrupamentos diferenciados, procedeu-se a uma análise discriminante das variáveis iniciais que estiveram na origem
das componentes principais. Verifica-se que a percentagem de grupos correctamente
classificados é de 92,0% e de 90,7% para a validação cruzada, enquanto que a análise
discriminante para as componentes obtidas permitiu verificar uma classificação correcta de 94% dos casos e 93,8%.
Ao analisarmos os scores médios estandardizados das CP’s para cada país, devemos
considerar o facto de que quanto mais elevado o score, mais elevada é a relação que os
jovens encontram entre as respectivas componentes principais e o processo de globalização. Os scores positivos indiciam que os jovens encontram uma relação acima da
média entre a componente principal e o conceito de globalização e que o nível dessa
afinidade é maior quanto mais elevado e positivo for o score. O contrário acontece
com as componentes principais que apresentam scores negativos, em que quanto mais
negativo menos relação os jovens encontram entre os factores em causa e o processo
de globalização.
A comparação dos scores médios indica, como seria de esperar, diferenças entre os
diferentes grupos e componentes. A primeira componente que representa a crença ou
descrença no Desenvolvimento Económico e Social Global difere entre todos os grupos.
Os grupos 2 e 4 apresentam diferenças face aos dois restantes grupos para as componentes Empresas e Organizações Transnacionais, o Consumismo e, ainda, a Livre
Circulação. A quarta componente Ameaças Sociais e Ecológicas apresenta diferenças
entre os grupos 3 e 4 e os dois outros grupos. Os grupos 1 e 2 diferenciam-se dos
restantes relativamente à componente Homogeneização, que se refere ao receio relacionado com a destruição e o esbater da diversidade cultural.
Com base nos 4 segmentos obtidos, de acordo com os scores médios, podemos designar o primeiro grupo como aquele que integra os Indiferentes ou Alheios (11%) aos
problemas relacionados com a globalização, porque apresentam valores negativos em
todas as CP, ou seja, não estabelecem qualquer relação entre as diferentes dimensões
e o conceito de globalização. O relativo baixo número de Indiferentes constitui algo
que se pode considerar positivo, porque significa que a maioria dos jovens não fica
alheio ao futuro do Planeta.
O segundo grupo poder-se-ia denominar como os Positivos, Optimistas ou
Sonhadores (32%), por demonstrarem que acreditam no Desenvolvimento Económico
e Social Global e relacionarem todas as restantes componentes com o processo de
globalização, com excepção das que têm conotações negativas. Não estabelecem uma
relação directa deste conceito com as componentes Ameaças de ordem social e ecológicas e Homogeneização, pelo que não temem que a globalização dê origem a ameaças
ao trabalho, aos direitos dos trabalhadores, a maiores problemas ecológicos ou que
contribua para destruir a diversidade cultural.
O grupo 3 é constituindo pelos jovens que têm sentimentos contrários ao do grupo
anterior. Podem designar-se por Pessimistas, Derrotistas ou Desconfiados (28%). Estes
apenas relacionam de forma clara a globalização com os medos, com os receios ou os
problemas que muitos consideram que venha a ser o resultado do actual modelo de
desenvolvimento das sociedades ocidentais. Estes jovens encaram a globalização
como um processo que conduz à perda da perda de identidade económica e cultural
(Ameaças Sociais e Ecológicas e da Homogeneização Económica e Cultural).
O último grupo de jovens relaciona positivamente todas as componentes principais
com o conceito de globalização. Aparentam estar na expectativa, com sentimentos
positivos mas também negativos face à globalização. Associam a este processo uma
melhoria das condições económicas, da utilização dos recursos, do emprego e de
justiça social para todo o Planeta, mas consideram possível que possam vir a ocorrer
alguns problemas sociais, ecológicos e culturais. Podemos, assim, intitular estes jovens
como Aderentes, Moderados, Tementes ou Realistas (29%) em relação ao processo de
desenvolvimento global.
Analisando esta classificação em função dos países (Tabela 4), estas diferenças entre
grupos passam a ser relevantes e permitem encontrar grupos diferenciados em cada
país.
O número elevado de jovens com sentimentos positivos relativamente ao futuro do
desenvolvimento económico pertence aos países africanos e aos países da Europa do
sul. O número de jovens que designamos por realistas é em número similar entre os
diferentes países, com excepção dos jovens de origem moçambicana que são em
menor número e os jovens chineses que são num número significativamente maior
que os restantes. Os moçambicanos são, também, em maior número entre os que se
manifestam alheios ao processo. Os jovens que mais temem o processo de desenvolvimento são os germânicos e os macaenses.
Podemos, então, concluir que grande parte dos jovens tem uma atitude positiva
face a um possível desenvolvimento económico global.
CONCLUSÃO
Podemos concluir, pelas diferenças detectadas, que as condições sócio-económicas
e principalmente as características culturais têm pouco efeito na forma como os indivíduos encaram o actual processo de globalização. Não é também claro que os indivíduos de países mais evoluídos economicamente, com melhores condições de vida,
mais informação e, consequentemente, melhores expectativas futuras, tenham uma
perspectiva quer mais consciente quer de maior esperança face ao futuro.
Os jovens crêem que a actual política de desenvolvimento mundial proporcionará
um Desenvolvimento Económico e Social Global mais democrático e acessível a todos,
embora também acreditem que com ele existem Ameaças Sociais e Ecológicas. Estes
jovens também consideram que se verificará o aumento e a melhoria da qualidade dos
produtos e do Consumismo, uma crescente liberalização de movimentos de bens e pessoas, Livre Circulação, da mesma forma que acreditam na necessária readaptação das
organizações para enfrentarem a mundialização da economia. A aproximação dos
povos, a massificação de informação e a permuta de imagens e influências através das
mais diversas formas fazem acreditar, a este grupo de jovens, que o processo de glo-
balização pode também concretizar um processo de Homogeneização Económica e
Cultural das culturas e economias.
Podemos também concluir, tal como Mitchell (1993), que esta geração aparenta ser
optimista e liberal, mas que tem consciência dos perigos que podem advir. Sabemos,
ainda, que as diferenças culturais (Gummesson, 1997) e o maior nível de informação
(Howard e Mason, 2001) podem determinar diferenças de valores mais positivos face
ao futuro.
De acordo com os valores associados ao processo de globalização, foi possível
encontrar quatro grupos de jovens que apresentam diferenças de sentimentos face ao
processo de globalização, de acordo com os receios, os sonhos, as expectativas ou
mesmo a indiferença. Os primeiros podem considerar-se Alheios a este processo,
porque não relacionam de forma positiva ou negativa qualquer das componentes ou
dimensões resultantes com o processo de globalização. Os segundos são designados
de Positivos, porque não temem as Ameaças Sociais e Ecológicas, nem a Homogeneização Económica e Cultural e estabelecem uma relação entre o processo de globalização e as restantes dimensões associadas a esse processo. Os designados por
Pessimistas constituem o grupo dos que estão em oposição aos anteriores, mas relacionam o processo de globalização com aquelas duas componentes. O grupo dos
Realistas é aquele que entende existir uma relação directa entre todas as componentes,
desde o Desenvolvimento Económico e Social Global até à Homogeneidade Económica e
Social.
Os que acreditam no Desenvolvimento Económico e Social Global fazem parte do
grupo de Sonhadores ou dos Realistas, porque confiam que o processo de globalização possa contribuir para um mundo melhor. São também estes jovens que relacionam as Empresas e Organizações Transnacionais, os efeitos ao nível da reorganização necessária das empresas e o papel que as instituições supranacionais poderão ter
no futuro, em resultado da globalização. O aumento do Consumismo é ainda encarado como uma consequência do processo de globalização pelos jovens que classificamos de Sonhadores e de Realistas. As potenciais Ameaças Sociais e Ecológicas são
consideradas como eventuais pelos jovens Pessimistas e Realistas. A liberdade de circulação de pessoas e bens, que é um dos princípios que norteia o actual processo de
globalização, é uma das dimensões que, como é lógico, está presente e é consciente
na maioria dos jovens. A excepção refere-se ao grupo de jovens menos confiantes no
futuro que designámos por Pessimistas e aqueles que aparentam estar Alheados do
processo de globalização. Por último, os receios da tendência para a Homogeneização
Económica e Cultural estão presentes nos Pessimistas e nos Realistas ao processo de
globalização.
A maioria dos jovens de cada país tem sentimentos que se podem considerar como
de aprovação do processo de globalização, porque se classificam nos grupos de jovens
com sentimentos positivos e realistas face a este processo. A excepção ocorre entre
macaenses, moçambicanos e alemães. Os primeiros, talvez porque atravessaram há
relativamente pouco tempo, um processo de mudança de administração territorial
(de Portugal para a China), que cria alguma insegurança; os moçambicanos, porque
ainda não há muito atravessaram uma guerra civil (Dana, 1996); e os germânicos ou
alemães, provavelmente, porque pertencem a uma cultura caracterizada pelos elevados níveis de ansiedade e insegurança (Hill, 2001; Hofstede, 1997).
Os jovens africanos, de Moçambique e do Quénia, com talvez menor informação e as
piores condições de vida, surgem classificados em grande número como Alheados do
processo de globalização. A falta de infra-estruturas nos países africanos, de meios de informação e comunicação, também em resultado de décadas de guerra em Moçambique, as
dificuldades de sobrevivência em dois dos países mais pobres do mundo (Dana, 1996;
World Bank, 2002), pode ter implicações na falta de visão ou no alheamento dos jovens
face a outros problemas ou preocupações mais distantes do seu dia-a-dia.
O maior número de jovens de Portugal, Espanha, Moçambique e Quénia aparecem
integrados no grupo dos Sonhadores. Os macaenses e alemães são os que apresentam
um maior número de jovens Pessimistas. Os jovens chineses estão mais classificados
como Realistas ou expectantes face ao processo de globalização.
Podemos, então, afirmar que a maioria dos jovens acredita no futuro do Planeta e
confia que o processo de globalização trará melhor desenvolvimento e tem consciência dos prejuízos que podem ocorrer para todos.
Este estudo contém, no entanto, algumas limitações. Necessita da condução de
mais inquéritos nos mesmos países aqui representados para validação destes resultados. A condução do mesmo inquérito em outras culturas permitiria perceber se a
escala utilizada se adequa a mensurar os resultados ou sentimentos relacionados com
a globalização, de forma universal. Para garantir a validade da escala de medida para
diferentes línguas para a comparação de estudos internacionais, a tradução deve ser
mais cuidada e conduzida por especialistas de diferentes línguas. A mesma frase em
diferentes linguagens pode ter diferentes significados ou interpretações e erros de
tradução podem agravar as possíveis diferenças entre culturas, pelo que devem ser
considerados alguns procedimentos de tradução descentrados ou não literais (Wender
e Campbell, 1970) e com base nesta última uma nova tradução para a língua original (Triandis, 1972), para assegurar a validade da escala de medida utilizada em diferentes linguagens.