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EuPTHUAp1646-52372015000200001

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National varietyEu
Year2015
SourceScielo

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Editorial EDITORIAL

Editorial Editorial Editorial Editorial Cecilia de la Garza [1] & Mario Poy[2]

[1] EDF R&D, Management des Risques Industriels 1, Av. Général de Gaulle 92140 Clamart France cecilia.de-la-garza@edf.fr [2] Universidad de San Andrés Centro de Investigaciones por una Cultura de Seguridad Industrial Vito Dumas 284 B1644BID - Victoria, Buenos Aires Argentina mpoy@udesa.edu.ar

Caras e caros leitores, Laboreal festeja este ano o seu 10º aniversário e, por isso, é uma grande honra, e igualmente um desafio para a codireção hispana apresentar este Editorial.

Durante todos estes anos, a revista foi traçando o seu caminho, passo a passo, com o objetivo de difundir a análise da atividade de trabalho e as suas contribuições para a compreensão das situações laborais, e bem assim promover a saúde e a segurança dos trabalhadores, bem como a fiabilidade dos sistemas sociotécnicos.

Além disso, o facto de ser uma revista científica eletrónica de livre acesso (open acess, OA), proporciona uma abertura à comunidade de alto impacto, através da comunicação e do acesso à produção científica.

Laboreal dirige-se fundamentalmente a um público hispano-falante e lusófono, pretendendo difundir a sua abordagem de maneira ampla nos países onde aquelas línguas são oficiais', como também noutros lugares do mundo em que se encontrem comunidades de expressão espanhola ou portuguesa.

Com efeito, Laboreal, em 2011, procedeu a uma reorganização criando duas codireções que vêm proporcionando um encontro de autores latino-americanos brasileiros, argentinos, chilenos, mexicanos, venezuelanos uruguaianos e europeus espanhóis, portugueses, franceses, belgas, suíços além de canadianos, e, seguramente, outros que estamos a esquecer.

Tais autores provêm de diversas disciplinas - psicologia; ergonomia; sociologia; ciências do design e da computação; ciências da educação; ciências da saúde; economia e gestão - tendo como ponto de convergência a atividade do trabalho, individual ou coletiva, e a sua interação com os respetivos contextos.

Sublinhe-se ainda o reconhecimento alcançado pela revista graças à sua indexação em diferentes bases de dados (por exemplo, SciELO) e à utilização do DOI para a identificação dos artigos, reforçando assim o seu prestígio internacional.

Neste número de dezembro, apresentamos um artigo de Laurent Vogel, sumamente documentado, sobre a desigualdade de género e as doenças profissionais na bélgica. No seguimento, aliás, de um precedente artigo publicado no número de dezembro de 2014 (Vogel, 2014), o autor demonstra como o sistema belga de indemnização de tais doenças produz enormes desigualdades entre homens e mulheres, evidenciando simultaneamente os mecanismos jurídicos, médicos e, até, os preconceitos, que reforçam tal situação.

Um outro artigo, de Mário César Ferreira, sobre a qualidade de vida no trabalho (qtv): do assistencialismo à promoção efetiva, oferece-nos uma visão geral sobre as práticas hegemónicas da QVT em organizações brasileiras, com o propósito de desvendar a sua natureza assistencial e, especialmente, os seus limites no que diz respeito a uma real melhoria dos indicadores de saúde e segurança. Para romper com esta dimensão assistencial, o autor defende a necessidade de resituar o protagonismo dos trabalhadores e das suas atividades, permitindo assim a promoção efetiva da qualidade de vida laboral.

Nesta mesma perspetiva, segundo a qual a qualidade de vida e o uso de indicadores nas organizações nem sempre são pertinentes em matéria de saúde e segurança dos trabalhadores, Jorge Walter apresenta-nos um estudo acerca dos riscos sociais do trabalho de turno de longa duração. vida familiar e vida no trabalho em crise num campo petrolífero na patagónia. A originalidade deste artigo reside no seu interesse pelos operários do petróleo que trabalham em turnos longos e longe dos seus domicílios. Tendo recorrido a observações e entrevistas, o autor realça nas suas conclusões uma relação entre as condições de trabalho e os riscos psicossociais com que se confrontam os trabalhadores desse campo petrolífero contradizendo assim os indicadores-chave utilizados pela empresa. O contributo de Jorge Walter reenvia-nos para o artigo de Denise Alvarez e seus colegas (Alvarez, França & Figueiredo, 2015) publicado no número de julho de 2015, assim como para a recensão crítica de Edith Seligman- Silva, publicada no mesmo número, a propósito do livro de Marcelo Figueiredo sobre as transformações do setor petrolífero no Brasil (Seligman-Silva, 2015).

Num outro plano, inserindo-se ainda no quadro da temática dos riscos psicossociais e do mal-estar no trabalho, Admardo Júnior e Daisy Cunha, no artigo o sintoma no trabalho: uma disfunção ou uma invenção?, propõem-nos uma reflexão sobre a atividade profissional de escuta e condução clínica de casos de sofrimento no trabalho. Tal reflexão incide sobre a causalidade psíquica, social e orgânica, centrando o debate da problemática da causalidade no âmbito da saúde mental. Assim, os autores analisam a questão da causalidade confrontando duas versões de um caso clínico. Concluem que uma delas se destaca e realçam um importante ponto da investigação: o impasse entre tomar o sintoma como disfunção ou como um modo de funcionamento.

Mudando de temática, embora ainda relacionada com o tema do bem-estar no trabalho, Isabel Freitas propõe-nos, no seu artigo o desenvolvimento de competências na atividade coletiva de trabalho dos enfermeiros uma reflexão e um estudo centrados na atividade de planificação, de concetualização e de adaptação constante num contexto laboral específico - que fomenta, por sua vez, uma atividade construtiva e, simultaneamente, o desenvolvimento da abstração no aperfeiçoamento de habilidades no contexto laboral.

O resumo de tese que publicamos neste número é o da tese de Anne Raspaud, intitulada da compreensão coletiva da atividade real à conceção participativa da organização: promover a intervenção ergonómica capacitante'. Por via de uma investigação-intervenção no setor da saúde um centro hospitalar universitário -, a autora suscita a questão de saber como é que, perante um processo de mudança tal como é a implementação da cirurgia ambulatória, a intervenção ergonómica poderá permitir aos próprios trabalhadores serem atores da mudança, através da confrontação e da transformação das capacidades coletivas.

A secção dos textos históricos oferece-nos, desta vez, um texto de Georges Friedmann, um dos fundadores da sociologia do trabalho em França, e um dos primeiros impulsionadores dos estudos de terreno, num momento histórico onde os estudos experimentais, no âmbito das ciências sociais e humanas, expressavam ainda o cânone científico. Tal texto é brilhantemente comentado por Catherine Teiger que nos envolve, desde logo, na biografia do autor: sua evolução intelectual, política e científica. Em seguida, propõe-nos uma séria de reflexões concernentes à relação entre teoria/prática, ciências fundamentais/ ciências aplicadas, estudos de laboratório/estudos deterreno, e ao valor e à finalidade dos conhecimentos.

Quanto ao dicionário, abordamos neste número as letras M e N.

Assim, Michelle Aslanides analisa o conceito de modelo, amplamente utilizado tanto nos enfoques da ergonomia da atividade, como nos da psicologia do trabalho. Longe de ser uniforme, este conceito remete-nos para três formas de uso: i) guiar a ação do analista na sua procura de compreensão dos fenómenos que o interpelam; ii) permitir que os modelos enquanto ferramentas conceituais relacionem os modos operatórios com as suas consequências sobre a saúde e o desempenho; iii) e, finalmente, assumir a sua dimensão epistemológica enquanto abordagem que preconiza, na prática científica, uma certa maneira de enfocar os problemas, os objetivos, o objeto a estudar.

Por seu lado, Catherine Delgoulet desenvolve a noção de novato sob uma tripla ótica. Primeiramente, realça a sua natureza heterogénea, determinada pelas condições do contexto no qual a pessoa está inserida: daí que uma inovação tecnológica possa colocar em situação de novato um experto de uma dada atividade. Em segundo lugar, sublinha que a noção remete para questões de ordem metodológica, tal como o demonstram os numerosos estudos realizados em diferentes setores de atividade, a fim de dar conta da diversidade dos modos operatórios, dos conhecimentos investidos por uns e por outros. Por fim, revela-nos que o novato no trabalho pode assumir-se como agente impulsionador da reinterrogação de certos aspetos implícitos da atividade dos coletivos de trabalho.

Agradecemos vivamente, por um lado, a todas e todos os autores que contribuíram para a realização deste número, e, por outro lado, a todos os membros dos Comités da revista mobilizados como peritos e ainda os colegas Sophie Prunier, Francisco Pucci, Duarte Rolo e Paulo Zambroni-de-Souza.

Para concluir, e dado que Laboreal é uma revista que enfatiza a atividade de trabalho situada e em interação com o que caracteriza as condições laborais técnicas, sociais, regulamentares, organizacionais -, não pode ignorar o contexto em que este número é publicado. Desde logo, a Conferência de Paris sobre a mudança climática que, de qualquer modo, terá influência, seja transformando as atividades (por exemplo, as vinhas em França cujas vindimas, realizadas normalmente em setembro, têm sido, desde uns anos, antecipadas em muitos lugares de modo a evitar que a uva amadureça excessivamente) ou deslocalizando-as. Por fim, os atentados terroristas no Líbano, França, Nigéria e Mali, que ocorreram no passado mês de novembro, não podem deixar-nos indiferentes, uma vez que terão seguramente impactos na atividade e condições de trabalho de muitas pessoas.

Desejamos a todas e todos os leitores uma boa leitura!


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