Editorial
EDITORIAL
Tem sido preocupação do Conselho de Redacção da Sociologia, Problemas e
Práticasincluir sempre que possível artigos de autores estrangeiros, o que tem
acontecido regularmente nos últimos números publicados.
Neste n.º 36 vamos também contar com uma participação internacional, a de
Thomas Brante, através de um texto que o autor preparou e pela primeira vez
apresentou em público, numa conferência que proferiu em Lisboa, enquanto foi
professor visitante do Departamento de Sociologia do ISCTE, no ano 2000. Trata-
se de um interessante contributo para a nossa reflexão na sociologia, a partir
dos debates que se travam noutros contextos, e isto em torno de uma ontologia
realista, a qual o autor propõe enquanto modo de ultrapassar alguns dos
bloqueios que se colocam ao desenvolvimento da análise sociológica.
Os textos que se seguem, cada um a seu modo, são precisamente bons exemplos
daquilo que Brante advoga como a boa maneira de fazer sociologia, na combinação
que fazem entre reflexão teórica e abordagem de problemáticas concretas da
realidade social. Artigos como os de Ana Fernandes, de Fernando Luís Machado ou
de Hermes Costa, apesar da respectiva diversidade temática, têm em comum o
facto de confrontarem a sociologia com a necessidade de analisar vários
problemas sociais da actualidade, como o são as questões da velhice, as do
racismo, neste caso, no modo como este é percepcionado pelos que dele são
vítimas, ou, numa outra vertente, os imperativos e limites da
transnacionalização, que presentemente se colocam ao sindicalismo, e a sua
integração regional como estímulo para uma maior cooperação sindical.
O mesmo se pode dizer acerca dos textos dos outros autores, os quais, seja
através de métodos quantitativos como os do inquérito por questionário, embora
no quadro de metodologias qualitativas de estudo de caso, seja através de
entrevistas em profundidade ou, ainda, a partir da análise de documentos e
registos vários a propósito de fenómenos sociais aqui constituídos em objecto
de análise, procuram contribuir, em modalidades diversas, para fazer da
sociologia "uma ciência genuinamente explicativa" na expressão de Thomas
Brante e onde se faz investigação cumulativa.
No artigo que analisa o modo como as experiências partilhadas em quotidiano
laboral estruturam as dinâmicas comunicacionais, os autores Carla Bernardo,
Filipa Garcia, Sílvia Lopes e Duarte Pimentel praticam, precisamente, a
cumulatividade na investigação sociológica, aplicando e testando, numa
realidade até então não estudada, modelos analíticos desenvolvidos por autores
da sociologia das organizações, noutros contextos organizacionais.
Contributos para uma sociologia interpretativa encontram-se também nos artigos
de Vítor Sérgio Ferreira e de António Contador, nas abordagens que fazem a
empirias relevantes da modernidade, ainda que basicamente a partir de análise
documental. O primeiro destes autores procura explicar porque é que não ocorre
uma decadência na criação musical a partir da introdução de novas tecnologias,
enquanto o segundo apresenta uma interpretação do modo como as escolhas e os
consumos específicos no campo da música se relacionam com o processo de
construção de uma identidade da negritude juvenil, identidade essa que ele
define como "múltipla".
O Conselho de Redacção