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EuPTHUHu0003-25732008000300011

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National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolHumanities
Great areaHuman Sciences
ISSN0003-2573
Year2008
Issue0003
Article number00011

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A Sociedade de Informação e o Estado-Providência. O modelo Finlandês Manuel CastellsePekka Himanen, A Sociedade de Informação e o Estado- Providência. O modelo Finlandês, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007, 288 páginas.

Este pequeno livro de Manuel Castells, escrito conjuntamente com Pekka Himanen (publicado originariamente em 2002), apresenta-nos os traços essenciais do recente e extraordinário desenvolvimento da Finlândia rumo à sociedade de informação. Como referem os autores, na década de 50 do século xx a economia finlandesa era essencialmente agrária e, apesar de ter conhecido desde essa altura uma assinalável industrialização, passou, ainda no início dos anos 90, por uma forte recessão, devido, entre outros factores, ao colapso da União Soviética, que até então fora um dos seus principais mercados.

O que levou, em tão pouco tempo, este país a transformar-se numa das sociedades mais avançadas não em termos económicos e tecnológicos, mas também em bem- estar social? Para melhor responder a esta questão os autores iniciam o estudo comparando alguns indicadores com outros dois países que também atingiram elevados índices de desenvolvimento (EUA e Singapura) e verificam uma disparidade enorme entre a performanceeconómica e tecnológica, relativamente semelhante nos três países, e o nível de equidade social, que é claramente favorável ao caso finlandês. Os indicadores relacionados com a capacidade de protecção social reforçam essa diferenciação.

Este aspecto, que talvez seja o mais surpreendente, revela a importância do papel do Estado-Providência enquanto agente vital de todo o processo de desenvolvimento. Desde a década de 60 foi desenvolvida uma série de políticas públicas que se mostraram fundamentais, de entre as quais destacamos: a criação, em 1967, do Fundo Nacional Finlandês para a Investigação e Desenvolvimento; a aposta nas universidades públicas de alta qualidade (nos anos 70 eram 20); a decisão, tomada em 1982, de ir aumentando o investimento nacional em I & D de 1,2% do PIB até chegar aos 2,2%, em 1992, e de ultrapassar os 3%, actualmente.

É, sobretudo, esta última característica que leva Castells e Himanen a definirem a particularidade do modelo finlandês da sociedade de informação, em contraste com outros modelos, nomeadamente o de Silicon Valley, que é dirigido primordialmente pelos mecanismos de mercado, com custos consideráveis no que respeita ao aumento das assimetrias sociais e à deterioração do capital humano nas largas faixas populacionais que não acedem e, muito menos, intervêm em processos de alta inovação tecnológica e empresarial. O dado mais sintomático deste contraste revela-se na taxa de sindicalização, que na Finlândia ronda os 80% dos trabalhadores, contra apenas 14% nos EUA (em 1996).

Dois factores são determinantes para a construção deste modelo: a capacidade de inovação demonstrada em diversos sectores, com destaque para o empresarial, mas também a própria sociedade civil, e o poder da identidade nacional.

Relativamente ao primeiro, é salientado o caso surpreendente da Nokia, cuja história é bem resumida no livro. Apesar de estar longe de ser a única empresa inovadora, esta foi, sem dúvida, a que alcançou resultados mais extraordinários. Contudo, não fora a articulação estratégica com o Estado e jamais a Nokia seria a empresa global que é hoje.

Em relação à sociedade civil, Castells e Himanen avançam com o conceito de hackerismo (tecnológico e social) como um elemento fulcral de inovação.

Usualmente, o hacker é visto como um especialista em resolver problemas técnicos ligados à Internet. Segundo os autores, constata-se que os finlandeses aplicam entusiasticamente a prática hacker na partilha de recursos (sejam eles de aprendizagem, de informação ou meramente de partilha do tempo) para chegarem a objectivos sociais que ultrapassam largamente o âmbito do software.

A questão da identidade é particularmente relevante para os autores. No seu entender, «a identidade finlandesa desenvolveu-se a partir de uma longa história de sobrevivência [ ]. Em última instância o Estado-Nação finlandês obtém a sua legitimidade da distribuição da sobrevivência, ou por outro lado, garantindo uma vida `pós-sobrevivência' através da sociedade de informação e do Estado-Providência» (pp. 201-202). Neste sentido, a identidade cultural e o forte sentimento nacional parecem ser elementos centrais deste modelo paradigmático de desenvolvimento, que ao longo destas últimas décadas conseguiu projectar os indicadores da economia finlandesa para o topo das estatísticas mundiais.

Em resumo, podemos dizer que o modelo finlandês de sociedade de informação se estruturou em torno de um ambiente inovador gerado a partir de uma consistente interdependência entre Estado, empresas e sociedade civil, assente numa capacidade mobilizadora fortemente identitária. Neste sentido, apesar de ser específico de um determinado contexto económico e histórico, não é descabido referenciá-lo como uma alternativa ao modelo de cariz essencialmente liberalizante.

Renato Miguel do Carmo CIES - Centro de Investigação e Estudos de Sociologia


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