Completa-se, com este número, a edição de vinte volumes da Revista Portuguesa
de Educação. É uma história já longa que nos propomos contar brevemente, em
edição comemorativa, quando, de facto, se cumprirem vinte anos de publicação
regular. Nessa história, iniciada em 1998, serão trazidos à discussão,
naturalmente, os desafios (às vezes pressões) que hoje se colocam à
visibilização do conhecimento científico, sobretudo, o que se produz em língua
portuguesa e no domínio das ciências sociais, em geral, e da educação em
particular. Entre esses desafios e pressões inclui-se, por exemplo, o do
cumprimento de prazos de apresentação da publicação junto das bases de dados
onde a RPE está indexada. Neste particular, a revista passou a estar indexada
num novo Directório — o Directory of Open Access Journals — DOAJ (http://
www.doaj.org). Localizado na Universidade de Lund, Suécia, o DOAJ é o principal
directório, a nível mundial, de revistas científicas em acesso aberto,
incorporando, neste momento, as principais revistas científicas do mundo. Esta
possibilidade, que implicou um rigoroso processo de selecção, amplia de maneira
significativa a visibilidade do conhecimento produzido em contextos regionais e
científicos com menor impacto nos actuais 'mercados' do saber, mas impõe,
igualmente, modos de trabalho editorial diferentes dos que até aqui nos
habituámos e habituámos os nossos Autores e Leitores. O facto de este número da
RPE estar, nesta altura, nas vossas mãos é já disso uma consequência. Com
efeito, um dos principais requisitos para a manutenção das revistas no DOAJ
(bem assim como nas outras plataformas) é que elas sejam publicadas em
intervalos regulares e de forma a que possam estar disponíveis dentro do ano a
que dizem respeito.
O cumprimento dos prazos, sem alteração dos padrões de qualidade científica e
editorial, num contexto de edição que não é profissional nem comercial, tem
muitas mais implicações que não, exclusivamente, a de se ser capaz de
'acelerar' o processo final de impressão de um número, fazendo-se sentir logo
desde o momento em que o artigo é submetido para publicação. Por isto, os
Autores da RPE começaram já a dar conta de maior exigência quanto ao
cumprimento de normas nas submissões e de novos modos e tempos na e para a
revisão dos textos. No processo, as consequências começam também a sentir-se
noutros níveis, nomeadamente o do tempo (e modos) para a avaliação pelos pares.
Por isto mesmo, os agradecimentos públicos que, em cada biénio, a RPE vem
manifestando ao vasto número de investigadores que, sem contrapartidas
materiais, colabora na emissão de pareceres, são, neste número, agradecimentos
reforçados. A sua disponibilidade para avaliar e o tempo cada vez mais curto de
resposta contribuem decisivamente para o estatuto que a Revista alcançou, tanto
nacional como internacionalmente. A todos, a Revista Portuguesa de Educação e o
Centro de Investigação em Educação que a edita exprimem, aqui, um grato
reconhecimento.
Os artigos que compõem este número são representativos, como é habitual num
número que não integra um núcleo temático, quer da variedade de domínios que
constituem os estudos educacionais como de metodologias para a sua
investigação.
O texto de Maria Lúcia Castanheira, Judith Green e Carol Dixon bem assim como o
da equipa liderada por João Pedro da Ponte tomam a comunicação na sala de aula
como factor decisivo na construção do conhecimento escolar. No primeiro caso,
por recurso à etnografia interaccional, analisam-se como alunos e professores
estabelecem as condições para a leitura, discussão e produção de textos em
aulas de língua; no segundo, partindo-se de pressupostos sobre a natureza
profundamente social da aprendizagem da Matemática e, nesse sentido, sobre o
impacto das práticas discursivas na construção daquele conhecimento, analisam-
se, numa orientação qualitativa e interpretativa, perspectivas e práticas de
jovens professores quanto à forma como se relacionam com os vários aspectos do
processo comunicativo na sua actividade lectiva.
O texto de Ana Maria Morais e Isabel Neves, não tomando como seu objecto
imediato o discurso da sala de aula, em certa medida é dele também que trata
quando sistematiza a orientação metodológica levada a cabo pelo grupo de
Estudos Sociológicos da Sala de Aula. Nele discutem-se as potencialidades
analíticas e de objectividade de uma abordagem metodológica mista, baseada na
teoria do discurso pedagógico de Basil Bernstein, "que se afasta da
dicotomia entre abordagens naturalistas e racionalistas" e cuja forte
sustentação teórica e conceptual gera condições mais favoráveis à aceitação e
ao impacto social do conhecimento educacional produzido.
No reconhecimento da actualidade política e académica do movimento da escola
inclusiva, Isabel Sanches e António Teodoro apresentam um estudo sobre práticas
de professores de apoio educativo, no sentido de identificar indicadores de uma
educação que efectivamente construa escolas mais equitativas.
Para além da sala de aula e das práticas docentes, Jorge Ávila de Lima discute
um dos principais desafios que se colocam aos profissionais de educação: o da
interacção em redes, nos novos contextos de regulação social da educação.
Concluindo a sua sistematização e análise de modelos como o do
"centralismo burocrático" e dos "inspirados no mercado", o
artigo apresenta uma proposta de conceptualização que permite compreender o
actual "apelo à utilização das redes como modelo de governação da
educação".
Por fim, no artigo de Maria-João Alvarez e Michael Oliveira apresenta-se um
estudo quasi-experimental de intervenção no âmbito da prevenção do HIV/SIDA
entre estudantes universitários, fazendo também pensar para este contexto
académico funções que estão para além da aquisição exclusiva de conhecimento
académico.
Nas habituais secções que integram os números da Revista Portuguesa de
Educação, pode o nosso leitor ainda encontrar uma recensão do livro de António
Gomes Batista e Maria da Graça Costa Val sobre as escolhas de manuais escolares
por professores. Pese embora o facto de a obra ser de 2004, no actual contexto
nacional de discussão de processos de certificação deste recurso didáctico, a
reflexão sobre conhecimento já produzido neste domínio parece-nos de extrema
relevância. Segue-se, num novo formato, a divulgação de teses de Doutoramento
em Educação apresentadas à Universidade do Minho, no primeiro semestre de 2007.
Dado que o seu cada vez maior número torna pouco económica a divulgação dos
respectivos resumos, apelamos à sua consulta na página web do CIEd. A notícia
do seminário internacional sobre as implicações na Educação de Adultos das
mutações das relações entre o Estado, a Sociedade Civil e o Cidadão, a lista de
publicações recebidas no âmbito dos protocolos de permutas da Revista
Portuguesa de Educação e, como já referido, a publicitação dos investigadores
que connosco colaboraram nos últimos dois anos encerram mais este número que
esperamos possa cumprir junto do público leitor os objectivos e as funções que
desde a sua criação a Revista assumiu.
Maria de Lourdes Dionísio
Centro de Investigação em Educação
Instituto de Educação
Universidade do Minho - Campus de Gualtar
4710 Braga - Portugal
rpe@iep.uminho.pt