Processos e práticas de educação e formação: Para uma análise da realidade
portuguesa em contextos de globalização
Globalisation; Éduaction; Formation; Curriculum
Introdução
Os processos e práticas de educação e formação portugueses estão cada vez mais
integrados em agendas globalmente estruturadas, cujo eixo de influência se
situa no quadro comum das políticas da União Europeia e de outros organismos,
com destaque para a OCDE. Tanto no ensino superior, como nos ensinos secundário
e básico, as orientações educativas subordinam-se a um processo de decisão
supranacional, deixando-se para os governos de cada Estado-membro decisões que
em nada alteram a existência de uma estrutura partilhada em termos de alguns
critérios amplamente consensualizados.
Numa análise crítica dos recentes processos e práticas de educação e formação,
em especial desta primeira década do século XXI, colocamos no centro do debate
a relação entre globalização, conhecimento e currículo, de modo a salientar as
mudanças ao nível da educação formal, não formal e informal para o estudo do
currículo. Sublinhamos que as políticas de formação e educação são processos
complexos de decisão, dependentes de territorialidades diferentes e
entrelaçadas, com o objectivo de responder afirmativamente a uma mudança
económico-social mais ampla. É nesta lógica estruturada de decisão política que
situamos o estudo do currículo no contexto de políticas globalizadas, por um
lado, e das políticas nacionais, por outro, reconhecendo que ambas estão
edificadas em torno do conhecimento, perspectivado como alavanca do
desenvolvimento económico, aliás na esteira da teoria do capital humano, berço
conceptual de um dos pressupostos do neoliberalismo educacional (Pacheco,
2001).
Na busca de esclarecimento sobre os processos e práticas de educação e formação
centramo-nos no Processo de Bolonha, para o ensino superior, e nas alterações
curriculares, para os ensinos básico e secundário, incluindo também o Programa
Novas Oportunidades, concluindo-se que as mudanças no âmbito da educação e
formação conduzem não só à uniformização curricular, como também à regulação de
resultados, em estreita relação com a ressignificação do currículo.
1. Processos de educação e formação em contexto de políticas globalizadas
Na análise da relação entre globalização e educação, Dale (2004: 425) salienta
a força do efeito extranacional, reconhecendo que "o desenvolvimento dos
sistemas educativos nacionais e as categorias curriculares se explicam através
de modelos universais de educação, de Estado e de sociedade, mais do que
através de factores nacionais distintivos". Por isso, a educação é
analisada quer na base da "cultura educacional mundial comum" e da
"cultura universal de educação" (idem), quer no quadro de uma
"instituição mundial" (Azevedo, 2007), quer, ainda, no contexto da
"teoria do sistema mundial" (Adick, 1993).
Subordinada a lógicas específicas, em que sobressaem os discursos sobre a
qualidade dos sistemas de educação e formação e sobre a gestão do conhecimento
como um recurso económico, a globalização percorre os caminhos do
neoliberalismo, pois são dois fenómenos estreitamente ligados (Charlot, 2007),
e reforça os mecanismos de convergência da decisão política em áreas
fundamentais, tais como a educação e a formação.
De acordo com Ritzer (2007: 4), que parte da constatação de que as nossas vidas
quotidianas estão cada vez mais globalizadas, nas últimas décadas, tem emergido
um corpo de conhecimento académico distinto, conhecido por teoria da
globalização, e que define como "a difusão de um sistema mundial de
práticas, a expansão de relações intercontinentais, a organização da vida
social a uma escala global e o incremento de uma consciência global
partilhada".
Porque é "um conjunto de processos" (Giddens, 2007: 13), e porque os
seus pressupostos são económicos, políticos e culturais, a análise que Ritzer
(2007) faz da globalização inclui a abordagem pluridisciplinar, na
pressuposição de que existem, pelo menos, três teorias.
As teorias políticas da globalização, especialmente na forma do pensamento
neoliberal, abraçam duas realidades distintas: a defesa do princípio do livre
mercado, sem que existam barreiras estabelecidas pelos Estados-nação e por
outras entidades políticas; o reconhecimento do primado da perspectiva realista
de que a globalização é o resultado das relações de poder entre diversos
Estados-nação. Com base na teoria do sistema mundial, as teorias económicas da
globalização problematizam não só a relação desigual entre nações centrais e
nações periféricas, ou semi-periféricas, como também a emergência do
capitalismo informacional. Na abordagem dos aspectos culturais da globalização,
o autor refere três tendências principais — dissemelhança cultural;
convergência cultural; hibridismo cultural — para concluir que se trata de um
processo múltiplo que ocorre tanto ao nível da superfície, quanto ao nível das
estruturas profundas das culturas, ainda que, na prática, a homogeneização se
sobreponha à heterogeneização com as suas formas específicas de domínio e
convergência, e que se traduzem pela "globalização do nada", ou seja,
pelas "nulidades" dos "não-lugares", "não-
coisas", "não-pessoas" e "não-serviços".
Mas que efeitos têm tais teorias da globalização sobre os processos de educação
e formação?
Numa primeira análise, os efeitos económicos são os mais visíveis, por exemplo,
pela introdução de padrões de eficiência e qualidade, pela privatização de
serviços e pela economização do conhecimento, aceitando-se que, a nível
político, são cada vez mais convergentes os modos de regulação das políticas
educacionais e que, a nível cultural, são transnacionalizados padrões comuns
que resultam do reconhecimento de princípios quanto a modos de ser e de viver.
Face à existência de modelos transnacionais de educação e formação, e face a
processos amplos de convergência, a globalização tem um rosto que se identifica
com a uniformização e com a ideia que tudo se torna igual, independentemente
dos contextos nacionais, já que, nesse processo, as "nações deixam de ser
unidades autónomas, independentes, interagindo entre si, para serem territórios
atravessados pelo fluxo da modernidade-mundo" (Ortiz, 2006a: 25).
Do fluxo transnacional, que regula processos e práticas na forma de pensar e
agir, resulta a construção do nacional em subordinação não à máxima da década
de 1980 — pensar global, actuar localmente, mas à expressão dos dias de hoje —
pensar global, agir globalmente, de modo a criar-se a ideia de que um Estado
não sobrevive fora do circuito de produção da nova ordem económica. Ainda que
neste processo se verifique a recuperação do sentido identitário promovido pelo
espaço local
1
, outrora destruído pela uniformização operada pelo movimento em torno do
Estado e da Nação, enquanto processos de aglutinação, respectivamente,
territorial e cultural, a fragilização do nacional decorre da existência de
macro-decisões ligadas a todos os aspectos da vida dos Estados, desde as
políticas económicas e financeiras até às políticas sociais, culturais e
educacionais.
No campo educacional, cada Estado-membro segue uma "agenda globalmente
estruturada" (Dale, 2004; Teodoro, 2003), sendo previsível que os seus
efeitos nas políticas nacionais tendam para a homogeneidade e uniformização em
detrimento da diversidade e identidade. Embora o seu propósito principal se
centre na uniformização, a globalização liga-se, de igual modo, à
individualização pessoal, ao reforço do espaço local e a noções como
identidade, diversidade e projecto (Moreira, 2006), sobretudo quando se coloca
do lado das escolas e dos professores a responsabilidade pelos resultados
escolares.
Porém, tal reconhecimento do papel dos actores nos processos de educação e
formação pode ser entendido não como a assunção de responsabilidades distintas
pela concepção de projectos, mas pela aceitação de modelos tecnocráticos de
decisão, em cujas linhas de acção se encontram orientações muito específicas.
Por mais orientações de programas políticos que existam, sempre radicadas na
utopia da mudança e na promessa quantas das vezes incumprível, as decisões em
áreas-chave, por exemplo, Educação, Saúde, Justiça, Economia e Segurança,
dependem, fundamentalmente, de grupos de trabalho, constituídos por
especialistas e técnicos. Esta ideias tornam-se politicamente correctas,
originando a despolitização técnicados processos e práticas das reformas. O que
se propõe como reforma educativa é, na maioria das situações, uma plétora de
medidas técnicas, sempre muito centralizadas em pareceres técnicos de grupos de
trabalho, politicamente orientados e controlados, sem o sentido real da mudança
escolar.
No que diz respeito à educação e formação, a mudança transnacional
circunscreve-se a modelos institucionais padronizados, enquadrados pelas
ideologias da sociedade da informação e do conhecimento e das novas
competências (Azevedo, 2000). Consequentemente, o modelo cultural prevalecente
recorre a "ideologias globais e a modelos transnacionais gerais de
educação, no seio das quais são veiculadas correntes e perspectivas de reforma
que atravessam o mundo inteiro e que afectam, desde logo, os países mais
desenvolvidos" (Azevedo, 2007: 57).
Ao valorizar a educação e formação como traves-mestras da mudança, a
globalização reforça os fundamentos da teoria do capital humano, em que se
acentua a visão da educação como processo de formação social, orientada para
mercados competitivos, clamando que as organizações educativas devem responder
a desafios imediatos do mundo económico. Deste modo, diversos organismos
transnacionais perspectivam o conhecimento como um recurso económico e, ao
mesmo tempo, exigem novos critérios para a qualificação dos cidadãos, regulados
por lógicas de mercado e definidos na base de uma concepção instrumental da
formação, que a fraseologia relativa à pedagogia por competências recupera como
indicador principal na sua organização curricular.
Ao funcionar como mecanismo de uniformização, a globalização tece fortes laços,
tanto entre conhecimento e economia, como entre educação e formação, pela
defesa do princípio de que há um benefício económico se a mão-de-obra for bem
instruída e treinada nos sistemas educacionais.
O conhecimento e a informação são duas variáveis da economia que suplantam o
trabalho e o capital como valor acrescentado (Kóvacs, 2002), constituindo duas
faces de uma mesma sociedade. Por isso, a sociedade da informação e
conhecimento não é mais do que uma das condições da globalização, conquanto que
a aglutinação dos espaços de decisão contribui para a imposição de uma nova
ordem mundial, geradora de políticas comuns, com destaque para os terrenos
transnacionais e supranacionais. Por exemplo, a retórica da Aprendizagem ao
longo da vida é uma palavra-chave dos documentos da OCDE
2
e a Economia de conhecimento é a meta (que não se cumprirá, decerto) que a
União Europeia traçou no seu horizonte político de curto prazo (2010).
Sendo mais visíveis os efeitos económicos da globalização, os seus efeitos
políticos e culturais ao nível dos processos e práticas de educação e formação
não dependem de programas complexos, ou de guiões muito funcionais, mas são
observáveis pela inclusão, nas orientações de diversos organismos, de
conceitos-chave, tais como "qualidade", "prestação de
contas", "aprendizagem ao longo da vida", "economia do
conhecimento", "competência", "eficiência". A mudança
conceitual, geralmente promovida pela deslocação de avultadas quantias
financeiras para a pesquisa e fomento das boas práticas, torna-se no motor da
globalização, conferindo-lhe pragmatismo na busca da qualidade e eficiência.
Para o caso da União Europeia, segundo Giddens (2007: 219), está "acordado
que a educação geral e o ensino superior em particular não caem no âmbito da
política europeia comum. O papel da comunidade está limitado a encorajar a
cooperação entre os estados-membros". Tal cooperação passa pela adopção do
método aberto de coordenação
3
, caracterizado não só pela concepção e implementação de medidas comunitárias,
como também pela divulgação de modelos baseados em boas práticas. Daí que Scott
e Kelleher (1996), (citados por Azevedo, 2007: 37), refiram que "os
sistemas nacionais europeus de educação estão a percorrer, com soluções
diversas, caminhos de resposta a um conjunto comum de pressões e
problemas".
Detendo-nos na noção de globalização, e analisando-se o suporte doutrinal do
neoliberalismo no redesenho das políticas educacionais (Pacheco, 2001),
constatar-se-á que o conhecimento, considerado cada vez mais como investimento,
é a principal força económica de produção, ainda que se confirme a hipótese de
trabalho formulada por Lyotard (2006 [1979]: 3): a de que "o saber muda de
estatuto ao mesmo tempo que as sociedades entram na idade dita pós-industrial e
as culturas na idade dita pós-moderna".
Sem entrar na discussão filosófica sobre que estatuto é este, importa referir o
modo como um determinado modelo de organização do conhecimento foi sendo
delineado ao longo do século XX. Idealizada como um espaço nacional, a escola
foi tecendo ao nível das suas práticas, que não se tornam tão dissemelhantes
quer pela natureza do conhecimento que é ensinado/aprendido quer pela relação
pedagógica instituída e pelos materiais curriculares utilizados, um modelo de
gestão científica, ancorado nos princípios da eficiência global (tylorismo) e
nos pressupostos de uma teoria curricular de natureza instrucional
(racionalidade tyleriana) (Pacheco, 2003).
Tal modelo tem por base a disciplinaridade do conhecimento e a abordagem
sistémica. É através das disciplinas, com as disciplinas e pelas disciplinas
(sempre presentes na escola, mesmo quando existe um modelo integrado, caso da
organização curricular dos primeiros anos de escolaridade) que o conhecimento
escolar é organizado em planos curriculares, balizas do conhecimento oficial e
do currículo nacional, e estruturado em programações (de escola, de ciclo, de
ano) e planificações (de classe ou turma). Por mais que se recriem modelos
transdisciplinares e/ou interdisciplinares e se inscrevam no mundo escolar
áreas de formação pessoal e social, a escola mantém a estrutura básica da
disciplina, isto é, um conhecimento compartimentado, fragmentado e reduzido a
fronteiras muito fechadas que em nada favorecem o diálogo interdisciplinar,
quanto mais a possibilidade de elaborar projectos curriculares integrados.
Ao ser definida como o que "está entre as disciplinas, através das
disciplinas e além de toda a disciplina" (Japiassu, 2006: 16), a
interdisciplinaridade equivaleria à abordagem curricular que melhor responderia
ao desafio da globalização para que o conhecimento perca a face singular e
represente o esforço intelectual de compreender os contextos e processos de
acção humana.
Se a base da escola tradicional é o cognitivismo, a nova escola da globalização
e da sociedade do conhecimento está fundamentada na tecnologia da informação,
pois "a produção de conhecimento ocorre cada vez mais no âmbito de redes,
que podem ser muito remotas, em vez de serem empresas hierárquicas, as quais
tendem a nivelar-se em termos dos seus sistemas de autoridade" (Giddens,
2007: 215). No entanto, é de questionar até que ponto a escola deixa de ser o
veículo central do conhecimento em sociedades em que a desigualdade se faz a
partir de critérios de info-exclusão. Também é de questionar se a escola
passará de uma matriz disciplinar para uma matriz interdisciplinar.
Nos mecanismos de regulação escolar, e contrariamente ao que seria de supor, a
globalização favorece, por um lado, a balcanização do conhecimento escolar,
cavando ainda mais a distância entre o peso curricular atribuído a certas
disciplinas (caso da Matemática, Ciências e Inglês) e, por outro, a promoção de
saberes escolares estruturantes, traduzidos em competências, que podem limitar
a questão do acesso à economia do conhecimento, ligadas às Tecnologias de
Informação e Comunicação.
Tanto na década de 1960, em que a escola é chamada a responder à crise militar
norte-americana, depois do lançamento do Sptunik, em 1957, como na década de
1980, com o registo de mais uma chamada da escola para ultrapassar a crise
económica, desencadeada pela emergência dos países asiáticos, o conhecimento é
repensado não na sua base disciplinar, mas no modo como deve ser didacticamente
organizado, isto é, pela pedagogia de objectivos e pela pedagogia de
competências, sempre dentro do modelo de reengenharia social (Pinar, 2007).
Predomina, neste modelo, uma noção objectiva de conhecimento, definido e
orientado para o mundo concreto do mercado, pois a escola deve ser o engenho
social da fabricação cognitiva de saberes relacionados com contextos
específicos da economia.
Neste sentido, "a globalização diz respeito essencialmente ao processo de
evolução e organização do sistema económico capitalista no plano mundial"
(Dalarosa, 2003: 201), cujo raio de acção política e cultural entronca na pós-
modernidade, principalmente naquilo que o individualismo pode fazer para a
promoção de uma lógica de mercado. A noção de mercado é, decerto, a pedra
angular da tendência neoliberal, que se identifica com os princípios da
privatização, da globalização e da livre escolha, e que servem de argumento
para a eficiência, a qualidade e a equidade. Numa perspectiva liberal clássica,
o mercado, resultando do progresso humano, é um artefacto cultural construído
nas práticas sociais, aparecendo historicamente antes do Estado, com a função
de servir os interesses das pessoas, e constituindo-se, segundo as ideias de
Adam Smith, na mão invisível.
Promovendo a subjectivação do sujeito, por vezes sem laços de historicidade, a
pós-modernidade "expressa uma cultura de globalização e da sua ideologia
neoliberal" (Sanfelice, 2003: 7), fortalecendo a relação intrínseca entre
mercado e individualismo em conformidade com os valores da livre escolha,
eficiência e qualidade
4
.
Em tempos actuais, com o predomínio de uma discursividade relativa à
descentralização das políticas curriculares, o que é comum a todos os sistemas
educativos, independentemente das ideologias que os caracterizam e dos
processos de mudança que os norteiam, verifica-se que a globalização contribui
para a macro-regulação de uma vontade supranacional, no caso da União Europeia,
negociada ao nível das políticas económicas e sociais e ao nível dos processos
e práticas de educação e formação, tendo como denominador comum a convergência
através de uma noção mais ampla de regionalização. De acordo com Hallak (2001),
esta regionalização traduz-se na proposição de standards e normas, com a
diminuição do papel do Estado, num processo de supra-assunção, como refere
Habermas (2002: 143): o lugar do Estado é ocupado pela empresa transnacional,
tendo como horizonte a "sociedade global descentrada, que se decompõe em
uma quantidade desordenada de sistemas funcionais que se reproduzem e se
orientam a si mesmos".
Por mais descentrado que possa ser, o processo de globalização efectiva-se pela
padronização de práticas, requerendo "a existência de instituições sociais
capazes de produzir, reproduzir e transformar a ordem das sociedades"
(Ortiz, 2006a: 74), ao mesmo tempo que se fala de descentralização e de lógicas
de individualização. Por isso, as noções de transnacional e supranacional são
categorias que invocam e traduzem hierarquia e estandardização, por um lado, e
diversificação, por outro, na conjugação de padrões pré-definidos com opções
dos indivíduos. Um dos exemplos é o que se passa com a comercialização de
carros, em que o comprador, depois de escolher o modelo, pode individualizá-lo,
mediante uma vasta lista de opções.
A escola é uma dessas instituições que impõem a ordem, a autoridade e a coesão
nacional através da organização do conhecimento, não implicando,
necessariamente, a existência de um único padrão que seja imposto a todas as
escolas. Se a existência de um "mundo sem fronteiras", no dizer de
Ortiz (2006b: 48), "está presente num conjunto de escritos sobre marketing
e faz parte do léxico empresarial transnacional", é porque é um dos
pressupostos da globalização dos processos económicos e tecnológicos, com vista
à convergência dos sistemas de educação e formação. Em consequência, a
globalização acentua a padronização dos sistemas educativos, quer no que se
prende com o reforço do conhecimento escolar, ainda que traduzido em
competências e organizado em formatos modulares, quer no controlo da qualidade
dos resultados escolares, delimitados por uma cultura de avaliação.
Tal processo de convergência produz três efeitos nos processos e práticas de
educação e formação: o primeiro, a retomada de uma visão tecnicista (Candau
& Koff, 2006), apoiada em modelos de racionalidades técnicas (Pacheco,
2003), na metáfora da produção e no modelo de reengenharia social (Pinar,
2007), com um forte impacto quer na organização da escola e do currículo, ao
nível da sala de aula e orientada para a discussão dos resultados escolares,
quer no fomento de uma concepção instrumental da formação; o segundo, a
valorização dos processos de educação não formal e informal, outorgando-se às
modalidades de formação de jovens e adultos o mesmo estatuto que é reconhecido
às organizações escolares; por último, o predomínio de uma perspectiva
normativa na concepção e implementação das políticas, sendo que a política
curricular é descentralizada ao nível dos discursos, mas recentralizada ao
nível das práticas escolares, originando o processo de recontextualização
(Pacheco, 2003; 2005a). Parafraseando-se Stromquist (2006: 371), o Estado é
esplêndido no discurso escolar sobre as políticas e pobre nas teorias de acção;
débil nos esforços para a implementação e tacanho na transferência de recursos.
Por mais descentralização que exista nos discursos da Administração, admitir-
se-á que
o Estado central não abdica de todo o seu poder na organização do sistema
educativo: se as suas competências se limitam à regulação e ao controlo, o
conjunto das tarefas de gestão são delegadas nos actores locais, sobretudo às
escolas, que passam a beneficiar de um amplo estatuto de autonomia (Mons, 2004:
46).
A consideração destes três efeitos leva-nos a argumentar que a globalização
reforça uma identidade legitimadora e contribui para a uniformização dos
processos de educação e formação, conferindo centralidade ao currículo.
Temos vindo a escrever diversos textos
5
, nos quais tentamos problematizar esta questão, sobretudo a partir da noção de
identidade, proposta por Castells (2000), e das práticas de uniformização das
escolas, tornando-as cada vez mais iguais em contextos de afirmação de
projectos locais.
A globalização reforça, por isso, o lado mais uniformizante da escola, sendo de
admitir que esta contém, na sua estrutura de funcionamento, princípios de
homogeneização
6
, conferidos pelas formas de organizar o conhecimento e "pelo modo
uniforme e estável das modalidades organizacionais do trabalho escolar"
(Canário, 2005: 77), verificando-se que "tende a instituir-se como algo
que não é concebível mudar. As diferenças ou nuances institucionais, entre
diferentes níveis de ensino, diferentes períodos ou diferentes regiões, não
permitem ocultar a universalidade de uma solução organizacional, claramente
aparentada com o modo taylorista de organizar a produção industrial"
(idem, ibidem). Para Sampaio (1998: 248), e fazendo parte do mundo das
organizações de tipo burocrático, devido ao seu modo predominante de regulação
e exercício de poder, as escolas têm regras e poder instituídos, onde "o
currículo é normatizado por regras e documentos de responsabilidade dos órgãos
centrais e dos órgãos regionais, que controlam sua operacionalização e
realização nas escolas".
Mais do que outras organizações, as escolas estão estruturadas para responder
aos desafios colocados pela globalização, pois
os sistemas escolares têm relevância mundial por três motivos: porque são uma
componente do sistema mundial moderno e um subsistema de qualquer país em
modernização; porque as suas principais características e funções sociais são
relativamente inespecíficas do ponto de vista cultural e são uniformes em todo
o mundo; e porque este modelo de escola moderna, novo, moderno e universalmente
aplicável, é e será de longa duração (Azevedo, 2000: 145).
Se a globalização funciona, hoje em dia, no seio das práticas escolares e
curriculares, pela discussão do conhecimento, nas décadas de 1980 e 1990
integrava abordagens na base da consciencialização crítica dos alunos para
temáticas transnacionais, por exemplo, da formação pessoal e social, do
paradigma do desenvolvimento, dos estilos de vida (Gough, 2003). De um alerta
inicial, a globalização passa para um conjunto de práticas que reforçam o lado
mais uniformizante da escola, sendo de admitir que a escola contém, desde a sua
génese e na estrutura de funcionamento, princípios de homogeneização.
Deste modo, a globalização torna-se numa identidade legitimadora (Castells,
2000) de espaços geográficos cada vez mais transnacionais e supranacionais, que
reforçam o papel de transmissão de conhecimentos, com base em critérios bem
definidos, que a escola tem cumprido. Ainda que as mudanças nas práticas
escolares não sejam significativas, pois também é possível argumentar que
existe nas escolas uma estrutura invariante ligada ao pensamento e à acção dos
professores (Pacheco, 1995), os processos e práticas de educação e formação
inerentes à globalização reconceptualizam o currículo do seguinte modo
(Martinand, 2001): valorização da orientação escolar e profissional, não nas
suas componentes psicológicas, mas na contribuição para a construção de
representações muito objectivas dos conteúdos e dos contextos técnicos de
trabalho; abordagem do mundo tecnicista; apropriação das técnicas de informação
e de comunicação; promoção de uma pedagogia de acção.
De igual modo, a globalização favorece a emergência de identidades ligadas a
contextos de ensino mais marcados pelas questões técnicas (gestão da sala de
aula, conhecimento da disciplina, resultados dos testes dos alunos) do que
pelas questões de natureza pessoal, profissional, social e emocional. Todavia,
a globalização, e por aquilo que pode significar o termo mundialização, cujos
significados são diferenciados por Ortiz (2006b
7
), não equivale a uma total uniformização, sobretudo no que diz respeito à
relação pedagógica e à contextualização de espaços locais.
Os contextos de ensino são essencialmente produtores de identidades técnicas,
já que os professores são mais avaliados e responsabilizados pelo lado dos
resultados dos alunos do que pelo seu lado mais pessoal e de gestão dos
processos de aprendizagem.
Quando inscrita numa agenda de performatividade e de estandardização
curricular, Sachs (citado por Day, 2006: 89) associa aos professores a
identidade empresarial: "Esta identidade poderá caracterizar-se como sendo
individualista, competitiva, controladora e reguladora, definida externamente e
orientada para standards".
Deste modo, os processos de mudança e inovação curriculares acentuam o processo
de retylerização da escola, cada vez mais pensada em termos de um
instrumentalismo técnico, pois "a missão a ser cumprida pelo currículo não
é educacional, no sentido tradicional, mas deriva do que se considera serem as
necessidades da economia" (Moore & Young, 2001: 200). Por isso, a
metáfora da produção é a que se aplica de forma apropriada à escola dos dias de
hoje, tão marcada pela noção de engenharia social, cujo predecessor (Thorndike)
compara a educação a um complexo motor de automóvel — "se conseguíssemos
pelo menos fazer o ajuste certo — no ensino, na aprendizagem, na avaliação —
ele zumbiria, e nos transportaria ao nosso destino, a terra prometida de
elevados resultados nos testes, ou, para muitos de nós, na esquerda
educacional, a uma sociedade verdadeiramente democrática" (Pinar, 2006:
109) — no seguimento do pragmatismo, identificado com os trabalhos de James
(2005 [1907]), para quem a ênfase da filosofia, e também da educação, está na
utilidade prática e nos resultados.
2. A ressignificação do currículo
2.1. Conhecimento, currículo e competitividade
"Sendo o currículo o esteio do fenómeno educativo", nas palavras de
Morgado & Ferreira (2006: 77), a globalização reforça a centralidade do
currículo como veículo de conhecimento, que passa a ser valorizado como um
recurso económico. No documento Objectivos futuros concretos dos sistemas de
educação e formação
8
, da União Europeia, o papel da educação e formação é tão-só o de tornar a
Europa "na economia baseada no conhecimento mais dinâmica e competitiva do
mundo, capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e
melhores empregos, e com maior coesão social"
9
.
Além de outros aspectos, que reforçam a relação entre conhecimento, currículo e
competitividade, os sistemas de educação e formação devem desenvolver
competências para a sociedade do conhecimento, pelo que a riqueza das nações
não depende somente de recursos naturais. Deste modo, e para que se cumpra o
compromisso estratégico da Agenda de Lisboa, assumido pelos países da União
Europeia, em 2001, os processos de educação e formação, aos níveis formal, não
formal e informal, naquilo que mais os caracterizam em termos de conhecimento —
o currículo —, tornam-se numa das prioridades europeias, com ênfase para o
ensino superior e para novos sistemas de formação.
Não se ignorando que as decisões supranacionais da União Europeia são decisões
tomadas em contexto de globalização, pois os Estados-membros convalidam opções
mais gerais, o ensino superior torna-se, pelo menos no plano da retórica dos
documentos de trabalho, na alavanca da sociedade do conhecimento.
Consequentemente, ao situar-se no lado da utilidade económica, a globalização
cria e alarga os mecanismos que instituem padrões curriculares uniformes e
homogéneos em termos de aprendizagens, e seus níveis e ciclos de organização
curricular, com conteúdos orientados para a qualificação de uma mão-de-obra
flexível face às contingências de uma ordem mundial. A ideia de aprendizagens
profissionalizantes ganha terreno nos ensinos superior e secundário, na
vertente do que Giddens (2007) designa por "cidadania produtiva",
reconhecendo que as universidades não existem apenas como coadjuvantes das
empresas, ou como recurso para a economia
10
.
O ponto arquimédico da alavanca da sociedade do conhecimento está situado nos
espaços europeus de ensino superior e de aprendizagem ao longo da vida,
outorgando-se à universidade um papel crucial no triângulo conhecimento/
criatividade/inovação
11
. No quadro da Agenda de Lisboa, a reforma das universidades baseia-se no
Processo de Bolonha
12
, com a finalidade de fazer convergir os sistemas de ensino superior. Neste
âmbito, a universidade europeia é vista como um recurso de promoção da
sociedade de conhecimento, cujos ciclos de organização dos cursos de graduação
e pós-graduação se encontram inteiramente uniformizados, tanto na lógica de
créditos quanto na necessidade de identificar resultados da aprendizagem,
conferindo sentido às palavras de Readings (2003: 13):
a universidade está a tornar-se uma empresa burocrática transnacional, quer
ligada a instâncias governamentais transnacionais como a União Europeia quer
funcionando independentemente, por analogia com uma empresa transnacional.
Trata-se de conferir sentido à crítica, que Lyotard (2006[1979]) faz à
universidade, que perde a sua função de legitimação especulativa para adquirir
uma função profissionalizante, precisamente porque promove um enunciado
prescritivo de valor prático ligado às competências e porque se torna numa
instituição funcional. A implementação do Processo de Bolonha em Portugal
(Morgado, 2006) configura-se num processo técnico de mudança curricular, com
relevo para a estrutura dos cursos e para a adopção de uma linguagem pedagógica
centrada nos resultados, antevendo-se que a mudança nos processos de
aprendizagem não sejam suficientemente significativos. Em Declaração
13
, Bolonha corresponde a políticas educativas com vista à mobilidade dos alunos
e comparabilidade dos cursos; em Processo
14
, significa a existência de políticas curriculares uniformizadas no que diz
respeito à formatação dos ciclos, a um sistema europeu de créditos e à
formulação de resultados da aprendizagem (learning outcomes).
A nova organização curricular pressupõe a pedagogia de objectivos não como
ponto de partida, mas como ponto de chegada. Assim, a formulação de resultados
da aprendizagem inscreve-se numa prática tyleriana, querendo significar o que
os alunos devem saber no final do processo de aprendizagem. Digamos que muitos
professores universitários, em Portugal, tiveram de reler os autores da
pedagogia por objectivos e buscar, artificialmente, as diferenças entre um
objectivo e um resultado de aprendizagem. No entanto, objectivo e resultado são
iguais se ambos exigirem três aspectos fundamentais da pedagogia
comportamentalista: objecto (conteúdo), operação mental (o que se pede ao aluno
e que as taxonomias definem em classes de aprendizagem) e resultado
(comportamento esperado e regulado pela avaliação); são diferentes, no tempo da
sua formulação, já que o objectivo orienta o processo de aprendizagem e o
resultado diz respeito ao domínio de conhecimento que um aluno revela possuir
no final desse processo.
Assim, os resultados de aprendizagem impõem à organização curricular do ensino
superior o princípio da pedagogia por objectivos, ainda que mitigado pela
pedagogia de competências, subordinado à abordagem sistémica (na busca da
eficiência entre inputs e outputs). O Processo de Bolonha impõe quer um
"novo conceito de aprendizagem", ainda que velho na tradição escolar
15
, apoiado em três vertentes: lectiva (tempo real dedicado pelo professor);
tutorial (tempo real de diálogo entre professor e aluno); investigativa (tempo
real que o aluno dedica ao estudo e pesquisa), quer uma metodologia activa (em
especial, uso das tecnologias de informação e comunicação, de que as
plataformas de ensino são o caso mais notório), quer ainda uma avaliação
formativa (em que o exame tradicional deve ser substituído por "práticas
avaliativas negociadas", isto é, consensualizadas entre professores e
alunos).
O outro ponto arquimédico da economia do conhecimento é o espaço europeu de
aprendizagem ao longo da vida, que é criado no âmbito da Agenda de Lisboa, com
a finalidade "de incidir na aprendizagem que vai do ensino pré-escolar até
à pós-reforma ("do berço ao túmulo"), abrangendo também qualquer tipo
de educação (formal, informal ou não formal)", (Silva, 2007)
16
. De entre os múltiplos sentidos que o termo encerra (Lima, 2007; Canário,
2007a), de acordo com as alterações da economia nas sociedades capitalistas e
seus impactos nos contextos de trabalho (Castro, Guimarães & Sancho, 2007),
a União Europeia tem utilizado este conceito no sentido da economia da
formação, querendo significar a aquisição contínua de "conhecimentos,
aptidões e habilidades", com vista a promover a mobilidade dos
trabalhadores no interior da comunidade, em função da sua qualificação, de
acordo com o memorandum da Comissão
17
.
Relacionado com as medidas de concretização do espaço europeu de aprendizagem
ao longo da vida encontra-se a ressignificação do currículo, por força da
valorização da educação/formação não formal e informal, que ganha um novo
estatuto, deixando de ser complementar na perspectiva de uma formação entendida
como reciclagem da formação inicial.
No caso de Portugal, o Programa governamental Novas Oportunidades, inserido no
Plano Nacional de Emprego e no Plano Tecnológico, tem como ponto de partida o
diagnóstico de que há insuficiente nível de qualificação da população,
estruturando-se em dois eixos principais: qualificação de jovens e qualificação
de adultos. Deste modo, a Europa, para poder competir no contexto da
globalização,
tem que competir com base no valor acrescentado, com base no conhecimento e com
base no capital humano. E, por isso, uma Europa baseada no conhecimento é uma
Europa que tem como factores críticos de formação a dimensão/formação, a
dimensão/qualificação, a dimensão/competência, a dimensão e capacidade de
incorporar qualificação e competência nos processos produtivos (Zorrinho, 2008:
29).
Partindo de um conceito amplo de formação, a aprendizagem ao longo da vida
responde às mudanças da "economia de conhecimento /serviços", no
dizer de Giddens (2007: 93), em função de novas divisões sociais e dos
critérios para a mobilidade dos trabalhadores, já que no contexto da sociedade
pós-industrial, as credenciais (certificados, diplomas, graus) são de
importância acrescida.
Com a aplicação de medidas para cumprir os objectivos estratégicos da Agenda de
Lisboa, sucessivamente adiados pela falta de investimentos significativos, as
oportunidades de formação ocorrem em contextos de mobilidade (programas
Sócrates e Leonardo da Vinci, por exemplo) e novas modalidades de aquisição e
domínio de conhecimento, em que se confrontam lógicas curriculares distintas,
com tendência para a "desvalorização do processo de aprendizagem em
detrimento do resultado [que] pode ser entendido como um sinal de influência da
ideologia da racionalização da "performatividade" na educação,
subvertendo princípios e finalidades educativas mais amplas" (Pires, 2007:
35).
Porém, e contrariamente ao que o conceito de aprendizagem ao longo da vida
implica, o Programa Novas Oportunidades visa "dotar os cidadãos das
competências essenciais à moderna economia do conhecimento" através de
duas estratégias fundamentais: "fazer do ensino profissionalizante de
nível secundário uma verdadeira e real opção"; "elevar a formação de
base dos activos"
18
pelo sistema de reconhecimento, validação e certificação de
competências".
O primeiro pilar enunciado concretiza-se nas modalidades Formação de Jovens e
Formação de Adultos, ambas organizadas numa lógica curricular muito marcada
pela "validação académica" (Rothes, 2007: 81), a que correspondem
cursos, por exemplo, Cursos de Educação e Formação (CEF) e Cursos Educação e
Formação de Adulto (EFA), que prolongam a formação de índole institucional.
Quando o sentido deveria ser o da valorização das aprendizagens não formais e
informais, o que se verifica, em Portugal, é o redimensionamento da formação
escolar, colocada ao serviço da educação de adultos e, sobretudo, dos
objectivos relativos à redução do insucesso e eliminação do abandono escolares.
Também se reconhece que tais modalidades devem fazer com que os portugueses, em
poucos anos, atinjam a percentagem europeia de pessoas que têm o ensino
secundário, considerado o patamar mínimo da formação.
Tanto os CEF como os EFA e os Cursos Profissionais, com a tendência para que a
dicotomia entre "ensino de prosseguimento de estudos" e "ensino
profissional" se equilibre em termos de ofertas curriculares no ensino
secundário, estão direccionados, na busca da complementaridade entre formação
escolar e formação profissional, para a qualificação de jovens e adultos na
reprodução do modelo escolar. Ao manter-se refém desta dicotomia, como
reconhece Canário (2007b: 169), o Programa Novas Oportunidades corresponde,
nestes cursos, a "um conjunto de ofertas de segunda oportunidade,
destinado fundamentalmente a colmatar problemas ligados quer ao abandono
precoce da escolarização, quer aos elevados números de insucesso escolar, quer
à ineficácia do chamado serviço ensino recorrente". E o que a investigação
educativa tem evidenciado é que "a reprodução do modelo escolar
tradicional para públicos de adultos — bem como para jovens com dificuldades, e
outros grupos afastados do sistema formal — não constitui um caminho adequado,
na medida em que reforça os factores de exclusão, quando se torna necessário
desenvolver no sistema estratégias mais inclusivas" (Pires, 2007: 36).
De índole individual, e com base nas competências ligadas à valorização das
aprendizagens adquiridas pela experiência, ganha terreno a rede de
Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, dentro de uma lógica
curricular mais dependente dos "critérios valorizados pelos
empregadores" (Rothes, 2007: 81) em função de competências-chave. Se o
reconhecimento de adquiridos tem uma longa tradição nos sistemas de educação e
formação, a sua pertinência, na primeira década do século XXI, deve-se pela
imposição do modelo das competências, que se traduz, para Canário (2006), na
responsabilização pessoal, na sociedade caracterizada pelo desemprego
estrutural e pela precariedade dos contratos de trabalho, em dinâmicas de
integração supranacional, no declínio do projecto político e social do Estado-
Providência.
Numa extensão das actividades dos Centros de Reconhecimento, Validação e
Certificação de Competências (CRVCC), numa primeira fase, aos ensinos básico e
secundário e, numa fase posterior, não muito longínqua, ao ensino superior, a
educação de adultos adopta um modelo curricular baseado em módulos de formação,
distribuídos por áreas básicas do conhecimento (Cidadania e Empregabilidade;
Tecnologias da Informação e Comunicação; Linguagem e Comunicação; Matemática
para a Vida), definidas em função de competências-chave da aprendizagem ao
longo da vida
19
. Com efeito, trata-se de aplicar à educação de adultos a concepção mais aberta
de currículo, longe do modelo prescritivo da educação escolar, pois o percurso
de escolarização é mínimo face às necessidades de formação ditadas pela
avaliação do trajecto individual, ou, noutras palavras, pela portfoliação
curricular. Mesmo assim, esta modalidade de formação não se liberta totalmente
do modelo escolar, estando muitos dos Centros sedeados em escolas com cursos
profissionais, para além de empresas, sindicatos e associações.
Das críticas que são feitas aos CRVCC, destacamos as ideias relativas à rasura
de estatísticas sobre a educação e formação e ao facilitismo. Sublinha Melo
(2007: 194) que "a educação de adultos não pode restringir-se a um
processo de certificação ("a um apagar de estatísticas
embaraçantes"), devem considerar-se os "CRVCC apenas como um dos
instrumentos de um subsistema coerentemente articulado".
Com o aproveitamento político de um sistema que pode tornar-se num grande
produtor de certificados (Fragoso, 2007) nos imaginários escolar e académico,
os CRVCC estão associados a facilitismo, principalmente se forem transformados
em meros locais de certificação
20
, ou em locais de escolarização acelerada, sem atenderem às especificidades da
educação não formal e informal, acentuando a sua pedagogização, como refere
Silva (2007: 302):
Esta tendência prescritiva e normativa da aprendizagem, que pretende elevá-la à
visibilidade social — por via de uma certificação que procura assegurar a
competitividade no mercado e a solução de problemas que, em grande medida, lhe
transcendem —, dissocia-a do sentido e do local da sua produção/apropriação, ao
mesmo tempo que procura fazer crer numa congruência entre desenvolvimento
individual e social.
Por isso, Melo (2007: 197) sustenta o argumento que "aplicar o método dos
CRVCC aos jovens do insucesso escolar é um erro crasso, pedagógico e político;
seria como emitir moeda falsa"
21
.
As estratégias de implementação do conceito de aprendizagem ao longo da vida
são muito diversas e todas elas pretendem que os portugueses não só concluam o
ensino secundário (aumentando, por isso, o ensino profissionalizante em
substituição do ensino tecnológico), como também completem os seus percursos
escolares interrompidos e possam ver as suas competências certificadas. Nas
modalidades de educação de jovens e adultos sobressai mais a certificação do
que a qualificação, sem que se registe uma melhoria curricular ao nível do
conhecimento e das metodologias, já que muitos destes cursos funcionam nos
padrões curriculares das escolas dos ensinos básico e secundário. Neste
sentido, Canário (2007b: 172) afirma que a educação e formação de adultos têm
vindo a ser marcadas por uma orientação triplamente redutora: privilegia a
formação de recursos humanos, assume modalidades escolarizadas e dirige-se à
capacitação individual. O sucesso deste programa depende da capacidade de
ultrapassar esta prática redutora.
2.2. Currículo Nacional
Aceitando-se como premissa que a educação responde a questões de conhecimento,
perspectivado nas suas diferentes dimensões, defender-se-á também que o
currículo, enquanto conteúdo de aprendizagem, estrutura e molda o sistema
educativo, definindo quer a selecção e organização do conhecimento quer os
itinerários de aprendizagem dos alunos em contextos de educação e formação
formal, não formal e informal.
A análise dos processos e práticas de educação e formação das últimas décadas,
em Portugal, conduz-nos ao reconhecimento de que o currículo tem uma presença
significativa nas políticas educacionais, sobretudo pelas dimensões nacional e
internacional que as reformas curriculares têm assumido no âmbito das reformas
educativas.
Na discussão e implementação das reformas educativas portuguesas, o currículo
tem adquirido uma centralidade largamente valorizada, ainda que muitas vezes
criticada porque secundariza outros pontos críticos da reforma. Os dois
principais momentos de reforma educativa são os de 1947 (em pleno período do
Estado Novo) e 1986 (coincidente com a publicação da Lei de Bases do Sistema
Educativo). Tanto num como noutro, a discussão das questões curriculares
tornou-se notória
22
, tendo adquirido, inclusive, uma importância acrescida e que resultaria, nos
finais do século, na reforma da "gestão flexível do currículo" (1997
e 1998).
A "curricularização" das reformas educativas traduz o lado menos
positivo do currículo, observando-se que a mudança corresponde tão-só a
alterações de disciplinas e cargas horárias na organização curricular, à
revisão de normativos ligados à avaliação, à gestão das escolas, às faltas dos
alunos e pouco mais, ficando de lado as mudanças estratégicas e inovadoras.
Esta tendência para a "curricularização" das reformas educativas
ganha mais relevância com os processos e práticas de educação europeia,
orientados para a valorização do conhecimento e para a aquisição de
competências básicas e estruturantes, num contexto de aprendizagem ao longo da
vida. A ideia da europeização do currículo (Pacheco & Vieira, 2006) é algo
que passa da mera utopia para a realidade educacional, num processo gradual de
convergência de políticas alicerçadas em textos fundacionais, que impõem
conteúdos nos ensinos básico e secundários e ciclos de formação no ensino
superior.
Por força da sua pertença à União Europeia, e por força da sua localização
semi-periférica, estão a ocorrer, em Portugal, outras mudanças, entendidas como
subtis, mas cujo efeito será mais efectivo do que uma reforma. É o que se passa
com a diversidade de ofertas curriculares nos ensinos básico e secundário, em
função do fomento do ensino profissionalizante e da certificação de
competências, com vista à melhoria da qualificação dos portugueses. Por
conseguinte, os processos e práticas de educação e formação estão, cada vez
mais, integradas num ciclo de mandato, cujo eixo de influência se situa no
quadro comum das políticas comuns da União Europeia. O novo princípio de
integração supra-estatal, mais rápido na política do que na teoria, segundo
Bauman (1999: 71), obedece a um cenário global em que a competição se dá
"entre grupos de Estados e não entre os próprios Estados".
No contexto das políticas globalizadas, as reformas curriculares dos ensinos
básico e secundário têm focalizado o reforço do currículo nacional e o controlo
dos resultados de aprendizagem. Tal controlo curricular insere-se numa
regulação conceitual, a montante, ao nível dos organismos transnacionais e
supranacionais, e numa regulação normativa, a jusante, no plano da intervenção
de cada Estado.
Por mais uniformização que possa implicar, a globalização não significa o fim
do currículo nacional, pelo contrário, eleva-o a categoria principal, sobretudo
se funcionar como instrumento de formação em literacias estruturantes, dentro
de um processo de autonomia que é recontextualizado em resposta a novos
desafios económicos e políticos
23
.
O currículo nacional faz parte das reformas educativas com lógicas diferentes:
por exemplo, em Inglaterra e nos Estados Unidos, é legitimado pelo
neoconservadorismo cultural
24
, caracterizado pela restauração de valores tradicionais e pela defesa de
relações autoritárias nas escolas e pela ênfase no conhecimento mais
conservador; em Portugal e no Brasil, é legitimado pela ideologia de mercado,
visível não pelas formas de privatização da escola, mas pela instauração de uma
cultura curricular de prestação de contas. Trata-se, neste último exemplo, de
conferir uma pretensa autonomia às escolas, tornando-as mais competitivas e
exigindo-se-lhes uma acção inscrita num projecto educativo ou num projecto
político-pedagógico.
Se os resultados sobre o projecto educativo nos ensinos básico e secundário, em
Portugal, são conhecidos, verificando-se a tendência para a sua ritualização
(Pereira, 2006) e normatividade (Roldão, 2005), o projecto educativo é uma
obrigação escolar que em nada altera as práticas pedagógicas.
Ao ligar-se à problemática do conhecimento, o currículo nacional é olhado pelo
prisma das políticas de prestação de contas, como um capital informacional que
obedece ao princípio, enunciado por Lyotard (2006[1979]: 81-83), da optimização
das performances, isto é, a busca da melhor relação entre input/output e que
permite a abertura de um vasto mercado de competências operacionais. Admite-se,
assim, que o conhecimento tem um poder significativo, mas desde que seja
circunscrito à resolução de problemas e ao saber prático, com expressão no
domínio das competências procedimentais, entendidas em lógicas de
responsabilização individual (Canário, 2005) e de empresarialização do
conhecimento (Alves, Estêvão & Morgado, 2005).
Não é sem sentido que a linguagem das competências
25
se transforme num elemento útil para a definição de um padrão curricular,
necessitando a economia mundial de mercado de uma escola bem estruturada,
através de saberes básicos e úteis que respondam de modo eficaz ao que deve ser
a formação adequada dos cidadãos. De acordo com tal perspectiva, "procura-
se formar mão-de-obra tecnificada, abundante e barata, e habilitar ou treinar o
homo faber em detrimento do homem integral, ideado pela paidéia moderna.
Semelhante às fábricas que produzem mercadorias, o sistema educativo deve
produzir outra mercadoria designada capital humano (Gambôa, 2003: 85).
Para o cumprimento do currículo nacional, a regulação política impõe a
terminologia de competências. Fala-se, assim, de competências metodológicas
(transversais) e de competências funcionais (operacionais, comportamentais).
Com efeito, no contexto da educação para a cidadania, o percurso de formação do
aluno é definido pelas competências essenciais, ou seja, competências gerais da
educação básica, que definem o perfil à saída do ensino básico, e competências
específicas, correspondentes às situações de aprendizagem previstas para as
áreas/disciplinas; no segundo caso, o brasileiro, os parâmetros curriculares
nacionais, que correspondem basicamente a programas, são apresentados pelo
Ministério da Educação como uma referência para a transformação dos objectivos,
conteúdos e didáctica dos ensinos fundamental e médio
26
.
Uma outra realidade curricular diz respeito à transversalidade
27
, apresentada como um complemento, e não no sentido de alternativa, às áreas
curriculares ditas tradicionais, com expressão escolar em temas ligados às
questões sociais, incluindo as diversas educações (sexual, para a saúde,
ambiental, etc.). Quer a transversalidade quer a interdisciplinaridade, quando
introduzidas de forma complementar na organização curricular, podem significar
o "envernizamento do conhecimento", como sugere Dalarosa (2003:
207).
Neste contexto de controlo curricular, o conhecimento é reduzido a uma
perspectiva mais pragmática, com a valorização de saberes de determinadas
disciplinas, a que não é indiferente o seu valor simbólico, e com o recurso a
orientações tecnicistas, incutindo-se nos alunos, pais e professores a visão
utilitária da escola.
Além do currículo nacional, a valorização dos resultados escolares é uma faceta
fundamental das reformas curriculares, mormente pelo significado da avaliação
externa (por exemplo, os exames nacionais, introduzidos em Portugal no sistema
educativo no final do ensino secundário e básico em 1994 e 2005,
respectivamente), da avaliação aferida, iniciada no ensino básico em 2000, do
reforço da avaliação sumativa e da ausência da avaliação formativa, ainda que
esta modalidade seja contemplada, no caso português, como principal modalidade
de avaliação em todo o ensino básico. Faz ainda parte desta faceta, a avaliação
das escolas e dos professores, com tendência para que o professor seja
"julgado" em função do insucesso escolar dos alunos, pelo que o seu
salário pode começar a ser indexado aos resultados obtidos pelos seus alunos
nas provas nacionais e à opinião das famílias.
A centralidade do currículo nacional e da cultura de avaliação sumativa produz
dois efeitos escolares. Sobre o primeiro, o controlo é transferido dos
objectivos para os resultados. A cultura de prestação de contas legitima a
concepção de políticas curriculares e dos seus mecanismos de implementação nas
escolas, dado que a educação é perspectivada como um valor acrescentado. Os
indicadores do valor — quantitativo — da escola são mais os processos externos
(exames, avaliação aferida, rankings) e comparativos (por exemplo, o estudo
PISA) do que os processos internos (avaliação formativa).
Quanto ao segundo efeito, a descentralização adopta como pressupostos a
autonomia das escolas e a responsabilização dos actores, tornando-os cúmplices
das políticas dimanadas da Administração central. A uma maior autonomia das
escolas não corresponde per se uma maior autonomia curricular, pois o currículo
nacional define não só o que (planos curriculares, disciplinas, programas) e
quando ensinar (número de tempos lectivos por disciplina), bem como a
metodologia de ensino (orientações curriculares e metodológicas, incluindo
recursos e materiais) e as regras de avaliação. A escola fica com competências
essencialmente pedagógicas, sobretudo as que estão ligadas à organização das
situações de aprendizagem. Trata-se de outorgar às escolas competências
funcionais, dentro do conceito de escola como organização, ou escola
operacional
28
, estando estas obrigadas a elaborar um projecto educativo, ou político
pedagógico.
Ao responsabilizar os professores pelos resultados escolares, a Administração
central estabelece uma relação directa com as escolas, com tendência para a
celebração de contratos de autonomia, diminuindo tanto o papel dos sindicatos,
quanto os poderes regionais e incentivando a competitividade educacional
através dos recursos financeiros. Deste modo, as escolas são convidadas a
apresentar propostas para a redução do insucesso escolar e os municípios são
chamados a desempenhar um papel mais activo, especificamente ao nível da
organização dos conselhos municipais de educação
29
e da leccionação de componentes extracurriculares, nas quais se integram,
digamos que erradamente, as actividades de enriquecimento curricular de
vertente disciplinar.
A autonomia das escolas concretiza-se, por conseguinte, no quadro do reforço do
municipalismo, com a Administração central a transferir para as Câmaras
Municipais parte das suas competências curriculares, na tentativa de criar
pequenas redes auto-reguladas pelos resultados, na lógica do que Brinhosa
(2003: 53) designa "prefeiturização dos serviços públicos", para o
Brasil, e do que poderemos designar, para Portugal, da municipalização da
educação e formação.
Para além dos efeitos do currículo nacional e dos resultados, as reformas
curriculares, na geografia educativa da União Europeia, traduzem-se em registos
de formação centrados na aquisição de competências, ligadas às Ciências, à
Matemática, ao Inglês e às Tecnologias de Informação e Comunicação, com vista à
edificação da Europa do conhecimento. A língua é um factor preponderante na
cimentação de uma cultura comum e o Inglês transforma-se, na União Europeia, na
segunda primeira língua:
No entanto — enquanto houver vontade política para isso — nada depõe a fortiori
contra a possibilidade de se criar o contexto comunicacional politicamente
necessário em uma Europa que cresce unida (económica, social e
administrativamente) e na qual se dispõe de uma base cultural comum e uma
experiência histórica conjunta de bem-sucedida superação do nacionalismo. Na
verdade, para que esse contexto de comunicação se estabeleça parece faltar
apenas um desencadeamento por via jurídica constitucional. Também a exigência
de uma língua comum — inglês como second first language — poderia deixar de
representar um empecilho intransponível, haja vista a situação actual da
educação escolar formal nos países europeus. Identidade europeia não pode
significar senão unidade na pluralidade nacional (Habermas, 2002: 184).
Nesta nova ordem curricular, o mundo da escola tem de estar ligado ao mundo do
trabalho, alfa e ómega da contextualização das competências, pois só desse modo
é que se torna possível falar, conjuntamente, de políticas de educação e
formação — em que a educação ganha uma parceria que lhe confere razão de ser em
termos de uma educação vocacional e profissionalizante, na lógica de uma
aprendizagem ao longo da vida, de matriz qualificante, que ultrapassa a noção
de educação permanente — numa ligação que justifica o conhecimento dos
contextos de trabalho. Deste modo, educar será qualificar, com os sentidos que
vai adquirindo à medida que o conhecimento se torna mais funcional e
operacional para o aluno.
Não é por mero acaso que as recentes reformas do currículo, por vezes através
da aprovação de normativos avulso, têm focalizado não só disciplinas que
conferem um conhecimento pretensamente mais objectivo (e a Matemática será o
conhecimento-chave de todas as mudanças tecnocráticas), mas também áreas que
potencializam a formação, caso do Inglês, perspectivada como língua franca
30
, e das Tecnologias de Informação e Comunicação.
De modo mais concreto, o controlo curricular administrativo em Portugal
acentua-se no ensino básico, mormente nos primeiros quatro anos de
escolaridade. A gestão do currículo, que estava definida no cômputo geral de 25
horas semanais de leccionação, deixando-se a iniciativa aos professores para
decidir sobre o tempo atribuído às quatro áreas curriculares (Matemática,
Língua Portuguesa, Estudo do Meio, Expressões), é agora regulada por normativo,
impondo tempos iguais para todos os alunos aprenderem os conteúdos dessas
áreas. Do mesmo modo se acentuam as orientações curriculares para a educação
pré-escolar e para as áreas curriculares não disciplinares (Área de Projecto;
Estudo Acompanhado; Formação Cívica) e se impõem exames nacionais no fim do
ensino básico (9º ano de escolaridade) a Língua Portuguesa e a Matemática. A
avaliação aferida, definida politicamente como instrumento de avaliação de
escolas e professores, é utilizada nos anos terminais dos ciclos do ensino
básico (4º, 6º e 9º anos de escolaridade).
Além disso, a Administração central concebe a escola como local de
implementação de políticas e retoma o discurso centrado nos resultados
escolares, responsabilizando os professores pelos elevados índices de insucesso
e abandono que o sistema educativo ainda regista. A formação contínua de
docentes está priorizada em áreas curriculares que registam taxas de maior
insucesso (Matemática, Ciências, Língua Portuguesa), alimentando-se a ideia que
os professores valem mais pelos seus conhecimentos da área de docência do que
pelos seus conhecimentos pedagógicos. O conhecimento pedagógico é algo
secundário nas políticas de formação contínua, mesmo que seja advogado um
modelo de formação centrado nas práticas e na escola. O caso português é
revelador da fragilidade de uma formação contínua, organizada em torno dos
centros de associações de escolas, com ampla autonomia na elaboração dos
respectivos planos de formação, mas com as áreas prioritárias a serem
determinadas pela Administração central. A autonomia dos centros é
essencialmente de gestão da formação, sendo os seus conteúdos e modalidades
reguladas administrativamente.
Porque a homogeneização faz parte do jogo da globalização e porque a escola
contém na sua organização elementos de uniformização, de que modo a educação
escolar pode ser um espaço de construção de identidades em termos de projectos
de formação, que incluam tanto a especificidade dos contextos escolares, quanto
as esferas social e privada dos alunos?
Por mais uniformização que exista — e a escola tem nesse aspecto raízes muito
profundas, pois as regras formais que a legitimam são definidas na base de
princípios e modelos didácticos vinculadores de práticas recontextualizantes
31
— o controlo não pode ser estabelecido numa vertente totalmente coerciva nem
numa lógica de negação de uma relação pedagógica que torna impossível que o
currículo seja uma "conversação complexa" (Pinar, 2007).
Apesar da existência de outras formas de organização curricular, caso da
organização por projectos e da organização por competências, a escola continua
a ter uma matriz conteúdal, centrada nas disciplinas, na autoridade do
professor e na avaliação sumativa da aprendizagem. A visibilidade de tais
formas de organização curricular nas práticas curriculares das escolas e dos
professores é algo que os pesquisadores necessitam de eleger como objecto de
análise na procura de mudanças significativas ou no registo de mudanças
meramente administrativas.
Tais efeitos das reformas curriculares nas políticas educativas servem de
fundamento ao seguinte argumento: a mudança nas escolas em termos de
organização do currículo contribui mais para o reforço da autoridade curricular
da Administração central do que para o reforço da autonomia curricular das
escolas e da autonomia profissional dos professores.
Tanto a escola como os professores, no quadro de regulação e assunção de
competências curriculares, são secundarizados relativamente ao poder do Estado
na concepção e implementação das políticas curriculares, ainda que seja
reconhecido, pelo menos ao nível das regras informais existentes no interior
das escolas e das salas de aula, o que faz com que as escolas construam e
adoptem gramáticas de acção que em muito alteram as reformas curriculares, o
poder localizante dos professores
32
, ainda que prevaleça uma discursividade descentralizante.
A centralidade decisional das políticas curriculares não se resume jamais às
medidas específicas de cada governo, principalmente na geografia política da
União Europeia, encontrando-se a sua origem em organismos transnacionais e
supranacionais. Por conseguinte, a primeira regulação é conceitual e não
normativa. Tais organismos "globalizados" e "globalizantes"
são o rosto macropolítico de decisões curriculares, agindo como "centros
de produção de significado" (Bauman, 1999), cujas faces se escondem atrás
de máscaras, protegidas por conceitos económicos.
Estamos em presença de textos macropolíticos, na linguagem de Ball (1997), que
ultrapassam o contexto de influência, que seria, no modelo que propõe, a
primeira etapa do ciclo de produção das políticas educativas33. Compete aos
Estados-membros da União Europeia, enfraquecidos nos seus horizontes de
inovação educativa, assimilar a regulação conceitual e normativizar as
orientações, de modo que cada sistema educativo seja uma peça de um puzzle que
encaixa perfeitamente nas mudanças que se preconizam para a escola, para o
currículo e para a formação de professores.
Neste sentido, a globalização não se resume a um simples programa estratégico
de mudança que se situa acima dos Estados, mas a "um processo social que
atravessa o Estado-nação, redefinindo-o inteiramente" (Ortiz, 2006b: 85),
ou seja, o Estado-nação como arcabouço para a organização e a administração da
política continua a existir como lugar de poder, ainda que parte substantiva
desse poder deixe de ser articulado no seu interior em processos que conduzem à
sua debilitação perante mecanismos globais (Ortiz, 2006b: 85 e 101).
Mais uma vez, os processos de reforma escolar conduzem à retylerização do
currículo, instituindo-se padrões de resultados em estreita relação com o
reforço do currículo nacional e com a valorização da avaliação externa e
sumativa, com extensão aos processos de educação e formação não formal e
informal, sobretudo quando são incluídos em lógicas de certificação e de
escolarização.
* Este texto foi escrito na qualidade de bolsista CAPES/Brasil, na
Universidade Federal de Santa Catarina e no âmbito do Projecto de Investigação
“Conhecimento, Aprendizagem e Avaliação em Contextos Curriculares”, do Centro
de Investigação em Educação (CIEd), da Universidade do Minho.
Notas
1
Segundo Michel Mafessoli (2004: 22), o retorno ao local é uma das premissas
da pós-modernidade, que recupera termos como "espaço" e
"território" e remete para um sentimento reforçado de inserção, de
compartilhamento emocional.
2
Na interpretação de Bernard Charlot (2007: 133), "na área da educação,
o lugar mais importante para os países ricos é a OCDE. É o thinking tank, como
dizem os norte-americanos, isto é o reservatório para ideias. Saíram da OCDE, a
"reforma da matemática moderna", a ideia e a própria expressão de
"qualidade da educação", a ideia de "economia do saber", a
de "formação ao longo da vida". A OCDE é o centro do pensamento
neoliberal no que tange à educação. Não é de admirar-se disso quando se sabe
que foi explicitamente criada para promover a economia de mercado".
3
Para Alberto Amaral (2008: 48), "no novo método de coordenação, em vez
de leis comunitárias, de âmbito europeu, passou a pedir-se a cada Estado para
implementar leis de âmbito nacional para atingir os objectivos definidos a
nível central, o que se torna complexo porque cada governo tem a sua agenda
nacional".
4
Desenvolvemos a lógica de mercado como fundamentação das políticas
educativas e curriculares no livro "Políticas curriculares. Referenciais
para análise", publicado em 2003, pela Art Med.
5
"Para uma reflexão sobre os Estudos Curriculares: políticas, teorias e
práticas" (III Colóquio Luso-brasileiro sobre Questões Curriculares,
Braga, 2006); "Globalização e identidades educativas. Rupturas e
incertezas" (Revista da Universidade Lusófona, 2006, com Nancy
Pereira)."Globalização e identidade. Uma discussão escolar e curricular
(Cadernos de Pesquisa, 2007, com Nancy Pereira); "Globalization,
curriculum and assessment" (The Second World Curriculum Studies
Conference, Finlândia, 2006, com José Carlos Morgado e Maria Palmira Alves).
6
Para Vera Candau & Adélia Koff (2006: 487-488), na recolha de
depoimentos de académicos sobre a Didáctica, permanece no imaginário docente a
homogeneização como factor de facilitação do trabalho pedagógico, pois a
homogeneização das turmas é cultural e secular.
7
Globalização e mundialização são descritos por Renato Ortiz a partir das
categorias "economia" e "cultura", respectivamente, sendo
que a mundialização é um processo externo aos países que a adoptam e a
globalização é um processo interno, baseado em interesses económicos e
políticos.
8
Cf. Relatório Objectivos futuros concretos dos sistemas de educação e
formação, aprovado no Conselho Europeu de Estocolmo, em 2001.
9
Cf. Relatório Objectivos futuros concretos dos sistemas de educação e
formação, p. 4.
10
Para Anthony Giddens (2007: 220), "As universidades têm de preservar a
sua autonomia em relação ao Estado numa altura em que os governos querem
transformá-las numa vantagem económica nacional. Uma forma de o fazer é
reafirmar os valores que as universidades representam. A expansão do ensino
superior não se resume a responder às exigências da nova economia. Também
prepara os cidadãos para um mundo de diversidade e mudança. As disciplinas não-
vocacionais continuam a ocupar a sua parte justa no currículo; e a busca
desinteressada do conhecimento deve ser a função primária da universidade
centrada na investigação. Os problemas enfrentados pelos EUA mostram que não é
fácil resolver estas questões".
11
Cf. Aprendizagem ao longo da vida ao serviço do conhecimento, da criatividade
e da inovação. Projecto de relatório do Conselho e da Comissão sobre a
aplicação do programa de trabalho "Educação e Formação para 2010" [Em
linha]. [Acedido em 10 de Mraço de 2008, diponível em http://eur-lex.europa.eu/
LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2007:0703:FIN:PT:PDF].
12
Na Revista Perspectiva, volume 24, n. 1, de 2006, encontra-se um dossiê
relacionado com a "Globalização e ensino superior — a discussão de
Bolonha", com textos de Maria Célia Moraes, José Carlos Morgado e José
Brites Ferreira. De igual modo, veja-se o texto "Políticas Educativas para
o Ensino Superior na União Europeia: um olhar do lado português",
publicado na Revista Educação & Sociedade, volume 82 , nº 24, de 2003, da
autoria de José Augusto Pacheco. Um outro dossiê sobre o Processo de Bolonha
está publicado na Revista de Educação, volume 14, nº 1, de 2006.
13
Declaração conjunta dos Ministros da Educação europeus, reunidos, em Bolonha,
a 19 de Junho de 1999. O documento estruturante é a Declaração de Bolonha que,
para justificar o objectivo principal, enumera os argumentos da mobilidade,
empregabilidade e competitividade. Só assim é que será possível construir não
só um espaço de formação unificado pela inteligibilidade e comparabilidade dos
graus nos sistemas europeus de ensino superior, mas também uma Europa do
conhecimento, "factor indiscutível para o crescimento humano e social,
sendo componente indispensável para a consolidação e para o enriquecimento da
cidadania europeia, capaz de fornecer aos seus cidadãos as necessárias
competências para encarar os desafios do novo milénio, bem como desenvolver a
consciência de valores partilhados e relativos a um espaço comum, social e
cultural". A Declaração de Bolonha é um marco preponderante na reforma do
ensino superior, pautada por um conjunto de orientações determinado por um
organismo supranacional e baseada tanto na Declaração da Sorbonne, de 25 de
Maio de 1988, sublinhando o papel fundamental das universidades no
desenvolvimento das dimensões culturais europeias, quanto na Magna Charta
Universitatum, assinada por reitores de universidades europeias, em 18 de
Setembro de 1988, com a finalidade de reforçar a missão da universidade, a sua
independência moral e científica face aos poderes político e económico. Para
que a Europa consiga adquirir um grau de atracção mundial semelhante às suas
extraordinárias tradições cultural e científica, a Declaração de Bolonha traça
seis objectivos de promoção do sistema europeu do ensino superior em todo o
mundo: Adopção de um sistema de graus de acessível leitura e comparação;
adopção de um sistema essencialmente baseado em dois ciclos principais, o
graduado e o pós-graduado; estabelecimento de um sistema de créditos — como,
por exemplo, no sistema ECTS; promoção da mobilidade, ultrapassando obstáculos
ao efectivo exercício da livre mobilidade; promoção da cooperação europeia na
avaliação da qualidade; promoção das necessárias dimensões europeias do ensino
superior.
14
Compromisso de cada Estado-membro da União Europeia para implementar até 2010
as directrizes da Declaração de Bolonha. Em Portugal, o Processo de Bolonha é
consagrado pela Lei n. 49/2005, de 30 de Agosto, que altera a Lei de Bases do
Sistema Educativo, e pelo Decreto-lei n. 42/2005, de 22 de Fevereiro.
15
Poder-se-á dizer que Bolonha traz de volta um dos princípios fundamentais do
ensino dos Jesuítas: relação do tempo lectivo do professor com o tempo de
estudo do aluno.
16
cf. Espaço europeu de aprendizagem ao longo da vida [Em linha]. [Acedido em 4
de Abril de 2008, disponível em http://europa.eu/scadplus/ leg/pt/cha/
c11054.htm].
17
Cf. http://europa.eu/scadplus/leg/fr/cha/c11047.htm [acesso 4 de Abril de
2008].
18
Cf. Novas Oportunidades. Aprender compensa. Guia de acesso ao ensino
secundário — [Em linha] [Acedido em 8 de Abril de 2008, disponível em http://
www.novasoportunidades.gov.pt/NovasOportunidades.aspx].
19
De acordo com o Programa Aprendizagem ao Longo da Vida, da União Europeia
(cf. http://europa.eu/scadplus/leg/en/cha/c11090.htm — acedido em 16 de Abril
de 2008), as competências-chave são estas: comunicação em língua materna;
comunicação em línguas estrangeiras; competência matemática e competências
básicas em ciência e tecnologia; competência digital; aprender a aprender;
competências sociais e cívicas; sentido de iniciativa e espírito de empresa;
consciência e expressão culturais.
20
Para António Fragoso (2007: 208), "Portugal não poderá contar com uma
rede que sem dúvida aumentará o número actual de certificados, mas arrisca-se a
deitar por terra o capital de credibilidade que o sistema possuía e a não obter
para os seus cidadãos outras vantagens para além da mera certificação. Neste
caso, não estamos a melhorar a situação dos adultos face à educação e à
formação, mas apenas a conceder-lhes um certificado, com reflexos apenas
estatísticos".
21
Alberto Melo diz mais sobre este argumento: "O RVCC não é para todos,
mas só para aquela minoria de adultos que realizou de facto uma autoformação
que lhe permita hoje aspirar a uma equivalência a graus escolares, ou imediata
ou após uma curta formação complementar (por isso, se limitou a duração desta a
25 horas). Com efeito, o RVCC não foi concebido nem para jovens que abandonaram
há pouco e precocemente o sistema escolar (a idade mínima de 18 anos é
descabida, devendo ser prolongada para os 25 ou prova de 5 anos de experiência
laboral/social contínua), nem para adultos que necessitam ainda de uma intensa
aprendizagem nas competências-chave tal como se encontram descritas no
respectivo Referencial".
22
Para o estudo das mudanças curriculares nos ensinos básico e secundário, veja-
se Decreto-lei 286/89, de 19 de Agosto; Decreto-lei n. 6/2001, de 18 de Agosto;
Decreto-lei n. 74/2004, de 24 de Março (alterado, em parte, pelo Decreto-lei n.
272/2007, de 26 de Julho).
23
Para Renato Ortiz (2006b: 50), "a globalização não implica o fim do
Estado-Nação", produtor do currículo nacional, "o que se tem é a
crise de uma instituição que já não possui a autonomia e a independência
desfrutada anteriormente (...) o Estado-nação, enquanto unidade política e
administrativa, se mantém, com seus dilemas e contradições no seu
interior".
24
De acordo com Louise Poulson (2005: 15), "a ideologia dominante
subjacente à introdução de um currículo nacional obrigatório era a do
conservadorismo cultural, caracterizado pelo desejo de restaurar a tradição e
práticas a ela associadas, pela defesa de relações autoritárias entre alunos e
professores, pela concepção do ensino e da aprendizagem como transmissão — de
um perito para um aprendiz — de um corpo de conhecimentos fixo e relativamente
imutável".
25
Para a discussão da pedagogia por competências como prolongamento da
pedagogia por objectivos, e é essa a tese que defendemos, veja-se José Augusto
Pacheco (2005b).
26
Para Adair Dalarosa (2003: 207), "pode-se afirmar que a proposta contida
nos Parâmetros Curriculares Nacionais caracteriza-se num modelo tecnicista de
educação, despolitizador e subjetivista, em que se toma a educação como algo
descolado ou acima da realidade social, em que os problemas educacionais nem
sempre são compreendidos como resultantes dos problemas da sociedade".
27
A transversalidade exigiria para a estruturação do conhecimento um código de
organização relacional(cf. Pacheco, 2002) e a seguinte questão(cf. Macedo,
1999: 56): "se os temas transversais expressam as temáticas relevantes
para a formação do aluno, por que não são eles os princípios estruturadores do
currículo? Por que não fazer deles o núcleo central da estruturação curricular
e inserir "transversalmente" as diferentes áreas do
conhecimento?".
28
Adopta-se o conceito de Marilena Chauí (1999), quando fala de universidade
operacional, vinculada a índices de produtividade.
29
Órgão de natureza municipal, cf. Decreto-lei n. 7/2003, que é responsável pela
coordenação das políticas educativas, tendo a competência, entre outras, de
analisar os resultados dos alunos.
30
Renato Ortiz (2006a) aborda o inglês como língua franca, discutindo as razões
para a sua supremacia nos contextos de globalização e mundialização. No dizer
de David Graddol (2006), a posição de supremacia do Inglês deve ser vista de
dois lados diferentes. Do lado económico e financeiro, reconhece-se o Inglês no
centro de muitos mecanismos de decisão global, surgindo, inclusive, na sua nova
forma global, isto é, nos diferentes "englishs" que resultam da sua
apropriação por pessoas geograficamente identificadas que lhe a usam a partir
do seu modo de falar; do lado da Web, regista-se o contínuo declínio da língua
de Shakespeare. Em 2005, os dados revelam esta utilização: Inglês — 32%; Chinês
— 13%; Japonês — 8%; Espanhol — 6%; Alemão — 6%; Francês — 4%; Português — 3%.
No entanto, e seguindo-se o documento elaborado para o British Council, o
declínio do Inglês não se observará, dado que a sua adopção é encorajada pela
classe média que habita cada vez mais nos espaços urbanos. Em percentagens
estimadas, a economia global por Línguas, em 2010, será a seguinte: Inglês —
28,2%; Chinês — 22,8%; Japonês — 5,6%; Espanhol — 5,2%; Alemão — 4,9%; Francês
— 4,2%; Português — 3,4% (…).
Para Anthony Giddens (2007: 257), na União Europeia, e para que haja uma
esfera pública com uma forte identidade, "deve haver um acordo sobre uma
língua comum que todos os cidadãos sejam incentivados a aprender. Esta língua
tem de ser o inglês. O inglês já não é a língua de nações particulares. É uma
língua global".
31
Por práticas recontextualizantes poderemos entender, seguindo-se o conceito de
recontextualização, proposto por Basil Bernstein, modos de agir dos professores
que, embora tidas como autónomas, são controladas administrativamente pelos
resultados. A avaliação sumativa externa (exames nacionais) e a avaliação
aferida (com a finalidade de medir a prossecução dos objectivos curriculares),
bem como a elaboração de projectos curriculares de escola e de turma são alguns
dos seus indicadores. A elaboração de um projecto curricular é uma prática
recontextualizada quando o seu papel é o de substituir a programação da escola
ou planificação dos professores, alterando-se a designação, mas não as
práticas.
32 Na introdução ao livro de Ivor Goodson (2001), Joe Kincheloe fala do poder
imperializante, para descrever formas fortes de poder, exercidas do topo para a
base, e do poder localizante, para referir as formas fracas de poder,
desenvolvidas a partir da base.
33
Para Stephen Ball (1997), o ciclo de produção das políticas educativas
abarca, numa forma não hierárquica, as seguintes etapas: contexto de
influência; contexto de produção do texto político; contexto da prática;
contexto dos resultados; contexto da estratégia política.