Do estádio para a mão: A narração dos jogos da fase final da Liga dos Campeões
através das apps para o iPhone
1. Comunicação móvel: um fenómeno social
Quando o ponto central do nosso estudo é a utilização dos periféricos móveis,
com destaque para o smartphone e para o tablet, existe o risco de situar a
reflexão no campo da tecnologia. Seria, certamente, algo redutor. A relação da
tecnologia com os comportamentos das atuais audiências é sempre um vetor que
importa ponderar, o que atira qualquer estudo para os domínios da sociologia.
A forma como o telemóvel passou a ser utilizado ao longo do tempo tem
implicações no estilo de vida de cada pessoa (Picard, 2005: 21; Straubhaar et
al., 2012). Se, no início, era empregado como uma forma de nos mantermos em
contato com os mais próximos, a evolução tecnológica foi impondo novos usos
(Canavilhas, 2012b: 3). Podemos usar o smartphone como um GPS ou enviar emails
com a mesma facilidade com que o fazemos com o mais sofisticado dos
computadores. Os próprios meios de comunicação social têm hoje uma forte
presença neste novo ambiente informativo e criaram aplicações especificamente
desenhadas para estes periféricos. O que hoje sabemos do mundo é o que sabemos
através dos media. Amanhã teremos conhecimento dos media através dos
telemóveis (Fidalgo, 2009: 122).
Através do Digital News Report20141, conseguimos compreender que os
periféricos móveis são cada vez mais usados para o consumo de conteúdo
informativo. A utilização de smartphones e tablets atingiu um forte
crescimento, quando comparada com os dados do relatório referente a 2013, ao
mesmo tempo que o computador começa a perder terreno neste segmento (RISJ,
2014). Também o número de utilizadores de mais do que uma plataforma digital
registou um aumento significativo2. Quando comparamos estes números com os
apresentados no Internet Trends 2014, conseguimos encontrar pontos em comum
relativos ao crescimento da utilização destes periféricos (KPCB, 2014). Neste
último relatório torna-se importante salientar o papel que o móvel tem no
aumento de tráfego gerado e o papel cada vez mais importante que desempenha no
mercado publicitário online.
Chris Peters (2012: 704) exemplifica a relação que a sociedade e a tecnologia
têm na evolução do processo de consumo informativo da seguinte forma: durante a
II Guerra Mundial a propagação da rádio permitiu que as pessoas se juntassem
para receber os updates informativos, experimentando conjuntamente as sensações
de triunfo e tragédia. Nas décadas de 60 e 70, a televisão transformou-se no
objeto central do processo informativo, constituindo-se como alavanca para
intensos debates. O desenvolvimento da Internet testemunhou a passagem do
consumo informativo de casa para o trabalho. Com o desenvolvimento dos
periféricos móveis, a dieta informativa poderá ser feita em qualquer lugar, a
qualquer momento do dia, com vários tipos de conteúdos, nas mais distintas
plataformas (Batsell, 2012; Goggin, 2009; Chyi & Chadha, 2012).
Uma outra forma de compreender a evolução no acesso à informação por parte das
audiências é explicada por Press e Williams (2010: 4-8). Os investigadores
fazem uma comparação entre a cobertura informativa do Furacão Katrina que
fustigou Nova Orleães em agosto de 2005 e o Forgotten Hurricane que assolou a
Flórida em 1928. No caso da tempestade dos anos 20, a maior parte da informação
chegava aos cidadãos através de telégrafo. Era esporádica, imprecisa e, na
maior parte das vezes, atrasada. A falta de informação contínua contribuiu para
o aumento do número de mortes, que chegou aos 2500. Por seu lado, o furacão
Katrina foi acompanhado por satélites e aviões que estavam em constante contato
com os serviços atmosféricos. As informações foram transmitidas através de
múltiplos media. O público teve acesso a informação contínua e em tempo real.
Para além disso, e contrastando novamente com a tempestade de 1928, a
informação foi disseminada à escala global.
Quando falamos de novos media, não podemos destacar apenas as inovações
tecnológicas de forma isolada. Os avanços tecnológicos fazem com que as
audiências exijam um diferente tipo de oferta ajustada às suas necessidades
(Doyle, 2010: 440). Importa, pois, compreender as mutações na relação que os
públicos estabelecem entre si e com os media:
Ao mesmo tempo que o número de canais pelos quais nós chegamos às
notícias aumenta, e o espaço para o consumo de informação se torna
mais fragmentado, móvel e diverso, devemos prestar atenção ao modo
como estas mudanças são experimentadas pelas várias audiências
informativas (Peters, 2012: 704).
Assim, os periféricos móveis mais do que substituir o consumo de informação
através de meios já consagrados como a televisão, a rádio ou os jornais, devem
ser um complemento (Canavilhas, 2012a: 17). As plataformas móveis são usadas
cada vez mais como uma extensão dos media tradicionais. Os conteúdos que tiram
vantagem das tecnologias audiovisuais desenvolvidas para os grandes ecrãs são
muitas vezes transferidos diretamente para os pequenos ecrãs dos media móveis
(Lam, 2011).
No entanto, mais do que replicar a informação de meios de comunicação mais
consagrados, os media móveis devem ir ao encontro das necessidades não
satisfeitas por parte desses mesmos meios. Este alerta é deixado por Doyle
(2010: 446) quando refere que a disseminação de conteúdos através de
multiplataformas, como os smartphones e os tablets, pode resultar numa
distribuição less from more em vez de more from less. Ou seja, para que estes
periféricos assumam uma verdadeira importância nos aspetos diários dos seus
utilizadores, em vez do repurposing ' em que os conteúdos são exatamente iguais
aos publicados noutras plataformas - deve existir o customisation - os
conteúdos são únicos e adequados aos periféricos móveis (Westlund, 2013: 20).
O contributo que os periféricos de informação móvel terão na sociedade da
informação será tão importante quanto a forma como conseguirem ocupar o espaço
deixado vazio pelos meios tradicionais. Refira-se também que existe um conjunto
de necessidades que os cidadãos, hoje em dia, exigem e que não podem ser
cumpridas pelos meios mais convencionais.
Não pretendemos aqui dizer que os periféricos móveis se assumirão unicamente
como uma mera alternativa aos meios já existentes. São uma alternativa, mas
podem igualmente ser valiosos numa lógica de complementaridade. Utilizando o
exemplo da televisão e dos tablets, Courtois e D'heer (2012) falam-nos das
possibilidades que estes periféricos comportam para o enriquecimento do meio
primário, a televisão. Juntando as duas plataformas, os utilizadores ganham a
possibilidade de participar em quiz shows, obter informação extra sobre o
programa em questão e partilhar a opinião com outros participantes. De acordo
com os investigadores, o tabletcomporta todas as necessidades para efetivar
esta realidade, uma vez que tem uma utilização intuitiva e confortável,
dimensões pequenas, boa capacidade gráfica e está constantemente ligado à
Internet. No fundo, possibilidades que são igualmente partilhadas pelo
smartphone.
Esta conjugação de fatores pode ser a chave para a aplicação efetiva destes
meios no campo da informação. Sustentamos esta nossa afirmação através da
abordagem teórica realizada, onde foi possível compreender que encarar os
periféricos móveis como sendo exclusivamente elementos alternativos poderá ser
uma prática incorreta, arriscando o esquecimento de um grande número de
possibilidades, tanto para os utilizadores como para quem produz os conteúdos
informativos.
2. Novas dietas informativas num ambiente tecnológico marcado pela mobilidade
As novas tecnologias de informação são adotadas, não porque simplesmente sejam
novas, mas porque permitem novos usos. Neste ponto, procuramos explorar as
oportunidades levantadas pelos novos periféricos numa comunicação com perfil
móvel. Serão abordadas questões relacionadas com um novo perfil informativo
marcado pela instantaneidade, ubiquidade e autonomia. A necessidade de abordar
estas questões está relacionada com três aspetos que Peters (2012: 700)
considera importantes naquilo que designa como a nova dieta informativa:
- O jornalismo é produzido para facilitar o desenvolvimento dos espaços móveis
de consumo (espaço);
- O jornalismo é produzido para se ajustar à velocidade que caracteriza a
sociedade da informação (velocidade);
- O jornalismo é produzido para interagir e providenciar múltiplos canais de
acesso para as audiências (conveniência);
2.1. Da instantaneidade à ubiquidade
As primeiras características que vamos explorar estão relacionadas com a
instantaneidade e com a ubiquidade com que a informação tende a circular na
contemporaneidade. A sua portabilidade, associada às potencialidades que os
tornam úteis em várias tarefas do dia, faz com que estejam constantemente
connosco. Para além disso, não podemos descurar o contributo que a evolução da
Internet móvel tem para o consumo de informação de um modo cada vez mais rápido
e instantâneo (Escobar, 2010; Bhalla & Bhalla, 2010).
Castells et al. (2005: 246) apontam a velocidade, a par da multimedialidade,
como um dos princípios da vivência no ciberespaço da era da informação. O
objetivo é fornecer um maior volume de informações multimodais (sons, imagens e
textos) de forma simultânea, multiplexada e transmitida a uma velocidade cada
vez maior.
Em relação a esta realidade fortemente marcada pelos aspetos da velocidade,
Michel Maffesoli (2001: 11) salienta a necessidade de explicar a passagem de
um tempo monocromo, linear, seguro, o do projeto, para um tempo policromo,
trágico por essência, presenteísta e que escapa ao utilitarismo do cômputo
burguês. Já nos anos 90, Paul Virilio (1995: 51) defendia que as tecnologias
do telecomando seriam responsáveis por vivermos numa sociedade em direto, uma
forma de viver inaudita, sem futuro nem passado, que viveria intensamente o
presente, ou, por outras palavras, seria telepresente no mundo inteiro. Na
mesma altura, Jean Baudrillard (1998: 155) assumia que, numa sociedade vincada
e relacionada com os excessos do consumo, o tempo livre tornar-se-ia uma
questão logicamente impossível. O que, na verdade, existe é o tempo
constrangido. O tempo do consumo - e aqui assumimos um paralelo com a
quantidade de informação que podemos aceder graças às tecnologias de informação
móveis existentes ' é, antes de mais, um tempo de produção. O lazer passa a ser
limitado, na medida em que, por trás da sua gratuidade aparente, reproduz de um
modo fiel todos os constrangimentos de ordem mental e prática que são aqueles
do tempo produtivo e subjugado da vida diária. Para além disso, o autor explica
ainda, referindo-se à cultura de massas, que esta é feita para existir no
presente vivo, ou seja, já não se faz para durar.
Neste contexto, compreendemos a existência da apatia relacionada com a pletora
de informação existente. Isto advém do facto de que um acontecimento, logo que
registado, é varrido de cena por outros ainda mais espetaculares. Cada vez
mais informação, cada vez mais depressa, os acontecimentos são objetos da mesma
desafeção que os lugares e as habitações (Lipovetsky, 1989:38). Já nos anos
90, Pierre Bourdieu (1997: 40-41) apostolava que a televisão apenas abria as
portas aos chamados fast thinkers, que redundam num conjunto de informações
nulas, na medida em que, quando as recebemos, já as tínhamos recebido, de tal
maneira que o problema da receção não chega a pôr-se. A comunicação torna-se,
assim, instantânea, uma espécie de fast-food cultural, já que não existe, ou
apenas é aparente. Neste contexto em que a informação sofre um efeito de
efervescência constante, poderemos falar, tomando a referência que Moisés
Martins (2011: 132) utilizou sobre a imagem tecnológica, de uma realidade
politeísta: A imagem tecnológica é uma imagem que perdeu o sentido do uno,
fragmentando-se numa legião de imagens. Ora, torna-se assim perceptível que a
noção de breaking news, com o advento das tecnologias de informação móveis,
ganha todo um novo significado e necessita de uma nova contextualização. Esta
necessidade caminha de mãos dadas com o desenvolvimento tecnológico que permite
ao utilizador ser constantemente atualizado. Muitas das aplicações informativas
que hoje temos nos smartphonesou tablets consagram a possibilidade de
recebermos updates,através desoftwares push, dos mais variados assuntos,
independentemente do local onde nos encontramos. Se até há muito pouco tempo
apenas os grandes acontecimentos informativos tinham a capacidade de
interromper as tarefas diárias, atualmente, podemos ser atualizados de uma
forma imediata, várias vezes ao dia.
Outra das potencialidades levantadas pela emergência dos dispositivos móveis
está relacionada com a continuidade com que a informação circula. Se nos canais
generalistas a programação informativa se circunscreve a três blocos (manhã,
hora de almoço e hora de jantar) e nos canais temáticos de informação a oferta
é contínua, poderemos em ambos os casos falar de uma dependência espacial, ou
seja, os telespetadores estão dependentes de um determinado espaço físico para
receber a informação. O telefone quebra estas barreiras físicas:
Num nível fundamental, a função primordial do telefone é ultrapassar
os constrangimentos de tempo e distância na comunicação interpessoal,
permitindo aos cidadãos comunicar simultaneamente à distância. A
função primordial dos serviços de broadcast é também ultrapassar o
tempo e a distância. No entanto, foi criado, principalmente, para a
comunicação de massas num único sentido (Picard, 2005: 22).
Quando analisados os processos informativos com um perfil relacionado com os
mass media, compreendemos que os consumos estavam completamente dependentes de
condicionantes temporais e espaciais. Era sempre necessário ter em conta estas
duas variáveis. Com as novas tecnologias de informação, como os smartphonese os
tablets, surgiram novas rotinas e o consumo faz-se de uma forma totalmente
diferenciada. Os mecanismos móveis assumem um papel preponderante nas novas
dietas informativas, uma vez que permitem que a informação seja recebida em
lugares e num tempo onde os outros meios não podem ser utilizados. As
tecnologias móveis, pode dizer-se, devem ser um lugar fora do tempo e do
espaço, um lugar desprovido de lugares, em que o utilizador é desconectado do
mundo que o rodeia (Dimmick et al.,2010: 3). Através dos dispositivos de
informação móveis, conseguimos ter a sensação de que estamos em casa, sem que
fisicamente estejamos mesmo lá (Orgad, 2009: 205). Castells et al., (2005)
abordaram esta mesma questão, explicando que a ubiquidade do telefone faz com
que seja possível estar em contacto, ou seja, ligado a uma rede global, em
qualquer lugar e a qualquer altura.
O facto dos operadores tradicionais, como a TV e a rádio, estarem presentes na
Internet faz com que a continuidade da sua informação seja ainda mais
importante. Quem recebe informação neste ambiente procura atualizações
constantes. Diferente do que acontecia, por exemplo, quando toda a família
esperava pela hora de jantar para o jornal da noite, na televisão. No entanto,
no início das operações no universo online, havia uma forte dependência
espacial. Normalmente, os consumos eram feitos em computadores físicos ou
portáteis, que, embora mais fáceis de transportar, não possuem características
de mobilidade e portabilidade dos smartphones ou tablets. Para além disso, a
Internet móvel era uma realidade distante.
2.2. Da autonomia
O desenvolvimento dos periféricos móveis como instrumentos no processo
informativo, juntamente com a evolução das redes sociais, permite ao consumidor
ter um papel mais ativo na sociedade. Pode deixar de ser um mero consumidor,
completamente passivo, assumindo uma postura mais autónoma e ativa (Wei, 2008:
44). Sobre esta possibilidade, Napoli (2011: 55) refere o seguinte:
A autonomia refere-se à extensão pela qual o ambiente mediático
contemporâneo proporciona às audiências um nível de controlo sem
precedentes não apenas sobre o que querem consumir, onde e como, mas
também na medida em que as audiências têm o poder de ser mais do que
meros consumidores. Podem contribuir também para o ambiente
mediático.
A possibilidade de os consumidores assumirem um papel ativo no processo
informativo não surgiu apenas agora. As antigas câmaras de vídeo, os
computadores pessoais, as máquinas de escrever sempre permitiram criar
informação. No entanto, estes conteúdos dificilmente passavam a esfera
familiar. Atualmente, podem ser amplamente distribuídos. A Internet permite que
os vários conteúdos sejam conduzidos de um modo nunca antes visto (Napoli:
2010: 80).
Westlund (2013: 18) destaca o papel que estas tecnologias, em comunhão com o
Twitter, tiveram durante a primavera Árabe e nos motins que se propagaram um
pouco por toda a Inglaterra em 2011. As redações receberam fotos e vídeos em
bruto por parte dos cidadãos. Destacamos novamente o caráter ubíquo deste tipo
de ferramentas que permitem emitir informação de uma forma imediata, podendo
esta ser produzida por jornalistas e também por cidadãos que, em determinados
momentos, podem captar imagens e sons de acontecimentos que não são
testemunhados pelos jornalistas (exemplo: catástrofes). Bivens (2008) defende
que as novas tecnologias são uma oportunidade para o desenvolvimento de um
melhor, mais eficiente e mais democrático ambiente mediático para os
jornalistas e para o público.
Este conjunto de oportunidades vai ao encontro da noção de Homo Media: aquele
que não só está entre os meios de comunicação, mas interage com eles, neles
interfere e por eles é influenciado (Gosciola, 2011). Hamilton e Heflin (2011)
enquadram estas novas potencialidades alcançadas pelos cidadãos como parte da
mudança de um paradigma particular: a passagem de um sistema de comunicação
controlado top-down para um mais diverso e democrático bottom-up.
3. Um estádio na palma da mão
3.1- Caminhos metodológicos
A emergência dos dispositivos de comunicação móvel, como os smartphones e os
tablets, permite pensar em novas formas de transmitir e receber conteúdos
informativos. A possibilidade de receber informação em qualquer lugar, a
qualquer hora, em múltiplas plataformas e com diferentes conteúdos são aspetos
que pretendemos analisar aqui, explorando ainda as oportunidades que existem
para uma postura mais ativa por parte das audiências.
De forma a atingir os objetivos propostos, analisámos a transmissão dos jogos
da Liga dos Campões através das aplicações para o iPhone disponibilizadas pelo
Maisfutebol (Portugal), Marca (Espanha) e Sky Sports (Reino Unido)3. Para além
de notícias relacionadas com o futebol, existe a possibilidade de acompanhar
uma partida em direto. Diferentemente do que acontece com as transmissões
através da televisão ou da rádio, os consumidores têm mais uma possibilidade de
acompanhar um jogo de futebol através de uma nova plataforma: o smartphone ou o
tablet.
Foram identificados quatro jogos da fase da Liga dos Campeões, a competição
mais importante ao nível de clubes no continente europeu, que se jogou entre
fevereiro e maio de 2013: o encontro que opôs o FC Porto (Portugal) ao Málaga
(Espanha), o jogo entre o Manchester United (Inglaterra) e o Real Madrid
(Espanha), a partida entre o Bayern de Munique (Alemanha) e o Barcelona
(Espanha) e a final entre Bayern de Munique (Alemanha) e Borussia de Dortmund
(Alemanha). Nesta escolha está presente a intenção de observar os jogos que
envolvem equipas dos países das três aplicações que selecionamos para o nosso
estudo. A nossa análise seguiu as seguintes variáveis:
- Instantaneidade: o total de posts publicados por cada uma das apps durante os
quatro jogos mencionados;
- Multimedialidade: a tipologia dos conteúdos oferecidos ao longo dos quatro
jogos nas aplicações identificadas;
- Autonomia: as possibilidades criadas para um consumo mais ativo por parte das
audiências.
3.2-Instantaneidade: número de posts em cada aplicação
O primeiro aspeto que analisámos está relacionado com o número de posts que
cada umas das aplicações apresentou aos seus públicos durante os quatro jogos.
O nosso objetivo passa por compreender se as três apps aproveitaram o potencial
tecnológico que o smartphoneda Apple tem para transmitir, instantaneamente e de
um modo constante, as principais incidências de uma partida de futebol.
Consideramos que o número de posts publicado por cada uma das aplicações é o
que melhor reflecte a variável apresentada.
A aplicação da Marca foi a que mais postscolocou ao longo dos seus jogos. Nos
quatro encontros que analisámos, a aplicação espanhola disponibilizou um total
de 718 posts,. A Sky Sports disponibilizou 488 e o Maisfutebol, 337.
Para além da contabilização do número de posts que cada uma das aplicações
disponibilizou durante os quatro jogos analisados, procurámos ainda compreender
em que momentos do jogo é que estes foram publicados e qual a média registada
por partida. Neste sentido, encarámos o jogo em três distintas fases:
- O pré-jogo: posts colocados online antes do jogo começar;
- O jogo: todos os momentos do desenrolar de cada uma das partidas;
- O pós-jogo: posts depois do jogo terminar;
Como seria expetável é durante o jogo, quando as equipas estão em campo, que há
maior volume de informações. É aqui que são explicados os principais lances da
partida, como os golos e as jogadas mais excitantes. No entanto, também
encontrámos um número considerável de informações divulgadas nos minutos que
antecedem os 90 minutos que cada uma da partida, em condições normais, tem4.
Neste espaço, são normalmente apresentados os 11 jogadores que se vão defrontar
e é criado um debate sobre as possibilidades que cada uma das equipas tem para
ganhar a partida. O pós-jogo é o momento menos explorado por cada uma das três
aplicações. É neste espaço que é desenvolvido o resumo do desafio, explicadas
as principais incidências da partida e lançados os dados para o futuro da
equipa que avança para a fase seguinte.
Um outro aspeto que julgamos ser pertinente é a média de posts por cada
partida. A este nível, a Marca apresentou uma média de 179,5 posts. Tendo em
conta que cada um dos jogos analisados teve a duração de 90 minutos, vemos que
a aplicação madrilena apresentou mais de um post por minuto. A Sky Sports
apresentou a média 122 posts em cada jogo e o Maisfutebol 84,25. Desta forma,
fica patente que a aplicação que menos aproveita as potencialidades de
imediatismo criadas pelo iPhone é o Maisfutebol,que soma menos de um post por
minuto.
3.3. Oferta de conteúdos numa nova plataforma informativa
Os periféricos móveis atingiram um maior nível de maturidade a partir do
momento em que passaram a comportar softwares próprios. No caso da Apple, o
sistema IOS é o escolhido. O desenvolvimento de aplicações, especificamente
desenhadas para estes aparelhos, permite que os consumidores possam receber
diferentes conteúdos. Hoje é possível ouvir rádio ou música, assistir a um
vídeo ou ler um livro nestes dispositivos. Tendo em conta estas possibilidades,
vamos procurar compreender que conteúdos foram disponibilizados pelas três
aplicações aqui mencionadas ao longo das quatro partidas da fase final da Liga
dos Campões que analisámos.
Refira-se, desde logo, que nenhuma das três aplicações disponibilizou elementos
de vídeo durante os encontros que observámos. No que toca aos ficheiros de som,
apenas a Marca disponibilizou conteúdos com este perfil. No entanto, o único
ficheiro de som apresentado foi o tema oficial desta competição. Ou seja, não
há qualquer tipo de informação sonora sobre os acontecimentos das partidas
estudadas em qualquer uma das três aplicações.
Tanto a Sky Sportscomo a Marca disponibilizam imagens ao longo das partidas.
Enquanto a Marca foi colocando as imagens na mesma secção onde são feitos os
posts sobre o jogo, a aplicação britânica dispõe de uma secção própria para as
imagens. A app do Maisfutebolfoi a única que não apresentou qualquer imagem ao
longo dos quatro jogos que analisámos. A infografia é um elemento utilizado por
todas as aplicações que escolhemos. As estatísticas do jogo e dados sobre os
jogadores são as informações encontradas nas infografias disponibilizadas.
Normalmente colocadas em secções diferentes daquela onde está a ser analisado o
encontro, constituem uma boa oportunidade para se encontrar informação
complementar da partida.
3.4- Integração: identificação de oportunidades para um consumo informativo
mais ativo
O desenvolvimento tecnológico dos periféricos de comunicação móvel, quando
associado às redes sociais, como o Facebook ou o Twitter, potencia novas
oportunidades para os cidadãos. Para além da possibilidade de partilhar a
informação com os contatos mais próximos, há ainda a opção de comentar os
conteúdos informativos. Ora, para que isso seja efetivo, devem ser abertas as
portas para a participação dos cidadãos. Neste ponto, vamos procurar conhecer
de que forma é que as três apps que constituem a base da nossa investigação
enquadram as suas audiências no decorrer de uma partida de futebol. Será que
existe a oportunidade para que os públicos assumam uma postura mais ativa? Que
plataformas são usadas quando existem essas oportunidades?
As aplicações da Marca e da Sky Sports permitiram que os seus seguidores
assumissem uma postura mais ativa ao longo dos quatro jogos analisados da fase
final da Liga dos Campeões. De facto, a aplicação espanhola contou com 87 posts
que não foram criados pelos seus jornalistas, mas por quem estava do outro lado
a assistir à partida. A app britânica também permite que os seus seguidores não
sejam meros observadores, mas contribuam para um debate mais diversificado.
Como é possível constatar através da tabela, é a aplicação do Maisfutebol a
única que não apresentou qualquer comentário enviado pelos seus seguidores.
É através de plataformas como o Email ou o Twitter que os cidadãos têm a
possibilidade de entrar em campo e expressar a opinião face aos incidentes do
encontro. Em ambas as aplicações é possível encontrar um apelo para a
participação dos cidadãos através destas duas ferramentas tecnológicas. No
entanto, julgamos ser importante destacar a forma como esta relação, entre o
que é produzido pelos jornalistas e o que é enviado pelos públicos, tem lugar
na app da Marca. Enquanto na Sky Sports o comentário enviado é colocado online
e o jornalista responde de uma forma geral a todos, na app espanhola a resposta
do jornalista é individual. O jornalista responde a cada um dos comentários
apresentados. Podemos ainda referir que na Sky Sports os comentários por parte
dos cidadãos surgem quase de forma exclusiva no pré-jogo e na Marca é bastante
comum encontrar comentários durante os principais momentos de cada uma das
partidas que foram alvo de análise.
4. Notas finais
O desenvolvimento dos periféricos móveis no contexto da sociedade da
informação, com o devido destaque para o smartphone que foi aqui abordado,
permite pensar em novos caminhos para a circulação dos conteúdos informativos.
A possibilidade da distribuição de conteúdos multimodais, a grande velocidade e
de forma continua, como vaticinado por Castells e pela sua equipa (2005), está
cada vez mais perto de ser uma realidade com as potencialidades levantas por
este tipo de periféricos.
Ao utilizar uma partida de futebol como estudo de caso, ficamos a compreender
que existe uma tentativa clara dos meios para aproveitar as possibilidades de
instantaneidade e de continuidade que estas plataformas proporcionam. De fato,
à exceção do Maisfutebol, tanto a Sky Sports como a Marca fizeram um
acompanhamento pormenorizado dos principais lances de cada partida. Foi
possível encontrar mais do que um post por minuto nestas duas apps. Para além
disso, também são estas as únicas aplicações que exploram de uma forma mais
desenvolvida a capacidade para distribuir conteúdos distintos. Para além dos
textos e da infografia, em ambas foi possível encontrar fotografias dos jogos.
No entanto, fica em aberto a hipótese para conteúdos vídeo e de som. Por
exemplo, a Marca permite acompanhar a sua emissão de rádio. Ora, seria
interessante compreender até que ponto é possível colocar trechos com
comentários dos jornalistas no desenrolar dos jogos.
Outro dos aspetos que aqui abordámos está relacionada com a autonomia que as
audiências conquistam com a emergência destes dispositivos. Foi possível
encontrar na app da Marca e da Sky Sports vários comentários vindos do outro
lado do ecrã. Porém, o Maisfutebol não incluiu ao longo dos quatro jogos
qualquer contributo dos seus seguidores. Este comportamento vai ao encontro dos
resultados obtidos em outros estudos desenvolvidos quanto à participação dos
telespetadores nas televisões portuguesas (Lopes et al., 2012: 91; Lopes et
al.,2011: 37). Apesar das capacidades que estes meios possuem, em vez de um
cidadão ativo e de uma sociedade da informação verdadeiramente democrática,
surge um sujeito eufemisticamente integrado pela forma centrípeta do
dispositivo.