Aspetos biogeográficos e paleoambientais de uma população finícola de Pinus
sylvestris L. na serra do Gerês (NW Portugal)
1. Introdução
As populações de Pinus sylvestris L. consideradas autóctones na Península
Ibérica apresentam uma posição biogeográfica singular, dado que se localizam no
extremo ocidental da área de distribuição desta espécie, sendo constituídas por
núcleos fragmentados e isolados em áreas montanhosas, desde os Pirenéus até à
Cordilheira Bética (Critchfield & Little 1966; Martínez García &
Montero 2000). Estas populações diferenciam- -se morfoecológica e
geneticamente das restantes populações europeias (Prus-GÅowackiet al. 2003),
estando descritas na Península Ibérica cinco variedades nativas de P.
sylvestris (Franco 1986). No entanto, os critérios para distinguir os núcleos
autóctones desta espécie dos povoamentos silvícolas nem sempre são claros
(Martínez García 1999).
A atual distribuição dos núcleos de P. sylvestris com origem autóctone no
território ibérico tem sido relacionada com as alterações paleoclimáticas
verificadas desde o final do Terciário, hipótese que remonta a Teixeira (1944)
e a Gaussen (1950), que admitem a expansão de P. sylvestris e de outras
espécies de "clima frio" no final do Pliocénico. Trabalhos
posteriores têm revisto e aprofundado a história paleoambiental de P.
sylvestris na Península Ibérica, conjugando as modificações paleoclimáticas com
a localização de áreas de refúgio, a existência de barreiras biogeográficas e a
influência da atividade humana (Benito Garzónet al. 2008; Figueiral &
Carcaillet 2005; García-Amorenaet al. 2007; Gómez-Orellanaet al. 2012).
É neste contexto biogeográfico que se torna relevante a ocorrência de uma
população finícola de P. sylvestris no NW de Portugal, referenciada no final do
séc. XIX na serra do Gerês (Almeida 1894). O caráter autóctone desta população,
admitido por botânicos como Pereira Coutinho, Júlio Henriques ou Jules Daveau
(Coutinho 1913; Daveau 1894; Henriques 1896), serviu de motivo para efetuar uma
multiplicação ex situ dos exemplares remanescentes, com o objetivo de instalar
futuros povoamentos de P. sylvestris em áreas montanhosas elevadas; contudo,
persistiram dúvidas sobre o estatuto nativo da população geresiana, devido à
existência de tentativas anteriores de florestação com esta espécie (Sousa
1918). Apesar de algumas iniciativas fortuitas para esclarecer tais dúvidas (e.
g., Tavares 1948), só em 2008/2009 se procedeu a novas determinações
biométricas e dendrocronológicas num dos núcleos remanescentes, com suposta
origem autóctone, tendo sido registados exemplares de P. sylvestris com mais de
dois séculos de idade (Almeida & Fernandes 2009). Esta averiguação
contribuiu para o projeto SILVESTRE - Pinheiro-silvestre em Portugal: o
"extremo sudoeste" ou apenas "o fim"? (Projeto PTDC/AGR-CFL/110988/2009),
submetido à Fundação para a Ciência e a Tecnologia pela Universidade de Trás-
os-Montes e Alto Douro, com o objetivo de estudar a provável origem autóctone
da população de P. sylvestrisda serra do Gerês, no contexto dos restantes
povoamentos desta espécie em Portugal (Lima-Britoet al. 2014).
O presente artigo, articulado com este projeto, analisa os principais estudos
biogeográficos e paleoambientais sobre P. sylvestris, no contexto ibérico e
geresiano, e procura relacionar a história recente dos núcleos de P. sylvestris
da serra do Gerês com aspetos institucionais das políticas florestais e de
conservação da natureza. A recensão efetuada mostra que os avanços no
conhecimento desta problemática resultam do cruzamento de várias disciplinas
científicas, e de diferentes sensibilidades, desde a arqueologia e a
paleobotânica às ciências florestais e à geografia, entre outros campos do
saber científico, pelo que o aprofundamento das linhas de pesquisa examinadas
requer a continuidade de uma articulação pluridisciplinar.
2. Metodologia
A metodologia utilizada baseou-se na recensão de estudos paleobotânicos sobre a
ocorrência de Pinus sylvestris na Península Ibérica e na serra do Gerês,
recorrendo a repositórios bibliográficos onlinee à consulta presencial em
bibliotecas públicas, como a Biblioteca Nacional e as Bibliotecas da Academia
das Ciências, do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e do
Instituto Superior de Agronomia, a Biblioteca Pública Municipal do Porto, a
Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a Biblioteca
Pública de Braga e o Arquivo Distrital de Braga, a Biblioteca Geral da
Universidade do Minho, e bibliotecas privadas, como a da Sociedade Martins
Sarmento e a biblioteca particular do Eng.º José Neiva Vieira. Foram igualmente
consultados os principais herbários portugueses, nomeadamente o do Jardim
Botânico do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (LISU), o da
Universidade de Coimbra (COI) e o da Universidade do Porto (PO). Os dados do
reconhecimento da população de P. sylvestris na serra do Gerês, obtidos em
2008/2009 (Almeida & Fernandes 2009), foram complementados com dados
registados no decurso do projeto SILVESTRE.
3. Resultados e discussão
3.1. Fontes paleobotânicas
Um dos vestígios mais antigos da presença de Pinus sylvestrisna Península
Ibérica é um conjunto de pinhas fossilizadas, recolhidas em depósitos
turfolignitosos na região de Leiria, atribuíveis ao Pliocénico (Daveau 1894;
Teixeira 1944, 1944-1945). Outros macrorrestos do Neogénico, incluindo, além de
pinhas, fragmentos de madeira e de folhas de P. sylvestris, foram identificados
em jazidas na Galiza e na Cantábria (Alcalde Olivares 2012), fornecendo
informação com caráter pontual ao longo do tempo.
Uma outra fonte paleobotânica, constituída por grãos de pólen amostrados em
sedimentos de turfeiras e bacias lacustres, está na base de numerosos trabalhos
(ex., Franco Múgicaet al. 2001; López-Merinoet al. 2012; Muñoz Sobrinoet al.
2007; Riera Mora 2006), permitindo obter sequências cronoestratigráficas
contínuas e detetar variações bruscas na composição florística da paisagem
vegetal. Porém, devido à dispersão anemófila do pólen, o conteúdo de uma
turfeira pode refletir a composição vegetal de áreas muito vastas (Pais 1989)
e, além disso, a identificação de pólen pode limitar-se, por vezes, à
determinação da família ou do género (Seppå & Bennett 2003), como sucede
com Pinus.
Os fragmentos de madeira semifossilizada ou semicarbonizada têm também especial
interesse como fonte de informação (ex., Alcalde Olivareset al. 2003; Figueiral
& Carcaillet 2005) e, quando associados a estações arqueológicas, indiciam
a ocorrência local das espécies identificadas (Figueiral 1995). Devido à
dificuldade de discriminação anatómica, é por vezes adotada a designação Pinus
tipo sylvestris para abranger o complexo de pinheiros orófilos ibéricos,
constituído por P. sylvestris, P. nigra e P. uncinata (Carcaillet & Vernet
2001; Figueiral & Carcaillet 2005).
Alguns estudos combinam de forma integrada dados polínicos e macrorrestos
fossilizados, além de informações dendrocronológicas e genéticas, permitindo
efetuar reconstituições paleoambientais mais precisas (Birks & Birks 2000;
Cheddadiet al. 2006). Um desenvolvimento recente na identificação paleobotânica
de P. sylvestris baseia-se na análise da cutícula e de estomas em fragmentos de
folhas, para reconstituir detalhes da história florestal e da dinâmica da
espécie (García Álvarezet al. 2009). A maioria dos estudos paleobotânicos
mencionados no presente artigo circunscreve-se ao Quaternário, abordando
paleoambientes vegetais com presença de P. sylvestris durante as glaciações
plistocénicas e no Postglaciar holocénico.
3.2. Dados paleoambientais de Pinus sylvestris na Península Ibérica e em
Portugal: alguns aspetos salientes
A distribuição atual e a diversidade morfogenética de P. sylvestris na Europa
ocidental têm sido relacionadas com as alterações climáticas das últimas fases
do Quaternário, durante as quais se registaram mudanças extremas, desde o
Estadial Würmiense Final (28.000-16.000 BP) até ao Ótimo Climático Postglaciar
(7000-2500 BP) (Clarket al. 2009; Lowe & Walker 1997; Ramil Regoet al.
2009; Walker 1995). Durante as glaciações plistocénicas, regiões mediterrânicas
como a Península Ibérica, a Península Itálica e os Balcãs terão constituído
áreas de refúgio para espécies vegetais do norte e centro da Europa, as quais
se difundiram novamente a partir dessas áreas, à medida que as condições
climáticas se tornaram mais favoráveis (Cheddadiet al. 2006; Figueiral &
Terral 2002; Gómez-Orellanaet al. 2012). É também admitida a existência de
critpo-refúgios em latitudes mais elevadas, durante as fases glaciares, sendo
detetáveis variações na dimensão das áreas de refúgio e na duração do
confinamento das espécies vegetais (Stewartet al. 2010).
Uma parte da diversidade taxonómica atual de P. sylvestris, constituída por um
complexo de várias unidades evolutivas, pode ser atribuída à proveniência de
diferentes locais de refúgio, no final da última glaciação. Como hipótese de
trabalho, Sinclair et al. (1999) reconheceram pelo menos três unidades
evolutivas nas populações atuais de P. sylvestris da Europa ocidental -na
Península Ibérica, na Europa central e setentrional e no norte da Fino-
Escandinávia-, resultantes de origens distintas; durante os ciclos glaciares
plistocénicos, as populações ibéricas mantiveram-se isoladas no interior da
área peninsular, formando uma linha evolutiva independente do processo de
recolonização holocénica além-Pirenéus. A elevada diversidade de mitótipos,
presente na atualidade, sugere que as populações ibéricas de P. sylvestris
representam relíquias do Terciário, mantidas em relativo isolamento no
território ibérico (Sinclairet al. 1999).
Durante o Quaternário, na formação plistocénica da praia de Maceda (Ovar),
Carvalho & Granja (2003) registaram camadas com restos de troncos
atribuíveis a P. sylvestris, alguns em posição vertical, sugerindo a existência
de uma paleofloresta desta espécie; as datações obtidas, de 20.700±300 BP a
29.000±690 BP, são enquadráveis no Último Máximo Glaciar, durante o qual o mar
estaria muito afastado das atuais praias. Figueiral & Carcaillet (2005)
situam a presença de P. tipo sylvestrisdesde 23.900 BP em estações
arqueológicas da atual região estremenha portuguesa; a abundância de vestígios
antracológicos sugere a existência de uma área de refúgio em altitudes baixas,
na região central de Portugal, onde a espécie permaneceu até ao Tardiglaciar
(16.000-10.000 BP). Em contrapartida, são muito raros registos antracológicos
em áreas setentrionais, antes do aquecimento holocénico, pois muitas estações
do Paleolítico foram afetadas pela erosão costeira (Figueiral & Carcaillet
2005). Com as alterações climáticas do início do Holocénico, os registos de P.
sylvestris tornam-se esporádicos, refletindo o seu declínio no novo quadro
fitoclimático, que favoreceu competitivamente espécies como osQuerci.
Adicionalmente, as transformações neolíticas do uso do solo, e a recorrência de
incêndios de origem antropogénica, poderão ter contribuído para o seu declínio
regional, embora alguns núcleos de P. sylvestris tenham sobrevivido próximo de
áreas habitadas, pelo menos até há 2000 anos atrás, sendo possível que os seus
últimos representantes se encontrem confinados à serra do Gerês (Figueiral
& Carcaillet 2005).
Com efeito, a paleopalinologia admite a presença pretérita de P. sylvestris na
serra do Gerês, desde que foram publicados os primeiros resultados de sondagens
em depósitos turfosos de génese tardi a postglaciar (Bellot Rodríguez 1950).
Nestes resultados inclui-se uma sondagem efetuada nos Carris, a 1450 m de
altitude, na qual foi identificado pólen atribuído a P. sylvestris,
representando 3% do espectro polínico; segundo Bellot Rodríguez (1950), tal
resultado confirmaria o caráter relicto da espécie nos pisos elevados do maciço
Galaico-Duriense. Um resultado análogo foi obtido nas primeiras sondagens
polínicas da serra da Estrela (Romariz 1950), numa turfeira próxima da Lagoa
Comprida, a cerca de 1600 m de altitude, de génese postglaciar, tendo sido
atribuído a P. sylvestris cerca de 60% do espectro polínico arbóreo.
No estado dos conhecimentos paleobotânicos em meados do século passado,
admitia-se que P. sylvestris tivesse atingido a faixa litoral próxima da atual
Leiria, e mesmo mais a sul, durante o Pliocénico e a glaciação de Würm. O
aquecimento postglaciar, e as novas condições xerotérmicas, terão deslocado
estes pinhais, quer para latitudes setentrionais, quer em altitude, formando
maciços nalgumas montanhas Ibéricas, como as serras de Guadarrama ou do Gerês,
onde, ao contrário da serra da Estrela, persistiriam até à atualidade (Gaussen
1950).
Duas análises palinológicas nas serras do Gerês e da Peneda, efetuadas por
Coudé-Gaussen (1981), contribuíram para um melhor conhecimento da dinâmica
regional de P. sylvestris. Na Lagoa do Marinho, em Couce, na serra do Gerês, a
1150 m de altitude, numa sondagem com 140 cm de profundidade, a espécie foi
considerada presente ao longo do diagrama polínico (Fig._1); a datação por
radiocarbono de uma turfeira análoga, na serra da Peneda, aponta para uma
génese recente, com cerca de 1000 anos. A desflorestação, e consequente
aparição de uma paisagem arbustiva no cimo das áreas montanhosas geresianas,
terá ocorrido entre 800 e 1000 d. C., em consequência de ações antropogénicas
"brutais", como o sobrepastoreio e a prática de queimadas. O
diagrama polínico evidencia um comportamento oposto entre as fases de
predomínio de matagais e as de bosque: o aumento de espécies arbustivas,
associadas a P. sylvestris e a Alnus glutinosa, corresponde a um recuo de
espécies de Quercus, Cistus e Gramineae, e das Umbelliferae e Ranunculaceae
mais termófilas. O aumento de P. sylvestris, nos níveis superiores do diagrama,
refletirá as ações de arborização antropogénica empreendidas desde o final do
séc. XIX.
Uma nova sondagem na Lagoa do Marinho, efetuada por Ramil Regoet al.(1995),
ampliou significativamente o período temporal analisado, obtendo-se um registo
com 290 cm de profundidade, cujos 10 cm basais datam de 10.910±90 BP,
correspondendo ao início da sedimentação orgânica, no final do Tardiglaciar.
Nas amostras basais foi registado um predomínio de pólen arbóreo, com Pinus
tipo sylvestris, Querci caducifólios e Betula, acompanhados em menor proporção
porQuercus tipo ilex, Corylus e Castanea, sendo a fração de pólen não arbóreo
dominada por Ericaceae.
Este cenário polínico é concordante com o auge de uma fase de expansão das
formações arbóreas, revelando condições fitoclimáticas mais benignas do que as
de outros depósitos turfosos e lacustres do norte da Península Ibérica, em
localizações mais interiores ou de maior altitude (Ramil Regoet al. 1995). Os
dados da Lagoa do Marinho situam o auge da expansão de Querci em 7500±70 BP,
marcando o início de um período de hegemonia florestal, no qual Ramil Regoet
al.(1998; 1995) admitem três unidades florestais hipotéticas:
1. a) formações de caráter boreal, com predomínio de Pinus sylvestris e
Betula cf. alba, no limite altitudinal das massas florestais;
2. b) formações mesófilas, a menor altitude, predominantemente caducifólias
(Quercus, Alnus, Castanea, Fraxinus, Sambucus e Salix), com elementos
perenifólios, como Ilex;
3. c) áreas marginais mais termófilas, com bosquetes de Quercus tipo ilex,
Arbutus e Olea.
A aparição posterior de pólen de cereais, cerca de 5000 BP, é um indicador
inequívoco da antropização da paisagem, acompanhado pela regressão das
formações florestais, nomeadamente as de tipo Pinus-Betula, que se terão
reduzido a indivíduos isolados, e a regressão dos bosques meso-termófilos; a
progressão da antropização é testemunhada pela presença contínua de pólen de
cereais, pelo incremento de Erica e pela diminuição do pólen arbóreo. A
evolução mais recente da paisagem, caracterizada pelo predomínio de Erica e
Calluna, e pela progressiva desaparição dos bosques, corresponde aos resultados
obtidos por Coudé-Gaussen (1981), acima mencionados.
3.3. Pinus sylvestris no Gerês: dados documentais (sécs. XVIII-XX)
Remontam ao séc. XVIII as primeiras referências documentais à flora da serra do
Gerês, resultado de memórias redigidas por eclesiásticos e das primeiras
expedições de naturalistas, contemporâneas das "viagens
filosóficas" empreendidas no quadro da Reforma Pombalina (Carvalho 1987).
O Pe. José de Matos Ferreira, que residiu em Campo do Gerês, descreveu em 1728
os marcos miliários da via romana que atravessava a serra do Gerês, referindo
elementos florísticos como "teyxos, azereyros, Pinheiros, medronheyros,
Freyxos, Louros Regios, Platanos" (Ferreira 1982: 62); não dispomos,
contudo, de qualquer elemento que permita identificar a espécie de pinheiro
mencionada. Um manuscrito inédito, redigido em 1744 pelo Pe. Diogo Martins
Pereira[1], relativo à genealogia de alguns casais de São Lourenço de Cabril,
Montalegre, contém informações sobre a vegetação da serra, mas não refere a
ocorrência de pinheiros. Uma expedição botânica empreendida na serra do Gerês,
em 1752, por Fr. Cristóvão dos Reis, farmacêutico-boticário no convento do
Carmo de Braga (Reis 1779), descreve espécies vegetais características da
serra, como o vidoeiro, o zimbro e o teixo, mas também não menciona a presença
de pinheiros. Porém, na Memória Paroquial de Campo do Gerês, redigida em 1758
pelo abade Custódio José Leite, transcrita e editada por Capela (2001), é
referida uma espécie de pinheiro que poderá corresponder a P. sylvestris. O
questionário que serviu de base à elaboração desta memória -enviado a todos os
párocos do país na sequência do terramoto de 1755-, contém um item acerca
"de que plantas ou ervas medicinais a serra é povoada"; em
resposta, o abade de Campo do Gerês menciona "muitas árvores silvestres
com bem a ser carvalhos, cerquinhos e verinhos e alguns pinheiros que nam são
dos mansos nem dos que chamamos bravos, pois criam huma folha muito
miuda" (Capela 2001: 118). Embora sem outras informações, além do tamanho
relativo das agulhas, esta espécie de pinheiro será, com grande probabilidade,
P. sylvestris; a falta de um nome vernacular para a designar sugere uma
ocorrência esporádica. Na resposta são também enumerados "teixos,
medronheiros, azereiros, pradeiros, vidueiros, aveleiras e outras que parecem
platanos" (Capela 2001: 118), o que sugere que o pároco memorialista
possuiria, pelo menos, conhecimentos botânicos elementares.
Uma nova expedição naturalista, realizada em 1782 por Joaquim Pereira Araújo e
Manuel Maia Coelho, por incumbência de D. Gaspar de Bragança, Arcebispo de
Braga, permitiu efetuar "as primeiras observações de história natural da
serra, com pretendido caráter científico" (Maia 1950: 628). Desta
expedição resultou uma coleção mineralógica, que terá sido enviada para o
Palácio de Palhavã (Lisboa 1786); mas o diário da expedição, editado por Maia
(1949), refere um número muito reduzido de espécies vegetais, não sendo
mencionados quaisquer pinheiros. Posteriormente, o naturalista alemão Heinrich
Friedrich Link passaria um mês no Gerês, em 1798, no decurso de uma viagem com
o conde de Hoffmansegg, com o objetivo de reunir materiais para uma Flora de
Portugal; Link menciona a ocorrência de "árvores nórdicas, que não se
encontram nas planícies e nas montanhas mais baixas de Portugal" (Link
2005: 211), como o teixo, o vidoeiro, a sorveira e o zimbro, não mencionando,
porém, a ocorrência de pinheiros. Já no século seguinte, um outro naturalista
de origem alemã, Heinrich Moritz Willkomm, percorreria a Espanha e Portugal por
diversas vezes (1844/45, 1850 e 1873), daí resultando um importante contributo
para o conhecimento da flora ibérica; porém, as referências a P.
sylvestriscircunscrevem-se ao território espanhol (Devesa Alcaraz & Viera
Benítez 2001; Willkomm & Lange 1870).
Das diversas expedições botânicas realizadas no Gerês durante o séc. XIX
resultou o primeiro catálogo das plantas desta serra (Henriques 1884), que
regista 345 espécies da flora vascular, incluindo duas gimnospérmicas (zimbro e
teixo), mas sem qualquer espécie de pinheiro. Após a criação do Perímetro
Florestal do Gerês, em 1888, no decurso do levantamento da carta florestal da
serra, o silvicultor António Mendes de Almeida viria a encontrar, em 1894,
exemplares de uma espécie de pinheiro distinta das vulgarmente conhecidas em
Portugal, formando pequenos núcleos no setor oriental da serra, em locais
elevados de difícil acesso, com árvores de idade estimada em pelo menos 100
anos; as características das pinhas, rama e carrasca levaram-no a concluir
tratar-se de P. sylvestris, o que seria confirmado pelo botânico Pereira
Coutinho (Almeida 1894, 1895; Coutinho 1913); como se referiu na Introdução,
outros botânicos contemporâneos aceitaram prontamente esta descoberta.
Conservam-se em LISU - Herbário do Jardim Botânico do Museu Nacional de
História Natural e da Ciência dois espécimes colhidos por Mendes de Almeida
(Fig._2); a foto de um exemplar isolado, captada por este silvicultor em 1896,
seria divulgada numa publicação de apologia da árvore (Sousa 1912: 175).
É plausível que estes exemplares de P. sylvestris tenham passado despercebidos
nalgumas das expedições botânicas anteriores por estas não terem percorrido o
setor oriental da serra do Gerês, devido à dificuldade de acesso e à aparente
ausência de vegetação arbórea (Almeida 1894). Contudo, à data desta descoberta,
que referências anteriores eram conhecidas sobre a introdução e cultivo de P.
sylvestris em Portugal?
É, porventura, na Abadia Beneditina de Tibães, próxima de Braga, que
encontramos uma primeira informação, no quadro de atividades de fomento
florestal empreendidas nos domínios monásticos, na segunda metade do séc.
XVIII, com uma política ativa de plantação, proteção e reserva de áreas
florestais (Oliveira 1979). Com efeito, o Estadodo Mosteiro relativo ao triénio
1787-1789 menciona: "Semeou-se hum pinhal de Flandes [sic] ao redor do
muro novo"[2]. Esta designação geográfica, com as variantes Flandes e
Flandres (Bluteau 1713), é um dos qualificativos vernaculares de P. sylvestris
(Colmeiro 1888; Silva 1815), aludindo à região da Europa donde a sua madeira
era importada.
No séc. XIX, a Memória de J. Bonifácio de Andrada e Silva, intendente-geral das
Minas e Metais do Reino, considerado o primeiro "silvicultor"
português (Devy-Vareta 1989), indica a ocorrência de P. sylvestris em três
localidades do vale do Tejo, nomeadamente na quinta dos Chavões, Cartaxo,
formando uma mata "de duas legoas de comprido"; num terreno próximo
de Aveiras de Cima, Azambuja, onde teria sido introduzido por iniciativa de
Domingos Vandelli; e ainda a existência de outro pinhal desta espécie em Samora
Correia, no concelho de Benavente (Silva 1815: 57). É também mencionada uma
sementeira "em hum sitio da serra do Marão", feita em 1800, com
semente "mandada vir do Norte" pelo Ministro Rodrigo de Sousa
Coutinho (Silva 1815: 57). Além destes locais, o botânico Félix Brotero refere
a presença de indivíduos de P. sylvestrisno Jardim Botânico da Ajuda, então com
mais de 20 anos de idade, em bom estado vegetativo (Brotero 1827). Por seu
turno, o primeiro Administrador Geral das Matas, Luís Varnhagen, tendo
reconhecido os locais onde havia sido introduzido anteriormente P. sylvestris,
afirma ter encontrado apenas as duas espécies vulgares em Portugal, P. pinaster
e P. pinea, referindo a ocorrência de "pinheiros exóticos" apenas
em bosques de recreio e jardins botânicos (Varnhagen 1836: 69-70). Menciona
ainda duas sementeiras experimentais de P. sylvestris efetuadas no pinhal de
Leiria, em 1825 e 1826, com fracos resultados, "sendo por certo que os
pinheiros do Norte não se contentão com terreno magro neste clima, e da
qualidade do que neste paiz de ordinário se destina para pinhaes"
(Varnhagen 1836: 72). Não obstante, existem referências posteriores à plantação
de P. sylvestris no Buçaco[3], e ao seu cultivo em Sintra[4].
Deste modo, a espécie não seria totalmente desconhecida em Portugal durante o
séc. XIX, podendo levantar-se algumas dúvidas sobre a espontaneidade da
população geresiana, aspeto que seria analisado pelo regente florestal Tude de
Sousa, com a colaboração do botânico Gonçalo Sampaio (Sousa 1918). Apesar do
exame crítico das referências anteriores, e de ter procurado indagar o estado
dos espécimes introduzidos, Tude de Sousa não chegou a uma conclusão
definitiva, remetendo para a eventual existência de documentos arquivados no
Ministério do Fomento sobre a aquisição de semente de P. sylvestris em 1800,
com a localização dos ensaios de plantação (Sousa 1918). Não se conhecem
notícias posteriores desta documentação, apesar das diligências efetuadas por
Tavares (1948), o que limita o esclarecimento da questão por esta via.
3.4. Pinus sylvestris e arborização da serra do Gerês
A descoberta dos núcleos espontâneos de P. sylvestrisna serra do Gerês,
considerada de "alta importancia florestal" (Almeida 1894: 1217),
motivou uma campanha de colheita de pinhas, em 1896, de que resultaram as
primeiras sementeiras e plantações para propagação do "pinheiro-silvestre
de Portugal" (Sousa 1919: 4). Novas campanhas de colheita, efetuadas
entre 1912 e 1914, sob orientação de Tude de Sousa, deram origem a uma
plantação definitiva de 13.250 exemplares no antigo viveiro da Pereira, próximo
da vila do Gerês (Sousa 1918, 1926). No entanto, além da notícia inicial de
Mendes de Almeida, em 1894, o que é que se conhece, em rigor, sobre os núcleos
de P. sylvestriscom possível caráter autóctone? Um reconhecimento efetuado em
1910, no setor da serra pertencente ao termo de Montalegre, indica a existência
de um núcleo com cerca de 400 indivíduos, em bom estado vegetativo, com 10 a 15
m de altura, no lugar de Matança, freguesia de Cabril, de outros núcleos nos
lugares de Lama Longa e Borrageirinho, da mesma freguesia, em número não
determinado, e ainda núcleos em Viduíças e Lamas de Compadre, na antiga
freguesia de Cela (Sousa 1918). Uma carta inédita, atribuível a Victor Branco,
presidente da Câmara de Montalegre em vários mandatos desde 1898, parcialmente
transcrita por Tavares (1948), refere a ocorrência de P. sylvestris na Garganta
das Negras e na cabeceira do rio Cabril, próximo de Xertelo; menciona também
exemplares possivelmente centenários, próximo das aldeias de Parada e Outeiro,
na confluência da ribeira das Viduíças com o rio Sapinho, que teriam sido
abatidos pelos seus proprietários.
Apesar do interesse inicial em propagar material vegetal dos núcleos
considerados autóctones, foram realizadas arborizações em maior escala com P.
sylvestris na mata nacional do Gerês, entre 1901 e 1914, recorrendo a sementes
de origem não especificada, possivelmente importadas de França, tendo sido
instaladas neste período cerca de 200.000 plantas (Sousa 1926). Especialmente
importantes foram as plantações de 1903-1904 (c. 50.000 plantas) e de 1910-1911
(mais de 60.000 plantas), sendo Gramelas, Albergaria e Chã de Ranhado os locais
mais intensamente arborizados (Sousa 1926). Conservam-se em PO - Herbário
da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto dois espécimes herborizados
em 1909 por Gonçalo Sampaio que atestam o cultivo de P. sylvestris no Gerês,
proveniente quer de "sementes da serra", quer de "sementes
estrangeiras"[5].
A tendência para recorrer a material alóctone de P. sylvestris ter-se-á
acentuado durante o Estado Novo, com a publicação da Lei do Povoamento
Florestal (Lei n.º 1971, de 15 de junho de 1938), que elegeu a arborização de
terrenos baldios em áreas montanhosas como um objetivo de política florestal.
Com efeito, a Memória resultante do reconhecimento dos baldios a norte do Tejo,
efetuado em 1935, preconiza a introdução de P. sylvestris em vários perímetros
florestais montanhosos, nomeadamente no grupo de perímetros do Gerês (DGSFA
1940); por seu turno, o projeto de arborização do Perímetro do Gerês refere a
existência de "exemplares de um pinheiro-silvestre diferente do que
posteriormente foi importado para plantações", reavivando a dúvida de se
tratar de "uma forma portuguesa daquela espécie" ou de, em
contrapartida, "aquelas árvores constituírem derradeiros vestígios de
trabalhos de arborização há muitos anos empreendidos, dos quais os últimos
terão sido os de D. Maria I"[6].
A realização da I Reunião de Botânica Peninsular no Gerês, em 1948, suscitou a
apresentação de trabalhos científicos que abordaram, à luz de novos dados, a
questão da espontaneidade dos núcleos antigos de P. sylvestris. Além dos
resultados das análises paleopalinológicas, já mencionadas, os trabalhos
fitossociológicos de Rivas Goday (1950) e de Vasconcellos (1950) identificaram
algumas espécies vegetais características de comunidades de P. sylvestris, como
Amelanchier ovalis Medik. e Gymnadenia conopsea(L.) R. Br., consideradas como
indícios a favor da espontaneidade dos núcleos remanescentes. Por seu turno, o
silvicultor e botânico João do Amaral Franco, tendo efetuado o inventário da
flora lenhosa exótica da serra (Franco 1950), menciona os povoamentos de
P.sylvestris, cuja área tinha vindo a aumentar notoriamente, devido a
plantações feitas quer a partir de sementes de origem autóctone, quer de
sementes com outras origens; foram considerados espontâneos os núcleos de Lama
Longa, Vale de Matança, Viduíças e Borrageirinho, embora não sejam mencionados
os motivos para tal. Ainda no contexto desta reunião científica, o silvicultor
Baeta Neves apela à proteção cuidadosa desta "relíquia preciosa"
(Neves 1950: 212). Assim, num momento em que se constituem algumas das bases
para a futura criação do Parque Nacional da Peneda Gerês, a hipótese de a
população geresiana de P. sylvestris ter origem autóctone é retomada com o
contributo de diversas áreas de saber científico.
3.5. Pinus sylvestris num contexto de conservação da natureza
Após a criação do Parque Nacional da Peneda Gerês, em 1971, surgiram novas
manifestações de interesse pelo estudo e salvaguarda dos núcleos remanescentes
de P. sylvestris. Um reconhecimento efetuado por Malato-Beliz (1977)
circunscreveu a área de refúgio às margens da ribeira da Viduíça e das Lamas de
Compadre, considerando a população remanescente reduzida a poucas dezenas de
indivíduos, apresentando o esboço cartográfico de uma área a proteger. O
caráter autóctone dos núcleos remanescentes foi plenamente assumido por Silva
(1979), tendo sido apresentada por Oliveira (s/ d.) uma proposta para a sua
conservação genética, envolvendo a polinização artificial. Esta proposta não
terá tido efeitos práticos, acabando os núcleos remanescentes por serem
considerados em risco de extinção (Serra & Carvalho 1989). Na sua tese
sobre a flora e a vegetação do Parque Nacional da Peneda Gerês, Honrado (2003)
admite a existência de duas populações de P. sylvestrisprovavelmente relictas,
no setor oriental da Serra do Gerês; a sua sobrevivência teria sido possível
devido à frugalidade e dinâmica da espécie, apta a colonizar solos
relativamente pobres ou pouco evoluídos, ao carácter xerofítico e
subcontinental da vertente sudeste da serra do Gerês, onde se localizam, e aos
biótopos ocupados pela espécie -fundo de vales encaixados-, onde teriam
sobrevivido aos incêndios que percorrem reiteradamente a serra. Um novo esboço
cartográfico dos núcleos remanescentes foi publicado por Gama (2007), que
efetuou o recenseamento de 1770 pinheiros, das quais considerou
"antigos" apenas 181. Finalmente, Almeida & Fernandes (2009)
efetuaram um reconhecimento dos núcleos da ribeira da Dola / Biduíça e da
ribeira das Negras, cujos exemplares formam uma galeria ribeirinha descontínua
(Fig._3); foram efetuados registos biométricos e colhida uma amostra
xilográfica que permitiu estimar a idade de um exemplar em 220 anos, ou seja,
anterior às primeiras tentativas de introdução em Portugal de material alóctone
desta espécie por via oficial.
Os dados mais recentes, relativos às características e à localização dos
núcleos remanescentes de P. sylvestris, obtidos por Bentoet al. (2014) no
âmbito do projeto SILVESTRE, inventariam um total de 1563 árvores, distribuídas
por 4 núcleos: ribeira da Biduíça (682 indivíduos ao longo de 2,4 km), ribeira
das Negras (859 indivíduos ao longo de 2,09 km), Borrageirinho (13 indivíduos
num raio de 100 m) e Lama Longa (9 indivíduos num raio de 70 m). Em todos se
regista abundante regeneração natural.
Refira-se, por último, que o regulamento do Plano de Ordenamento do Parque
Nacional, anexo à Resolução do Conselho de Ministros n.º 11-A/2011, de 4 de
fevereiro, assume como um objetivo promover a preservação e restauração dos
habitats de vegetação arbórea, incluindo os pinhais de pinheiro-silvestre
relictos (Artigo 2.º, n.º 4).
4. Conclusões
No estado atual dos conhecimentos biogeográficos e paleobotânicos, pode
concluir-se que os núcleos remanescentes de Pinus sylvestrisda serra do Gerês
são, com elevada probabilidade, os últimos representantes de antigas florestas
desta espécie, resultantes de um historial complexo de avanços e recuos em
função das condições paleoambientais do Plistocénico e do Holocénico,
localizando-se atualmente no limite ocidental absoluto da área global de
distribuição natural da espécie. Como se referiu, a ocorrência de populações
autóctones de P. sylvestris na serra do Gerês remonta pelo menos ao
Tardiglaciar, existindo testemunhos fósseis que documentam a presença da
espécie noutras áreas do atual território continental português, desde o final
do Terciário; os dados paleopalinológicos e antracológicos permitem concluir
que, durante as glaciações plistocénicas, a dinâmica populacional da espécie
foi afetada pela intensidade e duração dos períodos frios, pela existência de
áreas de refúgio, e pelo relativo isolamento da Península Ibérica, em relação
ao resto da Europa. Mencionamos a hipótese de as populações ibéricas desta
espécie terem constituído linhas evolutivas independentes que, após episódios
de retração e expansão, teriam sofrido uma redução drástica da sua extensão no
Postglaciar holocénico, devido à alteração das condições climáticas e à
possível desvantagem competitiva frente aos Querci, que se tornaram então
dominantes. A fragmentação, extinção e acantonamento das populações
remanescentes de P. sylvestris em locais montanhosos elevados, configurou o
atual padrão de distribuição ibérica desta espécie, que se extinguiu em todo o
território português, com exceção dos núcleos remanescentes na serra do Gerês.
A origem autóctone destes núcleos é corroborada pelas características
ecológicas dos locais onde se encontram, assim como pela informação histórica
disponível. Adicionalmente, podemos mencionar a ausência de testemunhos orais
sobre eventuais plantações florestais efetuadas nestes locais, contrastando com
a memória local sobre outras plantações de P. sylvestris, efetuadas em áreas do
Planalto da Mourela e em parcelas a norte de Pitões das Júnias, no concelho de
Montalegre, embora mais recentes. Por outro lado, os dados citogenéticos já
publicados no âmbito do projeto SILVESTRE apoiam a hipótese da origem nativa
dos núcleos remanescentes (Paviaet al. 2014).
Não obstante, a "alta importância florestal" atribuída por Mendes
de Almeida à descoberta dos núcleos autóctones desta espécie, no final do séc.
XIX, foi sendo suplantada por uma prática de arborizações com recurso a
material vegetal de origem alóctone, revelando a proeminência de um paradigma
tecnocrático de florestação que marginalizou um paradigma alternativo, baseado
em recursos endógenos. Desde a sua criação, o perímetro florestal do Gerês
procurou afirmar-se como expoente político dessa visão tecnocrática para
"remediar os atrasos do setor agro-florestal", no qual várias
gerações de silvicultores tiveram por missão eliminar o "espectro dos
incultos" através da "intervenção estatal direta nos processos da
florestação"(Devy-Vareta 1989: 115).
Admitindo que o atual contexto é mais favorável à conservação da natureza, como
se depreende do Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda Gerês, talvez
se torne possível tomar medidas mais efetivas do que as que foram tomadas
durante o último século, no sentido de conservar o património biogenético da
população remanescente de P. sylvestris. Para que tal se concretize, nunca será
demais salientar a necessidade de articular as práticas de gestão do território
com uma investigação pluridisciplinar, que possibilite o cruzamento de várias
disciplinas científicas e a auscultação de diferentes sensibilidades.