«Stakeholder theory»: Análise nos periódicos brasileiros a partir da
bibliometria
A ideia de que as organizações têm stakeholders já se tornou senso comum na
literatura de gestão, tanto acadêmica quanto profissional (Donaldson e Preston,
1995). Foi a partir de 1984, com a publicação do livro Strategic Management: A
Stakeholder Approach, que se referia ao termo stakeholder como «qualquer grupo
ou indivíduo que afeta ou é afetado pelo alcance do objetivo da organização»
(Freeman, 1984, p. 46), que houve crescente aumento na produção de conceitos e
definições, bem como disseminação em vários campos.
Freeman (1984) buscou explicar o vínculo entre a empresa e o ambiente externo,
em que a organização está localizada no centro de várias relações
interdependentes de diversos grupos, o que fez pensar as relações de forma
diferenciada. Cada grupo apresenta diversas necessidades e expectativas
esperadas pela relação estabelecida e a empresa deve realizar um equilíbrio de
interesses para que não ocorram conflitos e sua existência se torne estável. A
definição clássica caracteriza-se por abranger os consumidores, funcionários,
fornecedores, acionistas, credores, parceiros, governos, comunidade, entre
outros (Friedman, 2006).
Como teoria, os estudos de stakeholders têm se solidificado entre os acadêmicos
e profissionais do campo da gestão e estratégia. Apesar da relevância à
administração e ambiente organizacional, o campo de investigação científica
sobre stakeholders ainda está em formação e encontra-se, de certa forma, em uma
situação precária na literatura brasileira. É inegável o contraste do cenário
brasileiro quando comparado com o âmbito internacional, em que há quantitativo
considerável de obras disponíveis.
Logo, este artigo tem como objetivo identificar o perfil dos autores que
publicam sobre stakeholder theory no cenário brasileiro, bem como as obras mais
relevantes e citadas pelos autores, a partir dos recursos metodológicos da
bibliometria. Esse objetivo esteve orientado sobre a seguinte problemática:
Qual o perfil dos autores que publicam sobrestakeholder theoryno Brasil Quais
as referências mais citadas e relevantes para o campo em estudo
O artigo está estruturado da seguinte forma: além da introdução, tem-se
enquadramento teórico com os fundamentos da teoria dos stakeholders e aspectos
das ferramentas bibliométricas. Na sequência, são apresentados os procedimentos
metodológicos, resultados, considerações, limitações e implicações teóricas.
Fundamentação teórica
Essa seção foi dividida em duas partes, sendo que a primeira centra-se na
stakeholder theory e a segunda apresenta a bibliometria e suas respectivas
leis.
. A teoria dos Stakeholders
Para Freeman et al. (2010), a teoria dos stakeholders surgiu como uma versão
para compreender e solucionar três problemas de negócios: compreensão de como o
valor é criado e comercializado; conexão da ética e do capitalismo; e ajuda a
pensar sobre a gestão de tal forma que os dois primeiros problemas são
abordados. Muitas vezes a teoria dos stakeholders é aplicada de maneira
incorreta ou inoportuna, como: desculpa para o oportunismo gerencial;
preocupação com a distribuição de resultados financeiros; tratamento
igualitário dos envolvidos; exige mudanças na legislação atual; é socialista e
se refere a toda a economia; e é uma doutrina moral abrangente (Freeman et al.,
2010).
Como teoria, «os estudos de stakeholders têm passado por evoluções
significativas, sobretudo nas últimas duas décadas, com uma forte conotação
gerencial e até mesmo com evoluções no campo social» (Costa et al., 2011, p.
2). O interesse da teoria se enraizou no campo da gestão estratégica, em
seguida, se transformou em teoria da organização e ética empresarial (Laplume
et al., 2008). Para Freeman et al. (2010), deve-se pensar a teoria como um
gênero de teoria da administração. No cenário internacional passou por três
períodos: incubação de 1984-1991; desenvolvimento da teoria de 1991-1998, e
maturidade a partir de 1999-presente (Laplume et al., 2008).
Quanto aos modelos teóricos, podem ser destacados os trabalhos: Freeman (1984),
Hill e Jones (1992), Jones (1995), Clarkson (1995), Donaldson e Preston (1995),
Mitchell et al. (1997), Frooman (1999), Friedman e Miles (2002) e Reed et al.
(2009), os quais foram sintetizados na sequência. Freeman (1984) procurou
explicar o vínculo da empresa com o seu ambiente externo, em que cada grupo
presente no ambiente possui necessidades e expectativas em relação às
atividades empresariais. Assim, a empresa, que se encontra no centro dessas
relações e faz o nexo entre elas, precisa realizar um equilíbrio entre os seus
interesses e dos diversos grupos de stakeholders com quem se relaciona.
Hill e Jones (1992) relacionam a teoria dos stakeholderscom a da agência e
estabelecem mecanismos para certificar que os administradores realizem ações
para atender os interesses dos proprietários. Nessa concepção orientam uma
distinção entre os stakeholders que possuem baixa participação na empresa dos
que possuem alta participação, uma vez que estes exigiriam incentivos mais
abrangentes, e, assim, a empresa deveria investir mais em mecanismos de
incentivos aos grupos com alta participação. Além disso, os administradores
seriam os agentes de todos os stakeholders, devendo tomar decisões estratégicas
com o objetivo de alocar da melhor forma os recursos para satisfazer os grupos
de stakeholders.
Sob o enfoque de Jones (1995), a empresa é caracterizada como um nexo de
relações contratuais com seu amplo leque de stakeholders.Tais relações variam
no que se refere ao seu grau de formalidade, podendo assumir um caráter mais
formal ou informal. Os contratos formais são estabelecidos com os detentores de
recursos (empregados e fornecedores), enquanto os contratos informais são
desenvolvidos pela empresa junto à comunidade, a qual está inserida. Nesta
visão, a organização busca encontrar estratégias para proporcionar o equilíbrio
na gestão contratual de stakeholders e manutenção dos relacionamentos.
Para Clarkson (1995), grupos com interesses e direitos semelhantes podem ser
agrupados e classificados conjuntamente. Sugere um significado mais restrito e
estratifica em primários e secundários, de acordo com o grau de importância que
cada grupo representa à empresa. Os primários possuem elevado grau de
interdependência com a empresa (acionistas, empregados, consumidores e
fornecedores), os quais possuem papéis determinantes para o fortalecimento da
organização no seu mercado e sem a participação e contribuição deles a empresa
pode não sobreviver. Os secundários são compostos por grupos que influenciam e
são influenciados pela empresa, mas que sua ausência não afeta diretamente a
existência da organização (comunidade e outras organizações).
Donaldson e Preston (1995) ressaltam as diferenças do modelo convencional
baseado na simples entrada e saída de recursos para o baseado nos
stakeholdersem dois modelos contrastantes, pois enquanto o tradicional tinha a
organização como papel central (somente entrada ou saída), o novo tem os
relacionamentos de entrada e saída, respectivamente. Para superar a deficiência
e confusão das bases teórica e prática, desenvolvem uma classificação à teoria
dos stakeholders respaldada em três aspectos: descritivo/empírico (a empresa é
vista como uma constelação de interesses corporativos e competitivos contendo
valores intrínsecos), instrumental (examina conexões ceteris paribus entre a
prática de administração de stakeholder e a realização de vários objetivos do
desempenho empresarial) e normativo (identificação dos guias morais e/ou
filosóficos à administração das organizações).
Mitchell et al. (1997), a partir de uma abordagem mais restrita procuram
definir os grupos mais relevantes de acordo com os principais interesses
econômicos da firma. Assim, defendem a proposição de um modelo sustentado em
atributos: poder, legitimidade e urgência. Ao associar os atributos fazem a
classificação dos stakeholders em oito tipos: adormecido, arbitrário,
demandante, dominante, perigoso, dependente, definitivo e não stakeholder; os
quais são agrupados em classes: latentes, em espera e definitivos. Estes
fatores determinam o quanto à gestão dará atenção aos vários stakeholders
(Freeman et al., 2010).
Outra abordagem é a influência na estratégia empresarial (Frooman, 1999).
Utiliza a teoria da dependência de recursos de Pfeffer e Salancik (1978), para
identificar quatro tipos de estratégias de influência dos stakeholders:
retenção, uso, influência direta e indireta. Frooman (1999) propõe que existe
uma relação do recurso e que há dependência de alguém e que a teoria deve
responder a três questões: quem são (refere-se aos atributos e características
dos stakeholders); o que querem (concentra-se nas finalidades e objetivos dos
stakeholders); e como vão tentar conseguir (refere-se aos meios e métodos
utilizados pelos stakeholders).
Friedman e Miles (2002) elaboraram com base em Archer (1995, 1996) um modelo de
análise dos stakeholders, visando distinguir os diferentes tipos. Foram
diferenciadas quatro configurações estruturais, aceitando-se as suas lógicas
situacionais. Estas quatro configurações são definidas a partir de uma matriz
2x2: necessário ou contingente e compatível ou incompatível. O modelo fornece
uma estrutura que permite a análise de como e por que ocorrem as mudanças na
relação organização e stakeholders. A mudança pode ocorrer em todo o sentido.
Nas mudanças institucionais, os fatores contingentes emergem. Pode ainda haver
mudança das ideias das organizações e interesses materiais de uma ou outra
parte.
Por fim, Reed et al. (2009), a partir dos aspectos de Donaldson e Preston
(1995), propõem uma tipologia composta de métodos de pesquisa que derivam das
abordagens. Em síntese, consiste em três etapas: identificação dos
stakeholders; diferenciação e categorização entre os stakeholders;e investigar
relações entre os stakeholders. Para cada etapa são sugeridos métodos: na
primeira etapa destacam o método de grupo de foco, entrevista semiestruturada e
bola de neve; na segunda etapa recomenda-se a categorização analítica e
reconstrutiva; e na terceira etapa recomendam a de matriz de atores, análise
social e mapa do conhecimento.
. Bibliometria
Sabe-se que o trabalho científico tem sido considerado um elemento vital ao
progresso da ciência e, consequentemente, para o desenvolvimento da sociedade.
Paralelo a evolução da ciência, cresce também a necessidade de avaliar tais
avanços. Adicionalmente, a utilização de técnicas específicas de avaliação que
podem ser qualitativas, quantitativas ou híbridas. No caminho quantitativo
aplicado na avaliação está a bibliometria e consiste na «técnica quantitativa e
estatística de medição dos índices de produção e disseminação do conhecimento
científico» (Araújo, 2006, p. 12).
Pao (1989, apudGuedes e Boschiver, 2005, p. 2) «acrescenta que publicações,
autores, palavras-chave, usuários, citações e periódicos são alguns dos
parâmetros observáveis em estudos bibliométricos da literatura. Estes estudos
tentam quantificar, descrever e prognosticar (...)» o processo de difusão do
conhecimento. Para Van Raan (2005, apud Barrios et al., 2008), a bibliometria é
útil por duas razões: para a avaliação da produção de conhecimento em um
determinado campo, por meio de indicadores e da análise das principais leis que
embasam a teoria; e para o estudo e entendimento da ciência como um sistema de
geração de conhecimento.
Althouse et al. (2008) consideram que os indicadores bibliométricos apontam a
influência da revista em um campo de conhecimento específico, sendo
frequentemente utilizados na tomada de decisão. Vanti (2002) acrescenta que as
técnicas bibliométricas auxiliam a identificar tendências e crescimento do
conhecimento em uma área, a prever tendências de publicação e produtividade dos
autores individuais, organizações e países, a analisar os processos de citação,
e a medir o crescimento de áreas e o surgimento de novos temas.
Apesar de existirem diversas leis e princípios, a bibliometria possui três leis
clássicas:
· Lei de Lotka: quantifica a produção científica dos autores. Relata a
quantidade de vezes que cada autor é citado em outras produções científicas,
sendo utilizada para estimar o grau de relevância de autores. Fundamenta-se
que, em dado campo científico, o «número de autores que fazem n contribuições
em um determinado campo científico é aproximadamente 1/n2 daqueles que fazem
uma só contribuição e que a proporção daqueles que fazem uma única contribuição
é de mais ou menos 60%» (Alvarado, 2002, p. 14). A tese central está no
princípio de que um pequeno número de pesquisadores é responsável por grande
parte da literatura científica em determinada área de conhecimento, enquanto
muitos autores desenvolvem pouca produção (Barrios et al., 2008).
· Lei de Bradford: mensura a produtividade de periódicos em determinada área e
estima o grau de relevância dos periódicos na área. Também é conhecida como Lei
de Dispersão, pois «permite, mediante a medição da produtividade das revistas,
estabelecer o núcleo e as áreas de dispersão sobre um determinado assunto em um
mesmo conjunto de revistas» (Vanti, 2002, p. 153), com a divisão: core e suas
extensões. Para efetuar o cálculo, deve ser somado o total de artigos e dividir
por três; o grupo que tiver mais artigos é considerado o core, enquanto o
segundo e o terceiro grupo são as extensões (Araújo, 2006).
· Lei de Zipf: consiste em medir a frequência do aparecimento de palavras de um
texto científico, o que auxilia a estimar qual o assunto científico e
tecnológico o texto aborda. Gera uma lista ordenada de termos de determinada
disciplina ou assunto (Vanti, 2002, p. 153).
Os desdobramentos recentes da bibliometria recaem na análise de citações e
contribuem para identificar e descrever uma série de padrões na produção de
conhecimento em uma área científica (Araújo, 2006). Ao conceituar a citação,
Foresti (1989, p. 3 apud Araújo, 2006) elucida que correspondem a um conjunto
de referências bibliográficas que, presente em um trabalho, evidencia os elos
entre os autores, como também instituições e áreas científicas de pesquisa.
Citar é remeter um trabalho a outro, gerando uma relação entre os dois, sendo
visto como uma forma simbolizada de reconhecimento entre os autores. Macias-
Chapula (1998) pondera que, na ciência, a citação é o caminho mais comum para
se atribuir crédito e também reconhecimento ao trabalho do pesquisador e um
artigo muito citado representa sua aceitação em relação à comunidade que o cita
(Guedes e Borschiver, 2005).
Portanto, realizar uma análise de citações significa explorar a parte da
bibliometria que identifica as conexões entre as obras dos citantes e as
citadas, o que permite analisar a existência de moldes na geração de
conhecimento científico em determinados campos e observar o estado da ciência.
Do mesmo modo, permite identificar, em uma pequena quantidade de obras e
estudos associados através das citações, o trabalho de alguns autores que
formam os colégios invisíveis. Tais colégios representam um pequeno número de
autores, líderes na sua área, e que possuem seus trabalhos tratados como
referência no assunto, sendo os mais citados (Guedes e Borschiver, 2005).
Metodologia
O método utilizado foi quantitativo, pois «prevê a mensuração das variáveis
preestabelecidas, procurando verificar e explicar sua influência sobre outras,
mediante análise da frequência e incidência e correlações estatísticas»
(Chizzotti, 2000, p. 52). Em decorrência da natureza da teoria dosstakeholders
ser um assunto pouco abordado, o artigo se volta para o terreno exploratório,
pois privilegia procedimentos para «ampliar o número de informações sobre
determinado ponto que se quer investigar» (Bastos, 1999, p. 66).
A pesquisa tem como população os periódicos nacionais pertencentes à área da
administração, turismo e contabilidade. Para a seleção dos elementos a ser
retirados da população utilizou como suporte a amostra não probabilística por
julgamento (Oliveira, 2001), selecionando as revistas pertencentes aos estratos
Qualis Capes A1, A2, B1 e B2. Tal escolha é justificada baseada na sua
importância, periodicidade, tempo de vida, fator de impacto e revistas
relevantes. Totalizaram 118 revistas, as quais 6 possuíam versão online e
impressa com os mesmos artigos. Descartadas as duplicidades, reduziu para 112
revistas.
Para a coleta de dados nos periódicos nacionais contemplados, o estudo teve o
ano base de 2011 como limite e foi necessário realizar busca em cada periódico
com as palavras stakeholder e stakeholders. Obteve-se 236 artigos que continham
os termos-chave distribuídos em 52 periódicos (1 no A1; 14 no A2; 23 no B1; e
14 no B2). Realizou-se leitura dos resumos de modo a verificar quais artigos
abordavam o assunto e em alguns não estava evidente o que abordava e foi
necessário efetuar análise mais detalhada. Ao operacionalizar os filtros
restaram 36 artigos, distribuídos em 21 revistas (ver Quadro_1) e 2 artigos
foram subtraídos (republicados).
Para delinear o perfil dos pesquisadores, foi feita a identificação dos autores
e coautores dos artigos e tabuladas as informações: maior titulação e ano de
obtenção, instituição onde atua e o tipo de vínculo que possui. Feita a
identificação dos pesquisadores, foi necessário reuni-los em grupos de
concentração mais genéricos. Paralelamente, foi construída uma planilha com as
obras citadas. Tais obras foram coletadas uma a uma nas referências
bibliográficas dos artigos. Em seguida, foi feito o agrupamento das mesmas
obras, somando a quantidade de citações dessas obras apresentadas em cada
artigo e proporcionando, assim, um total de vezes que cada obra foi citada.
Algumas obras apresentaram o mesmo autor e anos distintos por possuírem uma
versão mais atualizada e foram agrupadas por abordarem o mesmo assunto.
Análise dos dados da pesquisa
O presente item foi dividido em duas partes: a primeira aborda o perfil dos
autores dos artigos analisados e a segunda apresenta o mapeamento geral das
obras citadas.
. Perfil dos autores
Considerando que o assunto em pauta está associado ao contexto organizacional,
e como era de esperar, foi possível verificar que a maioria dos pesquisadores
possui graduação em Administração com 45 autores (69,2%). O restante foi
dividido entre as seguintes áreas de formação: Engenharia da Produção (10,8%),
Ciência Política (4,6%), Economia (3,1%), Ciência Florestal (1,5%), Ciências
Sociais (1,5%), Contabilidade (1,5%), Educação (1,5%), Engenharia (1,5%),
Psicologia (1,5%) e os que não tinham informações no currículo Lattes (3,1%).
Salienta-se que o total de 65 autores e coautores resultou a partir da
desconsideração das repetições desses autores (14 nomes repetiram), contando,
portanto, apenas uma vez cada autor mesmo que houvesse mais que uma produção de
sua autoria. Cabe mencionar que apenas 7 pesquisadores realizaram mais de uma
publicação e sua frequência corresponde a 26,9% dos 79, que é a quantidade
total. As áreas de formação dos 7 autores concentram da seguinte forma: 4 em
Administração, 2 em Engenharia e 1 em Ciência Política.
Quanto ao gênero dos autores e coautores, as informações obtidas mostram um
desequilíbrio, pois os homens correspondem a 66,2% e as mulheres correspondem a
33,8%. Este desequilíbrio ocorre também na titulação, pois verificou que os
homens são os que possuem a maior titulação com 9,2% livre-docência,
correspondendo a 6 pesquisadores, enquanto nenhuma autora ainda obteve tal
título. Já aos dados do mestrado, os pesquisadores encontram-se equilibrados,
uma vez que a quantidade de homens e mulheres, correspondendo a 10 mestres de
cada gênero. Nota-se que a quantidade produzida mais significativa advém de
doutores com 36,9% e mestres com 30,8%, juntos atingem 67,7%.
Dos 7 pesquisadores que realizaram mais de um estudo sobre a teoria dos
stakeholders, verificou-se a incidência de 3 mulheres e 4 homens, reafirmando o
equilíbrio. Constatou-se que desses autores, 1 possui livre-docência, 3 pós-
doutorado e 3 doutorado, o que representa alto nível de conhecimento e tempo de
estudo. A titulação dos autores e ano de obtenção, comparado com as
publicações, possibilitou verificar que os artigos podem ser considerados
frutos de pesquisas dos programas de pós-graduação stricto sensu (ver Tabela
1).
A denominação na Tabela_1 de Sem Lattes refere-se aos autores que não possuíam
currículo, enquanto Sem Informação diz respeito aos autores que não
apresentavam dados cadastrados na plataforma, mas que nos artigos constavam
informações da titulação, a qual foi considerada. Foi possível visualizar que,
de 2001 até 2011, houve a publicação de 34 artigos, enquanto 36 doutores e
mestres foram titulados. Foi possível analisar que a maior incidência de
publicações ocorreu no ano de 2011 com 8 trabalhos desenvolvidos, seguido de
2010 com 5 produções. Pela quantidade de estudos produzidos no país, a cada
ano, constata-se que a evolução do assunto em pauta tem ocorrido vagarosamente.
Apenas em 2001, a temática a respeito dos stakeholdersfoi inserida nos artigos
publicados em periódicos brasileiros com estrato A1 a B2. O que contrasta com o
âmbito internacional, onde se verifica a abordagem do assunto desde 1984 com
maior intensidade. Foi possível constatar que, no Brasil, os estudos referentes
aos stakeholdersapresentam-se em desenvolvimento, sendo este realizado de forma
lenta, o que reforça a colonização e não desenvolvimento de teorias
brasileiras. Diferentemente do contexto internacional, que apresentou evolução
contínua e expressiva, com trabalhos renomados nesse campo de estudo.
Às instituições que contribuíram com a discussão em nível nacional, pode-se
destacar as seis primeiras presentes na Tabela_2, uma vez que cada uma destas
apresentou mais que um autor vinculado a ela. Observa-se que, na maior parte
dos casos, os autores estão vinculados a distintas instituições, o que
demonstra o papel da tecnologia, como também das redes, contribuindo para a
união de conhecimento de pesquisadores dispersos geograficamente.
Os autores que publicaram no mínimo duas vezes com temas relacionados à teoria
dos stakeholders totalizam sete: dois da Universidade do Vale do Itajaí
(UNIVALI), um da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), um da Faculdade FIA de
Administração e Negócios (FIA), um da Universidade de Brasília (UNB), um da
Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP) e um da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais (PUC/MG).
Os tipos de vínculo entre autores e instituições são predominantemente
celetistas[1] e servidores públicos (estatutários), pois juntos abrangem 64,6%
dos 65 autores. Dentre os 7 pesquisadores que publicaram no mínimo duas vezes,
6 possuem vínculo institucional na modalidade celetista, enquanto 1 possui
vínculo de servidor público.
No que tange ao número de autores por artigo, verifica-se que há uma
concentração de coautoria no agrupamento de 2 autores com 50% do total de
artigos, seguido pelo de 3 com 17%. Artigos com apenas 1 autor representam
14,7% do total e a quantidade maior de agrupamento dos artigos analisados foram
com 4 autores que registrou 14,7%. Os resultados obtidos reforçam a concepção
de que muitas parcerias são estabelecidas por meio de orientações entre aluno/
professor ou orientando/orientador.
Dentre os 7 autores que tiveram mais de um trabalho publicado no cenário
nacional, verifica-se que, em ordem decrescente, Ricardo Corrêa Gomes publicou
quatro vezes, assim como Rodrigo Bandeira-de-Mello que desenvolveu quatro
estudos, Anete Alberton, João Maurício Gama Boaventura e Rosilene Marcon
contribuíram, cada qual, com três artigos, enquanto Benny Kramer Costa e Taiane
Las Casas Campos desenvolveram duas produções. Assim, estes pesquisadores
destacaram-se dos demais pela quantidade publicada e podem ser considerados a
elite dos autores na utilização da teoria dos stakeholders no cenário nacional.
Os 7 autores juntos contribuíram com 26,9% da produção total dos artigos
analisados, sendo que os demais com apenas uma publicação foram de 73,1%. Ao
utilizar a Lei de Lotka, a qual estabelece que a proporção dos autores que
fazem uma única contribuição para seu campo de estudo gira em torno de 60%,
pode-se observar que, a respeito desta temática,uma larga proporção da
literatura científica nacional foi produzida por um grande número de estudiosos
e com apenas uma contribuição. Demonstra que as produções encontram-se
pulverizadas e a produção nacional não atingiu o estágio de maturidade
intelectual no Brasil.
. Mapeamento geral das obras citadas
Esta seção foi subdividida em três: número de ocorrência das citações por obra,
relevância das obras e intersecção entre a frequência e a quantidade que a obra
aparece nos artigos. No que se refere às citações (ver Tabela_3), podem
salientar-se alguns aspectos a respeito da dispersão encontrada nas obras
citadas pelos autores dos 34 artigos analisados. Verifica-se que as ocorrências
das citações variaram de 1 a 83 citações o que perfaz um total de 2581
citações, correspondendo assim na média aritmética a aproximadamente 78
citações por artigo.
Pode observar-se também que as citações ficaram distribuídas em 71,9% na
ocorrência de até 10 vezes, enquanto de 11 a 83 citações atingiram um
percentual de 28,1%. A incidência que mais se repete é a de até 3 citações por
texto, o que corresponde a 39,2% do total.
As oito obras mais citadas correspondem na ordem decrescente: uma com 82 vezes;
uma com 71; uma com 68; uma com 65; uma com 31; uma com 30; uma com 27; e uma
com 26. Ao identificar 2581 obras referidas pelos autores e observar que há um
alto índice de obras até 10 vezes citadas, correspondendo a 72,8%, constata-se
que poucas obras foram citadas muitas vezes e uma baixa quantidade de obras foi
utilizada demonstrando uma concentração em poucos.
Para a relevância das obras citadas, verificou-se um total de 945 obras
diferentes presentes nos 34 artigos analisados. Como nas citações, a frequência
das obras foi de até 3 obras, a qual corresponde a 913, isto é, 96,6% do total
de 945 obras encontradas. Dentre essas 913 obras, houve 83,9% de incidência
para apenas a ocorrência de uma referência, 9,8% para duas e 2,9% para três.
Tais resultados obtidos estão expostos na Tabela_4. As oito obras mais
relevantes foram referenciadas do seguinte modo: uma em 21 artigos (61,8% do
total de 34); duas em 16 (47,1%); uma em 10 (29,4%); uma em 8 (23,5%); três em
7 (20,6%); duas em 6 (17,6%); sete em 5 (14,7%); e quatro em 15 (11,8%).
Cabe salientar que, das 945 obras que foram referenciadas, 82 obras foram
citadas nas referências bibliográficas dos artigos. No entanto, ao longo do
texto em que a obra é referenciada na bibliografia, não houve uma única menção
em citação (direta ou indireta) de nenhum trecho da obra. Com base nos
resultados das citações e relevância das obras referenciadas, o Quadro_2 visa
apresentar a intersecção entre a quantidade de citações e a relevância das
referências utilizadas nos artigos analisados. Os dados presentes na esquerda
do quadro correspondem as 8 obras mais citadas no decorrer dos artigos
(frequência das citações), enquanto na direita do quadro refere-se as 8 obras
mais encontradas nas referências (relevância das obras referenciadas).
Guedes e Borschiver (2005) fundamentam-se na hipótese de que os trabalhos mais
citados são mais relevantes em comparação com trabalhos menos citados. Dessa
forma, a partir das constatações realizadas a respeito das obras mais citadas
e, portanto, sobre as de maior relevância para o campo em estudo,verifica-se
que, entre as quatro obras mais citadas e, também, entre as mais relevantes nas
referências dos artigos, estão: o trabalho de Freeman (1984), o qual foi citado
83 vezes ao longo dos artigos, e presente nas referências de 21 artigos;
seguindo-se o estudo de Donaldson e Preston (1995), que foi citado 71 vezes,
constando nas referências de 16 artigos; a obra de Mitchell et al. (1997) com
68 citações no decorrer dos artigos e presente em 16 artigos analisados e, por
fim, a produção de Jones (1995), que obteve total de 65 ocorrências nos artigos
analisados e foi utilizada por 6 artigos.
Foi possível analisar que as obras mais relevantes para o assunto em questão
foram desenvolvidas por Freeman (1984), Donaldson e Preston (1995), Mitchell et
al. (1997) e Jones (1995), que são considerados clássicos em suas perspectivas
da teoria dos stakeholders.Esses trabalhos foram sintetizados na fundamentação
teórica deste artigo.
Nos quatro estudos que receberam maior incidência de citações, bem como maior
número de referências, observa-se o papel da citação para corroborar a
relevância das obras. Logo, os resultados demonstram que os estudos
considerados mais relevantes, e utilizados pelos autores no contexto nacional,
podem ser analisados como obras que proporcionam uma fundamentação teórica mais
expressiva e relevante para a discussão da teoria dos stakeholders.
Verifica-se que, dentre as mais citadas e referenciadas nos artigos, nenhuma
foi desenvolvida por autor brasileiro, situação que reforça a ideia que a
literatura de referência no que diz respeito aos stakeholders está, na sua
maioria e talvez possa inferir-se que em sua totalidade, em linguagem
estrangeira e oriunda de estudo da academia internacional.
Considerações
Considerando a aplicação das técnicas bibliométricas, de forma mais específica
no campo da teoria dos stakeholders, este trabalho consistiu na identificação
das obras consideradas relevantes à discussão, como também dos principais
autores que produzem sobre essa temática no âmbito nacional. Além disso, foi
possível verificar a evolução dos estudos relacionados ao tema em periódicos
científicos nacionais, de modo a se levantar o arcabouço.
Concomitantemente, foi possível delinear os perfis dos 7 principais autores
brasileiros que mais produzem nesse campo. Concluiu-se que os pesquisadores que
produzem a maior quantidade de produção na área de teoria dos stakeholders em
periódicos brasileiros têm o seguinte perfil: formação em Administração,
Engenharia ou Ciência Política; titulação de livre-docência, pós-doutorado ou
doutorado; quanto ao gênero, há equilíbrio entre homens e mulheres; vínculo
institucional com a UNIVALI, UNINOVE, FIA, UNB, FGV/SP ou PUC/MG, sendo
vinculados tanto como celetista ou servidor público.
Os resultados obtidos forneceram elementos que permitiram comprovar o
mapeamento das obras mais relevantes na discussão da teoria dos stakeholders no
cenário brasileiro. Forneceram subsídios para entender a estrutura e a
ampliação desse campo de estudo em construção no Brasil, podendo ser
considerada lenta a sua expansão. Verificou-se também que a teoria dos
stakeholders é, em geral, utilizada como base e não é trabalhada
individualmente, o que induz ao nãoamadurecimento da teoria no cenário
brasileiro.
Identificou-se que as obras mais relevantes foram as desenvolvidas por Freeman
(1984), Donaldson e Preston (1995), Mitchell et al. (1997) e Jones (1995),
considerados clássicos em suas perspectivas. A partir do estudo, verifica-se
que as obras mais citadas e mais referenciadas em nenhum caso foram
desenvolvidas por autores brasileiros.
Quanto a contribuição dos autores, 26,9% da produção total nos periódicos foram
produzidos pelos 7 autores mais produtivos (com 2 a 4 contribuições) e os
demais tinham apenas uma publicação com 73,1%. Demonstra-se que as produções
estão pulverizadas, e, a partir da Lei de Lotka, pode inferir-se que a produção
nacional sobre stakeholder theory ainda não atingiu o estágio de maturidade
intelectual. A partir da Lei de Bradford, verifica-se que os periódicos BAR e
RAC são considerados o core da produção da teoria dos stakeholders e as
extensões são compostas pelas revistas: de Administração da FEA-USP, CAD-UFSC,
O&S e Pretexto-BH, enquanto as outras revistas compõem a outra extensão.
Como limitação, o estudo reconhece que a quantidade apurada não é um indicador
de qualidade e o autor mais citado pode ser apenas o mais acessível e não
necessariamente o melhor, embora os achados não corroborem este fato. A
abrangência da pesquisa nos artigos dos estratos A1 a B2 e o período até o ano
de 2011 tornam as informações restringidas ao período temporal e aos estratos.
Outro fator a ser considerado é o de que, apesar da Plataforma Lattes ser a
única fonte de dados de abrangência nacional e de caráter confiável, verificou-
se que pesquisadores mantêm currículos desatualizados, o que implica a
possibilidade de não precisão. Para pesquisas futuras, recomenda-se a ampliação
dos estratos (B3, B4, B5 e C) e dos artigos internacionais, para verificar a
aproximação das referências utilizadas. Também, faz falta uma necessária
revisão de literatura destes artigos de forma qualitativa e de aspectos
metodológicos utilizados.