O precariado e a luta de classes
Toda a formação social produz a sua própria estrutura de classes, mesmo quando
esta se vem acrescentar a estruturas anteriores. Encontramo-nos hoje em plena
Transformação Global, análoga à Grande Transformação de Karl Polanyi (Polanyi,
[1944] 2001). Neste caso, contudo, estamos a viver a construção dolorosa de um
sistema de mercado global, ao passo que aquilo sobre que Polanyi escreveu tinha
a ver com a criação de uma economia de mercado nacional e com as instituições
que permitem incrustar a economia na sociedade.
Enquanto no início do século xx o proletariado ' núcleo, então em expansão, da
classe operária ' estava na vanguarda das transformações sociopolíticas, a
partir da década de 1980 ele deixou de ter a dimensão, a força e a perspetiva
progressista necessárias ao desempenho desse papel. Foi, durante muitas
décadas, uma força positiva, mas chegou a uma situação de impasse em resultado
do seu laborismo intrínseco, ao querer o maior número de pessoas possível com
empregos e ao associar direitos sociais e económicos à prestação de trabalho.
Em meados do século xx, o capital, os sindicatos e o mundo do trabalho em
geral, bem como os partidos trabalhistas e social-democratas estiveram, todos
eles, de acordo quanto à criação de uma sociedade e de um Estado-providência
inspirados no laborismo, assentes numa maioria proletarizada, apostados no
trabalho estável e em que houvesse uma ligação implícita entre trabalho e
benefícios. Para o proletário, o grande objetivo era ter trabalho decente e
melhor, não a fuga ao trabalho. A estrutura de classes correspondente a tal
sistema era relativamente fácil de descrever, com uma burguesia ' empregadores,
gestores e quadros superiores assalariados ' oposta ao proletariado e formando
assim, no seu conjunto, a espinha dorsal da sociedade.
Hoje em dia ganha forma, a nível global, uma estrutura de classes profundamente
diferente. Em resumo, e tal como a descrevo noutro local (Standing, 2009,
2011), ela é constituída por sete grupos, nem todos constituindo propriamente
classes, quer na aceção marxista, quer no sentido weberiano do termo. Na sua
maior parte possuem claras relações de produção, de distribuição, relações com
o Estado e ainda uma clara consciência moral.
Abaixo dos grupos que podemos designar como classes existe uma subclasse, um
lumpen-precariado constituído por gente que se arrasta, acabrunhada, pelas
ruas, morrendo na miséria. Atendendo a que estão, de facto, excluídos da
sociedade, a que não têm capacidade de ação ou qualquer papel ativo no sistema
económico para além de amedrontarem quem nele se encontra, podemos
deixá-los de lado, não obstante alguns dos seus elementos poderem
eventualmente ser ativados em alturas de protesto popular.
Embora as classes não se definam unicamente pelo rendimento, é possível
agrupá-las por ordem decrescente de rendimento médio. No topo da estrutura
há uma plutocracia ' um punhado de super-cidadãos detentores de uma vasta
riqueza, na sua maior parte obtida ilicitamente, e gozando de um enorme poder
informal, parcialmente associado ao capital financeiro. Vivem desvinculados do
Estado-nação, muitas vezes com passaportes de conveniência de vários países.
Muito do poder que detêm é um poder de manipulação, seja através de agentes, do
financiamento de políticos e de partidos ou da ameaça de tirar o seu dinheiro
do país caso os governos não lhes façam a vontade.
Abaixo da plutocracia encontra-se uma elite com a qual aquela tem muito em
comum, embora os membros dessa elite possuam nacionalidade definida. Os dois
grupos funcionam como classe dominante efetiva, quase hegemónica no seu
presente estatuto. Eles corporizam o Estado neoliberal, manipulando os
políticos e os meios de comunicação, enquanto, por outro lado, as agências
financeiras cuidam para que as regras se lhes mantenham favoráveis.
Logo abaixo está o salariado, grupo com segurança de emprego a longo prazo,
salários elevados e amplas regalias ao nível da relação empresarial. Os seus
membros ocupam as burocracias do Estado e os escalões mais elevados das grandes
companhias. A chave para se entender a sua posição de classe está em que vão
buscar ao capital, sob a forma de ações, uma fatia cada vez maior dos
rendimentos e da sua segurança. Tal significa que os seus proventos poderão
aumentar se os salários forem esmagados, caso isso, por sua vez, signifique que
sobe a participação nos lucros e, com ela, o valor das suas remunerações. Esta
é uma das razões pelas quais poderá ser enganador juntar numa única classe o
salariado e os que lhe ficam por baixo.
Com a privatização do setor público e com o emprego a ser terceirizado e
atirado para offshores tanto por empresas como por agências governamentais, o
salariado tem vindo a diminuir e muitos dos seus membros receiam vir a cair no
precariado, sobre o qual nos deteremos já adiante. O salariado vai continuar a
diminuir na maioria dos países, mas mesmo assim continuará a existir, sendo uma
espécie de classe média.1 Uma grande parte dos seus membros nutre,
claramente, a esperança de ascender à elite ou transitar para o grupo seguinte.
Chamei a este grupo o dos proficians. Em número cada vez maior, ganham a vida
como consultores, empresários independentes e em atividades afins. Auferem
rendimentos elevados, mas vivem no limite e numa constante exposição a riscos
morais, infringindo muitas vezes a lei sem quaisquer reservas. Além de
crescerem em número, é também cada vez maior a sua influência no discurso
político e no imaginário popular. Seria estulto afirmar que integram uma classe
trabalhadora una, uma vez que são, fundamentalmente, empresários que a si
mesmos se vendem, ou seja, constituem uma força de trabalho verdadeiramente
mercadorizada.
Abaixo, em termos de rendimento médio, situa-se o núcleo do velho proletariado,
em rápido processo de retração em todo o mundo. Aquilo que dele resta irá
perdurar, mas falta-lhe a força para fazer avançar ou impor a sua agenda no
domínio político, ou sequer para assustar o capital com reivindicações. Os
Estados-providência e os regimes dos chamados direitos laborais foram feitos
para eles, mas não para os que se situam mais abaixo na estrutura de classes.
Este facto tem implicações inusitadas para a natureza da luta de classes
durante o período que se avizinha. Ao longo do século xx o proletariado
conheceu uma gradual desmercadorização do trabalho, devido à circunstância de
uma parte dos seus rendimentos consistir em ganhos de capital em remunerações
não salariais. A materialização mais importante deste fenómeno são os
gigantescos fundos de pensões que premeiam os trabalhadores proletarizados
pelos longos anos de serviço durante os quais investiram em mercados de
capitais para obter fundos. O resultado disso é que se torna muito difícil
imaginar o proletariado a ter um papel revolucionário ou transformador,
atendendo ao modo como os seus representantes, e nomeadamente os sindicatos,
cimentaram os seus interesses no interior do próprio capitalismo.
Definição de precariado
Seja como for, é logo abaixo na escala ' falando ainda em termos de rendimento
médio ' que o precariado vai, rapidamente, ganhando forma. Alguns comentaristas
reagiram ao conceito argumentando que a precariedade é uma condição social. É-
o de facto, mas uma condição social não age, falta-lhe a capacidade de ação
humana. O precariado é uma classe-em-construção. Podemos precisar melhor a sua
definição. Contudo, e como adiante veremos, ele possui uma caraterística ímpar
que vai fazer com que seja uma peça charneira na fase de reimplantação da
Transformação Global e nas lutas que terão de ter lugar para que esta seja
alcançada.
O precariado tem relações de produção bem definidas e este tem sido o aspeto
mais acentuado pela maioria dos comentadores, apesar de não ser, efetivamente,
o mais determinante para a sua compreensão. O trabalho desempenhado pelo
precariado é, de sua natureza, frágil e instável, andando associado à
casualização, à informalização, às agências de emprego, ao regime de tempo
parcial, ao falso autoemprego e a esse novo fenómeno de massas chamado crowd-
sourcing, sobre o qual nos debruçamos noutro local (Standing, 2014).
Todas estas formas de trabalho flexível têm vindo a crescer um pouco por todo
o mundo. O que já não é tão visível é que, nesse processo, o precariado se vê
obrigado a desempenhar uma proporção elevada e em crescimento detrabalho-para-
trabalhar relativamente ao trabalho propriamente dito. Assim, ele acaba por se
ver tão explorado fora do local de trabalho e do período laboral remunerado
como quando se encontra no emprego dentro do horário normal. Esse é um fator
que distingue o precariado do velho proletariado.
O capital global e o Estado que lhe defende os interesses têm necessidade de um
precariado grande, razão pela qual este é uma classe-em-construção a não uma
subclasse. Se, durante a Grande Transformação, o capital industrial nacional se
propunha habituar o núcleo do proletariado a um trabalho e a uma vida de
estabilidade, hoje o capital global pretende habituar o precariado a um
trabalho e a uma vida de instabilidade. Esta diferença fundamental é motivo
para crer que juntar o proletariado e o precariado numa única categoria seria
coartar a reflexão analítica e a imaginação política.
O precariado tem também relações de distribuição bem definidas, na medida em
que depende quase exclusivamente de salários nominais, estando normalmente
sujeito a flutuações e não dispondo nunca de um rendimento seguro. Ao contrário
do que, também neste aspeto, se passava com o proletariado do século xx, cuja
insegurança no emprego podia estar coberta por medidas de proteção social, o
precariado encontra-se exposto a uma incerteza crónica, tendo pela frente uma
vida de desconhecidas incógnitas.
São, finalmente, bem definidas também as relações do precariado com o Estado,
no sentido em que possui menos direitos do que todos os demais. De facto, o
precariado carateriza-se por uma fundamental insegurança no que toca a
direitos. Como se demonstra noutro local (Standing, 2014), esta é a primeira
vez na história em que o Estado retira sistematicamente direitos aos seus
próprios cidadãos. Há cada vez mais pessoas ' e não apenas migrantes ' a ser
transformadas em denegadas, limitadas no alcance e no aprofundamento dos
respetivos direitos cívicos, culturais, sociais, políticos e económicos. É-
lhes, cada vez mais, negado aquilo a que Hannah Arendt chamou o direito a ter
direitos, e que constitui a essência da verdadeira cidadania.
Este aspeto é crucial para se entender o precariado. A sua caraterística
essencial é ser mendigo, pedinte, obrigado a depender de dádivas
discricionárias e condicionais vindas não só do Estado, como também das
agências e demais instituições de caridade privadas que operam em seu nome.
Para se entender o precariado e a natureza da luta de classes que aí vem, este
facto reveste-se de uma relevância maior do que a insegurança das relações de
trabalho que o caraterizam.
Por último, um outro traço distintivo do precariado é a sua consciência de
classe, traduzida num fortíssimo sentimento de privação relativa e de
frustração quanto ao seu estatuto. Esta circunstância carrega consigo
conotações negativas, mas ao mesmo tempo contém um elemento de transformação
radical, que coloca o precariado numa posição intermédia entre o capital e o
trabalho. Está menos sujeito a sofrer de falsa consciência quando ocupado nos
empregos que calha encontrar e isso, em parte, porque não o prende nenhum
sentimento de lealdade nem de compromisso em relação a um e outro. O precariado
vê o emprego como algo de instrumental, não como algo capaz de determinar toda
uma vida. A alienação em relação ao trabalho é, em suma, um dado adquirido.
Acresce que esta é, historicamente falando, a primeira classe para a qual a
regra é possuir um nível de habilitações superior ao tipo de trabalho a que os
seus membros poderão aspirar ou que poderão ver-se obrigados a desempenhar. Tal
facto faz com que a alienação seja mais facilmente reconhecível. No entanto, o
desequilíbrio daqui resultante gera na pessoa uma profunda frustração no que
diz respeito ao status, além da raiva própria de quem não sente que há um
futuro e que a vida e a sociedade hão de conduzir a um estádio melhor.
Em termos de consciência, porém, podemos ver por que razão o precariado é a
nova classe perigosa, já que recusa as velhas tradições políticas dominantes,
rejeitando por igual o laborismo e o neoliberalismo, a social-democracia e a
democracia cristã. Mas ela também é perigosa num outro sentido. Uma forma
expedita de o dizer será afirmar que ela não é, de momento, uma classe-para-si,
uma vez que se acha em guerra contra si mesma devido ao facto de padecer de
três formas de privação relativa, cada uma delas definidora dos três tipos de
precariado atualmente em tensão.
Os três tipos de precariado
O primeiro tipo é constituído por aqueles que acabam por se ver afastados das
velhas comunidades e famílias da classe trabalhadora; na sua maioria sem
instrução, são propensos a associar o seu sentimento de privação e frustração a
um passado perdido, seja ele real ou imaginado. Por isso tendem a dar ouvidos
às vozes populistas e reacionárias da extrema-direita, culpando o segundo e até
mesmo o terceiro tipos de precariado pelos problemas com que se defrontam. São
os atávicos, um grupo que tende a deixar-se atrair pelo carisma. Formam o
segmento do precariado que presentemente está a ser levado para a extrema-
direita (veja-se, por exemplo, Goodwin e Ford, 2014), em parte devido à falta
de uma agenda progressista dirigida a eles e capaz de apelar às suas aspirações
e não ao medo da insegurança.
O segundo tipo é constituído pelos migrantes e pelas minorias, que, por não
terem presente nem um sítio a que chamem seu, vivem imbuídos de um forte
sentimento de privação relativa. Damos-lhes a designação de nostálgicos.
Politicamente tendem a ser relativamente passivos ou desprendidos, com exceção
de um ou outro dia de raiva, em que alguma coisa que se lhes apresenta como uma
ameaça direta acaba por fazer incendiar a fúria coletiva. Foi o que aconteceu
nos bairros de lata dos arredores de Estocolmo no início de 2013, em Tottenham
(Londres) em agosto de 2011 e noutros surtos de violência.
O terceiro tipo é formado pelos instruídos, que, por força do trabalho
inconstante e da falta de oportunidade para impor uma narrativa às suas vidas,
experimentam um sentimento de privação relativa e de frustração quanto ao
respetivo status, uma vez que lhes falta um sentido de futuro. Vamos
designá-los por boémios. No entanto, porque se trata da parte
potencialmente transformadora do precariado, que o mesmo é dizer da nova
vanguarda, abre-se a possibilidade de serem apelidados de progressistas.
Olhando com atenção para os três tipos, vê-se que, de um modo geral,
rejeitam as agendas políticas dominantes do século xx. O neoliberalismo é, para
eles, anátema. Consideram moralista, e com razão, a área política conservadora/
democrata-cristã, desprezando-a pelo pendor utilitarista e pelos gestos de
aproximação ao salariado. E quanto à social-democracia e ao laborismo ' que
nada fizeram pelo primeiro setor do precariado, são hostis ao segundo e não
agradam ao terceiro ', só o que resta do proletariado e os segmentos mais
baixos do salariado acham neles alguma relevância.
Paradoxalmente ' mas com justeza, atendendo a que nos encontramos no meio de
uma crise resultante das falhas do projeto neoliberal ', os sociais-democratas
à moda antiga perderam a base eleitoral e estão a ser mais afetados pelo
crescimento do precariado do que qualquer outra corrente política. Os sociais-
democratas parecem propor um regresso ao passado, sem perceberem que também
quanto a isso o núcleo do precariado se encontra alienado.
Alguns sociólogos, como Richard Sennett (1998), pintam a imagem da perda de uma
época áurea do capitalismo e parece quererem recriar aquilo que foi um passado
laborista de cunho masculino, retratando a realidade atual como algo que
corrói o caráter, como se essa não fosse a eterna caraterística do
capitalismo. Mas tal como, nos finais do século xix, a classe perigosa eram
aqueles que resistiam à proletarização (Jankiewicz, 2012), hoje em dia o
precariado encontra-se, de facto, psicologicamente livre do laborismo, o que
faz dele a atual classe perigosa. Isso mesmo foi esplendidamente expresso num
graffiti subversivo desenhado por alguém do movimento dos indignados: O pior
seria voltar à velha normalidade.
O aspeto-chave a considerar é que existe no seio do precariado, sob várias
formas, terreno comum para uma rejeição do velho consenso político e dos
partidos do centro-direita e centro-esquerda. Daí a perceção de que se assiste
a uma crise da democracia, pois o precariado não se sente representado e recusa
entregar-se a uma realidade política mercadorizada e em plena perda. Quando os
indignados da Puerta del Sol ostentam dizeres como Me gustas democracia, pero
estás como ausente, a sua rejeição dos partidos políticos assume um caráter
profundamente político (Estanque, 2013).
O precariado enquanto classe transformadora
O que se acaba de afirmar não permite, no entanto, concluir que o precariado é
apolítico, já que ele é também, num outro sentido, a classe perigosa emergente.
A sua tarefa imediata consiste em ultrapassar a fase de rebelião primária em
que se encontrava em 2011 ' a fase de saber a que é que se opõe, sem que no
entanto seja, ainda, a classe-para-si capaz de se assumir como força de
mudança.
Neste ponto há que ter cautela. Um dos trunfos do neoliberalismo foi ter
atingido uma hegemonia linguística que lhe permitiu dominar o discurso
político, económico e social, e inclusivamente o discurso cultural. Um desafio
que hoje se coloca é o de reassumir a linguagem de maneira a criar, pela via da
imaginação, um futuro desejável. Trata-se, nada mais nada menos, do que fazer
renascer a própria ideia de futuro, perdida na distopia neoliberal do
consumismo desenfreado e de uma existência plebeia de pão-e-circo eletrónico.
As chamas da luta dissipar-se-ão rapidamente em dias de protesto vão se a luta
se limitar a ser contra o que vai acontecendo.
Tem sido esta, de algum modo, a situação verificada com os protestos em massa
ocorridos desde 2011, na sua grande parte semelhantes a uma série de fogos de
artifício, que poderão ser espetaculares para os olhos e os ouvidos, mas logo
se desvanecem em fumaça colorida. Esta fase de ansiedade coletiva não deixará
seguramente, contudo, de evoluir no sentido de algo mais estratégico.
No seu esforço para inventar uma nova linguagem progressista assente na ação
coletiva, o precariado deve evitar cair na bem montada armadilha que seria
apresentar-se como revolucionário, imagem decididamente maculada pela
história do século xx. Deve também evitar, por estéril, a pose reformista,
que é o que o Estado gostaria que ele fosse, apostando em meros aprimoramentos
superficiais do status quo. Para se tornar uma classe-para-si, o precariado tem
de ser transformador.
Tem de ser transformador e, por conseguinte, perceber que, para inverter a
tendência no sentido de maiores desigualdades, o sistema económico do mercado
global exige um novo sistema de distribuição. Tem de se deixar, o mais
possível, de usar o datado linguajar marxista do século xix, sem contudo
abandonar os valores emancipatórios que ao longo dos tempos guiaram os
espíritos progressistas e igualitaristas, bem como as ideias igualitárias em
torno da luta de classes.
Há um século, fazia sentido afirmar que o sistema de distribuição traduzia, de
uma forma geral, o capital e o trabalho, os lucros e os salários, com o
equilíbrio das forças sociais a determinar que parte do rendimento era
atribuída ao trabalho, através da mediação do Estado pela via dos impostos, de
subsídios e benefícios vários, bem como de toda uma estrutura de regulações que
moldavam o poder de negociação relativo dos interesses de classe em confronto.
Na economia do mercado global, resta um só vencedor nesse velho modelo de
distribuição. Em todos os cantos do globo, a parte do rendimento nacional
correspondente aos salários caiu drasticamente, sendo muito pouco provável que
volte a subir. Não obstante as atenções estarem sobretudo voltadas para a queda
verificada nos EUA e na Europa, a verdade é que é principalmente nos gigantes
emergentes da China e da Índia que a parcela do trabalho tem decaído mais.
É principalmente sobre o precariado que se têm abatido as consequências da
queda contínua da massa salarial, ao passo que a elite, o salariado e o velho '
e cada vez mais reduzido ' núcleo do proletariado têm visto subir o respetivo
rendimento social ou apenas sofrido ligeiras perdas, uma vez que passaram a
receber uma porção maior desse rendimento sob a forma de capital, através de
ações, opções sobre ações, bónus exorbitantes e receitas de rendas. Os países
capitalistas avançados são hoje, cada vez mais, economias rentistas.
A mensagem deve ser clara. O precariado não deve alimentar a esperança de que
os salários reais irão subir. Os salários vão continuar a descer nos países da
OCDE, ainda que pontualmente se registem aumentos em alguns locais e para
determinados grupos. A resposta laborista à crise da Transformação Global é
mais empregos e salários mais altos, ao mesmo tempo que deposita fé nas
campanhas por um rendimento mínimo digno2 e por um salário mínimo nacional. A
verdade, porém, é que, para a maioria do precariado, os salários deixarão de
proporcionar um padrão de vida digno. O foco da luta deve ser outro.
Num contexto laboral aberto e flexível, o mantra social-democrata de mais
empregos e melhores salários faz lembrar a famosa história de Canuto o Grande,
o rei viking que mandou que o levassem no trono até à praia, onde, sentado
frente ao mar, ordenou às ondas que recuassem. Parece tê-lo feito para que
os membros da corte entendessem os limites do seu poder. A versão mais popular
da história é que mandar as ondas recuar é de quem está a pedir para se afogar.
E é essa a situação em que o precariado, atualmente, se encontra. O emprego não
leva senão a uma maior insegurança e à necessidade de um endividamento cada vez
maior.
Em novembro de 2012 a Confederação Europeia de Sindicatos apelou a uma greve
geral em toda a Europa, naquilo a que chamou um Dia Europeu de Ação e
Solidariedade em defesa dos empregos e contra a austeridade. Os organizadores
deviam saber perfeitamente que a iniciativa não iria ter, no plano imediato, o
mínimo efeito sobre as políticas então em preparação. É provável que os
animasse alguma esperança de que a mobilização pudesse deixar inquietos os
responsáveis pelas políticas, levando-os a empreender mudanças mais tarde. Ou
terá sido para mostrar que ainda tinham força para fazer sair à rua as
multidões?
Quaisquer que fossem os propósitos, tratou-se de um apelo à piedade, feito por
mendigos e em seu nome. Dai-nos mais trabalho subordinado em resposta ao nosso
sofrer! Muitos dos que responderam à chamada oferecendo o seu tempo devem ter
sentido que estavam a desperdiçar energias num gesto que em nada ameaçava as
forças a que se opunham. Não se pode dizer que descer à rua para gritar slogans
exigindo empregos a servir hambúrgueres ou a repor as prateleiras dos
supermercados seja muito dignificante ou que constitua uma ameaça aos rentistas
que beneficiam com a ordem do mercado global. Foi uma greve dos vencidos, não
uma greve para avançar na marcha rumo a uma Sociedade Boa.
Com essa nova marcha em mente, o precariado terá de se bater por um novo
sistema de distribuição assente no entendimento de que uma parcela crescente do
rendimento total vai continuar a fluir principalmente para o capital financeiro
e global e para a plutocracia e a elite, com o salariado a receber quanto baste
para ir repartindo as suas lealdades.
Os países ricos, em particular, estão a transformar-se em economias rentistas,
recebendo pelas suas atividades no mercado global uma porção cada vez maior do
respetivo rendimento. Deste modo, a luta do precariado deverá centrar-se no
desenvolvimento de mecanismos com vista a fazer com que o rendimento que
atualmente vai para a plutocracia, a elite e o salariado passe a ser canalizado
para o resto da população, incluindo o lumpen-precariado, mas sobretudo o
precariado, que é efetivamente uma classe, a mais baixa e mais ativa.
Nessa luta por um novo sistema de distribuição, a atual tendência global no
sentido da criação de fundos nacionais ou soberanos deve ser acelerada e
submetida aos mecanismos da governação democrática. Hoje em dia são mais de 60
os países com fundos de capital nacional. De entre estes, apenas três funcionam
como instrumentos de uma distribuição progressista ' o Fundo Permanente do
Alasca, o fundo norueguês e, um tanto surpreendentemente, o sistema iraniano.
Quase todos os restantes funcionam como meios de enriquecimento de uma
plutocracia e de uma elite já inchadas de tão gordas. O precariado tem de lutar
para transformá-los em instituições democráticas de distribuição.
Repare-se na palavra. Porque o precariado tem de usar as palavras com critério.
Assim, não deve deixar-se levar por falsas alternativas, como
pré-distribuição ' uma expressão manifestamente infeliz que conheceu uma
popularidade breve na política inglesa, pela boca do responsável máximo do
Partido Trabalhista. A expressão não significa nada em especial, a não ser o
cuidado em evitar a dificuldade de defender a redistribuição.
O velho sistema de distribuição já não funciona segundo a antiga lógica, que
consistia em fomentar o investimento e o trabalho através de efetivos
incentivos. São demasiadas as armadilhas para se cair na pobreza (quando a
troca dos magros benefícios do Estado por empregos de baixo salário significa
uma taxa fiscal marginal de mais de 80%) e as armadilhas da precariedade (que
significa que os empregos de baixo salário se traduzem numa descida dos
rendimentos no longo prazo). O precariado consegue entender tudo isto, ao passo
que, para o velho proletariado, a reação seria de perplexidade. É por isso que
os sindicatos têm mostrado tanta dificuldade em atrair e lidar com o
precariado, e vice-versa.
Para os sociais-democratas, para outros laboristas e para os sindicatos, o
caminho é exigir melhores salários e segurança no trabalho. Mas a criação de
mais postos de trabalho não conseguirá responder à questão da distribuição. O
precariado já aceitou este facto, quanto mais não seja para ganhar alguma paz
de espírito. Os empregos a que os seus membros conseguirem aceder têm um mero
caráter instrumental. Não são empregos para estruturar toda uma vida, nem
empregos passíveis de conduzir, como outrora, a uma carreira, e muito menos a
uma vida de segurança emancipatória.
A luta pela redistribuição
A luta pela redistribuição ' mais do que por um novo sistema de distribuição '
deverá ser reinterpretada, de maneira a desafiar intelectualmente os velhos
partidos políticos. Assim, haverá que perguntar quais os bens ou ativos
fundamentais em torno dos quais deve ser travada a luta de classes. Não,
seguramente, os meios de produção, nem as altas instâncias do sistema de
produção, que enformaram o projeto socialista e a luta de classes nos séculos
xix e xx. Eventuais menções a uma tomada das fábricas ou das minas iriam,
certamente, dar azo a sorrisos e esgares de constrangimento em qualquer reunião
do precariado.
Bens fundamentais serão aqueles que se afigurem necessários para alcançar uma
vida boa numa sociedade boa, em que cada vez mais pessoas consigam perseguir a
sua própria ideia de ocupação e em que o trabalho, o verdadeiro lazer e a
reprodução possam florescer dentro de padrões flexíveis. Antes de ponderar
quais possam ser esses bens, há um aspeto que é essencial para compreender a
luta pela sua conquista.
Refiro-me à caraterística singular a que acima aludi. Se quiser ter a força que
é necessária para, pela via da afirmação, se abolir a si próprio, o precariado
terá de se tornar uma classe-para-si ' ou então, uma parte suficiente dos seus
membros terá de atingir um suficiente patamar de comunalidade. Isto faz dele
uma classe verdadeiramente transformadora e, por isso, perigosa. Outras classes
da atual distopia neoliberal têm uma natureza utilitária, pretendendo
perpetuar-se e obter cada vez mais das estruturas existentes. São
conservadoras, ou reacionárias, na medida em que se opõem a mudanças
estruturais. Só o precariado está em posição de ser verdadeiramente
transformador, para avançar na luta por aquilo a que Hannah Arendt chamou o
direito a ter direitos.
Quais os bens fundamentais pelos quais o precariado se deve bater? Resumindo o
que já enunciei de maneira desenvolvida noutras obras (Standing, 2011, 2014),
são eles a segurança socioeconómica, o controlo sobre o tempo, espaços de
qualidade, conhecimento (ou instrução), saber financeiro e capital financeiro.
Todos eles se encontram, presentemente, distribuídos de uma maneira desigual, e
essa desigualdade está a tornar-se ainda mais pronunciada no que se refere ao
controlo a que estão sujeitos. Pode mesmo afirmar-se que a distribuição de
muitos desses bens é ainda mais desequilibrada do que a própria distribuição
dos rendimentos. Por exemplo, enquanto a plutocracia, a elite, o salariado e,
em certa medida, os proficians possuem meios para assegurar a sua própria
segurança económica, o precariado encontra-se exposto a riscos elevados, sendo
baixa a probabilidade de conseguir fazer face a esses riscos ou de vir a
recuperar deles. Acima de tudo, confronta-se com a perspetiva de uma incerteza
crónica. A distribuição da segurança económica é mais desigual do que a
distribuição do rendimento (ILO, 2004).
Pelo menos na sua parte mais nuclear, o velho proletariado gozava de segurança
no trabalho, uma vez que havia disposições de proteção social contra os riscos
de desemprego, doença, velhice, acidentes, etc. Era uma forma manipuladora de
segurança, porquanto era dada pelo Estado desde que o trabalhador acatasse a
disciplina e os ditames do trabalho. Mas a trajetória do trabalhador assentava
numa segurança que estava associada ao trabalho e em que os riscos a este
também associados (acidente, doença, desemprego, etc.) se encontravam cobertos,
de tal forma que os trabalhadores cumpridores e as famílias deles dependentes
tinham sempre a perspetiva de direitos compensatórios (equivocamente chamados
direitos laborais) em caso de adversidade. Era essa a norma e acalentava-se a
perspetiva de que passasse a sê-lo também para muitos outros, ao ritmo do
crescimento económico. Esta última expectativa já há muito que se desvaneceu.
Pelo contrário, o precariado tem pela frente a incerteza, uma vida de
desconhecidas incógnitas sem sistema de segurança possível, porque,
probabilisticamente falando, não há como calcular as hipóteses de as
adversidades ocorrerem. Todos os aspetos da vida se revestem de incerteza. E
quando algum mal acontece, não é certo que haja uma rede para servir de amparo.
É por isso que, para o precariado, a regra é viver no fio da dívida crónica e
insustentável. Atingir uma redistribuição da segurança é algo de fundamental
para a luta que se avizinha.
Essa luta pela segurança abre a possibilidade de uma aliança transclassista,
porquanto serão cada vez mais numerosos os membros de outros grupos a dar valor
à necessidade ' incluindo, muito provavelmente, a sua própria necessidade ' de
uma segurança mínima. Deste modo, eventuais políticas apostadas nesse mínimo de
segurança poderão conseguir apelar para os escalões mais baixos da classe
média, que vivem num medo cada vez maior de cair na precariado ou de que tal
venha a suceder aos seus filhos.
Com respeito ao tempo enquanto bem ou ativo da vida, verifica-se que o
precariado não tem controlo sobre o seu tempo e que os seus membros vivem num
estado de permanente prontidão, que acorrem a atividades várias, ficam à espera
que haja trabalho, realizam quantidades de trabalho ainda maiores quando a tal
chamados, porque nunca sabem qual a forma melhor de gerir o tempo. Daí poder
afirmar-se que o precariado padece do mal epidémico da mente precarizada, que o
torna incapaz de se concentrar e o desvia de objetivos viáveis. O precariado
precisa de políticas que lhe permitam assumir o controlo do seu próprio tempo.
Precisamos de uma política do tempo.
Quanto à luta pela redistribuição de espaços de qualidade, ela tem o seu
símbolo na luta para fazer reviver os commons. Trata-se, efetivamente, de uma
metáfora, visto que traduz mais do que a luta pela preservação de terrenos
públicos onde as pessoas se podem reunir. Ou seja, o seu significado estende-se
àquilo que é social e culturalmente comum e também, em certo sentido, à esfera
do politicamente comum.
A democracia deliberativa exige espaços públicos em que as queixas possam ser
verbalizadas e partilhadas, conduzindo não a uma mera resistência, mas a
propostas políticas e ao renascer da ação coletiva. A este propósito, o
precariado carece de commons florescentes, não só para complementar a
insuficiência dos rendimentos, mas para contrariar os discursos dominantes,
veiculados por uma comunicação social que é manipulada pela plutocracia.
De seguida há que considerar que, para o precariado, a luta pela redistribuição
da instrução é um aspeto definidor da vida. Neste particular, o precariado terá
de ultrapassar um certo sentimento de falsa consciência disseminado pelo
próprio sistema educativo, opondo-se a uma retórica do capital humano que os
neoliberais têm vindo a refinar. Na aparência, há hoje mais gente a melhorar o
seu nível de instrução do que em qualquer outro período da história. No
entanto, a verdadeira instrução está distribuída de maneira muito desigual e o
que por aí se vende como instrução não passa, cada vez mais, de uma fraude.
Enquanto os ricos têm acesso a uma educação que lhes permite dar asas ao
espírito e ser inovadores, o precariado vê-se relegado para uma
escolarização de capital humano mercadorizado, concebida para preparar os
seus membros para o emprego e habituá-los a uma vida de trabalho instável e
vivida com espírito plebeu.
A luta pela desmercadorização da educação é crucial se o precariado quiser
atingir uma dimensão criativa, artística, subversiva e, em última análise,
política e moral. E mais uma vez, refira-se que deve procurar alianças em
setores do salariado e também entre os proficians, um grupo que é, por
intuição, não conformista.
A luta por um saber financeiro visa capacitar o precariado para lidar
eficazmente com questões financeiras. A estrutura fiscal da moderna sociedade
de mercado é tremendamente complexa, permitindo que aqueles que têm acesso a
especialistas de assuntos fiscais ganhem muitíssimo mais dinheiro, enquanto o
povo miúdo acaba por pagar mais impostos do que devia. O direito ao saber
financeiro e a serviços financeiros de natureza pública é mais importante do
que muita gente pensa. O precariado não deveria tardar a mobilizar-se em torno
da reivindicação de um direito universal à obtenção de saber financeiro. No
contexto do endividamento pessoal crónico, causado por tubarões agiotas e
empréstimos estudantis que duram anos e anos, esta deixou de ser uma questão
menor.
Mais importante do que tudo será, talvez, a luta por uma repartição equitativa
do capital financeiro, por via da instituição de um rendimento mínimo e da
criação de fundos soberanos democráticos. Mas as diversas lutas aqui enumeradas
deverão articular-se dentro de uma estratégia transformadora. Cada um destes
elementos abre possibilidades de alianças transclassistas com um ou mais dos
restantes grupos sociais. Porque a verdade é que é crescente a proporção dos
salariados, dos proficians e dos trabalhadores do núcleo do velho proletariado
a sentir-se tomados pelo medo ' medo do fracasso, medo da perda. Há de chegar o
momento em que, tendo feito de todos nós cobardes, como disse Hamlet, o medo
nos fará leões enraivecidos.
Em muitos países o precariado sofreu uma enorme expansão em consequência do
período de austeridade que se vive. Ao mesmo tempo, é também claro o seu
amadurecimento. Em cada Grande Transformação, a luta desenvolve-se em três
fases. A primeira é a fase dos rebeldes primitivos, em que os elementos da
classe emergente procuram o Reconhecimento, isto é, uma identidade comum. É
isso que vem acontecendo, e de forma assinalável, desde 2011. Hoje, é da ordem
dos milhões o número dos que continuam a descobrir um sentimento de identidade
comum e a identificar-se como parte do precariado, sem vergonha e imbuídos de
um sentimento de orgulho. Isso traz consigo uma unidade potencial, necessária a
uma ação coletiva eficaz. Não sendo condição suficiente, é uma condição
necessária.
A fase seguinte é a da luta pela Representação, por ter uma Voz coletiva e
individual em todas as instâncias do Estado, pela capacidade de fazer barulho
nos órgãos estatais, nos meios de comunicação social e nas redes do discurso
público. É esta a fase que se aproxima. A subjetividade do precariado tem de
ser afirmada, para que as burocracias deixem de poder tratar os seus membros
como falhados que se mandam para a reforma, que se transformam em seres mais
empregáveis ou que se castiga.
Como passo seguinte, o crescente acordar para o Reconhecimento coletivo e as
iniciativas dos rebeldes primitivos e da resistência em massa devem dar lugar a
um recomprometimento político. Isso está já a acontecer, ainda que de uma forma
díspar, em entidades como o Partido X na Espanha, o Syriza na Grécia e o M5S na
Itália. Em última análise, este fenómeno tem a ver com a repolitização, na
ágora, da própria política, no momento em que o precariado reivindica passar de
objeto a sujeito.
Assim, e por exemplo, os tumultos do Parque Gezi em Istambul e os exaltantes
levantamentos ocorridos nas cidades brasileiras em 2013 podem, em certa medida,
ser interpretados como uma reivindicação por uma democracia participativa mais
inclusiva, em que o precariado passe a ter um real poder de ação coletiva e
individual.
À medida que se for avançando em termos de Reconhecimento e de Representação, a
luta por um novo sistema de distribuição e pela redistribuição do acesso aos
bens fundamentais atrás enunciados começará a absorver as energias coletivas do
precariado e respetivos aliados. Fundos de capital, rendimento mínimo para
todos, comunidades ocupacionais, sindicatos e associações em novos moldes, e o
mais que já se consegue entrever. O precariado está a ganhar forma. Como
afirmou Shelley (1819) no maior poema de protesto político em língua inglesa,
escrito numa época de agitação social comparável à nossa, há duzentos anos, e
inspirado na repressão violenta, numa praça pública, da classe operária
emergente, o precariado está a atingir o estádio em que se dará conta do poder
que tem: Sois vós muitos, e eles poucos!.