Pânico. Da compreensão ao tratamento (2004): José Pinto Gouveia, Serafim
Carvalho, & Lígia Fonseca. Lisboa: Climepsi Editores, Colecção Manuais
Universitários 32, 282 pp.
PÂNICO. DA COMPREENSÃO AO TRATAMENTO (2004) - José Pinto Gouveia, Serafim
Carvalho, & Lígia Fonseca. Lisboa: Climepsi Editores, Colecção Manuais
Universitários 32, 282 pp.
A ansiedade patológica é uma manifestação frequente em muitas perturbações
psiquiátricas e, ao mesmo tempo, é uma manifestação principal nas perturbações
de ansiedade propriamente ditas. Entre estas, a perturbação de pânico é uma das
mais frequentes e geradora de sofrimento e graus diversos de incapacidade,
particularmente em indivíduos jovens. A sua característica principal é a
presença de crises recorrentes de ansiedade grave e intensa (ataques de pânico)
não relacionadas com situações ou circunstâncias concretas. A sua prevalência
oscila entre os 2 e os 3% da população geral, com idade de início entre os 25 e
30 anos e distribuição mais frequente no sexo feminino do que no masculino numa
proporção de 2:1.
É sobre a perturbação de pânico que trata este livro da autoria de José Pinto
Gouveia(psiquiatra, Hospitais da Universidade de Coimbra e FPCE da Univ.
Coimbra), Serafim Carvalho(psiquiatra, Hospital Magalhães Lemos, Porto) e Lígia
Margarida Fonseca(psicóloga, psicoterapeuta cognitivo-comportamental), cuja
finalidade é divulgar o estado actual dos conhecimentos sobre o pânico, quer
junto dos indivíduos que sofrem com este tipo de perturbação, quer entre os
técnicos de saúde. Pelas suas características fundamentalmente técnicas, é um
livro claramente dirigido aos técnicos e, muito menos, ao público em geral. Ou
seja, cumpre excepcionalmente bem enquanto manual sobre a perturbação de pânico
dirigido e médicos, psicólogos e outros técnicos de saúde mas está longe de ser
uma obra de divulgação junto do grande público e, muito menos, um manual de
auto-ajuda para indivíduos que sofram com essa perturbação.
Sendo uma obra que faltava em língua portuguesa, está organizada em 9 capítulos
que proporcionam uma revisão bastante completa e actualizada de vários
aspectos, a saber:
No primeiro capítuloos autores apresentam aspectos históricos da perturbação de
pânico, mostrando como as designações das categorias psicopatológicas têm
estado na dependência dos contextos sociais e culturais onde emergem.
No segundo capítulosão abordados critérios de diagnóstico e classificação, com
destaque para uma análise cuidadosa da comorbilidade com a perturbação de
pânico.
No terceiro capítuloos autores abordam a importância clínica da perturbação de
pânico, enquanto no quarto capítulodescrevem detalhadamente o quadro clínico e
o curso da perturbação, bem como as modalidades evolutivas para depressão,
agorafobia, hipocondria e abuso de substâncias.
No quinto capítulosão estudados os aspectos relacionados com a avaliação
clínica, incluindo as tarefas de diagnóstico diferencial e o recurso a escalas
de avaliação muito úteis no estudo de casos.
No sextoe sétimo capítulosos autores desenvolvem os modelos teóricos sobre o
pânico, respectivamente os modelos biológicos e psicológicos. Entre estes
últimos é dado um desenvolvimento muito aprofundado dos modelos cognitivos.
Nos oitavoe nonocapítulos são abordados, respectivamente, os tratamentos
biológicos e psicológicos da perturbação de pânico, de uma forma clara e
bastante útil para a prática clínica.
Finalmente, o livro termina com um décimo capítulosobre a perturbação de pânico
nos cuidados de saúde primários que, embora curto, inclui instrumentos
interessantes para o diagnóstico precoce e para a intervenção terapêutica.
Pela descrição dos conteúdos da obra pode verificar-se que se trata de uma
publicação exaustiva sobre a perturbação de pânico, que assume a forma de
revisão da literatura especializada e actualizada, em relação à qual se percebe
que foi feita por autores com experiência clínica sólida. Suplanta largamente
algumas publicações do género sobre a mesma temática (Klergman e col., 1993;
Massana, 1997; Nutt, 1999; Ros & Lupresti, 1999; Ruiz e col., 2001; Zal,
1990, entre outros). Mostra uma preocupação central com a clínica, quer no
plano do rigor do diagnóstico quer da intervenção terapêutica. Os diferentes
tipos de tratamentos (biológicos e psicológicos) estão solidamente
contextualizados nos modelos teóricos respectivos, elucidando bastante bem os
objectivos e aplicabilidade dos protocolos de tratamento cognitivo-
comportamental que, como se sabe, são praticamente indispensáveis na
intervenção com indivíduos com perturbação de pânico. Pena não discutir a
psicoterapia de apoio, não referir a perspectiva existencial nem a utilidade
dos grupos de ajuda mútua como métodos complementares utilizados nalguns países
para indivíduos com perturbação de pânico.
Trata-se de uma obra muito útil para a prática clínica, especialmente para
psiquiatras e psicólogos.
José A. Carvalho Teixeira