Avaliação da competência comunicativa oral no Ensino Básico: Um estudo
exploratório
RÉSUMÉ
La compétence communicative orale englobe les habiletés verbales, para-verbales
et non-verbales utilisées pour communiquer en différents contextes. Cette étude
soutient l'emploi systématique, en salle de classe, d'une grille d'observation
nécessaire à la formation de lecteurs fluents et compétents. En thermes
méthodologiques, 82 élèves de 5ème (N=61) et de 3ème (N=61) ont été observés à
l'aide de cette Grille de Registre d'Observation et d'Évaluation de la
Compétence Communicative Orale (Monteiro, 2011a), qui présente trois
composantes de la communication: le verbal, le para-verbal et le non-verbal. En
ce qui concerne la fiabilité de la mesure, les résultats démontrent que les
notes attribuées par les professeurs et l'investigatrice pour la compétence
communicative orale globale et pour les dextérités de communications verbales
et para-verbales sont très proches, ce qui révèle une conciliation de
jugements. Bien que les élèves de 3ème aient obtenus des résultats légèrement
supérieurs aux élèves de 5ème, la compétence communicative orale ne diffère pas
significativement entre les deux groupes (U<995,000, p>0,058). Cependant, les
élèves ayant un meilleur rendement scolaire à la Langue Portugaise montrent une
compétence communicative orale supérieure [rs=0,559 (p<0,001)].
Mots-clé: Compétence communicative orale; Grille de registre d'observation et
évaluation; Langue Portugaise; Second Degré
Competência comunicativa oral
O ato de comunicar é uma competência fundamental. No entanto, será que todas as
pessoas estão capazes de comunicar de forma eficaz, independentemente do
contexto em que ocorra a interação verbal oral? Se para saber comunicar
bastasse saber falar, a resposta seria positiva, mas, na verdade, o ato de
comunicar oralmente é um processo muito mais complexo, que se alicerça na fala,
mas não se reduz à mesma, pois exige a aquisição e o aperfeiçoamento de
determinadas habilidades inerentes à competência comunicativa oral.
O conceito de competência, neste domínio da comunicação, surgiu pela mão do
fundador da gramática generativa, Chomsky (1957), para se referir à aptidão que
os falantes de uma língua têm para produzir e compreender um número ilimitado
de frases inéditas. O conceito de competência contrapõe-se à conceção
generativista clássica que a define como o conhecimento inato do sistema da
língua de que um falante dispõe, deixando de ser estabelecido no plano abstrato
do sistema para o ser no plano da performance, do "uso efectivo da língua em
situação" (Chomsky, 1965), ou seja, como uma competência comunicativa (Hymes,
1972, 1982). Deste modo, torna-se condição sine qua non conhecer as regras da
comunicação para usar a língua de forma correta nas diferentes situações com
que os indivíduos se deparam diariamente, sendo necessário dominar a
competência pragmática que diz respeito às regras que permitem interpretar um
enunciado inserido num contexto específico. A atenção dispensada ao "poder
transformador da palavra na organização da vida social" (Amor, 2003, p. 16)
explica o seu fácil encontro com a pragmática que releva da conceção da língua
e discurso em situação de uso, na qual o locutor, o alocutário e o contexto são
as categorias principais que determinam a interpretação linguística (Levinson,
1983).
A etnografia da comunicação, corrente originária da antropologia americana que
se debruçou sobre a análise do discurso, introduziu a noção de competência
comunicativa, associada à capacidade que cada indivíduo possui em dominar as
regras do discurso, nomeadamente a forma como falamos em determinada situação,
como gerimos a palavra e selecionamos os gestos adequados ao nosso discurso e
ao coenunciador (Maingueneau, 1996). Tratando-se de uma medida que depende do
contexto em que a interação ocorre e que determina o grau de sucesso
relativamente aos objetivos estabelecidos (Mantha & Sivaramakrishna, 2006),
a competência comunicativa permite a interação com os outros, com precisão,
clareza, coerência, eficácia e adequação. Os mesmos autores referem que para
atingir o escopo da eficácia comunicativa o locutor tem de ver reunidos
diversos critérios, nomeadamente: (1) possuir a habilidade para se adequar ao
contexto situacional e ser capaz de mudar o comportamento face à alteração dos
objetivos traçados para a interação; (2) ser capaz de se envolver na conversa,
gerindo-a; (3) possuir uma habilidade considerada fundamental no que toca à
competência de interação e comunicação, a empatia, demonstrando compreender os
outros e mostrando-se disponível para ajudar; (4) revelar eficácia, aqui
entendida como o nível de sucesso atingido pelos interlocutores na sua
interação. Por conseguinte, deve ter-se em conta, para a observação das
interações, não só os aspetos verbais e/ou paraverbais (pausas, suspiros,
intensidade articulatória), como também os não-verbais da comunicação
(atitudes, gestos, olhar) (Mantha & Sivaramakrishna, 2006, pp. 35-36).
A competência comunicativa refere-se à habilidade que um indivíduo tem para se
dirigir a outro com clareza, coerência e eficácia. Dito de outro modo, reporta-
se à capacidade que cada um possui para falar, escrever e saber selecionar as
formas linguísticas mais adequadas às diferentes situações com que nos
deparamos. Neste sentido, está relacionada com a capacidade de agir eficazmente
numa determinada situação (Hymes, 1972), com base nos conhecimentos adquiridos,
nas experiências vividas e nos comportamentos que transmitem mensagens (Mantha
& Sivaramakrishna, 2006). É à luz do conceito de competência comunicativa
que o objetivo primordial da disciplina de Língua Portuguesa no Ensino Básico
se concretiza, em termos do desenvolvimento da produção de textos verbais
orais, aliado ao uso de símbolos não-verbais, e da compreensão e expressão
oral/escrita (Sousa, 2006). Uma comunicação eficaz exige que os interlocutores
envolvidos partilhem uma clara compreensão da informação trocada, sabendo
adequar a sua capacidade de produzir enunciados orais ou escritos à intenção
subjacente ao ato de interação.
A linguagem é a "arma de combate" através da qual o interlocutor impõe o seu
pensamento, visto que é através da palavra que o Homem participa no "grande
diálogo da comunicação verbal" (Rodrigues, 2002, p. 36). Em todo o discurso,
está presente uma orientação social que reflete as relações interpessoais
existentes ou desejadas entre aquele que fala ou escreve e aquele que ouve ou
lê; relações que se manifestam através de comportamentos verbais, paraverbais,
não-verbais (gestos, postura, entoação e vocabulário). A expressão oral,
enquanto capacidade para produzir cadeias fónicas dotadas de significado e
conformes à gramática da língua, implica a mobilização de saberes linguísticos
e sociais, supõe uma atividade cooperativa na interação e o conhecimento dos
papéis desempenhados pelos falantes em cada tipo de situação.
Para Bakhtine (1992), a palavra ocupa o papel de fenómeno ideológico na relação
social, pois trata-se do veículo de comunicação da vida quotidiana,
intrinsecamente ligada aos processos de produção. Os enunciados construídos a
partir da interação verbal exprimem e alimentam a ideologia do quotidiano, que
se expressa através das nossas palavras, atos ou gestos. À palavra não pode ser
retirado o seu papel primordial na comunicação. No entanto, a interação não se
circunscreve a esta, ao compreender um leque de aspetos paraverbais e não-
verbais que influenciam a relação que é estabelecida com o interlocutor.
Existe, de facto, uma relação dialética entre a comunicação verbal e não-
verbal, comprovada pelos estudos de Braga e Silva (2006), que demonstram que a
expressão do pensamento se concretiza através das palavras, de sinais
paralinguísticos (entoação e o ritmo do discurso) e sinais do corpo.
A competência comunicativa oral nas orientações programáticas de Língua
Portuguesa
O Programa de Língua Portuguesa do Ensino Básico (Ministério da Educação, 1991)
estabelece um equilíbrio, no processo de ensino-aprendizagem, entre a
comunicação oral (ouvir/falar), a leitura, a escrita e o conhecimento explícito
da língua, concebendo-a como instrumento de comunicação e assegurando que a
restrição da competência linguística impede a realização integral da pessoa,
isola-a da comunicação e limita o seu acesso ao conhecimento. Neste âmbito, o
programa prevê que, na aula de Língua Portuguesa, haja espaço para o diálogo, a
cooperação e o confronto de opiniões, ao estabelecer como primeira finalidade
"assegurar o desenvolvimento gradual das capacidades de expressão e compreensão
em língua materna" (Ministério da Educação, 1991, p. 6).
No texto programático referido, dos dezoito objetivos gerais apresentados para
o 3.º ciclo, seis são dedicados especificamente à compreensão e expressão
orais, destacando-se os dois primeiros, pelo facto de colocarem em evidência a
expressão oral: "exprimir-se oralmente, de forma desbloqueada e autónoma, em
função de objectivos comunicativos diversificados e comunicar oralmente tendo
em conta a oportunidade, o tempo disponível e a situação" (Ministério da
Educação, 1991, p. 8).
Por conseguinte, estes textos preveem que o domínio da comunicação oral se
alargue progressivamente através das interações, ao expor, narrar, argumentar e
explicitar saberes, acentuando-se que é a fala que permite a socialização da
experiência individual.
O professor tem de consciencializar os alunos para agirem com recurso à fala,
em situações de comunicação, criando momentos formais e informais da prática da
oralidade, dado que é apenas através de um trabalho sistemático, explícito e
intencional que a competência comunicativa é assegurada (Hymes, 1972; Núñez-
Delgado, 2000) e que tem lugar o domínio progressivo de géneros formais e
públicos do oral (Sim-Sim, Duarte, & Ferraz, 1997; Ministério da Educação,
2001).
No sentido de contribuir para o desenvolvimento de atividades que promovam a
comunicação oral em diferentes situações na sala de aula, os programas de
Língua Portuguesa (Ministério da Educação, 1991, 2001) apresentam diversas
propostas de ensino-aprendizagem, nomeadamente o diálogo, a troca de
impressões, o debate, a mesa-redonda, a entrevista, a exposição e o jogo
dramático. Todas estas estratégias se enraízam na fala, daí a relevância da
competência comunicativa oral.
Relativamente à gestão global do tempo no 3.º ciclo, e tendo em vista o
aperfeiçoamento da competência comunicativa, o Programa de Língua Portuguesa
(Ministério da Educação,1991, p. 83) dedica uma fatia de 25% do tempo letivo à
comunicação oral e a mesma proporção de tempo à leitura e escrita. Os restantes
25% distribuem-se pelo conhecimento explícito da língua, programação e
avaliação. Quanto à comunicação oral, 75% são dedicados à expressão verbal em
interação, enquanto os restantes 25% dizem respeito à compreensão de enunciados
orais. Na verdade, o desenvolvimento de uma expressão oral adequada exige que
os professores cumpram o que o programa veicula, que promovam espaços letivos
dedicados a atividades de dicção, recitação, exposição, dramatização e
argumentação, e que se reconheça o papel relevante da aula de Língua Portuguesa
na formação de leitores fluentes, competentes e críticos. Este objetivo é
apenas alcançado através do diagnóstico, prática, exercício e domínio de vários
saberes, do ensino de técnicas de oralidade, leitura e escrita, visando a
mobilização dos conhecimentos, experiências, atitudes e valores que
individualizam os alunos.
De salientar que entre os textos programáticos de 1991 e o Novo Programa de
Português para o Ensino Básico (NPPEB) (Reis, 2009) foram implementados o Plano
Nacional de Leitura (Ministério da Educação, 2006a) e o Programa Nacional do
Ensino do Português ' PNEP (Ministério da Educação, 2006b), e produzidos
documentos e realizados eventos relevantes para a formalização deste domínio da
língua (Sim-Sim, Duarte, & Ferraz, 1997; Ministério da Educação, 2001; o
Dicionário Terminológico; a Conferência Internacional de Ensino de Português,
2007).
Embora o domínio ouvir/falar surja, nos programas de 1991, a par do ler/
escrever, a oralidade torna-se uma competência autónoma em 2001, com o
Currículo Nacional do Ensino Básico (Ministério da Educação, 2001),
subdividindo-se em compreensão oral e expressão oral, o que se reflete também
no NPPEB (Reis, 2009). Este último refere-se ao termo competência como um
conjunto de conhecimentos e capacidades e realça as competências linguístico-
comunicativas como aquelas que permitem o relacionamento com os outros. A
atividade linguística oral é avaliada com base na compreensão oral, consistindo
na capacidade para atribuir significado a discursos orais em diferentes
variedades do português e envolve a receção e a descodificação de mensagens por
acesso ao conhecimento organizado na memória, e na expressão oral,
compreendendo (Reis, 2009, p. 16):
"( ) a capacidade para produzir sequências fónicas dotadas de
significado e conformes à gramática da língua. Esta competência
implica a mobilização de saberes linguísticos e sociais e pressupõe
uma atitude cooperativa na interacção comunicativa, bem como o
conhecimento dos papéis desempenhados pelos falantes em cada tipo de
situação".
No âmbito deste domínio, e à luz do conceito de performance (Chomsky, 1965;
Hymes, 1972, 1982), o NPPEB discrimina um vasto leque de descritores de
desempenho, nomeadamente: (a) planificar o uso da palavra em função da
situação, das intenções de comunicação específicas e das características da
audiência visada; (b) organizar o discurso, assegurando a progressão de ideias
e a sua hierarquização; (c) produzir textos orais de diferentes tipos; (d) usar
da palavra com fluência e correção, utilizando recursos verbais e não-verbais
adequados às situações de comunicação; (e) diversificar o vocabulário e as
estruturas utilizadas no discurso, com recurso ao português-padrão; (f) assumir
diferentes papéis em situações de comunicação, adequando as estratégias
discursivas às funções e objetivos visados (Reis, 2009, p. 121).
A promoção da observação e da análise do uso da língua, em sala de aula,
facilitará a tomada de consciência por parte dos alunos de que a fala se
constrói no âmbito de práticas dialógicas, aprofundando-se a capacidade de
fazer escolhas adequadas às intenções comunicativas e aos interlocutores. De
acordo com o Decreto-Lei 6/2001, de 18 de janeiro, o Currículo Nacional do
Ensino Básico (CNEB) (Ministério da Educação, 2001) afirma ser necessário
"garantir a cada aluno, em cada ciclo de escolaridade, o desenvolvimento de
competências específicas no domínio do oral (compreensão e expressão oral), do
modo escrito (leitura e expressão escrita) e do conhecimento explícito da
língua" (p. 32). Além disso, Sim-Sim, Duarte, e Ferraz (1997, p. 72)
acrescentam que, para atingirem o objetivo de desempenho "fluência e adequação
da expressão oral em contextos formais", os alunos devem ser capazes de
comunicar em situações sociais formais; adequar o discurso ao seu objetivo
comunicativo e auditório; utilizar o Português Padrão nas situações de
interação social que o exigem e selecionar a complexidade gramatical e o
vocabulário requeridos nos géneros do oral, essenciais para prosseguirem
estudos e serem cidadãos ativos.
Tendo sido revogado o "Currículo Nacional do Ensino Básico ' Competências
Essenciais" pelo Despacho n.º 17169/2011 e tendo por base o Novo Programa de
Português para o Ensino Básico, foram homologadas as Metas Curriculares de
Português para o Ensino Básico ' Despacho n.º 10874/2012 ' que esclarecem que
aspetos dos Programas se devem eleger como prioridade no ensino e aprendizagem,
definindo os conhecimentos a adquirir e as capacidades a desenvolver pelos
alunos em cada ano de escolaridade. As Metas Curriculares (Buescu, Morais,
Rocha, & Magalhães, 2012) contêm cinco domínios de referência no 3.º ciclo
(Oralidade, Leitura, Escrita, Educação Literária, Gramática). Realce-se, neste
documento, o estabelecimento de descritores de desempenho dos alunos que
permitam avaliar a consecução dos objetivos. Quanto à Oralidade, a
especificidade dos descritores de desempenho é evidente, nomeadamente ao exigir
que os alunos do 7.º e 8.º anos produzam textos orais em quatro minutos
(mínimo) e os do 9.º ano em cinco minutos.
Considerando os documentos normativos e textos programáticos estabelecidos para
o ensino básico, é cada vez mais notória a preocupação política em evidenciar
as competências específicas da compreensão e expressão oral. Note-se, porém,
que o NPPEB não faz qualquer referência a estratégias e métodos de avaliação, o
que foi justificado, na Conferência Internacional de Ensino de Português, em
2007, pela premência de os programas integrarem uma escala de critérios de
avaliação contínua da oralidade, em detrimento da definição de critérios de
avaliação. Este vazio' acaba por dificultar a tarefa aos professores, uma vez
que seria mais prático e objetivo se existissem não só critérios bem definidos,
como também instrumentos de avaliação válidos e eficazes. Pelo contrário, no
ensino secundário, na disciplina de Português, a avaliação da oralidade é de
caráter obrigatório e regulamentada pela Portaria 1322/2007, de 4 de outubro.
Nos termos da alínea a) do n.º 6 do artigo 9.º, "são obrigatórios momentos
formais de avaliação da oralidade ou da dimensão prática ou experimental,
integrados no processo de ensino-aprendizagem, de acordo com as alíneas
seguintes: a) Na disciplina de Português a componente de oralidade tem um peso
de 25 % no cálculo da classificação a atribuir em cada momento formal de
avaliação ( )".
Neste sentido, torna-se relevante a promoção desta competência no ensino
básico; porém, apesar da maior importância atribuída à competência comunicativa
oral no Programa de Português do 3.º ciclo do Ensino Básico (Reis, 2009) e de
ser possível, com base nas Metas Curriculares, uma crescente objetividade no
momento de avaliar determinados conteúdos e habilidades, não é estipulada uma
percentagem específica de tempo letivo para a avaliação dos vários domínios
contemplados. Assim sendo, quando se desce' das políticas educativas ao
contexto escolar, parece surgir um paradoxo, na medida em que a oralidade não
possui o mesmo tratamento que é dado às competências da leitura e da escrita. A
expressão oral não é alvo de planificação e ensino sistemáticos, nem de
observação ou avaliação formativa, o que faz transparecer um "desprestígio
pedagógico da comunicação" (Sousa, 2006, p. 22) e espelha uma postura passiva
face ao desenvolvimento da comunicação oral, com consequências ao nível da
competência dos alunos, nomeadamente a falta de fluência, assim como a
incorreção ou pobreza lexical, e das próprias competências relacionais e
sociais.
A competência comunicativa oral em sala de aula: instrumentos de avaliação
A sala de aula constitui-se um espaço comunicativo caracterizado por relações
explícitas ou implícitas entre participantes e tornadas visíveis através das
estratégias linguísticas e paralinguísticas utilizadas pelos atores. O processo
de ensino-aprendizagem que se desenvolve neste contexto estabelece-se sob a
forma de interação social dependente da comunicação (Castro, 1989). Apesar da
defesa corrente em torno da abertura da sala de aula a uma interação
comunicacional dinâmica entre professor-alunos, estudos revelam que o professor
acaba por falar mais do que os alunos, utilizando enunciados mais longos
(Castro, 1991; Núñez-Delgado, 2000; Pedro, 1992; Sousa, 2006). O professor é,
classicamente, o principal solicitador e estruturador, limitando o
desenvolvimento da competência de comunicação por parte do aluno. O processo de
comunicação pedagógica não deve reduzir-se a uma estrutura linear e inflexível.
No entanto, parece prevalecer nas nossas escolas uma comunicação assente numa
"unidade nuclear" (Castro, 1989, p.16), numa troca, que compreende os
movimentos de abertura, resposta e fechamento, tornando-se o professor no
locutor por excelência.
Os alunos esperam que a aula se torne num espaço que privilegie a interação, no
qual eles desejam ser também emissores. Esta interação verbal resulta de uma
aprendizagem, na medida em que tal como se aprende a ler e a escrever também se
aprende a estruturar enunciados orais, socialmente reconhecidos e instituídos.
Num dado contexto de comunicação, como o de sala de aula, locutor e alocutário
são ativos, com as suas especificidades e, apesar destas diferenças, não podem
deixar de cooperar "pois comunicar é uma actividade que lhes é comum" (Grize,
1996, p. 77).
O estudo e promoção da competência comunicativa em sala de aula implicam a
produção de um discurso num determinado contexto, logo a avaliação do discurso
' através de instrumentos, como grelhas de observação ou registos do conteúdo
do discurso ' deverá contemplar um conjunto de fatores pessoais, funcionais,
curriculares, bem como aquisições prévias. Neste contexto, deverá focar-se nas
componentes da comunicação/interação, analisando aspetos verbais, paraverbais e
não-verbais. Esta avaliação deve ser realizada em momentos formais, previamente
agendados, nos quais os alunos poderão desenvolver a sua competência com base
na concretização de inúmeras atividades. Com o objetivo de verem a sua
participação na aula concretizada de modo eficaz, os alunos poderão proceder a
relatos de acontecimentos vividos, visionados ou inventados, a jogos de faz de
conta, a exposições orais, argumentações, debates, diálogos e dramatizações
(Sousa, 2006). A discussão é também considerada uma estratégia eficaz para o
desenvolvimento da competência comunicativa oral, visto que permite trabalhar a
argumentação oral, desenvolver a compreensão, aumentar o vocabulário e
aperfeiçoar a expressão (Núñez-Delgado, 2000). Para tornar estas atividades
ainda mais vantajosas para a prática e aperfeiçoamento da competência
comunicativa oral, deverão ser previamente preparadas mediante um plano-guia.
A avaliação objetiva das competências comunicativas revela-se uma ferramenta
básica para o estabelecimento de um plano de ação centrado no aluno e orientado
para o aperfeiçoamento da sua competência comunicativa oral. Neste sentido, têm
de ser criadas as condições para a apropriação de mecanismos linguísticos
disponíveis, o que implica definir, na sala de aula, situações de comunicação
que envolvam os vários processos comunicativos ' ler, escrever, falar, ouvir
(Castro, 1991) e compreender. Neste âmbito, importa analisar os instrumentos
disponíveis para o trabalho do professor em sala de aula.
Em Portugal, há uma escassez de estudos sobre a construção e validação de
instrumentos de apoio pedagógico-didático no domínio da competência
comunicativa oral (Amor, 2003). Ao nível europeu, destacam-se os trabalhos
desenvolvidos em França e Espanha no sentido da produção de materiais dirigidos
à prática sistemática de atividades de avaliação e promoção da compreensão e
expressão oral nas escolas (Lomas, 2002; Núñez-Delgado, 2000, 2005; Reyzábal,
1988; Roulet, 1991).
No contexto nacional, têm surgido investigadores que demonstram preocupação com
o desenvolvimento de instrumentos que permitem apoiar o ensino sistemático da
comunicação oral, nomeadamente o trabalho desenvolvido por Sousa (2006).
Contudo, a maioria dos estudos parece incidir sobre a presença ou ausência, nos
manuais, de atividades que desenvolvam a expressão oral ou sobre estratégias de
treino do oral (Silva, 2008).
No que concerne aos instrumentos de avaliação, as grelhas de observação e
avaliação devem ser usadas como estratégias de tratamento pedagógico-didático
da expressão oral, pois baseiam-se em fundamentos teóricos consistentes,
complementados pela sua funcionalidade e adequação prática ao contexto (Lomas,
2002; Núñez-Delgado, 2005; Sousa, 2006).
A avaliação da comunicação oral com base numa grelha de observação e em
registos exige que estes instrumentos sejam operacionais, fiáveis e capazes de
traduzir com rigor o nível de desempenho dos alunos. Uma avaliação quantitativa
não consegue espelhar na íntegra a qualidade de todos os dados recolhidos
acerca de uma produção oral. A complementaridade de uma avaliação qualitativa,
sistemática e rigorosa permitirá reunir evidências sobre as componentes verbal,
paraverbal e não-verbal da comunicação (Monteiro, 2011a, 2011b; Monteiro,
Moreira & Bastos, 2011b). Foi com o objetivo de construir um instrumento
válido e fidedigno que se elaborou a presente Grelha de Registo de Observação e
Avaliação da Competência Comunicativa Oral.
Método
Participantes
No presente estudo, realizado durante o segundo período do ano letivo 2010/
2011, participaram alunos do 3.º ciclo do ensino básico de uma escola básica e
secundária de Portugal, do distrito de Viana do Castelo.
A amostra global (N=82) apresenta uma média de idade de 13,26 anos (DP=1,06),
variando entre 12 anos no 7.º ano (DP=0,66) e 14 anos no 9.º ano (DP=0,38).
Cerca de 50% dos alunos são do género feminino (51,2%), sendo esta proporção
ligeiramente superior no 9.º ano (56,1%), apesar das diferenças na distribuição
de género não serem estatisticamente significativas (?2=0,78, gl=1, p=0,377).
Instrumentos
Na ausência de instrumentos de avaliação objetiva da competência comunicativa
oral, foi elaborada a Grelha de Registo de Observação e Avaliação da
Competência Comunicativa Oral (Anexo A), tendo por base modelos aplicados no
ensino secundário. Este instrumento, destinado a momentos de exposição oral '
explicação, argumentação e debate ' reporta-se à comunicação verbal (60%),
paraverbal (30%) e não-verbal (10%). Procedeu-se a esta distribuição percentual
com base na opinião dos professores de Língua Portuguesa envolvidos no estudo1
e de outros pertencentes ao Departamento de Línguas, e em grelhas de avaliação
deste domínio construídas por professores/formadores. Relativamente ao primeiro
domínio, os parâmetros observados e avaliados são o conhecimento do tema, o
vocabulário (riqueza e diversidade), a argumentação pertinente, a clareza
discursiva (articulação clara das palavras, segundo a norma padrão e sem
hesitações) e o respeito pelas opiniões alheias; no segundo domínio, são
avaliados os parâmetros da clareza discursiva, expressividade, tom de voz e
ritmo discursivo; por último, ao nível da comunicação não-verbal, são avaliados
os gestos, o olhar e a postura corporal. Todos os parâmetros são avaliados com
base na escala de avaliação qualitativa formativa ' Fraco (1), Não Satisfaz
(2), Satisfaz (3), Satisfaz Bastante (4) e Excelente (5) ', convertida, em
última análise, numa classificação quantitativa, mais conveniente para o
momento de avaliação final dos períodos.
A grelha em anexo, cujos critérios de classificação se baseiam nos
estabelecidos pelo Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) para o grupo
"expressão escrita" do exame nacional de Língua Portuguesa ' 9.º ano de
escolaridade, com as devidas adaptações para a expressão oral, apresenta os
indicadores e níveis de desempenho a ter em conta na observação e avaliação da
competência comunicativa oral (CCO). Os níveis intermédios, aos quais
correspondem os níveis Satisfaz Bastante (4) e Não Satisfaz (2), não foram
explicitados, com o objetivo de permitir uma maior flexibilidade na avaliação
das diferentes habilidades de comunicação (Anexo B).
Além disso, tentou-se chegar à conclusão sobre uma possível relação da
competência comunicativa oral com os resultados escolares, procurando responder
à questão "Será que os alunos que apresentam melhores resultados escolares são
aqueles que obtêm valores mais elevados ao nível da competência?". Com a
finalidade de analisar as relações entre a competência comunicativa oral e os
resultados escolares, em alunos do 3º ciclo do ensino básico (7.º e 9.º ano de
escolaridade), foram considerados os níveis obtidos na disciplina de Língua
Portuguesa, em resultado da avaliação do 2.º período.
Procedimentos
Relativamente à Grelha de Registo de Observação e Avaliação da Competência
Comunicativa Oral, procedeu-se, em conjunto com o professor de Língua
Portuguesa das 4 turmas, ao agendamento e preparação de momentos formais de
exposição oral, com o objetivo de aplicar a grelha a uma situação criada para o
efeito. Foi assegurado que todos os alunos se expressassem oralmente para se
cumprir o propósito da investigação.
No que diz respeito às turmas do 7.º ano, devido ao nível de ensino em questão,
ao perfil dos alunos e à deficiente prática da oralidade em momentos formais,
considerou-se conveniente haver lugar a uma discussão aberta à turma, em que
todos tivessem a oportunidade de expor a sua opinião. Como fator de motivação
para a discussão, considerou-se relevante que os alunos propusessem um tema que
lhes despertasse o interesse, o que foi feito, tendo sido selecionados como
temas a presença da Língua Portuguesa em países de língua oficial portuguesa,
em concreto Cabo Verde, alargando o tema às condições nas escolas, culturas e
tradições, numa turma, e à prática de desporto, na outra turma.
Numa das turmas de 9.º ano, com o objetivo de não prejudicar a sequência
didática programada, estabeleceu-se que os alunos apresentassem oralmente, de
forma individual, os trabalhos de grupo desenvolvidos no âmbito da temática O
Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente. Cada elemento expôs uma parte do
trabalho desenvolvido sob orientação da professora. Na outra turma, a
professora estipulou, em conjunto com os alunos, que a apresentação teria lugar
com base num tema que gostassem de desenvolver. Os alunos tomaram conhecimento
do tipo de comunicação oral a realizar, dos aspetos que iriam ser sujeitos a
observação e das várias etapas a percorrer, desde a seleção do tema, passando
pela pesquisa de informações, até à estruturação e conclusão do trabalho
desenvolvido. Várias foram as temáticas afloradas, nomeadamente desporto,
problemas relacionados com a adolescência e gosto pela leitura.
Concluídos os trabalhos, foi agendado o dia para a observação e avaliação da
comunicação oral, no qual estiveram presentes o(a) respetivo(a) professor(a) e
a investigadora, observando ambos e avaliando as componentes da oralidade que
integram a grelha em uso. À medida que o(a) professor(a) da turma orientava os
alunos na prossecução dos trabalhos, o(a) mesmo(a) e a investigadora estavam
posicionados no fundo da sala de aula, guardando uma distância que não
comprometia a imparcialidade no momento da avaliação. Com recurso ao computador
e à Grelha de Observação e Avaliação em formato Excel, a performance
comunicativa dos alunos era observada e avaliada nos diferentes parâmetros que
integram a comunicação verbal, paraverbal e não-verbal, atribuindo-se a
respetiva menção da escala ' Fraco (1), Não Satisfaz (2), Satisfaz (3),
Satisfaz Bastante (4) e Excelente (5) ' com base nos indicadores estabelecidos
(Anexo B). A gravação em vídeo não foi considerada para não pôr em causa a
espontaneidade dos alunos.
Quanto à análise dos dados, usou-se, na análise descritiva, a frequência
absoluta e a proporção como medida sumária para variáveis qualitativas e a
média e desvio-padrão para variáveis quantitativas, acompanhada do desvio-
padrão, como medida de dispersão. Quando a variável não seguia a distribuição
normal (teste de Kolmogorov-Smirnov), a distribuição foi descrita pela média e
1.º e 3.º quartis. Para testar a independência entre duas variáveis
categóricas, usou-se o teste qui-quadrado; para averiguar a igualdade de médias
o teste t studentpara amostras independentes ou o teste U Mann-Whitney para
comparação de variáveis que não seguiam distribuição normal.
Para avaliar a relação entre as duas observações, os dados relativos às
observações da competência comunicativa oral (comunicação verbal, paraverbal,
não-verbal e total) da investigadora e dos professores foram correlacionados,
funcionando como um indicador de acordo. Para tal, foi utilizada a correlação
rs de Spearman, uma vez que as variáveis não seguiam distribuição normal. Foi
ainda realizado o teste Wilcoxon para amostras emparelhadas para avaliar a
significância das duas medições realizadas pela investigadora e pelos
professores. Como todas as correlações entre os resultados atribuídos pela
investigadora e professores foram elevadas (r=0,70) e ambas as cotações
revelaram ser semelhantes para todos os domínios da grelha, com exceção da
comunicação não-verbal, optou-se por prosseguir as restantes análises com base
nas observações dos professores. Os resultados da competência comunicativa oral
foram descritos para os alunos de 7.º e 9.º ano e comparados entre si, entre
grupos de género.
Os dados da realização escolar foram descritos para o 7.º e 9.º ano e
correlacionados com os resultados obtidos na avaliação da competência
comunicativa oral, através da correlação rs de Spearman (uma vez que as
variáveis da competência comunicativa oral não seguiam distribuição normal).
Resultados
Competência Comunicativa Oral
A Tabela_1 apresenta a correlação entre as pontuações atribuídas por
professores e investigadora relativamente aos domínios da competência
comunicativa oral. Verifica-se que, para todos os domínios, a correlação entre
as observações é superior a rs=0,70 (p<0,01).
As pontuações atribuídas pelos professores e investigadora à comunicação verbal
e paraverbal são as mais correlacionadas (rs=0,926 e rs=0,968, respetivamente).
A comunicação não-verbal aparece como a observação na qual as pontuações
atribuídas estão menos correlacionadas (rs=0,718, p<0,01). Comparando as
avaliações realizadas pela investigadora e pelos professores através do teste
de Wilcoxon para amostras emparelhadas, verifica-se que ambas as cotações são
semelhantes para os domínios verbal (Z=367,000, p=0,405), paraverbal
(Z=233,000, p=0,992) e para a CCO global (Z=59,500, p=0,617). No domínio não
verbal, verificam-se diferenças estatisticamente significativas entre as
cotações da investigadora e dos professores (Z=916,500, p<0,001).
A Tabela_2 apresenta os resultados dos comportamentos de comunicação oral
atribuídos pelos professores. Os diferentes parâmetros que integram as
componentes da comunicação verbal, paraverbal e não-verbal são avaliados
segundo a escala: Fraco (1), Não Satisfaz (2), Satisfaz (3), Satisfaz Bastante
(4) e Excelente (5).
Analisando as pontuações, verifica-se que os alunos obtiveram valores médios
próximos de 3 em todos as componentes da competência comunicativa oral.
Cerca de 68% dos alunos obteve classificação global Satisfaz, 18,8% obteve
classificação de Satisfaz Bastante e 13,8% de Não Satisfaz; não foi atribuído
qualquer nível Fraco ou Excelente por parte dos avaliadores. A média dos alunos
de 9.º ano é ligeiramente superior à dos de 7.º ano para todas as dimensões e
para a escala global, apesar de as diferenças não serem estatisticamente
significativas (U<995,000, p>0,058).
Comparando rapazes e raparigas, verifica-se que os resultados são relativamente
semelhantes entre ambos os grupos, com exceção da comunicação verbal
(U=1094,500, p=0,004), na qual as raparigas têm resultados superiores. As
raparigas apresentam igualmente uma amplitude interquartílica mais larga do que
os rapazes e 25% delas atingiu valores iguais ou superiores a 4 (raparigas:
Md=3,2 [p25=2,2; p75=4,0] vs. rapazes: Md=3 [p25=2,6; p75=3,2]).
A Tabela_3 apresenta as correlações entre o desempenho dos alunos na disciplina
de Língua Portuguesa e os resultados obtidos na Grelha de Registo de Observação
e Avaliação da Competência Comunicativa Oral.
Os resultados obtidos na disciplina de Língua Portuguesa apresentam correlações
positivas e estatisticamente significativas (p<0,01) com todas as componentes
da competência comunicativa oral. As correlações variam entre rs=0,450 (p<0,01)
com a comunicação não-verbal e rs=0,720 (p<0,01) com a comunicação verbal.
Discussão
A Grelha de Registo de Observação e Avaliação da Competência Comunicativa
Oralrevelou-se um instrumento útil em contexto de sala de aula, uma vez que
permite observar as diferentes habilidades relativas à competência comunicativa
oral, avaliando-as de forma prática e eficaz. Em termos de fiabilidade da
medida, verificou-se que as cotações dos professores e da investigadora estão
significativamente associadas e que são dependentes entre si, o que revela um
bom acordo interjuízes. No que diz respeito às habilidades de comunicação não-
verbal, as cotações entre professores e investigadora apresentam uma associação
mais moderada e são independentes, devendo ser alvo de novos estudos.
Tratando-se de competências cujas habilidades se desenvolvem com a prática
sistemática, apesar de os alunos do 9.º ano apresentarem resultados
ligeiramente superiores aos de 7.º ano ao nível da competência comunicativa
oral, estas diferenças não são estatisticamente significativas. Esta semelhança
entre os grupos poderá ser justificada pela ausência da prática sistemática da
oralidade, pela deficiente preparação da atividade ou falta de empenho dos
alunos. Seria pertinente verificar se houve lugar a desenvolvimento da
competência, quer nos alunos de 7.º, quer nos alunos do 9.º, em relação à
competência demonstrada no 5.º e 7.º anos, respetivamente ' o que poderia ser
comprovado com base num estudo de natureza longitudinal.
As habilidades de comunicação verbal são as que mais se correlacionam com os
níveis obtidos na disciplina de Língua Portuguesa, revelando o estudo uma
associação positiva e significativa entre as notas obtidas nesta disciplina e a
competência comunicativa oral. Este resultado permite responder afirmativamente
à questão levantada ' "Será que os alunos que apresentam melhores resultados
escolares são aqueles que obtêm valores mais elevados ao nível da
competência?". De facto, os principais parâmetros avaliados nesta competência
(o conhecimento do tema, a riqueza e diversidade vocabular, a argumentação
pertinente e a coerência discursiva) são habilidades sujeitas à prática
sistemática na aula de Língua Portuguesa, particularmente no domínio da
escrita. Tendo em conta que alunos com dificuldades de aprendizagem tendem a
ser menos habilidosos na comunicação verbal e não-verbal (Kavale & Forness,
1996), é importante realçar, no sentido de os auxiliar na sua aprendizagem, que
é "graças à aquisição da competência comunicativa oral que se desenvolve a
competência comunicativa escrita, mediante uma aprendizagem sistemática que se
apoia no conhecimento da actividade oral" (Palencia, Fernández, &
Villalobos, 2008, p. 37). Por outro lado, aquela competência também contribui
para "minimizar as dificuldades na aprendizagem da Leitura e, portanto,
diminuir o insucesso escolar" (Sim-Sim, 2002, p. 220).
Na realidade, como referem Teale e Sulzby (1992), ouvir, falar, ler e escrever
desenvolvem-se de forma concorrente e inter-relacionada e não de forma
sequencial.
Dada a escassez de trabalhos de investigação ao nível da competência
comunicativa oral em Educação, aliada à importância que esta competência
possui, quer ao nível social, quer ao nível escolar, urge empreender
investigação neste domínio, tendo em vista o planeamento e implementação de
programas de treino sistemático destinados à melhoria das competências de
comunicação e habilidades sociais. A aprendizagem dá-se num contexto de relação
social em que os alunos aprendem em colaboração com os professores e na
companhia dos colegas. A tarefa de criar na aula um clima de interação efetiva,
dando protagonismo aos alunos, é uma "exigência irrenunciável" (Núñez-Delgado,
2000, p. 15) e cabe aos docentes o papel de observar os alunos, incentivá-los a
intervir e de organizar o espaço, de modo a permitir a comunicação entre os
alunos e entre estes e o professor.
Considerações finais
O presente estudo apresenta algumas limitações na sua execução que poderão
condicionar a generalização dos resultados. A avaliação da competência
comunicativa oral, nas quatro turmas, ocorreu em situações de oralidade
distintas ' apresentação individual de trabalhos de grupo, apresentação de
temas escolhidos pelo próprio e discussão de temas sugeridos; contudo, não
foram identificadas diferenças estatisticamente significativas ao nível da
competência comunicativa oral entre alunos das turmas de 7.º e 9.º ano.
Considera-se necessário, em próximos estudos, realizar a observação em
situações de oralidade similares para minimizar o viés que a própria situação
poderá provocar nos resultados obtidos.
Partindo dos resultados analisados, considera-se que as comparações
transversais de grupos de alunos de 7.º e 9.º ano de escolaridade poderão ser
influenciadas por características dos próprios grupos. A aferição de diferenças
desenvolvimentais ao nível da competência comunicativa oral seria idealmente
realizada a partir de dados longitudinais, nos quais fosse possível controlar
as diferenças interindividuais.
Os resultados obtidos corroboram a necessidade de se promover o desenvolvimento
das habilidades de comunicação oral, particularmente as que integram a
comunicação não-verbal. A clareza, coerência, eficácia e adequação da
comunicação ao contexto são essenciais no percurso escolar e no desenvolvimento
humano, estando associadas à competência de comunicação verbal, paraverbal e
não-verbal. Deste modo, a comunicação oral deve ser adquirida e treinada em
sala de aula, a par de outras competências.
Neste momento, urge que o professor reorganize a sua sala de aula, se afaste do
quadro e do seu manual, desvie as mesas e as cadeiras e prepare momentos em que
os alunos possam desenvolver as suas competências de comunicação e relação
interpessoal, com recurso ao treino controlado, para, assim, se tornar possível
ensinar, observar e avaliar a competência comunicativa oral. Como instrumentos
de apoio, destaca-se a importância que o Programa de Português (2009) e as
Metas Curriculares de Português para o Ensino Básico (2012) conferem à
oralidade, assim como ao estabelecimento de descritores de desempenho e
objetivos específicos, que poderão ser avaliados de forma prática e eficaz,
nomeadamente com recurso à Grelha de Registo de Observação e Avaliação da
Competência Comunicativa Oral.