A responsabilidade social das empresas no Algarve
1. Introdução
A responsabilidade social das empresas (RSE) é um tema em destaque nos nossos
dias devido ao crescente interesse da sociedade relativamente a este tema e a
uma expectativa cada vez maior em relação ao contributo das empresas para a
sociedade onde estão inseridas.
O mundo está em constantes mudanças e, se as empresas não acompanham a evolução
decorrente destas mudanças, correm o risco de ser excluídas pelos consumidores,
pois estes, cada vez mais, exigem parâmetros de qualidade, aos quais adicionam
parâmetros de sustentabilidade. A responsabilidade social de uma empresa
avalia-se pelas suas práticas para a sustentabilidade, quer a nível
socioeconómico, quer cultural e ambiental. O conceito de lucro a todo o custo
tem vindo progressivamente a ser substituído pelo de lucro responsável.
O presente estudo tem como principal objectivo conhecer a percepção dos
gestores das empresas algarvias relativamente às práticas de responsabilidade
social levadas a cabo pelas empresas onde exercem a sua actividade.
Após esta breve introdução apresenta-se no ponto 2 uma síntese dos conceitos
mais importantes relacionados com a temática da responsabilidade social
empresarial, seguindo-se um terceiro ponto onde se expõe a metodologia
utilizada e os principais resultados de um estudo empírico que consistiu na
implementação de um inquérito por questionário a alguns gestores de empresas
algarvias. Por fim apresenta-se as conclusões do estudo.
2. A Responsabilidade Social da Empresa
O tema da responsabilidade social empresarial tem sido alvo de diferentes
abordagens ao longo dos anos, as quais ainda hoje dividem opiniões. Contudo,
falar de responsabilidade social empresarial conduz à reflexão sobre o papel
das empresas na sociedade actual.
Durante muito tempo, foram quase exclusivamente as responsabilidades económicas
as grandes preocupações de empresários e economistas. Contudo, as dinâmicas
socioculturais e a evolução tecnológica, aliadas à emergência de novas
concepções das empresas e das organizações em geral, conduziram a uma
redefinição e ampliação dos parâmetros de responsabilidade empresarial. Começa
a delinear-se a ideia de que existe uma responsabilidade social da empresaque é
inseparável da sua actividade económica (Jesus, 2001). Conhecer o papel das
empresas na sociedade actual pode ajudar a entender melhor a problemática da
responsabilidade social das mesmas.
A RSE tem sido analisada e investigada sob diversos pontos de vista, podendo,
contudo, ser resumida em duas ópticas fundamentais: a clássica e a
contemporânea. A primeira baseia-se principalmente nos princípios económicos
divulgados por Milton Friedman (1970) e a segunda nos argumentos de vários
investigadores, entre os quais se destacam os de Carrol (1999) e os de Freeman
(1984).
Para os defensores da chamada visão clássica da responsabilidade das empresas
(que alguns autores designam mesmo como corrente conservadora), estas têm como
única e exclusiva obrigação, realizar o máximo lucro para os seus accionistas,
não lhes sendo exigida qualquer outra responsabilidade, para além do
cumprimento da lei (Jesus, 2001). De acordo com este ponto de vista, os
gestores das empresas somente têm obrigações para com os seus accionistas ou
proprietários.
Contrariamente às ideias de Friedman, surge uma outra abordagem, de aceitação
cada vez mais generalizada, que argumenta que a empresa tem responsabilidades
específicas para com outros grupos mais directamente com ela relacionados, ou
envolvidos na sua actividade, nomeadamente, os seus trabalhadores, clientes,
fornecedores e comunidade onde a empresa desenvolve a sua actividade. Esta
abordagem, que pode ser designada por visão contemporânea da RSE, tem
constituído um vasto campo de interesse para muitos investigadores. Na
terminologia anglo-saxónica, tem vindo a ser denominada por stakeholder theory
of the firm, ou teoria da empresa como centro de relações dos diferentes grupos
de interessados.
Esta nova forma de entender a empresa está ligada ao papel que a mesma
desempenha na sociedade contemporânea. Os defensores desta corrente defendem
que a empresa não pode deixar de ter em conta os impactos sociais e ambientais
que a sua actividade produz no meio humano e natural onde está inserida.
Salientam que as empresas devem integrar na sua actividade, além da dimensão
ética, os factores social e ambiental. Para além do importante papel económico
que desempenham, as empresas têm também responsabilidades de natureza social,
cultural e ambiental, não devendo ser encaradas como entidades exclusivamente
orientadas para o lucro. Em resumo, o que está em causa é a atitude das
empresas face ao reconhecimento da sua missão económica, admitindo
simultaneamente as suas responsabilidades de natureza social e ambiental
(Jesus, 2001).
Os primeiros estudos sobre RSE surgiram nos Estados Unidos nos anos 50
estendendo-se ao continente europeu na década de 60. A obra seminal de Howard
Bowen publicada em 1953 intitulada Social Responsibilities of the Businessman
pode ser considerada a primeira obra de referência sobre o tema da
responsabilidade social empresarial. A partir de então o tema começa a ganhar
espaço e a ser alvo de atenção por parte dos numerosos investigadores. Howerd
Bowen considerava que o homem de negócios deveria ser um indivíduo honesto e
responsável, adoptando políticas e tomando decisões que contribuíssem para os
valores da sociedade e que a responsabilidade social deveria guiar os negócios
no futuro. Carrol (1999) afirma mesmo que Bowen pode ser considerado o
verdadeiro responsável pelo aparecimento da RSE.
O conceito de responsabilidade social empresarial ganha vida à luz do Livro
Verde da Comissão das Comunidades Europeias que pretende promover um quadro
europeu para a RSE. Este documento descreve “a responsabilidade social das
empresas como a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por
parte das empresas nas suas operações e na sua interacção com outras partes
interessadas” (Livro Verde da Comissão das Comunidades Europeias, 2001:7). Este
documento destaca a natureza voluntária das actividades de responsabilidade
social, ou seja a responsabilidade social empresarial traduz-se no conjunto de
práticas de natureza social e/ou ambiental que a empresa exerce sem que, para
tal, esteja obrigada por lei. Uma empresa socialmente responsável não se deve
restringir ao cumprimento de todas as obrigações legais, deve ir mais além
através de um “maior” investimento em capital humano, no ambiente e nas
relações com os outros stakeholders.
Tendo em consideração as entidades implicadas pelas práticas de
responsabilidade social empresarial a Comissão das Comunidades Europeias
apresenta uma abordagem segundo duas dimensões: a interna e a externa.
A dimensão interna tem como principal alvo os trabalhadores e diz respeito às
boas práticas relacionadas com o trabalho. Assim, a gestão de recursos humanos
é fundamental, pois permite que as empresas contratem trabalhadores
qualificados e criem as condições para os manter. O recrutamento de bons
profissionais vai possibilitar às empresas a obtenção de melhores resultados,
pelo que estas se preocupam cada vez mais com a qualificação dos seus
colaboradores, tanto a nível pessoal como profissional.
As preocupações das empresas com responsabilidades sociais estendem-se também,
aos familiares dos seus colaboradores, proporcionando-lhes algumas regalias.
Deste modo, o colaborador reconhece que a empresa o ajuda em aspectos que não
são da sua obrigação, mas que lhe permitem uma melhoria efectiva da sua
qualidade de vida.
Os aspectos ligados à segurança, higiene e saúde no trabalho, resultam em
produtividade e competitividade das empresas, sendo um investimento activo na
manutenção ou melhoria da posição de mercado das mesmas (Kotler & Lee,
2005). A adopção de programas de higiene, saúde e segurança no trabalho,
conjuntamente com informação credível sobre estes programas, permitem ao
consumidor conhecer a realidade de determinada empresa e seleccionar aquela que
lhe dará mais garantias relativamente a estes aspectos.
É igualmente importante a gestão ao nível da mudança, permitindo aos
trabalhadores expressarem a sua opinião e que esta seja tida em conta nos
momentos em que a empresa decide reestruturar-se. Actualmente, as empresas
encontram-se mais sujeitas às constantes mudanças do mercado sendo necessária a
sua constante adaptação, caso contrário, estagnam, correndo mesmo o risco de
falência. É, por isso, fundamental, a percepção dos trabalhadores de que devem
estar disponíveis e preparados para a mudança, sob o risco de poderem ser
despedidos caso não respondam às solicitações da empresa.
Ao nível da dimensão externa: “A responsabilidade social de uma empresa
ultrapassa a esfera da própria empresa e estende-se à comunidade local,
envolvendo, para além dos trabalhadores e accionistas, um vasto espectro de
outras partes interessadas: parceiros comerciais e fornecedores, clientes,
autoridades públicas e ONG que exercem a sua actividade junto das comunidades
locais ou no domínio do ambiente.” (Livro Verde da Comissão das Comunidades
Europeias, 2001: 12).
As empresas estão, cada vez mais, sensibilizadas para as questões ambientais e
sociais, procurando minimizar a sua pegada ecológicaatravés da poupança de
recursos naturais que são consumidos pela sua laboração, bem como pela promoção
de actividades que permitem aos trabalhadores colaborarem com a comunidade de
uma forma activa e pela elaboração de códigos de conduta que incutem os seus
valores aos trabalhadores e são posteriormente transmitidos aos fornecedores de
forma a não haver dúvidas sobre a política seguida pela empresa (Duarte &
Sarmento, 2005). Estes autores argumentam, ainda, que as empresas socialmente
responsáveis devem ter em atenção os critérios que utilizam aquando da selecção
de parceiros e fornecedores, tendo em conta critérios de comprometimento social
e ambiental
A RSE implica, ainda, o cumprimento das normas legais e contratuais a que a
empresa está obrigada (Neto & Froes, 1999). A empresa deve pagar todas as
suas contribuições e impostos, não se subtraindo dessas obrigações, através de
evasão fiscal, ou recorrendo a paraísos fiscais.
É necessário que as mentalidades dos gestores mudem, de forma a que não seja o
lucro o único objectivo. Devem igualmente ser tidos em conta outros aspectos
que deverão ser postos em prática, nomeadamente a promoção de diversas
actividades (apoio em acções de promoção ambiental, recrutamento de pessoas em
situação de exclusão social, patrocínio de eventos culturais e desportivos,
doações para actividades filantrópicas, etc.), contribuindo assim, para
beneficiar a comunidade local onde estão inseridas as respectivas empresas. Os
resultados destas actividades poderão não ser só a curto prazo, mas também a
médio/longo prazo, sendo seguramente reconhecidas por todos os que estão
envolvidos nas actividades da empresa e pela sociedade em geral.
3. Estudo empírico
O estudo empírico que se inclui neste trabalho apresenta os resultados de um
inquérito por questionário dirigido a gestores de empresas algarvias, tendo
como objectivo conhecer a percepção destes gestores sobre as práticas de
responsabilidade social levadas a cabo pelas empresas onde exercem a sua
actividade.
A responsabilidade social das empresas é um tema já relativamente estudado em
vários países entre os quais Portugal está incluído. A pesquisa bibliográfica
realizada sobre o tema conduziu, entre outros, a um estudo de caso
relativamente recente, que pretendia conhecer a percepção dos colaboradores de
uma organização de saúde algarvia sobre as práticas de responsabilidade social
levadas a cabo por essa organização. As questões colocadas e os resultados
produzidos mostravam-se bastante adequados para aplicar ao estudo que se estava
a iniciar. Assim, e após consulta a alguns peritos no tema, considerou-se a
possibilidade de realizar uma réplica do instrumento de recolha de dados
utilizado nesse estudo, aos gestores das empresas algarvias, por se considerar
bastante adequado para o estudo que se pretendia realizar. Assim, após a
decisão definitiva de replicar aquele instrumento de recolha de dados, as
questões colocadas no questionário foram, naturalmente, adaptadas ao estudo em
causa (Aleixo, 2008).
O questionário encontra-se estruturado em três partes. A primeira respeita à
responsabilidade social empresarial propriamente dita, a segunda à cultura
organizacional e a terceira e última parte diz respeito à caracterização dos
inquiridos. As questões colocadas têm como principais objectivos:
- Identificar as actividades de responsabilidade social desenvolvidas pelas
empresas algarvias;
- Avaliar os conhecimentos dos gestores algarvios em relação à responsabilidade
social;
- Conhecer a importância que os gestores atribuem às actividades de
responsabilidade social;
- Perceber em que medida as actividades de responsabilidade social se enquadram
na gestão global das empresas;
- Identificar alguns aspectos da cultura organizacional das empresas algarvias.
A população alvo do estudo foi o conjunto de todas as empresas algarvias com
pelo menos 20 trabalhadores. O questionário foi aplicado a uma amostra não
probabilística por conveniência por ser um processo mais rápido e mais
económico, tendo contudo, o inconveniente de não ser possível extrapolar os
resultados para a população. Foram obtidos 100 questionários válidos
preenchidos pelos gestores das empresas que colaboraram no estudo.
O tratamento estatístico dos dados foi realizado recorrendo à aplicação
informática SPSS versão 19, que possibilitou a utilização de técnicas de
análise univariada e multivariada.
O quadro_1 resume as principais características das empresas e dos inquiridos
que colaboraram no estudo. Como se pode observar, a maior parte das empresas
está ligada à actividade turística, que é a principal actividade económica do
Algarve. As empresas são maioritariamente pequenas e médias, o que justifica a
maior percentagem de sociedades por quotas. O volume anual de vendas é referido
por apenas 37 empresas, o que leva a concluir que a maioria das organizações
não pretendem dar a conhecer o seu volume de negócios. O indicador estatístico
mais adequado para esta variável é a mediana cujo valor é de 700.000 €, visto a
média aritmética (925.000 €) ser influenciada por outliers. Pela mesma razão,
optou-se pelo número mediano de efectivos que é de 40, pois a média aritmética
(50) é igualmente muito influenciada por outliers. A maioria dos inquiridos é
do sexo masculino, com uma idade média de 46 anos e com habilitações ao nível
do ensino superior. Trabalham na empresa há cerca de 11 anos e na função actual
há cerca de 7, o que leva a admitir que conhecem bem a realidade onde estão
inseridos e que as respostas aos questionários são sustentadas nesse
conhecimento.
Seguidamente apresenta-se de uma forma relativamente resumida os outputs
resultantes do tratamento estatístico dos dados resultantes das questões
colocadas nos questionários e dos comentários considerados mais pertinentes.
A grande maioria dos gestores já conhece ou já ouviu falar da Responsabilidade
Social das Empresas, o que mostra que o tema não é desconhecido e já tem alguma
visibilidade no meio empresarial algarvio.
Quadro_3
Os gestores que têm conhecimento sobre RSE obtiveram-no principalmente através
de formação profissional e da imprensa.
Foi ainda perguntado aos inquiridos se as empresas onde trabalham têm
desenvolvido esforços no sentido de incorporar a RSE nas suas actividades. Como
se pode observar (quadro_4) a maioria dos gestores que responderam que
conheciam o termo responsabilidade social, têm consciência de que a sua empresa
tem desenvolvido esforços para incorporar RSE na sua actividade. A maior parte
(52,4%) afirma alguns esforços, apenas um pequeno grupo (18,3%) afirma muitos
esforços e um grupo mais significativo (28%) expressa que a empresa desenvolve
poucos esforços nesse sentido. Constata-se assim, que as empresas têm cada vez
mais presente na sua cultura a noção de RSE.
A questão seguinte pretende identificar a percepção dos gestores inquiridos
sobre as práticas de responsabilidade social levadas a cabo pelas suas
empresas. É formada por um conjunto 42 variáveis (proposições), medidas numa
escala de Likert de cinco pontos, em que 1 significa Nunca e 5 significa
Sempre. Está dividida em cinco grupos, cada um deles referente a diferentes
práticas de RSE, nomeadamente, Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho;
Investimento e Desenvolvimento no Capital Humano; Gestão da Mudança; Ambiente e
Recursos Naturais e Relação com a Comunidade. A este conjunto de variáveis foi
aplicada, para além de uma análise descritiva, uma análise factorial de
componentes principais (AFCP), permitindo assim obter um entendimento mais
claro sobre as percepções dos gestores relativamente às práticas de RSE levadas
a cabo pelas empresas. A análise realizada permitiu construir as seguintes
matrizes das contribuições (Quadros 5, 6, 7, 8 e 9).
A AFCP realizada às variáveis deste grupo permite concluir que os gestores
inquiridos têm a percepção que as empresas onde trabalham adoptam práticas de
responsabilidade social relacionadas com a Protecção e Conforto, Saúde, Higiene
e Segurança no trabalho ou seja práticas voltadas para o bem-estar e qualidade
de vida dos seus colaboradores.
As respostas dos gestores às doze variáveis que constituem o grupo 2 podem ser
sintetizadas em quatro novas variáveis ou factores e possibilitar uma
informação mais clara sobre as preocupações das empresas para com os seus
recursos humanos, tal como exposto no Quadro_6. Assim, pode considerar-se que
as preocupações das empresas se situam essencialmente ao nível da formação
profissional, do desenvolvimento pessoal, na concessão de incentivos para o
desenvolvimento profissional e na empregabilidade dos seus colaboradores.
No que se refere às quatro variáveis que traduzem as práticas relacionadas com
a Gestão da Mudança, a AFCP permitiu resumi-las num só factor que pode ser
designado por participação dos colaboradores nos processos de mudança (quadro
7) pretendo assim, demonstrar que as empresas começam a atribuir importância à
opinião dos colaboradores no sentido do seu envolvimento nestes processos.
A informação contida nas quatro variáveis que traduzem as práticas relativas ao
ambiente e recursos naturais pode ser sumariada num só factor (quadro_8) que
demonstra as preocupações das empresas para com o ambiente, nomeadamente no que
se relaciona com a poluição, com a poupança de energia, com a protecção da
natureza e com a reciclagem de resíduos.
Como se observa no quadro_9 a informação contida nas nove variáveis que
constituem o grupo 5 pode ser sumariada em três factores, designados por
acessibilidades, preocupações com a comunidade local e preocupações com os
outros stakeholders. Conforme se pode verificar, as correlações entre as
variáveis deste grupo e os respectivos factores são relativamente elevadas, o
que significa que cada factor resume adequadamente a informação contida nas
variáveis que o representam. Contudo, as práticas que se refere a este grupo de
variáveis registam, no geral, pontuações médias relativamente baixas (análise
descritiva) o que reflecte da parte das empresas algarvias que participaram no
estudo um reduzido envolvimento em práticas de RSE que se relacionam com a
comunidade.
Em seguida pediu-se aos inquiridos que indicassem os benefícios que as empresas
oferecem aos seus colaboradores, para além daqueles que a são obrigadas
legalmente.
Quadro_10
Os prémios de produtividade, seguidos de disponibilização de telemóveis e
remunerações adicionais, são os benefícios que as empresas mais oferecem aos
seus trabalhadores, sem que para tal sejam obrigadas por lei. Pretendia-se
ainda averiguar se os gestores consideravam que as exigências do trabalho
interferiam na vida pessoal/familiar dos colaboradores.
Uma grande percentagem (77%) de inquiridos considera que as exigências do
trabalho interferem na vida pessoal/familiar dos colaboradores. Apenas 23% dos
inquiridos respondeu negativamente. Estas respostas demonstram que os gestores
têm consciência do nível de exigência que colocam aos seus colaboradores, o que
pode contribuir para uma vida pessoal/familiar menos equilibrada e, por
conseguinte, a uma menor qualidade de vida.
A questão seguinte pretendia saber se as empresas permitem que os seus
colaboradores pratiquem o voluntariado nas horas de trabalho.
A esmagadora maioria das empresas algarvias não permite aos seus colaboradores,
remunerando-os, a prática do voluntariado durante o período de trabalho. Estas
respostas são consistentes com a reduzida sensibilidade das empresas algarvias
relativamente às práticas de RSE para com a comunidade.
Pretendia-se, também, conhecer as acções promovidas pelas empresas para
melhorar a qualidade de vida dos seus colaboradores.
Quadro_13
Rastreios de saúde, transporte gratuito para o trabalho e flexibilidade de
trabalho ou horário são as principais acções que as empresas promovem no
sentido de proporcionarem aos colaboradores uma melhor qualidade de vida de
vida profissional, pessoal e familiar.
A última questão relacionada com as práticas de RSE pedia aos gestores que
indicassem os projectos que as empresas poderiam desenvolver no sentido de
ajudarem a comunidade onde estão inseridas.
Quadro_14
As respostas incidiram em primeiro lugar nos patrocínios em actividades
culturais/desportivas, seguindo-se os patrocínios e projectos ligados à
educação e o apoio a projectos ambientais. Estas respostas são coerentes com as
respostas às questões anteriores. O apoio ao voluntariado ou a grupos
carenciados não faz parte das principais preocupações das empresas inquiridas
para com a comunidade.
A 2ª Parte do questionário refere-se à Cultura Organizacional, ou seja, à
identidade da organização partilhada por todas as pessoas que dela fazem parte.
É constituída por um conjunto de 14 variáveis, medidas numa escala de Likert,
de cinco pontos, em que 1 significa Discordo Totalmente e 5 significa Concordo
Totalmente
Dado que esta questão é composta por um elevado número de variáveis, também se
procurou reduzir a dimensionalidade dos dados com a finalidade de tornar mais
clara a informação contida nas referidas variáveis, aplicando uma AFCP. A
informação contida nas 14 variáveis iniciais pode ser resumida em dois factores
(quadro_15).
De acordo com a opinião dos inquiridos a cultura organizacional é entendida
essencialmente segundo dois parâmetros, o que se relaciona com os incentivos e
estímulos aos colaboradores e o que se refere ao relacionamento entre os
mesmos. A importância atribuída a estes parâmetros vai contribuir para que a
identidade da organização seja partilhada por todos os que dela fazem parte.
4. Conclusões
Do estudo realizado retiram-se as seguintes conclusões:
1. As empresas inquiridas são maioritariamente pequenas e médias e estão
ligadas à actividade turística sendo esta a principal actividade económica do
Algarve. Apresentam um volume mediano de vendas anual de cerca de 700.000 euros
e um número mediano de trabalhadores de cerca de 40.
2. A maioria dos gestores inquiridos é do sexo masculino, com uma idade média
de 46 anos e com habilitações ao nível do ensino superior. Trabalham na empresa
há cerca de 11 anos, e na função actual há cerca de 7.
3. A grande maioria dos gestores (82%) já conhece ou já ouviu falar de RSE
tendo adquirido esse conhecimento principalmente através de formação
profissional e da imprensa.
4. Os gestores inquiridos que conheciam o termo responsabilidade social
empresarial têm consciência de que a sua empresa desenvolve esforços no sentido
de incorporar práticas de RSE na sua actividade.
5. Os gestores inquiridos têm a percepção que as principais práticas de RSE
levadas a cabo pelas empresas algarvias onde exercem a sua actividade podem ser
sintetizadas através dos seguintes aspectos:
- Cuidados com o bem-estar e qualidade de vida dos seus colaboradores, ou seja
práticas de RSE relacionadas com a protecção e conforto, saúde, higiene e
segurança no trabalho;
- Preocupações com a formação profissional, com o desenvolvimento social, com a
concessão de incentivos para o desenvolvimento profissional e com a
empregabilidade dos seus colaboradores;
- Participação dos colaboradores nos processos de mudança;
- Preocupações relativamente ao ambiente e recursos naturais traduzidas por
práticas que se relacionam com a redução da poluição, com a poupança de
energia, com a protecção da natureza e com a reciclagem de resíduos;
- Um reduzido envolvimento em práticas de RSE relacionadas com a comunidade.
6. Os benefícios que as empresas mais oferecem aos seus trabalhadores, sem que
para tal sejam obrigadas por lei, são os prémios de produtividade, seguidos de
disponibilização de telemóveis e remunerações adicionais,
7. Uma grande percentagem (77%) de inquiridos considera que as exigências do
trabalho interferem na vida pessoal/familiar dos colaboradores.
8. A esmagadora maioria (89%) das empresas não permite aos seus colaboradores,
remunerando-os, a prática do voluntariado durante o período de trabalho.
9. As principais acções que as empresas promovem no sentido de proporcionarem
aos colaboradores uma melhor qualidade de vida profissional, pessoal e
familiar, são: rastreios de saúde, transporte gratuito para o trabalho e
flexibilidade de trabalho ou horário.
10. Apesar das empresas envolvidas no estudo apresentarem um reduzido
envolvimento em práticas de RSE voltadas para a comunidade, os projectos que
poderiam desenvolver no sentido de ajudarem a comunidade onde estão inseridas
incidem sobretudo nos patrocínios em actividades culturais/desportivas,
seguindo-se os patrocínios e projectos ligados à educação e o apoio a projectos
ambientais.
11. A cultura organizacional é entendida pelos inquiridos essencialmente
segundo dois parâmetros, o que se relaciona com os incentivos e estímulos aos
colaboradores e o que se refere ao relacionamento entre os mesmos. A
importância atribuída a estes parâmetros vai contribuir para que a identidade
da organização seja partilhada por todos os que dela fazem parte.
Em síntese, os gestores inquiridos têm a percepção de que as empresas algarvias
estão cada vez mais sensibilizadas para a adopção de práticas de RSE sobretudo
ao nível da dimensão interna ou seja práticas de responsabilidade social
dirigidas fundamentalmente aos seus colaboradores.