Indústria transformadora portuguesa: fatores determinantes da entrada de novas
empresas
1. Introdução
O processo de entrada de novas empresas tem sido objeto de interesse teórico e
empírico na literatura económica, ao longo das últimas décadas. Fundamenta-se o
interesse por este fenómeno com o pressuposto de que a entrada, assim como a
saída de empresas estabelecidas, é fator importante da competitividade e
promoção da eficiência dos mercados. Segundo a abordagem de Schumpeter (1935) a
pressão competitiva das novas empresas mais eficientes elimina do mercado as
menos eficientes. Este processo melhora a eficiência dos mercados, acelera o
processo de criação-destruição, frequentemente entendido como um pré-requisito
inevitável da seleção e evolução dos mercados.
As primeiras investigações sobre a dinâmica empresarial, assentes na abordagem
da organização industrial versaram sobre a criação de empresas e seus fatores
determinantes. Segundo esta abordagem, a entrada de novas empresas está
positivamente relacionada com as expectativas de benefícios após a entrada.
Sustenta também que os benefícios a longo prazo de uma indústria dependem, em
grande medida, das barreiras que limitam a intensidade da competição e criam
condições para as empresa estabelecidas aumentarem os preços e obter lucros
anormais. Na sequência das teses propostas por Bain (1956) a existência de
barreiras à entrada depende de duas condições: (1) a presença de condições
estruturais, tais como: economias de escala, a diferenciação do produto e as
vantagens absolutas de custos das empresas estabelecidas e (2) o comportamento
das empresas estabelecidas em explorar estas condições na presença de entradas
potenciais e atuais.
Nesta perspetiva, a entrada de novas empresas está positivamente relacionada
com as expectativas de lucros de mercado e inversamente relacionada com as
barreiras à entrada.
O modelo tradicional da organização industrial sobre as barreiras que limitam o
processo de entrada de empresas está teoricamente associado a Bain (1956) e
empiricamente a Geroski (1991; 1991a) e Orr (1974).
Todavia, estudos empíricos têm mostrado que podem ocorrer entradas mesmo quando
a rendibilidade da indústria é nula (Baldwin, 1995). Por outro lado, de acordo
com diversos autores, designadamente Segarra (2002), apesar da existência de
barreiras à entrada que limitam o fluxo de entradas na indústria, em geral, as
taxas de entrada sectoriais são elevadas.
Segundo abordagens mais recentes, nomeadamente, Geroski (1991) a entrada de
novas empresas depende não só das expectativas dos lucros após entrada mas
também de outros fatores estruturais, da indústria, do ciclo de vida da
indústria, do comportamento das empresas em atividade, nomeadamente quanto ao
seu potencial de inovação, das condições económicas, entre outros, tendo como
obstáculos as barreiras endógenas e exógenas à entrada.
Não obstante a extensa literatura empírica existente sobre o tema em apreço, a
evidência empírica e as teorias da economia industrial nem sempre são
consensuais (Geroski, 1995). Esta circunstância poderá indicar que é possível
um conhecimento mais sistemático do processo da dinâmica empresarial e dos
fatores que a determinam, particularmente a entrada de novas empresas no
contexto da indústria portuguesa.
Neste contexto, este estudo tem como objetivo principal analisar os
determinantes da entrada de novas empresas na indústria transformadora
portuguesa. Esta análise deverá dar reposta às seguintes questões: Quais os
fatores que motivam ou condicionam a decisão dos agentes económicos de entrar
nos mercados em diferentes sectores da indústria transformadora? As
características estruturais, estratégicas da indústria, variações
macroeconómicas e a evolução cíclica da indústria são importantes para explicar
os padrões de entrada na indústria?
As respostas a estas questões poderão ser importantes para a definição de
políticas que estimulem a sobrevivência das empresas e, deste modo, contribuam
para minimizar as taxas de desemprego que se tem vindo a registar nos últimos
anos.
No contexto dos objetivos gerais do estudo formula-se as seguintes hipóteses de
investigação:
Hipótese I - O comportamento de entrada no mercado está negativamente
relacionado com vetor de barreiras à entrada.
Hipótese II - O comportamento de entrada no mercado está positivamente
relacionado com vetor de variáveis relativas a incentivos ou oportunidades de
mercado.
Este trabalho desenrola-se em quatro partes distintas. A próxima secção
apresenta uma breve revisão da literatura teórica e empírica dos fatores
determinantes de entrada, a secção três expõe a metodologia utlizada no estudo.
A quarta secção apresenta os resultados da estimação e a última apresenta as
principais conclusões e considerações sobre políticas públicas.
2. Breve revisão da literatura
Esta secção apresenta uma breve revisão sobre os fatores que podem influenciar
a entrada de novas empresas. Apresenta-se também resultados de estudos
empíricos anteriores. O modelo teórico subjacente aos fatores que influenciam a
decisão de entrada é apresentado posteriormente.
A literatura teórica e empírica sobre a dinâmica empresarial distingue os
determinantes do comportamento de entrada, também designado na terminologia de
Bain (1956) como determinantes da condição de entrada, em duas categorias:
primeiro, os incentivos, designadamente a dimensão do mercado e as expectativas
de lucros e segundo, o convencionalmente considerado barreiras à entrada.
A maioria da literatura que analisa as barreiras, no sentido em que dificultam
a entrada de novas empresas, tem por base os trabalhos pioneiros de Orr (1974)
e Geroski (1991).
Incentivos
A literatura empírica sobre a dinâmica empresarial utiliza três grupos de
incentivos à entrada: lucros ou rendibilidade histórica, dimensão da indústria
e abandono ou saída de empresas estabelecidas.
De uma forma geral, os resultados de estudos empíricos sobre determinantes de
novas entradas não são inequívocos. Por exemplo, evidencia-se que a maioria dos
resultados relativos a mais de 70 estudos empíricos de 11 países, resumido por
Siegfried e Evans (1994), encontra uma forte correlação positiva entre a
rendibilidade histórica da indústria, dimensão do mercado e novas entradas.
Todavia, outros estudos, designadamente de Mata (1993; 1996), Nystrom (2007) e
Andraz (2013) não confirmam a relação positiva e significativa entre aquelas
variáveis e novas entradas.
Barreiras à entrada
Na sequência das teses propostas por Bain (1956), a existência de barreiras à
entrada depende de duas condições: (1) barreiras estruturais tais como
economias de escala, a diferenciação do produto e as vantagens absolutas de
custos das empresas estabelecidas e (2) barreiras estratégicas.
As maiores contribuições nesta área de investigação estão associadas a Caves e
Porter (1976) e Yip (1982).
Esta secção faz uma breve revisão dos fatores que constituem barreiras
estruturais, na perspetiva de Bain (1956), bem como outras fontes de barreiras
incluídas noutros estudos empíricos, nomeadamente Barbosa (2007), sobre o tema
e utilizados neste trabalho.
Barreiras estruturais
A presença de economias de escala pode constituir uma barreira à entrada quando
a dimensão mínima de eficiência do mercado é relativamente elevada, forçando
entradas com dimensão suficiente que permita obter as vantagens das empresas já
estabelecidas. Esta condição de entrada pode desincentivar novas entradas. De
uma forma geral, os resultados empíricos sobre diversos países resumidos por
Siegfried e Evans (1994) não são conclusivos.
Modelos da organização industrial desenvolvidos por diversos autores,
designadamente Lambson (1991), têm subjacente o princípio de que os custos
irreversíveis aumentam os custos de entrada (e simetricamente de saída) e criam
uma zona de inação onde a probabilidade de entrada e saída de empresas
estabelecidas é reduzida.
O estudo empírico aplicado à indústria transformadora portuguesa de Mata (1991)
sugere que os custos irreversíveis constituem barreiras importantes apenas para
as grandes empresas. No estudo empírico aplicado à indústria transformadora dos
EUA (Kessides, 1991) concluiu-se que a influência dos custos irreversíveis
sobre as entradas de novas empresas é significativa e negativa. Resultados do
estudo de Mata (1991), seccionado de acordo com a dimensão de entrada, da
indústria transformadora portuguesa no período de 1979-1982, sugerem que os
custos irreversíveis constituem barreiras importantes apenas para as grandes
empresas, enquanto Andraz (2013) não encontrou evidências de uma relação entre
custos irreversíveis e novas entradas.
A concentração da indústria é uma das variáveis estruturais mais utlizadas na
literatura empírica. Associada ao poder de monopólio das empresas instaladas
representa, por isso, uma ameaça competitiva (significativa) para potenciais
novas entradas, reduzindo as suas possibilidades de sobrevivência (Nystrom,
2007). Resultados empíricos sobre o impacto da concentração também não
apresentam um padrão de resultados consistente (Geroski, 1995).
Relativamente aos requisitos/necessidade de capital a hipótese evidenciada na
literatura é que as empresas estabelecidas têm maior capacidade de obtenção de
recursos junto do mercado de capitais. Utilizando como medida a intensidade de
capital físico, alguns estudos designadamente Khemani e Shapiro (1987), Mata
(1993) e Fotopoulos e Spence (1998) sugerem que elevadas necessidades de
capital proporcionam fortes barreiras à entrada. Por outro lado, a evidência
empírica de Austin e Rosenbaum (1990) e Siegfried e Evans (1994), entre outros,
sugere que a entrada de novas empresas no mercado não é substancialmente
dificultada em indústrias de capital intensivo.
Produtividade do trabalho é entendida como forte barreira a novas entradas na
medida em que níveis relativamente elevados de produtividade do trabalho estão
frequentemente associados a elevados investimentos em capital tangível e
intangível e elevado desempenho competitivo das empresas estabelecidas. Estes
investimentos representam fontes potenciais de barreiras e, nesta medida,
desencorajam novas entradas (Taymaz, 1997).
Barreiras estratégicas
A literatura teórica e empírica apresenta duas abordagens sobre a relação entre
a dinâmica industrial e intensidade tecnológica da indústria. A primeira,
sugerida por contributos teóricos de Bain (1956) e Yip (1982) e por estudos
empíricos, nomeadamente de Orr (1974), evidencia a inovação como barreira à
entrada. A segunda abordagem, desenvolvida a partir de evidência empírica e
modelos teóricos alternativos, é sugerida por alguns autores, nomeadamente Acs
e Audretsch (1989), argumenta que o ambiente tecnológico proporciona um veículo
adequado para novas entradas.
As duas explicações teóricas sobre a relação entre entradas e intensidade de
despesas em investigação e desenvolvimento (I&D) proporcionam uma visão
confusa que corresponde de algum modo às conclusões, por vezes contraditórias,
da evidência empírica disponível até à data.
O capital humano qualificado e a existência de empresas multi estabelecimentos
são fatores normalmente considerados como barreiras estratégicas na literatura
empírica. Diversos estudos empíricos, designadamente Geroski, Mata e Portugal
(2007), Barney (1991) e Khemani e Shapiro (1987), mostram que estes fatores
permitem às empresas desenvolver capacidades específicas e consequente
contribuição para a obtenção de vantagens no mercado, representando, deste
modo, forte barreira a novas entradas.
Variáveis de conjuntura
Teoria e estudos empíricos, na perspetiva da organização industrial
(Klepper,1996) permitiram definir um conjunto de regularidades sobre o ciclo de
vida das indústrias, sugerindo que novas entradas e inovação dependem do grau
de maturidade da indústria. Constatam-se elevados níveis de entrada nas fases
iniciais e redução de entradas e alteração da natureza de inovação à medida que
se atinge a fase de maturidade. Nesta fase, a entrada de novas empresas diminui
significativamente, refletindo um período de reestruturação do sector (com
taxas líquidas de entradas negativas. A terceira fase do ciclo de vida é
caracterizada pela estabilização da população de empresas (com entradas
próximas de zero).
A literatura teórica refere duas hipóteses que sustentam a influência
macroeconómica sobre o fluxo de novas entradas. A primeira argumenta que
condições económicas favoráveis propiciam a criação de oportunidades de
negócios e favorecem a sobrevivência de novas empresas. A entrada é nesta
perspetiva, um fenómeno pró ' cíclico. A hipótese alternativa assume que um
crescente número de empresas podem ser criadas quando os custos de oportunidade
de ser empreendedor são baixos, isto é, em períodos de elevado desemprego. Esta
hipótese corresponde à visão da entrada como um fenómeno contra cíclico. Apesar
da reconhecida importância das condições cíclicas dos negócios sobre a dinâmica
empresarial a evidência empírica é inconclusiva.
Em Portugal, Andraz (2013) e Mata (1996) concluíram que a criação de novas
empresas na indústria transformadora tem um comportamento pró-cíclico, enquanto
Wagner (1994), num estudo semelhante aplicado à indústria transformadora alemã,
não encontrou evidência confirmando qualquer hipótese.
3. Metodologia
A análise empírica deste estudo assenta fundamentalmente em três fontes
estatísticas, permitindo a validação cruzada e a complementaridade de
informação: os Quadros de Pessoal (QP), recolhidos pelo Gabinete de Estratégia
e Planeamento do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social (GEP/MTSS), o
Inquérito às Empresas Harmonizado (IEH), produzido pelo Instituto Nacional de
Estatísticas (INE) e dados relativos à atividade de I&D, produzido pelo
GPEARI do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES).
A classificação bem como o nível de desagregação dos sectores seguiu a adotada
pelo INE - Estatísticas IEH, uma vez que era necessário uma plataforma de
harmonização que permitisse agregar os dados das duas fontes utlizadas (QP e
INE). Foram identificadas um conjunto de limitações no processo de
compatibilização dos ficheiros de dados destas duas fontes, também
identificadas por outros autores nomeadamente Carreira (2004) e Mata (1991).
Por forma a minimizar a ausência de informação económica e financeira das
empresas com menos de dez trabalhadores, à semelhança de outros estudos,
nomeadamente Mata (1991), foram eliminados da base de dados a classe de
entidades com menos de nove trabalhadores ao serviço.
As hipóteses de pesquisa foram testadas num painel de dados relativos ao
período de 1996 a 2007, considerando os 262 sectores a 5 dígitos (divisão da
classificação da atividade económica - CAE), posteriormente agregados a 20
setores a 2 dígitos da CAE.
De acordo com a metodologia Eurostat (2006), a contagem das empresas novas num
dado sector de atividade considerou o seu número de registo. Considera-se
entrada do ano t quando o número de identificação de uma entidade é superior ao
último número existente no ficheiro do ano t-1.
Os encerramentos ou saídas ocorrem quando estas deixam de estar presentes nos
ficheiros da base de dados, pelo menos durante dois anos consecutivos, ou
quando passam a ter menos de nove trabalhadores ao serviço. As empresas
estabelecidas na população ativa foram definidas como as existentes na base de
dados do ano t.
Os dados recolhidos têm uma estrutura de dados em painel, equilibrado, ou seja
com igual número de observações por categoria/ano.
As estimações foram desenvolvidas pelos seguintes modelos econométricos:
Mínimos quadrados ordinários (modelo pooled), painel de efeitos fixos e painel
de efeitos aleatórios. A realização de um conjunto de testes (teste F, teste
Breusch-Pagan e teste de Hausman) indicados na literatura econométrica
existente sugeriu o modelo fixo como o mais indicado para a estimação da
equação de entradas. Porém, o emprego deste estimador (efeitos fixos) tem como
desvantagem barrar as variáveis que não variam ao longo do período do estudo
(Hsiao, 2003). Na sequência desta limitação, não foram estimadas variáveis que
traduzem características estruturais e estratégicas da indústria,
respetivamente, ciclo de vida e intensidade tecnológica.
Modelo e variáveis
Para analisar a influência sobre a entrada das variáveis explicativas mais
utlizadas na literatura utilizou-se uma especificação econométrica
conceptualmente similar ao modelo estático inicialmente apresentado por Orr
(1974) ao qual Geroski (1991) introduziu outras evoluções decorrentes de outras
abordagens, nomeadamente a evolucionária (Nelson e Winter 1982), e a do ciclo
de vida (Klepper, 1996).
A função adotada para estimar os efeitos dos fatores sobre novas entradas tem
como variável dependente o logaritmo (neperiano) do número absoluto de entradas
e as variáveis explicativas são os fatores determinantes de novas empresas na
indústria ' representada pela letra i ' durante o período ' prescrita pela t.
Foram testadas equações com variável dependente medida em termos de valor
absoluto de entrada, taxa de entrada e os seus logaritmos - logaritmo do número
absoluto de entrada e taxa de entrada. Desde logo, os resultados da estimação
dos modelos sugeriram uma maior sensibilidade utilizando a transformação
logarítmica do número absoluto.
A definição das variáveis e sinais esperados segue a abordagem de Fotopoulos e
Spence (1998) e Shapiro e Khemani (1987). Neste estudo, assumimos que a decisão
de entrada é resultado das observações da estrutura do período atual para todas
as variáveis com exceção da saída de empresas, a dimensão do mercado e a taxa
de crescimento do PIB referidas ao período anterior (t-1).
De acordo com análise realizada, no presente estudo são consideradas as
seguintes variáveis agrupadas em quatro vetores: (i) estruturais; (ii)
estratégicas; (iii) cíclicas; (iv) interação. Na estimação foi considerada
também a forma quadrática das variáveis rendibilidade (Lu2) e intensidade
capitalística (ICtb2.it) para captar a possibilidade da não linearidade da
relação entre estas variáveis e a entrada.
Tanto quanto tenhamos conhecimento, nenhum outro estudo sobre o tema analisou
as relações interação das variáveis ou as relações não lineares aqui estudadas.
Neste sentido, a forma funcional da função apresenta-se como se segue:
Onde LENT01i é a variável dependente e representa a entrada de novas empresas
na indústria.
As tabelas que seguem mostram a definição das variáveis utilizadas na análise
empírica, suas medidas, sinal esperado, de acordo com a revisão da literatura
apresentada anteriormente, e respetivas fontes estatísticas.
Na tabela_1 estão apresentadas as proxies de incentivos das quais se espera, em
geral, uma relação positiva com as entradas de novas empresas. Na variável
lucro assume-se a possibilidade de uma relação não linear, motivada por
resultados contraditórios observados em estudos anteriores. Não foi encontrada
na literatura, até à data, outro estudo que tenha analisado a hipótese da não
linearidade desta relação, pelo que não se avança um sinal esperado à priori,
pelo que assinalamos na tabela com os sinais (+-).
Foram testadas duas medidas proxies de rendibilidade/lucro da indústria: a
rendibilidade das vendas (valor acrescentado médio anual da indústria menos
custos com pessoal a dividir pelas vendas) e rendibilidade medida em termos de
resultados líquidos. Esta última pareceu refletir melhor o atrativo do mercado
para novos capitais. Todas as variáveis são referidas ao período t, exceto a
dimensão do mercado e saídas, ambas referidas ao período anterior.
Na tabela_2 estão apresentadas as proxies de barreiras à entrada, agrupadas em
estruturais e estratégicas. De uma forma geral, espera-se uma relação negativa
com novas entradas. Na variável (ICtb2) intensidade de capital assume-se a
possibilidade de uma relação não linear dado que resultados de estudos
anteriores não são consensuais quanto à relação linear entre estas duas
variáveis.
Para algumas variáveis não se assume, à priori, um tipo específico de relação e
assinalamos na tabela com os sinais (+-).
Na tabela_3 estão apresentadas um conjunto de variáveis de interação. A
introdução de efeitos de interação destas variáveis tem natureza exploratória e
pretende captar relações mútuas sobre a variável dependente, evidenciando que o
efeito produzido por uma determinada variável explicativa está associado ao
nível (valor) em que se encontra a outra variável explicativa. Deste modo, por
exemplo, a possibilidade da intensidade capitalística (proxyde custos
irreversíveis) de uma indústria dificultar ou não a entrada de novas empresas
pode diferir por se tratar de uma indústria que se encontre na fase de
crescimento ou em maturidade. Do mesmo modo, a atratividade dos lucros para
novas empresas pode diferir em função da intensidade tecnológica da indústria.
Na tabela_4 apresentam-se as variáveis cíclicas que controlam a sensibilidade
das entradas relativamente às expectativas de benefícios da evolução cíclica da
economia e da indústria.
4. Resultados da estimação
O resultado obtido para a estatística de Hausman permitiu, como já foi referido
anteriormente, concluir que o modelo de efeitos fixos é o mais adequado para
analisar os fatores explicativos da entrada de novas empresas. Assim, procedeu-
se à estimação dos modelos utilizando a opção do software Stata vce (cluster
CAE) cujo resultado se apresenta na tabela_5.
Os resultados obtidos permitem confirmar que globalmente todos os vetores, com
exceção das barreiras estratégicas, contêm variáveis estatisticamente
significativas na relação com a entrada de novas empresas.
No que respeita às variáveis que integram o vetor de incentivos três variáveis
são importantes na determinação das entradas: saídas do período anterior
(LSAIt-1) dimensão do mercado do período anterior (Dm) e lucro (Lu2).
O parâmetro positivo e significativo das saídas (LSAIt-1), consistente com
outros trabalhos empíricos, nomeadamente Andraz (2013) e Rosenbaum e Lamort
(1992), mostra a grande significância da saída do período anterior na
determinação da entrada. Esta relação confirma que o efeito de substituição é
um fator determinante de novas entradas na indústria transformadora portuguesa.
A correlação temporal de curto prazo entre a decisão de entrada e de saída
também sugere que sectores com fluxos elevados de entrada, de uma forma geral,
registam também elevados fluxos de saída. Note-se que, de acordo com os
cálculos dos autores, a percentagem média de saída de empresas jovens (com
menos de 3 anos de vida) da indústria no seu conjunto é de 20%, revelando uma
fraca capacidade de adaptação ao mercado das novas empresas e consequente
elevada rotação empresarial.
Os resultados confirmam a hipótese formulada de que a dimensão do mercado do
período anterior (Dm) é importante na decisão de entrada. Este resultado é
consistente com a visão convencional de que os potenciais empreendedores
ponderam a dimensão do mercado como um sinal de oportunidades de mercado,
confirmado em diversos estudos (Mata 1993; Fotopoulos & Spence, 1998;
Barbosa, 2007).
As hipóteses formuladas para o efeito da variável lucro (lu) da indústria não
parecem ser suportadas pelo resultado da estimação. Este resultado não é
surpreendente, na medida em que os resultados empíricos sobre o efeito dos
lucros sobre as entradas não são conclusivos. Porém, este estudo encontrou
evidências de uma relação quadrática (na forma de "U" invertido)
entre os lucros e a entrada de novas empresas. Este resultado sugere que o
crescimento de entradas está associado a um maior nível de lucros nas fases
iniciais, invertendo-se o processo a partir de um determinado ponto em que o
aumento marginal das entradas decresce à medida que os lucros aumentam. Este
resultado traduz a dinâmica da evolução dos mercados. Numa primeira fase os
empreendedores potenciais são atraídos para o mercado em função das
expectativas de lucros após a entrada. No entanto, à medida que o número de
concorrentes aumenta, as empresas estabelecidas procuram cristalizar suas
posições criando barreira. Por sua vez, as barreiras criadas dificultam ou
limitam a entrada de novos concorrentes, pelo que há uma diminuição marginal de
novas entradas e, simultaneamente, as margens de lucros por empresa aumentam.
Até à data, não se conhece na literatura empírica outro estudo que tenha
testado a hipótese da não linearidade desta relação.
Relativamente às barreiras estruturais, os resultados mostram que um aumento de
1% na produtividade tem um impacto negativo sobre as entradas potenciais de
0.0232%. O sinal negativo associado ao coeficiente desta variável, com um nível
de significância de 5%, corrobora as conclusões de outros estudos,
designadamente Taymaz (1997), que sectores com níveis de produtividade elevados
estão associados a fortes barreiras a novas entradas.
Quanto às variáveis cíclicas, os resultados sugerem que o fluxo de entradas de
novas empresas é sensível à evolução ex- ante do ciclo económico. Este
resultado confirma a tendência pró-cíclica de novas entradas, também observadas
por outros autores, nomeadamente Mata (1996) e Geroski et al., (2007).
As variáveis de interação entre lucro (Lu) do sector e respetiva intensidade
tecnológica LitecM e LitecB apresentam coeficientes positivos e
estatisticamente significativos sugerindo que quando se considera o nível de
intensidade tecnológica o lucro da indústria influência positivamente a entrada
da indústria. Apesar da relação estatisticamente reduzida desta variável merece
uma referência sobretudo pelo facto de não se encontrar na literatura empírica
outro estudo onde esta relação tenha sido analisada.
Os coeficientes da estimação associados a estas variáveis de interação da
produtividade do trabalho com a intensidade tecnológica média e baixa (PdITm e
PdITbx) são, como se esperava, negativos e significativos, sugerindo que a
produtividade, conforme resultado da estimação supra-analisada, também
constitui uma barreira, tendo em conta a intensidade tecnológica do sector.
5. Conclusão, considerações sobre políticas públicas e limitações do
estudo
Ao longo deste trabalho procurou-se analisar os fatores determinantes de
entradas de empresas na indústria transformadora portuguesa, no contexto do
processo de dinâmica empresarial.
Os resultados permitem identificar alguns fatores relevantes e sugerir algumas
orientações sobre políticas públicas.
Verificou-se, tal como seria de esperar, que as entradas são sensíveis à
dimensão de mercado. Os mercados de maior dimensão oferecem maiores
possibilidades para que os potenciais produtores possam incorporar-se.
Este estudo encontrou evidências de uma relação quadrática (na forma de
"U" invertido) entre os lucros e a entrada de novas empresas
sugerindo que o incentivo lucro apenas é atrativo até determinado limiar. Tanto
quanto tenhamos conhecimento não há na literatura empírica outro estudo que
tenha apresentado este tipo de relação entre estas variáveis, pelo que
consideramos ser um resultado pioneiro.
No que respeita às barreiras estruturais só a produtividade do trabalho parece
condicionar novas entradas. Os custos irreversíveis, a concentração e economias
de escala não são estatisticamente significativos no processo de entrada. Estes
resultados parecem indicar que a entrada é bastante fácil e a saída também, por
conseguinte as barreiras à entrada e saída são relativamente reduzidas. Nesta
perspetiva, a reflexão de Geroski (1991) enquadra-se nesta análise e não podia
ser mais apropriado para sintetizar uma das principais conclusões deste estudo:
a entrada é fácil mas a penetração no mercado após a entrada, e até mesmo a
sobrevivência, parece ser mais difícil. Todavia, o facto de as barreiras não
serem significativas, não significa que não sejam importantes, no sentido de
distribuir desigualmente o fluxo de entrada pelos vários sectores. Esta questão
carece de um estudo mais aprofundado em trabalhos posteriores.
A forte correlação entre entradas e saídas, associada a barreiras à entrada
pouco significativas na indústria transformadora portuguesa sugere uma elevada
rotação das empresas, refletindo uma fraca capacidade das empresas de se
adaptarem ao mercado, designadamente pela incapacidade de realizar os
investimentos necessários em determinadas fases do seu crescimento.
Sendo a entrada um processo relativamente fácil, as orientações políticas
deveriam ser direcionadas no sentido de estimular o crescimento sustentado das
novas empresas. Desde logo, incentivando o vetor produtividade nas vertentes
formação/qualificação dos recursos humanos, parcerias em I&D e acesso a
capital de risco.
A conjunção de políticas públicas de facilitação do acesso aos mercados de
capitais, em condições de preço e quantidade adequados, com estratégias
empresariais de investimento, orientadas para o crescimento, poderá contribuir
para aumentar a dimensão média do tecido empresarial, criar economias de escala
e estimular a inovação, contribuindo desta forma para melhorar os índices de
competitividade da indústria.
Caberá às empresas ultrapassar as suas limitações de escala, criando parcerias
estratégicas que permitam a dimensão necessária para aceder a mercados tão
diversos como o de capitais, comerciais, tecnológicos, entre outros.
Este estudo tem algumas limitações designadamente a análise agregada a 2
dígitos (Divisão CAE) da indústria transformadora, que, de alguma forma,
esconde a heterogeneidade dos sectores de atividade. O estudo de novas entradas
e seus determinantes a um nível de maior desagregação da indústria fica para
desenvolvimentos futuros na linha deste trabalho.