Recursos Humanos Qualificados no Turismo: Factores de Diferenciação nos Pólos
de Desenvolvimento Turístico do Oeste e de Leiria-Fátima
1. Introdução
A nova era do Turismo, que o pondera a uma escala universal, integrador de
recentes e complexas actividades, com consumidores cada vez mais exigentes, com
relações intrínsecas com as preocupações ambientais e com um nível de
competitividade estimulado por destinos progressivamente mais sofisticados,
impõe exigências e responsabilidades às mais variadas entidades responsáveis
pelo sucesso das dinâmicas do Turismo no que respeita à esfera do conhecimento,
da inovação, das qualificações dos profissionais, do desenvolvimento local,
regional e nacional, acentuando o contributo crucial que as instituições
formadoras e académicas desempenham neste sentido(Fayos-Solá, 1995).
Tendo em linha de conta a evolução dos paradigmas no ensino superior em
Turismo, denota-se actualmente uma tendência internacional que aponta e
ambiciona uma mudança de largo espectro do entendimento do Turismo e das formas
como se educam os recursos humanos que integrarão o sector turístico, sendo que
se impõe uma sensibilidade ambiental e a concepção de produtos comercialmente
viáveis para que se possa alcançar aquilo que define a nova era do Turismo e
que, segundo hawkins(1996), surge como o único caminho para uma economia
viável, uma coexistência pacífica, uma aprendizagem contínua e um entendimento
intercultural numa escala mundial.
Reconhecida como a indústria com maior crédito em termos de empregabilidade a
nível mundial, quando a questão do desemprego é um malogrado facto dos dias de
hoje, ao Turismo impõe-se uma mão-de-obra capacitada de estudos académicos de
nível superior que integrem os sectores público e privado desta indústria que
se caracteriza por um dinamismo constante e, segundo Lipman (1996), como a
maior do mundo e consequentemente criadora de emprego, impondo uma mudança dos
sistemas de aprendizagem por forma a responder aos mercados cambiantes, às
novas tecnologias e às necessidades do consumidor e, por último, concedendo aos
futuros profissionais do Turismo um melhor entendimento do seu envolvimento e
potencial contributo nesta indústria.
Quer isto dizer que às instituições relacionadas com a formação destes
profissionais, sobretudo ao nível do ensino superior, caberá analisar e alertar
para os mercados de trabalho que, em breve, estes profissionais tenderão a
servir, orientando e apetrechando-os com elementos-chave como o são a
confiança, a criatividade, a capacidade de questionar e reflectir, a
produtividade, entre outros, por forma a que possam contribuir de forma
efectiva para o desenvolvimento sustentável deste sector.
A valorização das profissões turísticas e a preparação e integração de
profissionais num sistema desafiante como é o do Turismo são a resposta para
elementos cruciais como a diferenciação, a especialização e a qualidade que, de
modo crescente, se faz exigir pela procura turística.
O presente estudo pretende equacionar alguns elementos que caracterizam os
diplomados em Turismo e que funcionam simultaneamente como factores de
diferenciação para a sua situação profissional. A oferta formativa dos estudos
relacionados com o Turismo ao nível do ensino superior, responsável pela
formação dos diplomados nesta área, bem como a estrutura profissional do sector
constituem, portanto, as temáticas que permitirão enquadrar teoricamente a
problemática enunciada.
2. Estudos Em Turismo No Sistema De Ensino Superior Português
O ensino superior do Turismo em Portugal passou por várias modificações desde
as suas origens como forma de acompanhamento do desenvolvimento da actividade
turística, como meio de resposta às expectativas dos estudantes que enveredavam
por esta área de estudos e pelas necessidades de um mercado privado de
profissionais qualificados.
Sob a tutela do Ministério da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior (MCTES),
diga-se que é no domínio do ensino superior privado que surgem os primeiros
cursos em Turismo, mais precisamente no Instituto Superior de Línguas e
Administração de Lisboa, no Instituto de Novas Profissões, em Lisboa, e no
Instituto de Superior Assistentes e Intérpretes no Porto, em 1986.
O primeiro curso superior público inaugura-se dois anos mais tarde, em 1988, e
no período que dista o ano de 1986 à actualidade podemos assistir a uma
proliferação acentuada de cursos afectos à área do Turismo nos dois subsistemas
de ensino superior ' público e privado ' demonstrando nitidamente a crescente
importância atribuída à formação de técnicos superiores numa área económica,
também ela, em grande crescimento.
A adaptação do ensino do Turismo a novos cenários de exigência integrados em
programas consertados e abrangentes como o é o PENT e a outros desafios, como o
da globalização, o do alargamento do espaço educativo europeu e o das
transformações decorrentes do Processo de Bolonha, são uma constante da
realidade actual nacional e estão também na origem da reestruturação,
requalificação, extinção e surgimento de toda uma panóplia de cursos que
permitem caracterizar a oferta educativa actual no domínio do Turismo.
Com base em dados quantitativos divulgados por fontes secundárias como o MCTES,
o Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais
(GPEARI), o Observatório da Ciência e do Ensino Superior (OCES), a Direcção-
Geral do Ensino Superior (DGES) e na recolha de informação junto das diferentes
instituições académicas, observámos a distribuição da oferta em termos dos
subsistemas de ensino superior público e privado, da sua distribuição
cronológica, do número de vagas disponibilizado e, ainda, ao nível da oferta de
estudos pós-graduados.
Assim, e tendo em conta o ano lectivo de 2010/2011, contabilizam-se 55 cursos
superiores afectos à área do Turismo distribuídos pelos subsistemas de ensino
politécnico e ensino universitário e 30 no que respeita ao ensino superior
privado.
A sua distribuição cronológica (Figura_1) permite-nos antever um crescimento
exponencial da oferta de cursos de Turismo desde os anos oitenta até ao
corrente ano, encabeçado pela Universidade de Aveiro (UA) com a introdução da
licenciatura em Gestão e Planeamento em Turismo em 1988.
Constata-se, igualmente, uma profusão na criação de cursos em áreas de estudos
afectas ao Turismo a partir de 2000, intensificando-se a confiança que as
instituições demonstram neste domínio do conhecimento e na necessidade de
alargar este mercado para dar respostas às diversas necessidades dos sectores
turísticos e aos programas de qualificação dos portugueses nesta área de
estudos (Ministério da Economia e da Inovação, 2007). Este crescimento regista-
se noutros países, como é o caso do Reino Unido no qual, segundo Fidgeon(2010)
a popularidade dos cursos de Turismo se deve ao crescimento da indústria
turística e à percepção dos estudantes para um número significativo de
oportunidades de emprego.
No que respeita às vagas disponíveis, a Figura_2 permite ainda observar que,
desde 2007 a esta parte, o seu número tem vindo a aumentar tendo em conta o
aumento do número de cursos, sendo que no total, nestes últimos quatro anos
lectivos, 6581 vagas foram colocadas no mercado educativo na área do Turismo.
No presente ano lectivo, foram disponibilizadas 1829 vagas, o que no âmbito do
sistema de Ensino Superior Público, representa cerca de três por cento da
oferta global que correspondeu a 53986 lugares disponíveis.
Como se pode observar, ambos os sistemas de Ensino Superior, público e privado,
apresentaram ao longo dos últimos quatro anos mais de 5000 lugares disponíveis
para a formação inicial na área do Turismo, somando os dois um total de 12101
vagas.
No que respeita à oferta formativa do Ensino Superior relativa aos estudos do
Turismo nos Pólos de Desenvolvimento Turístico em causa, existe uma IES pública
' Instituto Politécnico de Leiria ' e duas IES privadas ' Instituto Superior
Politécnico do Oeste; Instituto Superior de Línguas e Administração de Leiria.
A tabela_1 permite-nos observar os cursos existentes nas IES supramencionadas,
bem como as vagas disponibilizadas nos últimos quatro anos.
A observação da Tabela_1 permite-nos verificar que nos dois Pólos de
Desenvolvimento Turístico existe uma oferta de 320 vagas para cursos superiores
na área do Turismo, o que corresponde a 9.7% da oferta global a nível nacional.
É ainda de notar o alargamento desta oferta formativa ao regime pós-laboral,
reforçando-se assim a abertura de uma possibilidade de frequência a um curso
superior a um público mais abrangente, que poderá optar pelo regime pós-laboral
ou pela modalidade de ensino à distância.
No que diz respeito à formação pós-graduada, podem encontrar-se dois programas
de Mestrado: Gestão e Sustentabilidade no Turismo; Marketing e Promoção
Turística, na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, do Instituto
Politécnico de Leiria.À semelhança do que se verifica em termos de oferta
formativa ao nível destes Pólos de Desenvolvimento Turístico, o alargamento do
número de cursos resultou num acréscimo significativo do número de diplomados
pelo ensino superior no domínio do Turismo, acarretando este facto desafios ao
nível das Instituições de Ensino Superior (IES), ao nível das empresas e
organizações que integram a actividade turística, ao nível dos responsáveis
pelas políticas e, em última análise, no que concerne aos diplomados em
Turismo. São estes que, na sua condição de futuros profissionais de um sector
altamente competitivo e propagado por um espaço grandemente diversificado,
deverão oferecer um serviço turístico de qualidade, tornando-se imperioso um
esforço de adequação e actualização permanentes dos seus conhecimentos
académicos, através de uma ligação sistemática e interactiva com o espaço de
formação.
A oferta pós-graduada na área do Turismo foi também abrangida por esta corrente
expansiva que se manifestou ao nível das licenciaturas. O número de mestrados
que foram introduzidos no sistema de ensino superior português, dezanove no
Ensino Superior Público Universitário e Politécnico e doze no Ensino Superior
Privado, faz jus à necessidade que se impôs de se desenvolverem recursos
humanos qualificados ao mais alto nível para integrar a dinâmica competitiva
que caracteriza o sector do Turismo. Este irá enfrentar desafios a médio e a
longo prazo definitivos para a sua afirmação quer ao nível de mercado, quer ao
nível da qualidade do emprego e da empregabilidade dos indivíduos, intentando
superar fragilidades que o debilitam como a relativa à qualificação dos
recursos humanos.
No que respeita a programas de doutoramentos na área do Turismo no sistema de
ensino superior português, e considerando-se apenas os conforme o Decreto-Lei
n.º 74/2006, contam-se apenas quatro e pertencem ao ensino público. Todavia,
apesar de em escasso número, digamos que a introdução de quatro programas de
doutoramento em Turismo significa mais um avanço contra a indiferença dos
estudos afeitos a esta temática, amiúde sentido no seio da comunidade
académica.
Como sublinha Botterill (2002: 73) the growth of studies at doctoral level is
in itself an indicator of the increasing importance of the subject of tourism
in the wider academy.
As formações de nível superior atinentes aos estudos em Turismo viram-se,
assim, multiplicadas no contexto nacional e a pluralidade de cursos, aliada a
um aumento exponencial de vagas permitiram gerar um número substancial de
diplomados, cujo curso já não é por si só condição suficiente para um emprego
garantido e prestigiado. A obtenção de um emprego qualificado e consequente
reconhecimento social e económico dependerá de factores diversos que devem ser
alvo da atenção dos diplomados e das IES. Estas últimas viram-se nas últimas
três décadas responsabilizadas e pressionadas socialmente para formar
estudantes que representem uma mais-valia em termos sociais, culturais e
económicos do país.
O emprego no Turismo não se mostrou alheio a esta massificação do ensino
superior, que representa mais recursos humanos qualificados nesta área e,
consequentemente, impõe aos profissionais competências que se adaptem ritmos de
mudança elevados e um desempenho que revele uma constante actualização de
conhecimentos e de adaptabilidade (Alves, 2003).
3. Recursos Humanos Na Actividade Turística
À semelhança da existência do Turismo enquanto objecto de estudo principal de
cursos de nível superior, diga-se que também as carreiras nesta área são um
fenómeno comparativamente recente. Apesar de se reconhecerem profissões
características da indústria hoteleira e turística desde algum tempo a esta
parte, a sua transformação e desenvolvimento para uma carreira no Turismo é uma
concepção inovadora. Segundo Ayres (2006), o ambiente no qual se desenvolve uma
carreira, nomeadamente em Turismo, apresenta desafios e alternativas que não se
colocavam num passado não muito longínquo, no qual o objectivo crucial se
alinhava directamente com uma expectativa de emprego para a vida inteira.
No âmbito nacional, Silva (1999: 51) assinala importantes alterações no mercado
de trabalho ao nível do Turismo, das quais destaca a recentragem das
competências de base; a redução do nível técnico de tarefas operacionais em
alguns sub-ramos turísticos; a elevação do nível técnico e da especialização
empresarial e de organização turística; a criação de novos perfis profissionais
para responder às necessidades e preferências dos turistas.
A celeridade das transformações que marcam as sociedades actuais, sequiosas de
se afirmarem pelo conhecimento, pela inovação, pela informação e pela
excelência, repercute-se nas exigências prementes dos vários sectores
económicos de se fortificarem com uma mão-de-obra qualificada, com perfis
profissionais adaptados às reais necessidades do mercado, promovendo-se a
exigência de saberes e competências às quais os profissionais do Turismo não
escapam.
Apesar de tendencialmente pessimista no que toca a projeções futuras do
desenvolvimento qualitativo do Turismo, no seu estudo acerca dos recursos
humanos neste sector, Baum (2007) sublinha algumas das ideias que apontam
problemáticas derivadas de práticas que reconhecem que o acesso facilitado à
mão-de-obra barata associada à emigração, legal ou ilegal, permitindo a muitos
setores do turismo ignorar as questões de produtividade, do desenvolvimento de
competências e a valorização das condições de trabalho.Esta realidade tem, no
seu ponto de vista, permitido que muitas sociedades marginalizem os empregos no
Turismo em termos de benefícios e estatutos atribuídos, atrasando acções de
reforma e de modernização do sector no que respeita às suas práticas laborais,
e abrindo espaço para que um contraste acentuado entre grandes companhias
multinacionais, que contemplam e apostam em recursos humanos qualificados, e
pequenas e médias empresas do Turismo se tenha acentuado (Idem: 1384).
Todavia, a veracidade destes factos não poderá distorcer e invalidar a
importância de projectos como o PENT, no contexto nacional português, que
enfatizam e investem na área da qualificação dos recursos humanos como forma de
fazer face ao desenvolvimento sustentado de um sector deveras relevante para o
crescimento económico do país. Deverá ainda incentivar, por parte das empresas,
uma monitorização eficiente das novas propensões do sector turístico
estimulando, fomentando e promovendo intelectualmente todos os elementos que
compõem o seu tecido empresarial para que esta actuação estruturada permita um
acompanhamento e adaptação proactivos às realidades emergentes do sector.
A par deste esforço, há que saber lidar com a extrema diversidade da actividade
turística que origina um mercado laboral complexo do qual decorrem competências
profissionais muito distintas e amplas necessidades formativas (cf. Agencia
Nacional de Evaluación de la Calidad Y Acreditación, 2004). A estrutura
profissional do sector do Turismo congrega diferentes actividades que se podem
distribuir por grandes áreas funcionais e que podem enumerar-se da seguinte
forma: Concepção, Gestão e/ou Direcção Técnica, Prestação de serviços
turísticos e ainda, Prestação de Serviços Técnicos especializados (OMT, 1999).
De uma forma geral, as áreas de actividade core do sector são o alojamento, a
restauração e a animação num primeiro patamar e a distribuição, os transportes,
a gestão de eventos e a administração local e central num segundo nível. A
evolução dos empregos e a necessidade de competências específicas para perfis
profissionais que já não se revêem nas profissões consideradas tradicionais no
Turismo reflecte-se na formação a nível de ensino superior dos recursos humanos
que devem ser preparados para lidar com a diversificação da oferta dos produtos
turísticos, motivações dos turistas, questões ambientais, entre outras.
Porém, a formação académica já não é por si só garante de sucesso e progressão
no percurso profissional do diplomado em Turismo e os vários factores externos
tendem a ditar os trâmites em que se desenrolará a sua actividade. O
diferencial pelos anos de escolaridade e titulação como condição sine qua non
para a obtenção de uma situação profissional e contratual favorecida não são a
realidade dos nossos dias, que se caracteriza por uma incapacidade do sistema
produtivo em assimilar os crescentes contingentes de diplomados, resultando num
acréscimo do desemprego qualificado. Nesta óptica, ganham considerável
importância os atributos que cada indivíduo apresenta ao nível da sua
empregabilidade e que se prendem com aspectos de natureza educativa,
socioeconómica, profissional, entre outros, e que podem determinar a sua
experiência laboral.
Na verdade, são especialmente problemáticas e relevantes, para um país pequeno
como o nosso, realidades que denotam uma elevada taxa de diplomados
desempregados, elevadas taxas de insucesso escolar, sistemas de avaliação de
desempenho das IES pouco rigorosos, uma débil ligação que amiúde se verifica
entre ensino e investigação científica e tecnológica, e as incompatibilidades
entre a lógica organizativa dos cursos, pouco orientada para as necessidades
reais do mercado, entre outros (Simão et al.: 2003).
Mormente, a utilização avultada de recursos públicos na educação em Portugal
(Idem) justificam a preocupação e o interesse pela área do Turismo no ensino
superior e pelo fenómeno da qualificação e inserção dos recursos humanos no
sector turístico e pela compatibilização das suas competências com o sector
turístico, resultando num processo de simbiose no que respeita à interface
formação-indústria.
Ganham, desta forma, destaque todos os estudos que intentem percepcionar os
elementos que diferenciam indivíduos com formação académica similar aquando da
sua integração e situação profissional. Destacamos nesta investigação variáveis
que se prendem com o género, com a idade, com o cargo desempenhado, com o curso
superior frequentado, com a média de licenciatura e com a experiência de
trabalho prévia à conclusão da licenciatura por representarem aspectos
recorrentes em estudos que pretendem analisara situação profissional dos
diplomados do Ensino Superior (García-Aracil, 2009; GPEARI/MCTES, 2009; GPEARI/
MCTES, 2010).
4. Metodologia
A operacionalização do estudo passou pela selecção de uma amostra de diplomados
na área do Turismo a trabalhar neste sector. Na impossibilidade técnica de
englobar todo o ensino superior português, optou-se por restringir o estudo a
dois Pólos de Desenvolvimento Turístico, o do Oeste e o de Leiria Fátima,
localizados em regiões geograficamente próximas e com características de
procura e oferta turísticas similares, salvaguardando-se certas especificidades
de cada uma.
A população-alvo do estudo foi, desta forma, constituída por todos os
diplomados em Turismo e Hotelaria a desempenhar funções profissionais em
empresas e organizações privadas do sector do Turismo (sector hoteleiro,
agências de viagens), em entidades oficiais na administração pública central,
regional e local do Turismo (câmaras municipais, regiões de Turismo e postos de
Turismo), existentes nos dois Pólos de Desenvolvimento Turístico
supramencionados. A escolha dos sectores referidos deveu-se à sua inclusão no
emprego directo provindo da actividade turística (OMT, 1999) e à importância
que detêm enquanto saídas profissionais recorrentes dos cursos superiores
nestas áreas. Foi possível obter uma amostra de dimensão 166 que representa
cerca de 80.2% da população em estudo.
A validação do questionário fez-se por meio da aplicação de um pré-teste que
considerou uma amostra de 30 sujeitos cujas características se aproximam das da
população, por se integrarem nos mesmos sectores de actividade e Pólos de
Desenvolvimento Turístico eleitos. Após a aplicação do pré-teste e recolhida a
totalidade dos questionários, procedeu-se à análise e interpretação dos dados
através do software estatístico StatisticalPackage for Social Sciences (SPSS)
na versão 18, que nos permitiu organizar, apresentar, analisar e interpretar os
dados, recorrendo a estatísticas descritivas e testes de hipóteses.
5. Resultados
Na análise da amostra em estudo elegeram-se os seguintes factores de
diferenciação por forma a caracterizá-la: género, idade e concelho de
residência; formação académica; caracterização socioeconómica e experiência
profissional.
5.1. Análise Univariada
A análise da amostra segundo o género mostrou-nos que esta é constituída
maioritariamente por indivíduos do sexo feminino ' 76.51% ' em comparação com
os 23.49% do sexo masculino. Quanto à idade, esta varia entre os 21 e os 49
anos, com uma média de 29.01 anos, revelando profissionais relativamente
jovens. Foram registados 13 distritos de origem, tendo em conta a residência
antes do ingresso no ensino superior, destacando-se a zona centro do país. O
distrito de Leiria, com 56.02% de indivíduos oriundos dos respectivos
concelhos, soma 93 inquiridos, apresentando-se como o distrito emissor do maior
número de indivíduos da nossa amostra.
Da análise efectuada, e no que respeita à formação académica dos inquiridos,
optou-se por categorizar a formação inicial, seguindo a Classificação Nacional
das Áreas de Educação e Formação (CNAEF), em dois grandes grupos, nomeadamente
o que respeita ao turismo e o que respeita à hotelaria. Apura-se então que 45
(27.27%) inquiridos concluíram a sua formação inicial em cursos relacionados
com a hotelaria e os restantes 120 (72.73%) frequentaram cursos cuja designação
remete directamente para a área do Turismo, como sejam a título ilustrativo
Direcção e Gestão Hoteleira; Gestão de Empresas Turísticas e Hoteleiras; Gestão
e Planeamento em Turismo e Informação Turística; Marketing Turístico; Turismo,
respectivamente.
Foi ainda possível observar que o curso frequentado foi a primeira opção para
82.53% dos inquiridos e que a IES frequentada foi também ela a primeira opção
para 77.1%, o que revela que a maioria dos respondentes está na sua primeira
escolha em relação ao curso e à IES. A média de fim de curso dos inquiridos
oscila entre 11 e 18 valores, com uma média de 14.14 (DP=1.33), revelando uma
fraca dispersão (coeficiente de variação=9.4%).
A análise preliminar dos dados permitiu ainda avaliar da formação pós-graduada
dos inquiridos, sendo que apenas 10 elementos frequentaram e concluíram pós-
graduações. Observou-se ainda que 13.25% da amostra (n=22) frequentaram
programas de mestrado, dois dos quais já concluídos, e que 1.81% dos inquiridos
estão a frequentar programas de doutoramento.
No que respeita a aspectos socioeconómicos, a situação profissional mais
frequente é a de trabalhar por conta de outrem no sector privado (76.51%),
sendo maioritariamente nas unidades hoteleiras que os inquiridos se encontram
empregados, nomeadamente 49.39% em hotéis de 3, 4 ou 5 estrelas, 18.67% em
organismos públicos e os restantes 31.93% em agências de viagens. operacional
é a categoria profissional mais frequente (42.17%), realçando que para esta
categorização se adoptou uma lógica hierárquica, correspondendo a de
operacionais aos funcionários sem poder decisivo. O vencimento auferido pela
grande maioria dos inquiridos (66.67%) situa-se no intervalo de 451 a 900.
Estes dados permitem antever uma desadequação entre a qualificação académica
dos inquiridos e o cargo desempenhado, bem como a atribuição de remunerações
baixas tendo em linha de conta esta mesma formação.
Em relação à experiência profissional, os resultados demonstram que para 70.48%
dos inquiridos o actual emprego não foi o primeiro e em 93.37% dos casos é na
área de formação que desempenham a sua actividade profissional. 78.31% dos
profissionais tiveram experiência de trabalho durante a sua formação académica
e em 77.10% das situações esta encontrava-se relacionada com a sua área de
formação. Os resultados relativamente à existência de outros empregos
previamente ao actual denotam que a amostra se divide, mostrando que 51.53% dos
indivíduos mantém o emprego no qual iniciaram a sua vida profissional,
revelando alguma estabilidade, e os restantes 48.47% apresentam uma maior
mobilidade, havendo transitado de um emprego para outro desde a sua integração
no mercado de trabalho.
5.2. Cruzamento Das Variáveis
Para além da análise descritiva que se realizou e apresentou anteriormente, uma
abordagem de cariz inferencial foi também efectuada como modo de avaliar a
significância estatística das relações entre as variáveis previamente estudadas
individualmente.
No cruzamento da variável género' com outras variáveis não se observaram
diferenças significativas em função do género, o que revela que esta condição
não se encontra associada ao cargo a exercer. No que respeita ao cruzamento das
variáveis género e a média final de curso, conclui-se que os homens obtiveram
uma média de curso de 14.03 (DP=1.10) e as mulheres de 14.18 (DP=1.39). Porém,
o resultado do teste t permite-nos concluir que a diferença entre as médias não
é estatisticamente significativa.
Para a análise da distribuição do rendimento pelo género, os dados obtidos
demonstraram que 30.7% das mulheres auferem mais de 901 em comparação com
48.7% dos homens, sendo a relação entre as variáveis estatisticamente
significativa e podendo assim concluir-se que os indivíduos do sexo masculino
obtêm pelas mesmas funções desempenhadas um vencimento mais elevado do que os
do sexo feminino.
Por último, através da análise simultânea das variáveis género e formação pós-
graduada, observa-se que frequentam ou frequentaram formação pós-graduada 14.2%
das mulheres e 30.8% dos homens, sendo a relação entre as variáveis
estatisticamente significativa.
Um olhar pelos cruzamentos estabelecidos anteriormente mostra-nos que não
existem diferenças estatisticamente significativas quanto à média de curso e
quanto ao cargo desempenhado entre indivíduos do sexo masculino e indivíduos do
sexo feminino. Contudo, os primeiros auferem um rendimento superior, facto que
poderá porventura ser explicado pela maior incidência que estes demonstram em
termos de formação pós-graduada.
No que respeita à variável idade, esta foi estudada em função de três outras
variáveis, especificamente a frequência de formação pós-graduada, o cargo
desempenhado e o rendimento.
A leitura dos dados obtidos permite-nos observar que relativamente à frequência
de formação pós-graduada a média de idades é de 29.60 anos (DP=5.80) para os
diplomados que frequentam ou frequentaram este tipo de formação e de 28.88 anos
(DP=5.60) para os restantes, sendo que a diferença observada não é
estatisticamente significativa. No que concerne aos cargos desempenhados,
observa-se um aumento da idade à medida que a responsabilidade e a capacidade
de decisão aumentam. Globalmente, a diferença é estatisticamente significativa,
sendo que os operacionais têm, em média, idades significativamente inferiores
aos directores (p=0.024), aos directores de departamento (p=0.024), e aos
técnicos superiores (p=0.018).
Finalmente, a respeito do rendimento auferido observámos desigualdade de
variâncias entre os grupos a comparar e por isso optámos pelo teste t
corrigido. Os sujeitos que ganham mais de 901 têm uma média de idades
significativamente superior (M=32.48; DP=6.31) do que os que ganham menos de
900 M=27.15; DP=4.18), o que revela atribuição de reconhecimento à experiência
e maturidade que se vai adquirindo com o aumento da idade.
No que respeita ao cruzamento da variável cargo desempenhado' com outras
variáveis, pudemos constatar que a distribuição da frequência de formação pós-
graduada mostra-se independente da distribuição do cargo desempenhado, o que
indicia alguma escassez de importância dada pelas entidades empregadoras à
formação pós-graduada dos profissionais aquando da atribuição de cargos. Já no
que respeita à média do curso, esta não é estatisticamente diferente entre os
sujeitos nos cinco tipos de cargos considerados, o que sugere algum descrédito
pela prestação académica do licenciado aquando da atribuição de um cargo
específico ou, por outro lado, pode revelar que independentemente da média
obtida, outros factores são tidos como preferenciais na atribuição do cargo a
desempenhar.
Podemos ainda observar que 80% dos directores aufere mais do que 901, sendo
que esta proporção baixa nos directores de departamento para 57.1%. A inflexão
observa-se nos técnicos superiores em que mais de 56.1% recebe menos de 900.
Estes dados permitem-nos concluir que a cargos de maior responsabilidade e de
topo em termos hierárquicos são, como seria expectável, atribuídos rendimentos
superiores.
Seguidamente, através da análise simultânea das variáveis curso superior
frequentado e cargo desempenhado, observa-se uma tendência para os licenciados
em Hotelaria, proporcionalmente, ocuparem cargos mais elevados do que os
licenciados em Turismo.
Já no que diz respeito ao cruzamento da variável média de licenciatura' com
outras variáveis, as relações estabelecidas com o rendimento auferido, o tipo
de IES frequentada e a frequência de formação pós-graduada mostraram-se não
significativas. Da mesma forma, a média final de curso e o tempo de espera pelo
primeiro emprego obtiveram uma correlação de -0.195, correlação esta que não é
estatisticamente significativa (p=0.106). Por outras palavras, não se observa
qualquer relação significativa entre a média com que o sujeito terminou o curso
e a facilidade/dificuldade em conseguir emprego, sublinhando-se novamente a
possível desvalorização atribuída à prestação académica por parte do sector
empregador.
Por último, da análise da relação entre a experiência de trabalho prévia à
conclusão da licenciatura e o período de tempo para integração no mercado de
trabalho, pode concluir-se que a primeira não se encontra relacionada com uma
maior facilidade na obtenção de emprego, desconsiderando-se a experiência
adquirida pelos indivíduos e sugerindo um possível desprimor da entidade
empregadora pelas competências dos profissionais a contratar.
6. Discussão E Recomendações
O enquadramento teórico efectuado permitiu caracterizar a oferta formativa em
Turismo, que possibilita a existência de recursos humanos qualificados ao nível
do ensino superior, bem como delinear a estrutura profissional do sector que
acolherá estes diplomados. O papel das IES e das entidades empregadoras
envolvidos nesta questão passa necessariamente pela valorização da formação e
da qualificação dos recursos humanos afectos à actividade económica do Turismo,
como variável chave para o desenvolvimento sustentável e para a melhoria da
competitividade do mesmo.
Os resultados obtidos na componente empírica desta investigação descrevem um
grupo amostral que se movimenta e é produção dos sistemas anteriormente
descritos. Da análise das relações estabelecidas, a conclusão mais visível
remete para o facto de existirem indícios de que o diploma de licenciatura não
tem um valor universal, no sentido em que outros factores pesam em termos das
condições de trabalho destes profissionais. A desatenção concedida pelas
entidades empregadoras a factores académicos que poderão revelar uma maior
capacidade e um maior nível de competências de um indivíduo, como são disso
exemplo a média final de curso e a formação pós-graduada, neste caso no que
respeita à sua relação com o cargo a desempenhar, revelam um certo afastamento
nas relações entre educação e emprego.
Mormente, a desvalorização, por parte dos empregadores, da experiência de
trabalho dos indivíduos, durante a frequência da licenciatura, como um ganho
para a sua maturidade profissional indicia um entendimento empobrecido e
deficitário dos benefícios que essa experiência pode trazer a um jovem
diplomado. A percepção dos empresários sobre a importância da qualificação dos
recursos humanos e a sua influência na melhoria do serviço prestado e no
desenvolvimento empresarial parece assim arredado das potencialidades que a
experiência do ensino superior acarreta para os seus formandos. Não havendo
sido auscultados directamente, podemos apenas presumir que razões do foro
financeiro possam estar por detrás destes critérios, sendo que profissionais
mais qualificados, com melhores prestações académicas e conhecedores da
dinâmica dos mercados apresentarão, necessariamente, expectativas mais elevadas
em relação às condições advindas da sua situação profissional.
Em suma, esta leitura dos resultados reafirma a necessidade premente de se
sensibilizarem a comunidade empresarial, as IES e os diplomados/profissionais
do Turismo no sentido de se estabelecerem relações mais estreitas entre estes,
nomeadamente no sentido de se perspectivarem estratégias de actuação conformes
às reais necessidades dos diferentes stakeholders envolvidos. Uma abordagem
conjunta às efectivas necessidades do mercado, do peso crescente que questões
atinentes aos aspectos do emprego e das saídas profissionais dos cursos têm
vindo a adquirir e das dificuldades de inserção profissional de jovens
licenciados, requerem um aprimoramento na articulação da esfera educacional e
do mundo do trabalho.
O carácter intangível que define o sector do Turismo pelo tipo de serviço que
presta e o facto de ser uma actividade que utiliza intensivamente o capital
humano, conjuntamente com o imperativo da competitividade, agora em escala
internacional, obriga a que se redefinam estratégias visando a qualidade total,
tornando-se para tal necessário sensibilizar as IES a adequar os seus cursos ao
mercado de trabalho e os empresários para a necessidade de recrutar diplomados
e participar na cena educativa activamente, informando e esclarecendo sobre os
aspectos que podem determinar a evolução e o desenvolvimento das suas
organizações, em particular, e do sector do Turismo, no geral.
Em jeito de síntese, o presente estudo possibilitou uma análise da oferta
formativa em Turismo e das interacções que se estabelecem com o mercado de
trabalho, podendo apenas generalizar-se aos Pólos em causa. No âmbito nacional
existe ainda escassez deste tipo de estudos, pelo que reforçamos o interesse em
fazer-se um estudo mais alargado, de âmbito nacional, a fim de compreender
melhor a problemática em causa. O facto dos inquiridos se caracterizarem por
estarem integrados no mercado laboral afeito ao Turismo, exclui a informação
proveniente dos diplomados que se encontram desempregados ou a desempenhar
funções que não no sector turístico. Este seria um estudo muito importante pois
permitiria a auscultação destes indivíduos, complementando a informação
proveniente da que se adquiriu.