Home   |   Structure   |   Research   |   Resources   |   Members   |   Training   |   Activities   |   Contact

EN | PT

EuPTHUAp1645-44642014000200006

EuPTHUAp1645-44642014000200006

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolHumanities
Great areaApplied Social Sciences
ISSN1645-4464
Year2014
Issue0002
Article number00006

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.

O impacto da inovação na rendibilidade empresarial: O caso do setor têxtil português

Num mundo globalizado onde os desafios impostos pelos mercados são cada vez maiores, a concorrência mais agressiva, os produtos mais complexos e os consumidores mais exigentes, as empresas enfrentam novos desafios. Neste contexto, têm necessidade de rever a sua estratégia sustentada não numa política de preços, mas sobretudo no desenvolvimento de competências e capacidades, proporcionadas pela inovação dos produtos, dos serviços e de processos (Dias, 2007; Merino, 2011). A inovação afirma-se como um fator determinante da rendibilidade empresarial (Gopalakrishnan, 2000; Tidd, 2001) e do desenvolvimento económico, contribuindo para a resolução dos problemas de crescimento, produtividade e emprego (Kleinknecht e Oostendop, 2002; Kemp et al., 2003). Num mercado cada vez mais competitivo e dinâmico, as empresas devem adotar estratégias empreendedoras que lhes permitam reconhecer oportunidades, assumir riscos, inovar e criar novos empregos (Spencer et al., 2008).

Este estudo tem por objetivo avaliar o contributo da inovação para a rendibilidade empresarial no setor têxtil português. Esta opção prende-se com o elevado dinamismo desempenhado na economia portuguesa e com o facto de absorver uma parte muito significativa de mão-de-obra. Contudo, a concorrência das economias asiáticas e da deslocalização geográfica, tem conduzido a que o setor têxtil enfrente dificuldades acrescidas (Melo e Duarte, 2001; Vasconcelos, 2006). Neste âmbito, o caráter inovador de algumas empresas constitui um elemento diferenciador, justificando algum do dinamismo que este tem vindo a registar.

Para além desta secção de caráter introdutório, o estudo contempla quatro secções. Na seguinte procura-se contextualizar a problemática da inovação e o papel que esta desempenha na rendibilidade. Posteriormente, abordam-se a formulação das hipóteses, a definição da população e amostra, as variáveis em estudo e os procedimentos estatísticos. Depois analisam-se os resultados e na última indicam-se as principais conclusões.

Este estudo sugere que as empresas que inovam apresentam níveis de rendibilidade mais elevados, sendo ainda possível constatar que as empresas de maior dimensão e as exportadoras são mais inovadoras.

Revisão da literatura A globalização dos mercados, a emergência das novas tecnologias, a certificação dos sistemas de qualidade e o advento de novos produtos e serviços, levam as empresas a criarem estratégias sustentáveis para fazer face à concorrência (Arruda e Barcelos, 2009; Almeida, 2010; Pinto e Pinto, 2011). Esta intensifica-se com a globalização dos mercados e a internacionalização das empresas (Elche e González, 2008) e no seu cerne está a inovação (Stevens e Dimitriadis, 2005; Djellal e Gallouj, 2007).

A literatura evidencia um conjunto de fatores determinantes da rendibilidade empresarial, nomeadamente: inovação, globalização, vantagens/estratégias competitivas, formação de alianças, constituição de cluster e empreendedorismo, centrando-se este estudo no primeiro.

A inovação constitui um elemento fundamental para o crescimento e competitividade empresarial (Kaufmann e Todtling, 2001; Viotti, 2003; Anthony et al., 2008; Sousa e Monteiro, 2010). De acordo com Schumpeter (1942), a inovação manifesta-se através de: novos produtos ou melhoria de produtos existentes; novos métodos de produção; abertura de novos mercados; acesso a novas fontes de matérias-primas e novas formas de organização industrial.

As estratégias empresariais desenvolvem-se na competitividade e na criação de valor, resultado da qualidade e diferenciação dos produtos e na resposta oportuna às necessidades dos consumidores. Os fatores «não-preço» desempenham um papel central na competitividade, exigindo um esforço permanente de inovação (Andreasen et al., 1995; McDonough et al., 2008). Esta constitui a base do crescimento sustentável, na medida em que: agrega valor aos produtos, diferenciando-os da concorrência; permite conquistar novos conhecimentos e mercados; aumenta a rendibilidade e realiza novas parcerias. Deste modo, a inovação torna as empresas mais competitivas, diferenciando-as da concorrência, e prescindindo de estratégias de «baixo preço» (Séulima, 2010). Em suma, a inovação é um fator de alavancagem do desempenho económico-financeiro, expresso em termos de quota de mercado, rendibilidade e crescimento (Kleinknecht e Ostendoorp, 2002; Kemp et al., 2003).

A sua importância decorre da(o): globalização das economias; escassez de recursos; desregulamentação; aumento da intensidade competitiva; aceleração da inovação tecnológica; acréscimo da sofisticação dos clientes; redução do ciclo de vida dos produtos; excesso da capacidade instalada e individualização da oferta (Inova Mais, 2007).

Num estudo onde avalia a relação entre inovação e exportação, Wakelin (1998) concluiu, para uma amostra de 320 empresas do Reino Unido, que aquela tem um impacto positivo na abertura de novos mercados. Num trabalho levado a cabo na Noruega, Sandven e Smith (2000) mencionam que as empresas inovadoras apresentam taxas mais elevadas de crescimento de vendas, de emprego, de recursos (total do ativo) e de produtividade, relativamente às restantes. Numa investigação realizada sobre a indústria eletrónica de Taiwan, Yang et al. (2005) aludem que os gastos em Investigação e Desenvolvimento (I&D) constituem um fator determinante para o crescimento empresarial.

A inovação constitui: um motor do crescimento a empresa deve aproveitar as suas capacidades inovadoras para desenvolver novas atividades e criar novos valores (Muller et al., 2005; Silvaet al., 2008) e um fator-chave de competitividade desenvolvendo um esforço permanente para criar vantagens competitivas sustentáveis (Silva et al., 2003).

Ferreira et al. (2007), num estudo realizado na Beira Interior, concluem que a capacidade inovadora melhora o desempenho empresarial. Nesta linha, Marques (2004) conclui que as empresas inovadoras têm melhor desempenho e uma maior apetência para crescer e que o nível de intensidade tecnológica torna-se relevante no desempenho a curto e médio/longo prazo. Num trabalho dedicado ao tecido empresarial francês, Crépon et al. (1998) concluem que as empresas envolvidas em atividades inovadoras apresentam produtividades mais elevadas.

Em jeito de síntese, os trabalhos anteriores salientam o papel determinante da inovação no desempenho empresarial.

No entanto, o processo inovador está sujeito a constrangimentos de várias ordens: económica, empresarial ou de índole diversa (Eurostat, 1997). Entre os fatores económicos a referir: riscos excessivos; custos elevados; escassez de recursos financeiros e prazos muito dilatados na recuperação do investimento. Relativamente aos fatores empresariais destacam-se: potencial de inovação insuficiente; mão-de-obra pouco qualificada; ausência de informações relativamente à tecnologia e aos mercados; difícil controlo dos gastos de inovação; resistência à mudança; insuficiência no acesso a serviços externos e inexistência de oportunidades em cooperar. Por fim, as razões de natureza diversa: falta de oportunidade tecnológica; carência de infraestruturas; ausência de necessidade em inovar (fruto de inovações anteriores); fraca proteção dos direitos de propriedade e legislação, impostos e clientes indiferentes a novos produtos e processos.

Metodologia · Hipóteses formuladas A revisão da literatura permitiu realçar o papel da inovação na melhoria dos resultados empresariais. Neste sentido, e tendo presente o objetivo do estudo (contributo da inovação para a rendibilidade empresarial), formula-se a principal hipótese de investigação: H1: A capacidade inovadora da empresa influencia positivamente a sua rendibilidade.

Como expõe Schumpeter (1982), as empresas de maior dimensão têm maior apetência para inovar. Seguindo este raciocínio, pretende-se avaliar se no setor têxtil a dimensão empresarial está relacionada com a inovação. Assim, enuncia-se a seguinte hipótese: Ha: Quanto maior é a dimensão da empresa, maior é a propensão para inovar.

Um número significativo de trabalhos indica que a concorrência empresarial se intensificou, essencialmente fruto da globalização e internacionalização do mercado. Neste âmbito, é importante aferir se as empresas com uma componente exportadora apresentam uma maior capacidade para inovar, formulando-se a seguinte hipótese: Hb: As empresas que atuam em mercados geográficos mais abrangentes têm maior propensão para inovar.

· População e amostra O universo objeto de estudo é o setor têxtil português que assumiu um papel de relevo na economia portuguesa pelo seu dinamismo. De acordo com os dados da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, em 2010, o setor contribuía com 10% das exportações portuguesas, 19% do emprego, 8% do volume de negócios e 8% da produção da indústria transformadora.

Os dados necessários para a elaboração deste estudo foram recolhidos do Inquérito Comunitário à Inovação de 2008 (Community Innovation Survey CIS) e do Sistema de Análise de Balanços Ibéricos (SABI).

O CIS constitui o principal instrumento estatístico para medir os processos e objetivos da inovação nas empresas europeias, sendo realizado sob as orientações metodológicas do Eurostat (Sumários Estatísticos CIS 2008). O CIS 2008 é a sétima operação estatística desta natureza realizada em Portugal, sendo conduzido sob a responsabilidade do Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais, organismo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (GPEARI/MCTES).

A recolha de dados decorreu em Portugal de 21 maio de 2009 a 12 de abril de 2010, tendo sido validadas 6593 respostas das 7952 empresas que participaram no inquérito, correspondendo a uma taxa de resposta de 83% (Sumários Estatísticos CIS 2008). A informação recolhida pretende caraterizar a atividade de inovação ao nível do produto, processo, estrutura organizacional e marketing, no tecido empresarial português entre 2006 e 2008.

Para este estudo, apenas se tiveram em conta as empresas do setor têxtil, sendo 631 as que tinham informação disponível. Complementou-se esta informação com dados económico-financeiros extraídos da SABI[1] (versão 32.0). Os dados para este estudo resultam, pois, de informação recolhida no CIS 2008 e na SABI, sendo a amostra constituída por 418 empresas.

· Variáveis e procedimentos estatísticos Para este estudo, consideraram-se duas formas de inovação, de acordo com os dados do CIS 2008: inovação em produto[2] e inovação em processo[3] (Sumários Estatísticos CIS 2008).

A capacidade inovadora é medida por uma variável dicotómica que assume o valor 1 (um) quando a empresa introduz um produto ou processo novo ou significativamente melhorado (para a empresa e/ou para o mercado) e 0 (zero) nas restantes situações.

Através de varáveis binárias (1: sim; 0: não) foram identificadas as empresas que inovam em produto, em processo, em ambos e, ainda, as empresas que inovam em produto (independentemente de inovarem em processo) e em processo (inovando ou não em produto).

Para caraterizar a percentagem do volume de negócios de 2008 que resulta da inovação em produto, o CIS 2008 contempla três variáveis: percentagem do volume de negócios de 2008 como resultado de produtos novos para o mercado da empresa; percentagem do volume de negócios de 2008 resultante de produtos novos apenas para a empresa e não para o mercado; e percentagem total do volume de negócios de 2008 resultante de novos produtos (a soma dos anteriores).

Para medir o investimento em atividades de inovação, consideraram-se as seguintes despesas: I&D realizada no seio da empresa: incorrida com a introdução da inovação nas atividades de I&D ; aquisição externa de I&D: suportada com as atividades de I&D realizadas fora da empresa; aquisição de equipamento e software: correspondentes à aquisição de equipamentos e software para a realização de atividades inovadoras; e aquisição de outros conhecimentos externos: gastos suportados com a aquisição de conhecimentos externos, fruto das atividades de inovação.

Foi também considerado o mercado de atuação da empresa, expresso pelas seguintes variáveis: exportação variável dicotómica que assume o valor 1 (um) se a empresa exporta bens/serviços e 0 (zero) quando não exporta; e mercado geográfico identifica o mercado com maior representatividade no volume de negócios, desagregando-se em mercado local/regional, mercado nacional para além do local/regional e mercado internacional.

Para aferir a relevância da dimensão empresarial na capacidade inovadora, subdividiu-se a amostra em empresas pequenas, médias e grandes[4].

A importância atribuída a determinados objetivos da inovação (de produtos ou processos) para o período de 2006-2008 foi também ponderada neste trabalho. Os dados do inquérito CIS 2008 incluem informação sobre 13 rubricas que medem a importância atribuída a diversos objetivos para a inovação de produto ou processo.

As rubricas contempladas no CIS 2008 são as seguintes: alargamento da gama de produtos; substituição de produtos ou processos desatualizados; entrada em novos mercados; aumento da quota de mercado; melhoria da qualidade dos produtos; melhoria da flexibilização na produção; aumento da capacidade de produção; melhoria da saúde e segurança; redução dos custos de trabalho por unidade produzida; redução do material utilizado por unidade produzida; redução da energia utilizada por unidade produzida; redução do impacto ambiental e estar de acordo com as regulamentações ambientais, de saúde e de segurança.

Quanto à variável dependente desempenho empresarial é expressa por: rendibilidade dos capitais investidos (RCI = Resultado Líquido 08 / Ativo Total 08) indica o resultado líquido gerado por unidade de capital investido; rendibilidade operacional do ativo (ROA = Resultado Operacional 08 / Ativo Total 08) quantifica o resultado operacional por unidade de capital investida; e rendibilidade operacional do volume de negócios (ROVN = Resultado Operacional 08 / Volume de Negócios 08) exprime o resultado operacional por unidade vendida.

A análise de dados foi efetuada com o recurso à comparação de grupos e à estimação de modelos de regressão linear e logística. Adicionalmente, recorreu- se à análise fatorial que permitiu reduzir o número de variáveis explicativas dos objetivos de inovação. Variáveis contínuas são expressas através da média ± desvio padrão e variáveis categóricas através de percentagens. A comparação de grupos para variáveis quantitativas foi levada a cabo pelo Teste T e/ou pelo Teste de Mann-Whitney, bem como pelo Teste de Kruskal-Wallis. Para variáveis categóricas utilizou-se o Teste de Qui-quadrado. A aplicação destas técnicas de análises de dados foi levada a cabo com recurso ao software Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 19.0.

Para testar as hipóteses formuladas, utilizou-se como referência para aceitar ou rejeitar a hipótese nula um nível de significância de 0,05.

Análise de dados e resultados · Caraterização da amostra Neste trabalho, consideram-se inovadoras as empresas que inovam em produto ou em processo, sendo a amostra em estudo constituída por 418 empresas, das quais 273 (65,31%) não inovam e 145 (34,69%) inovam.

Quanto à dimensão das empresas, a amostra em estudo é constituída maioritariamente por pequenas empresas (54,78%), seguindo-se as médias (37,32%) e por último as grandes empresas que perfazem (7,89%).

Ao nível de exportação, um maior número de empresas que exportam (61%) relativamente às que atuam no mercado doméstico (39%).

Quanto ao mercado com maior peso no volume de negócios, para 38,5% das empresas analisadas, o mercado com maior peso no volume de negócios é o mercado local/ regional em Portugal; este mercado alarga-se a nível nacional para 32,06% das empresas e a nível internacional para 29,43%.

· Inovação e rendibilidade Para avaliar a principal hipótese em estudo, comparou-se o desempenho das empresas que inovam (em produto ou em processo) com as que não inovam.

Constatou-se que as empresas que inovam apresentam valores significativamente mais altos de RCI (0,0143 ±0,11017 versus -0,0332 ±0,17458; p=0.001), assim como de ROVN (0,0143 ±0,1016 versus -0,0149±0,15720; p=0.007) e de ROA (0,0420±0,12202 versus 0,0036±0,17767; p=0.002).

Aferida a relevância da inovação na rendibilidade, o passo seguinte consiste em avaliar o papel da dimensão empresarial e do mercado geográfico como determinantes do caráter inovador, como preconizam as hipóteses Ha e Hb.

Com recurso ao Teste do Qui-quadrado, constatou-se que a percentagem de empresas inovadoras se diferencia em função da dimensão, estando, pois, esta relacionada com a capacidade de inovar (p<0.0005). São as empresas de maior dimensão as que apresentam maior capacidade inovadora. Apenas 26% das pequenas empresas são inovadoras. Nas médias empresas esta percentagem sobe para 42% e nas grandes empresas para 61%.

Quanto ao caráter exportador, o Teste do Qui-quadrado evidencia que mais empresas inovadoras no grupo das empresas que exportam do que no grupo das que não exportam (43% versus 22%, p<0.0005).

Para reforçar esta análise, considera-se o mercado geográfico com maior peso no volume de negócios da empresa. Mais uma vez, encontram-se diferenças significativas (p<0.0005, Teste do Qui-quadrado), verificando-se que a capacidade inovadora aumenta com a dimensão do mercado. De facto, a percentagem de empresas que inovam é de 25% no grupo das empresas que tem como principal mercado o local/regional, crescendo para 35%no grupo das empresas que alargam o seu mercado a nível nacional e para 47% no grupo das que atuam em mercados internacionais.

As conclusões anteriores são reforçadas numa análise multivariada, através da construção de modelos de regressão logística. A inovação é, pois, a variável dependente destes modelos, onde se explora o efeito conjunto dos atributos anteriores, como determinantes da propensão à inovação.

A Tabela_1 apresenta os modelos de regressão logística ajustados, primeiramente com o ROVN como variável explicativa para medir a rendibilidade da empresa, depois substituindo esta variável pelo RCI e, por último, considerando a ROA.

Note-se que, na dimensão da empresa, a categoria de pequenas empresas foi tomada como referência e na variável de exportação tomou-se como referência a categoria «não exporta».

Os modelos estimados revelam que, independentemente da variável utilizada para aferir a rendabilidade empresarial e do facto de exportar ou não, as grandes empresas apresentam significativamente maior capacidade inovadora relativamente às pequenas, verificando-se o mesmo para as médias empresas relativamente às pequenas.

Confirma-se, também, a relação citada entre a rendibilidade empresarial e a capacidade inovadora: maiores rendibilidades estão associadas a maior propensão para inovar, independentemente do tamanho da empresa e de esta exportar ou não.

A exportação revela-se também como um fator independente de propensão à inovação.

Os três modelos estimados revelam resultados bastante semelhantes, independentemente da variável utilizada para aferir a rendibilidade (ROA, RCI ou ROVN), sustentando a sua robustez.

Acrescente-se que o mercado geográfico com maior peso no volume de negócios se revela um fator relevante da propensão à inovação, se não tivermos em conta o tamanho da empresa e a sua situação relativamente à exportação. Os modelos logísticos estimados com esta variável são apresentados na Tabela_2. Estes modelos evidenciam que, independentemente da rendibilidade da empresa, as empresas que atuam em mercados mais abrangentes têm maior apetência para serem inovadoras.

Os resultados obtidos validam as hipóteses formuladas em Ha e Hb. Relativamente a Ha, o estudo apresenta-se em sintonia com os resultados obtidos por Schumpeter (1942), Marques (2004), Ferreira et al. (2007), contudo contrariam Rothwell e Dodgson (1994) e Tidd (2001) que referem que a dimensão tem um efeito negativo na capacidade inovadora. Quanto a Hb, os resultados obtidos estão em sintonia com os trabalhos de Silva et al. (2003), não validando, no entanto, as conclusões de Ferreira et al. (2007).

· Objetivos de inovação Com o recurso à análise fatorial, reduziu-se o número de fatores que explicam o padrão de respostas relativas aos objetivos de inovação. Estes objetivos são medidos por um conjunto de 13 rubricas constantes do questionário CIS 2008 e enunciados na secção sobre «Variáveis e procedimentos estatísticos». A análise realizou-se a partir da matriz das correlações e para a extração dos fatores recorreu-se ao método das componentes principais. Adotou-se o critério de Kaiser para determinar o número de fatores a reter. Segundo este critério, são retidos os fatores associados a valores próprios superiores a 1, obtendo-se três fatores que, no seu conjunto, explicam 72,1% da variação total registada nas 13 rubricas empregues.

A adequabilidade dos dados à análise fatorial avaliou-se através da estatística KMO, que apresentou um valor de 0,848, sendo um indicador que aconselha a utilização desta técnica.

A Tabela_3 apresenta os pesos fatoriais (loadings), a partir dos quais se atribuiu um significado a cada um dos fatores.

Da análise à Tabela_3, verifica-se que o fator 1 está associado à importância dada aos objetivos ambientais, de poupança e de saúde/segurança; o fator 2 aos objetivos de melhoria de produção; e o fator 3 aos objetivos de melhoria de produtos e mercado.

Para analisar a consistência interna utilizou-se o Alfa de Cronbach, obtendo-se 0,924 para o fator 1, 0,876 para o fator 2 e 0,812 para o fator 3. Estes valores são indicativos de boa consistência interna.

Os fatores extraídos através desta técnica são utilizados nos modelos de regressão linear da secção seguinte, ajudando a explicar a rendibilidade das empresas inovadoras.

· Determinantes da rendibilidade nas empresas inovadoras Pretendendo-se investigar que atributos condicionam a rendibilidade das empresas que inovam, consideraram-se modelos de regressão linear múltipla com as variáveis de rendibilidade como dependentes. Através de métodos automáticos de seleção de variáveis, explorou-se a relevância estatística do conjunto de variáveis explicativas apresentadas na secção «Variáveis e procedimentos estatísticos», com os objetivos de inovação medidos através dos três fatores descritos na secção anterior.

Os resultados estão sumariados na Tabela_4, constatando-se que a rendibilidade dos capitais investidos é positivamente influenciada pelas despesas em atividades de I&D externa e negativamente pelo fator atribuído à importância de objetivos de melhoria de produtos e mercado, sugerindo que as empresas que dão maior importância a este objetivo incorrem em gastos que se refletem negativamente na rendibilidade. O modelo evidencia, ainda, que a inovação apenas em processo tem um impacto negativo na rendibilidade, embora com pouca significância.

Quando se adota a rendibilidade operacional do volume de negócios como variável dependente, os resultados revelam um impacto positivo da percentagem do volume de negócios de novos produtos para a empresa e negativo na importância atribuída aos objetivos de melhoria de produtos e mercado.

Quanto à rendibilidade operacional do ativo, a única variável que se apresenta estatisticamente significativa é a importância atribuída aos objetivos de melhoria de produtos e mercado, sendo a sua influência negativa.

Dos modelos estudados, o que apresenta maior poder explicativo, quando rendibilidade, é aquele em que se considera a rendibilidade dos capitais investidos como variável dependente, com 11,3% de variação explicada.

Conclusões Os resultados deste estudo sugerem que as empresas que inovam apresentam maior rendibilidade, que as empresas de maior dimensão são as que mais inovam e que mais empresas inovadoras entre as que atuem em mercados geográficos de maior dimensão.

Para as empresas que inovam, identificou-se um conjunto de atributos associados à inovação que condicionam a rendibilidade. Verificou-se que as despesas com atividades de I&D externas, a importância atribuída aos objetivos de melhoria de produto e mercado e a inovação apenas em processo explicam 11,3% das variações da RCI, tendo as duas últimas um impacto negativo e a primeira um efeito positivo. Relativamente à ROVN, a percentagem do volume de negócios de novos produtos para a empresa tem um efeito positivo e a atitude face aos objetivos de melhoria de produto e mercado tem um efeito negativo, explicando estas variáveis 5,6% da variação do ROVN. Também os objetivos de melhoria de produto e mercado têm um impacto negativo no ROA, justificando 5,5% da sua variabilidade.

Em síntese, os resultados alcançados permitem validar as hipóteses inicialmente formuladas, tornando evidente que as empresas que inovam apresentam maior rendibilidade. A inovação surge como um elemento determinante para a criação de riqueza e elemento diferenciador face à concorrência.

Como principal limitação deste trabalho, refere-se o facto de um número reduzido de empresas inquiridas desenvolveram atividades de inovação. Um número mais elevado permitiria uma melhor identificação da dimensão em estudo e ampliar o seu âmbito.


Download text