Entre «esta» e «outra» globalização
No mercado global em que hoje se inserem as economias ditas «nacionais» mas
que, na realidade o são cada vez menos, movimentam-se, com maior ou menor
rapidez e sucesso, pessoas, mercadorias e capitais. Vista desta forma, a
economia mundial é um desfile constante e complexo de fluxos mais ou menos
interdependentes.
Mas, além das mercadorias transaccionadas, pessoas e capitais são de diferentes
naturezas: as pessoas podem ser imigrantes semianalfabetos ou qualificados
«trabalhadores do conhecimento» com competências específicas nas tecnologias da
informação e conhecimento; e os «capitais» podem ser dinheiro ágil procurando
aplicações mais rentáveis a curto prazo, ou equipamentos produtivos, como
máquinas e material de transporte, ou ainda conhecimento codificado de várias
formas, por exemplo, programas de software ou ficheiros informatizados sobre
métodos de gestão de organizações ou sistemas contabilísticos.
Em princípio, toda esta complexa engrenagem deveria, directa ou directamente,
contribuir para o «bem-estar» das pessoas, ou se preferirmos, para o
«desenvolvimento humano» mundial, que diversos órgãos do sistema da ONU todos
os anos diligentemente avaliam. Mas todos sabemos que não é simples a relação
entre o processo económico global e o «bem-estar» ou o «desenvolvimento humano»
da população mundial. E surgem épocas de crise em que esse relacionamento se
torna até contraditório, como parece estar a suceder nestes primeiros anos do
novo século.
Daí o interesse de análises como as que incluímos neste número sobre a evolução
recente da situação social no Brasil, em tempo do Presidente Lula da Silva, e a
situação em Portugal do movimento por «outra globalização», também originado
naquele país e depois difundido à escala mundial.
ERRATANa capa do penúltimo número desta revista, a autoria do artigo «Crentes e
descrentes na globalização» é erradamente atribuída a Alexandrino Manuel
Ribeiro. O artigo é de Fernando Augusto de Sá Neves dos Santos, como consta do
próprio texto da revista. Do erro pedimos desculpa aos autores referidos.