Ciclo de vida das organizações e longevidade: análise de indústrias da região
metropolitana de Belo Horizonte/MG a partir da abordagem de Greiner
1. Introdução
As organizações assemelham-se aos organismos vivos, pois, nascem, crescem,
desenvolvem-se, envelhecem e morrem, caracterizando, assim, o ciclo de vida
organizacional (CVO). Este destaca cada fase do desenvolvimento da organização,
que se diferencia dos organismos vivos por não estar relacionado ao tamanho nem
ao tempo de vida das mesmas, mas à flexibilidade e complexidade no controlo das
ações e a possíveis resistências às mudanças (Adizes, 1990).
Bridges (1998) assinala que as organizações, tal como os organismos vivos, a
partir da sua criação, apresentam determinado período de vida ou de duração,
denominado CVO, que começa com a sua conceção e termina na velhice, com a sua
morte. É um processo evolutivo de uma organização, desde a sua criação até
tornar-se efetivamente consolidada, porém, com uma série de etapas que devem
ser ultrapassadas (Lezana & Grapegia, 2006).
Um motivo para se estudar o CVO seria a questão da transição da organização de
uma fase para outra, ou seja, se a mesma possui conhecimento da fase em que se
encontra. Para se desenvolver ela tende a passar para outra fase, e com
sabedoria, nessa transição não enfrentará uma crise. Assim, poderá iniciar um
novo estágio, fortalecida e amadurecida, caso contrário, poderá ter problemas
de gestão e de continuidade (Borinelli, 1998).
Para Razzoline Filho (2000), o que leva uma empresa a ser duradoura é ter um
bom produto ou serviço e estar em constante processo de inovação. Assim, ao
lançar novos produtos e atender às necessidades ou desejos do seu cliente, ela
está a perpetuar-se no mercado, e aquela que não está atenta a esse aspecto,
sujeita-se a ter um ciclo de vida curto, aumentando a probabilidade de morte
empresarial.
As pequenas empresas que sobrevivem pelo menos dois anos passaram de 51% em
2002 para 78% em 2005 (crescimento de 27%) - tornando-se mais duradouras. Isso
deve-se à melhoria do ambiente económico (redução e controlo da inflação, à
gradual diminuição das taxas de juros, ao aumento do crédito para as pessoas
singulares e do consumo) e maior qualidade na gestão empresarial. E, boa parte
das sobreviventes é do segmento industrial (SEBRAE, 2010). Pereira e Noli
(2010) afirmam que Minas Gerais apresenta uma posição estratégica na economia
nacional não só pela sua localização geográfica, como também, pelo seu parque
industrial moderno e por uma ampla infraestrutura de ensino e pesquisa.
Para Crocco e Lemos (2000), o desenvolvimento industrial da região
Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) reflete o processo de industrialização
de Minas Gerais e o poder de longevidade dessas empresas. A partir disso,
explicam a configuração industrial da região: a proximidade das regiões
fornecedoras de matéria-prima e o facto de Belo Horizonte ter-se tornado o
maior centro de serviços no Estado, determinando uma centralidade urbana de
elevada magnitude, estimulando a concentração de indústria nos seus arredores.
Nesse contexto, a questão que norteia esta pesquisa é: em que fase do CVO se
encontram as indústrias da RMBH,com base no modelo de Greiner (1998).
O objetivo deste artigo é analisar, de acordo com o Modelo de Greiner (1998),
em que estágio do CVO se encontram as indústrias pertencentes à RMBH. Acredita-
se que isso poderá auxiliar os seus gestores sobre o desenvolvimento da fase em
que se encontram, contribuindo para o aperfeiçoamento dos seus processos e
aumento da sua longevidade.
2. Referencial teórico
2.1.modelos de análise do cvo
Nos estudos sobre CVO têm-se desenvolvido vários modelos para analisar os
aspectos do tema. Alguns desses principais modelos foram desenvolvidos por
Greiner (1972; 1998), Quinn e Cameron (1983), Churchill e Lewis (1983), Miller
e Friesen (1984), Scott e Bruce (1987), Kaufmann (1990), Adizes (1990),
Gersick, Davis, Hampton & Lansberg (1997) e Tröger e Oliveira (1999).
Estes autores clássicos divergem quanto às denominações das fases, formas de
análise, número de estágios e inclusão ou não de um estágio de pré-concepção,
ou outro de declínio. A variação de estágio dá-se de acordo com as percepções
teóricas deles - de três como Machado-da-Silva, Vieira e Dellagnelo (1998) a
dez como Adizes (1990). Os principais modelos e respectivas fases de CVO são
apontados no Quadro_1.
De acordo com Adizes (1990), o crescimento e o envelhecimento das organizações
ocorre em função da inter-relação entre dois fatores: flexibilidade e
controlabilidade. As organizações jovens tendem a ser mais flexíveis, mas, nem
sempre controláveis, ao contrário das mais velhas, que são menos flexíveis e
mais controláveis. E, tamanho e tempo não são considerados causas de
crescimento e envelhecimento. Uma organização jovem é aquela capaz de mudar com
relativa facilidade. Já uma organização velha possui o comportamento mais
controlável, porém, é pouco propensa às mudanças.
Quando uma organização é ao mesmo tempo controlável e flexível, não é nem jovem
nem muito velha. Ela possui vantagens da juventude e da maturidade, e
classifica-se num estágio denominado como Plenitude. Este é o pico favorável na
curva do CVO, em que a organização alcança um equilíbrio entre autocontrole -
flexibilidade. Ao atingir esse estágio, a organização pode alterar a sua
direção e controlar o que deseja fazer (Adizes, 1990, p. 3). O propósito ao
desenvolver o seu modelo, foi estudar o que afeta esse equilíbrio, além de
analisar como gerir esses fatores para que a organização atinja e permaneça na
Plenitude.
Em cada estágio ocorrem novas crises e desafios (Kaufman, 1990). De acordo com
a habilidade de cada organização passam para um novo estágio mais fortalecidas.
Num estudo mais aprofundado, Kaufman (1990) define o CVO em quatro fases
(quadro_1). Contudo, esta pesquisa pauta-se na abordagem de Greiner (1998), a
qual será apresentada detalhadamente na próxima secção.
2.2. O Modelo de Greiner (1998)
De acordo com Greiner (1998), o futuro de uma organização é determinado mais em
função da sua história do que por forças exteriores à ela. Ele define uma série
de fases relativas ao desenvolvimento pelas quais as organizações em
crescimento tendem a passar. Faz, ainda, um paralelo entre o termo evolução e
revolução. Aquele se refere aos períodos prolongados de crescimento da
organização em que não ocorrem muitas movimentações ou mudanças. Este, seriam
os períodos de grande desordem na vida das mesmas. Nos períodos de evolução
ocorrem muitas revoluções, que são o ponto de partida para uma nova fase do
CVO.
Cada fase sofre efeito da fase anterior e uma causa para a próxima fase, e cada
período evolutivo é caracterizado pelo estilo de gestão dominante na
organização, utilizado para atingir o crescimento, enquanto que cada período
revolucionário é salientado pelo problema de gestão dominante que deve ser
resolvido antes que o crescimento possa continuar. Abaixo são descritas as
fases do modelo de Greiner (1998), vide figura_1:
A partir do modelo de Greiner (1998), na primeira fase denominada Criatividade,
ocorre o nascimento da organização e o seu foco está no mercado e no produto.
Caracteriza-se por longas jornadas de trabalho com salários compensadores; a
comunicação entre a equipe dá-se frequentemente informal; os fundadores exercem
funções gestoras, além de estarem vocacionados a produzir e vender cada vez
mais o seu produto. É marcada pela crise da liderança, ou seja, é quando a
empresa cresce, as operações de produção (processos) requerem um maior
conhecimento e acompanhamento sobre o seu desempenho, aumentam o número de
empregados que não podem mais ser geridos por meio de uma comunicação informal
e muitos não estão motivados por uma dedicação intensa à organização. Os
fundadores veem-se oprimidos com tanta responsabilidade e os conflitos entre
líderes crescem de forma intensa. Há a crise da liderança, daí a necessidade de
um líder de pulso forte, que tenha conhecimentos para gerir e habilidades para
introduzir novas técnicas aos negócios.
A próxima fase é denominada Direção. Após sobreviverem à fase anterior, as
organizações entram no período de crescimento. É um período de liderança hábil
e diretiva, que apresenta as seguintes características: inicia-se uma estrutura
de organização funcional para separar as atividades por área - atividades de
comercialização são separadas da produção; são introduzidos sistemas de
contabilidade para existência e compra de produtos; são adotadas novas normas
de trabalho, programas de incentivo e orçamentos; a comunicação torna-se
informal e impessoal de acordo com a hierarquia. E, acontece a crise da
autonomia. A organização fica mais complexa. Os empregados de hierarquias
inferiores têm o seu poder limitado, e mostram-se divididos entre seguir
procedimentos e tomar iniciativas. Essa fase é marcada por uma demanda de maior
autonomia por parte dos gerentes. A solução é implementar um processo de
delegação de poder, a partir de um processo de descentralização.
A terceira fase é a da Delegação, marcada pelo processo de descentralização do
poder possui as características: aos gerentes são atribuídas maiores
responsabilidades; o bónus é uma forma de benefício utilizado para estimular o
empregado a produzir e vender mais; a comunicação da alta gerência ocorre por
comunicados, correspondências ou telefone, pois está mais distante do nível
operacional. Há a crise do Controlo, principalmente, devido à descentralização
do poder. A alta gerência decide retomar o poder e recuperar o controlo da
organização. A solução seria a retomada de algumas técnicas específicas de
coordenação.
A fase seguinte é da Coordenação, com forte ascensão de sistemas formais de
gerência, que estimulam os gestores a perceberem as necessidades da organização
e tem como principais características: planejamento formalizado para manter o
controle da empresa; unidades descentralizadas são fundidas em grupos de
produtos; funções, como processamento de dados é centralizado nos centros de
operações, enquanto as decisões de operações diárias ficam descentralizadas. É
marcada pela crise da Burocracia, cujos sistemas formais se tornam burocráticos
em função do tamanho e da complexidade da organização.
A quinta e última fase é a da Colaboração, em que o controlo social e a
autodisciplina determinam o controlo formal. É um processo de transição difícil
na tentativa de superar a burocracia. São características: as equipas são
divididas em função das tarefas; utiliza-se uma estrutura do tipo matriz para
designar as equipas segundo as tarefas;os sistemas formais são simplificados e
transformados em sistemas únicos com diversas funções; os gestores reúnem-
separa solucionar problemas maiores, e novas práticas são encorajadas pela
organização. Conforme Greiner (1998), a crise nessa fase está marcada pelo
stress profissional, decorrente da sobrecarga de trabalho, que será resolvida
por meio de uma nova estrutura e programas que permitam aos empregados
descansarem periodicamente, refletirem e revitalizarem-se.
Poucas organizações passam por todas essas fases de crescimento. De acordo com
o desenvolvimento da organização, torna-se possível observar sinais de outras
fases, anteriores ou posteriores à fase em que a mesma se encontra. A superação
das dificuldades identificadas na evolução das organizações depende da atenção
do empreendedor aos instrumentos que o meio oferece e do reconhecimento das
deficiências (Greiner, 1998).
2.3. Trabalhos anteriores na literatura brasileira recente
Foram levantados alguns trabalhos que testaram o modelo de Greiner. No Quadro_2
são sumariadas algumas de suas características.
Nota-se que, dentre as pesquisas identificadas para estudar o CVO, o foco deu-
se naquelas da área de moda e vestuário, móveis, em que as empresas se
situaram, sobremaneira, no estágio de criatividade. Além de não verificar
pesquisas que analisaram o CVO de indústrias, o que reforça o interesse por
investigá-las, observa-se que são estudos restritamente específicos cujo
resultado não proporciona a interseção de um com o outro.
3. Metodologia
O objetivo desta pesquisa foi identificar em que fase do CVO se encontram
algumas indústrias na RMBH, segundo a abordagem de Greiner (1998). Ela é
descritiva, sendo utilizado o método quantitativo do tipo inquérito por
amostragem (Hair Jr., Anderson, Tatham & Black, 2005). Neste, a hipótese
não é causal, mas tem o propósito de verificar se a perceção dos factos está ou
não de acordo com a realidade (Pinsonneault & Kraemer, 1993).
Possui natureza aplicada, pois busca gerar conhecimento para a aplicação
prática, na solução de problemas que ocorrem na realidade. A pesquisa empírica
tende a ser quantitativa, e o seu grande valor é trazer a teoria para a
realidade (Michel, 2005). Centra-se na quantificação de fenómenos, por meio da
colheita e análise de dados numéricos, com a utilização de testes estatísticos
(Collis & Hussey, 2005).
As unidades de análise foram as indústrias pertencentes à RMBH e as unidades de
observação foram os respondentes do questionário (gestores das empresas).
Essas indústrias estão situadas no complexo industrial da RMBH, em Minas
Gerais. A amostra foi extraída da base de dados (cadastro) da Federação das
Indústrias de Minas Gerais – FIEMG, referente ao ano de 2011, último
levantamento feito pela Federação. A população em estudo possuía mais de 1.000
indústrias. Mas, foram obtidas respostas de 33 delas, pois o restante não teve
interesse em contribuir para a pesquisa.
Essa amostra foi obtida por meio do método não probabilístico por conveniência
e por julgamento (Hair Jr. et al., 2005), visando-se obter uma quantidade maior
de respondentes.
No que se refere a colheita de dados, foi disponibilizado um link na internet
(no qual estava inserido o questionário), para todas as indústrias cadastradas
na FIEMG. Utilizou-se como técnica de colheita, questionário estruturado
composto por questões fechadas com escala Likertde cinco pontos. Esta escala
variava de 1 a 5 opções, em que 1 significava que o respondente discordava
totalmente sobre o item e, 5 quando concordava totalmente.
Foi reaplicado parte do questionário de Silva (2008), o qual foi elaborado a
partir de questões teóricas fundamentadas no modelo conceitual do CVO a partir
da abordagem de Greiner (1998). Continha 30 perguntas, divididas em 5 grupos (6
perguntas em cada), referentes aos estágios de classificação da organização,
segundo o modelo de Greiner. Para cada afirmação os respondentes deveriam
atribuir a opção de resposta que percebiam ser a adequada à organização.
Ao responder às questões do questionário, as respostas eram direcionadas para
uma tabela no Excel®, o que facilitou a análise dos dados.
O próximo passo foi o tratamento dos dados, a que se deu da seguinte forma:
a) Primeiramente, para descrever os dados utilizados, foi realizada uma análise
descritiva, que será apresentada por meio de tabelas de frequência, as empresas
foram classificadas segundo o ramo de atividade, tempo de fundação, número de
funcionários e dimensão.
b) Em seguida, iniciou-se o processo de classificação das empresas nos estágios
do CVO em que se encontram, de acordo com as respostas dos gestores. O método
utilizado para se obter essa classificação foi o sistema classificador genético
difuso do CVO, baseado na metaheurística dos algoritmos de Holland (1975) e na
matemática difusa de Zadeh (1965), correlacionados aos estágios do CVO de
Greiner (1998), possibilitando determinar qual o ponto de localização no CVO de
cada empresada amostra (Silva, 2008);
c) A partir da classificação da fase do CVO das empresas, algumas comparações
foram realizadas. Procurou-se verificar se, para algumas características,
existia diferença significativa entre as fases. Para tanto, foram aplicados
testes não paramétricos, uma vez que as suposições para a utilização de testes
paramétricos não foram atendidas. As hipóteses dos testes, critérios de análise
e justificativas de utilização são apontados a seguir. O nível de significância
utilizado foi de 5% e, o programa, o MINITAB 14;
d) Aplicou-se o teste de comparação de variâncias Kruskall Wallis – compara
várias amostras independentes para avaliar se provêm de populações com
variâncias iguais. Ele é utilizado quando a suposição de normalidade necessária
para a análise de variância, não é satisfeita. Serviu para comparar as fases do
CVO segundo as características das empresas.
As hipóteses do teste são:
- H0: Estágios do CVO possuem a mesma distribuição para item estudado
- H1: Distribuição diferente para pelo menos dois estágios do CVO para item
estudado
A hipótese nula, de igualdade de distribuições, é rejeitada quando o p-valor é
inferior ao nível de significância, ou seja, p-valor <0,05 (Hair et al., 2005).
O teste é realizado comparando todas as fases. Neste caso, foram realizados
testes de comparação dois a dois para verificar entre quais fases a diferença
ocorre.
3.1. Fuzzificação
Para a classificação das empresas segundo a fase do CVO, foi utilizado o método
de fuzzificação dos dados. A categorização inicial, com notas de 1 a 5, foi
alterada para uma escala de 0 a 4, em que 0 indica discorda totalmente, 1
discorda, 2 concorda parcialmente, 3 concorda e 4 concorda totalmente. Após a
codificação das respostas, para identificar a fase do CVO em que as
organizações se encontram, com base em Greiner (1998) foi utilizada a análise
do sistema classificador genético difuso do CVO (Hein, Beuren & Novello,
2011) e foram seguidos os seguintes passos: fuzzificação das respostas,
pontuação máxima por fase, cálculo das distâncias, classificação das empresas,
interpretação dos resultados fuzzificadosdo CVO.
3.1.1. Fuzzificação das respostas
O sistema classificador genético difuso foi utilizado para a classificação das
empresas na fase do CVO em que cada empresa mais se aproximar. O método
considera a expansão da resposta apontada pelo entrevistado para as respostas
próximas. Por exemplo, se o entrevistado aponta concordar parcialmente, o
sistema considera que ele possa estar numa situação difusa, incerta, em que ele
pode apresentar tendência a discordar ou concordar.
Hein, Beuren e Novello (2011) mencionam que os elementos comuns entre os
sistemas classificadores são: i) uma população inicial; ii) lista de aspetos a
serem examinados e avaliados; iii) regras de classificação (inputs); e iv)
classificação (outputs).
Hein (1995) assevera que a teoria dos conjuntos difusos, ou lógica difusa,
distingue-se por trabalhar com raciocínios aproximados, a fim de se obter
inferências, para permitir que a mesma se ajuste melhor à linguagem natural,
recapturando o significado de termos vagos, ambíguos ou imprecisos, vistos na
teoria clássica como predicados difusos.
O primeiro passo para a fuzzificação é a transformação das respostas dos
entrevistados em cinco níveis. Para tal, cada opção de resposta foi
transformada em 5 alelos, sendo fuzzificadas. Em seguida, as respostas dos
entrevistados foram transformadas, inicialmente, num esquema genético de cinco
pontos, em que C1=0, C2=1, C3=2, C4=3 e C5=4.
Após a transformação das respostas em escalas de cinco pontos para todos os
entrevistados, a fuzzificação foi iniciada, utilizando-se a codificação
apresentada.
3.1.2. Pontuação máxima por fase
Após a fuzzificação das respostas, para cada uma das empresas da amostra, foi
necessário desenvolver, para cada um dos grupos de questões (que caracterizam
cada uma das cinco fases), o esquema do sistema genético por meio da pontuação
máxima para cada fase.
3.1.3. Cálculo das distâncias e classificação das empresas
Após a fuzzificação das respostas e das fases, calculou-se a distância entre as
respostas fuzzificadas atribuídas a cada empresa e os valores máximos
fuzzificados obtidos para cada fase. Como o código representado por C1 é
representado por zero nas fases, ele não será utilizado para o cálculo das
distâncias.
Conforme Hein, Beuren e Novello (2011), para calcular as distâncias
cromossómicas, é empregada a métrica expressa na equação:
em que:
ei = matriz com as respostas fuzzificadas para a empresai;
ej = matriz com pontuação máxima, fuzzificada, da fase j;
eig = autovalores encontrados utilizando a matriz do resultado da multiplicação
entre a diferença dos vetores ei e ej.
As respostas, para cada empresa, são representadas por uma matriz 4x30. A
multiplicação dessa matriz pela sua transposta gera uma matriz 4x4, homogénea.
Utilizando essa matriz homogénea, são calculados os 4 autovalores, e então é
utilizado o maior autovalor obtido. O resultado da distância é a raiz quadrada
do maior autovalor encontrado.
Essa distância é calculada para cada empresa, para cada uma das fases. Elas
indicam que cada empresa possui características de todas as fases, mas a menor
distância indicará em qual das fases a empresa se encontra.
4. Análise e discussão dos dados
4.1. Caracterização das empresas
A descrição das características das empresas foi realizada por meio da análise
univariada das informações contidas no questionário, para determinar o perfil
da amostra. A maior parte (51,5%) das empresas pesquisadas está no mercado há
mais de 20 anos. Apenas 12,1% possui tempo de fundação menor ou igual a 5 anos
(tabela_1). Quanto à classificação das empresas em relação ao número de
funcionários, a maioria das delas (60,6%) possui mais de 100 funcionários
contratados (tabela_2).
No que se refere à dimensão das empresas, mais de 50% da amostra é de média
dimensão, de acordo com a tabela_3.
Com base na tabela_4, que se refere ao ramo de atividade das empresas, o ramo
automobilístico teve predominância (18,2%). Percebe-se, com isso, que a
presença de uma montadora de automóveis na RMBH fomenta a necessidade de
fornecedoras de peças automobilísticas. Outro ramo que merece destaque é o de
construção (9,1%). Este ramo vem apresentando acentuada demanda de serviços e
perspectivas de crescimento na região.
4.2. Classificação das empresas na fase do CVO segundo Greiner (1998)
O Quadro_4 apresenta as distâncias das 33 empresas, para cada fase do CVO,
segundo o modelo de Greiner (1998) e a classificação de cada uma delas numa das
fases.
A frequência das empresas segundo sua fase no CVO é descrita na Tabela_5. A
maioria das empresas foi classificada na fase de coordenação, seguida pela de
criatividade. Cabe ressaltar que nenhuma foi classificada na fase de
colaboração.
4.3. Análise comparativa entre as fases do ciclo de vida organizacional
A partir da classificação da fase do CVO, comparações foram realizadas, por
meio do teste Kruskal Wallis, para verificar se, para algumas características
das empresas, existia diferença significativa entre as fases.
A Tabela_6 apontou que a média do número de funcionários não foi diferente para
as fases do CVO e, a variabilidade, alta. Na fase de coordenação obteve-se o
maior número médio de funcionários e maior variabilidade. O p-valor do teste
(0,182) foi maior que o nível de significância (0,05), logo, a hipótese nula,
de igualdade das fases, não foi rejeitada. Assim, não houve indícios de
diferença entre as fases no que se refere ao número de funcionários.
Em relação ao tempo de fundação das empresas a fase de coordenação apresentou a
maior média, além de elevada variabilidade. Quanto ao p-valor do teste de
comparação das fases segundo o tempo de fundação das empresas foi 0,662, sendo
maior que o nível de significância. Isso indica que a hipótese nula não é
rejeitada. Então, não houve indícios de que ocorreu diferença entre as fases no
que se refere ao tempo de fundação das empresas.
Quanto a dimensão das empresas, revelou-se que, para as fases de coordenação,
criatividade e delegação, a dimensão das empresas foi, na maioria, média.
Apenas para a fase de orientação, predominaram as pequenas empresas, mas
correspondeu a somente 4 empresas. O p-valor do teste - 0,648 - foi maior que o
nível de significância. Portanto, a hipótese nula não foi rejeitada. Assim,
inexistiram indícios de diferença entre as fases acerca da sua dimensão.
Em suma, nenhum dos fatores, como número de funcionários, tempo de fundação e
dimensão das empresas, foram aspetos de classificação das empresas quanto ao
CVO.
4.4. Interpretação dos resultados fuzzificados do CVO pelo modelo de Greiner
A partir dessa análise, que utiliza como parâmetro o estilo de gestão, tem-se
uma informação útil para que o empreendedor/gestor direcione os rumos da sua
organização.
Sobre a importância de se conhecer o estágio em que se encontra a organização,
Greiner (1998, p. 98) afirma que as empresas costumam deixar de reconhecer que
muitas indicações valiosas para o seu êxito futuro encontram-se dentro das suas
próprias organizações e nos seus diversos estágios de desenvolvimento. Além do
mais, a incapacidade da direção da firma de compreender os seus problemas de
desenvolvimento empresarial pode redundar numa estagnação da empresa no seu
estágio atual de evolução ou, finalmente, na sua falência, independente das
perspectivas oferecidas pelas condições do mercado (Greiner, 1998, p. 98).
Ao classificar as empresas, notou-se que sete empresas se situaram no estágio
de criatividade, quatro no estágio de direção, quatro no estágio de delegação e
dezoito no estágio de coordenação.Nenhuma das empresasse classificou no quinto
estágio - colaboração. Foi expressivo o número de empresas classificadas no
quarto estágio, o de coordenação (54,55% da amostra), sendo 22,2% de empresas
do setor automobilístico.
Salienta-se que, as empresas neste estágio apresentam um planejamento formal,
em que os procedimentos são estabelecidos e revistos constantemente. Encontram-
se preparadas para investir no mercado de capitais e os investimentos passam
por um amplo processo de avaliação, que abrange a sua lucratividade. Elas
apresentam processos mais eficientes e a estrutura de staff está bem definida.
No estágio de criatividade- 21,21% -nenhum setor se destacou. Nele incluíram-se
empresas de siderurgia, metalurgia, artefactos de cimento, indústria de
mobiliário, entre outras.
No estágio de nascimento da organização, a ênfase está na criação tanto de um
produto quanto de um mercado. Nesse momento, a organização tende a preocupar-se
apenas com o seu crescimento. A comunicação na empresa ainda ocorre de maneira
informal, não utiliza procedimentos administrativos e o controle das atividades
ocorre diariamente. A atividade de gestão acontece pelos fundadores ou
proprietários da organização.
Os estágios de direção e delegaçãoapresentaram 12,12%, compondo-se de quatro
empresas cada um deles. No de direção,têm-se empresas do ramo de transporte,
call center, automobilístico e consultoria. Já o de delegaçãocontemplou
empresas dos ramos: financeiro, produtos químicos, fundição e fabricação de
máquinas para mineração.
As empresas no estágio de direção caracterizam-se pela criação de sistemas de
hierarquia com a divisão de funções e tarefas. A comunicação dentro da empresa
torna-se formalizada, além de serem desenvolvidos e implantados processos
administrativos visando controlar o sistema de compras e vendas.
No estágio de delegaçãoas empresas mostraram-se mais evoluídas. Têm uma
comunicação mais eficiente, são mais ágeis face ao mercado, e as ferramentas
administrativas controlam melhor os processos. Uma quantidade maior de
responsabilidades é atribuída aos gestores e os funcionários passam a receber
participação nos lucros da empresa.
Convém ponderar que, nenhuma empresa se classificou no estágio de colaboração –
o último do modelo de Greiner (1998). Nele, as empresas indicam uma
administração mais flexível e há equipas multidisciplinares trabalhando na
empresa. Enfatiza-se maior espontaneidade em ação de gestão por meio de equipas
e a confrontação habilidosa de diferenças. O controlo social e a autodisciplina
predominam no controlo formal. Essa transição é difícil, especialmente, para os
especialistas que criaram os antigos sistemas, bem como para aqueles gerentes
de linha que confiam em métodos formais para respostas.
5. Conclusão
O objetivo deste trabalho foi identificar em que fase do CVO se encontram
algumas indústrias na RMBH, segundo a abordagem de Greiner (1998). Procedeu-se
a uma revisão bibliográfica acerca dos seguintes temas:diferentes modelos de
classificação do CVO; conhecer a importância de classificação das empresas
mediante as fases do CVO; identificar outros trabalhos que abordaram o Modelo.
Um importante conceito que justificou o desenvolvimento desta pesquisa foi que
o CVO é a fase/estágio em que a organização se situa num determinado momento da
sua vida.
A escolha do método, o sistema classificador genético difuso, foi com base na
recomendação de Silva (2008), que também utilizou a tipologia de Greiner
(1998). Além disso, o sistema dá condições de intervalaras empresas nos
estágios, possibilitando uma relação próxima à realidade, trazendo maior
confiabilidade ao método.
Constatou-se que, a parcela mais representativa das empresas pesquisadas
funciona há mais de 20 anos; a maioria tem mais de 100 funcionários, sendo que
cerca de metade delas é de média dimensão. As do setor automobilístico foram a
maioria dos respondentes.
Quanto à classificação das empresas, segundo a fase do CVO, a maior parte
situou-se na fase de coordenação (destaque para o setor automobilístico),
depois, por criatividade. E, dentre as respondentes, nenhuma se encontrava no
estágio de colaboração, o último deles. Portanto, as respondentes sugeriram a
não aderência às características deste estágio, que a maturidade é mais
avançada em termos de gestão organizacional. Ainda sim, sugerem certo grau de
longevidade.
Na comparação da presença de características nos estágios de CVO, não foram
obtidas evidências de diferença entre as fases no que se refere ao número de
funcionários, tempo de fundação e, dimensão das empresas.
Conclui-se, assim, que as empresas não apresentaram distinções estatisticamente
significantes ao analisá-las com base nesses elementos, ou seja, pode-se supor
que, toda a amostra de respondentes faz parte de um mesmo grupo, segundo essas
características.
Esta pesquisa, ao atender o objetivo proposto, além de contribuir para a
melhoria nos processos de gestão das indústrias investigadas, que passaram a
conhecer a fase do CVO em que se situavam (os resultados foram divulgados a
cada respondente, por e-mail), estimula o aprofundamento de trabalhos futuros
acerca da temática. A partir disso, os seus gestores podem conseguir
incrementos nos processos de tomada de decisão, constituindo estratégias
adequadas às necessidades e ambições dos proprietários do negócio.
Por outro lado, refutou-se, para a amostra analisada, o preconizado por Greiner
(1998), ou seja, idade, dimensão e tamanho das empresas foram elementos
determinantes de classificação das empresas no CVO.
É importante referir que, o facto de os dados apresentarem elevada
variabilidade, significa, do ponto de vista estatístico, “ter informação”,
apontando possíveis diferenças entre as fases.
Recomenda-se fazer uso do modelo de Greiner (1998) e, da mesma metodologia,
aplicando o sistema classificador genético difuso do CVO, expandindo a pesquisa
para outras regiões do Estado e do país, pois já foi aplicado em outras
pesquisas com a mesma finalidade, tendo-se obtido resultados satisfatórios.