Editorial
Editorial
Sociologia, Problemas e Práticas assinala o final do ano de 2002com o seu n.º.
40. O facto de já ter atingido o quadragésimo volume evidencia o carácter de
regularidade editorial em que a Direcção tem apostado, e também a existência de
um crescente número de autores a apresentar propostas de publicação de artigos.
Tem sido, assim, possível o cumprimento integral da periodicidade a que nos
propusemos há algum tempo atrás, dando cada vez mais espaço à divulgação de
trabalhos cujas autorias provêm de quadrantes científicos, institucionais e
geográficos distintos, revelando também diversidade e actualidade no espectro
de problemáticas e de domínios empíricos eleitos para análise.
Sociedade de risco e redes sociais constituem referentes conceptuais aplicáveis
ao estudo de realidades contemporâneas e surgem inscritos nas problematizações
de vários dos artigos presentes neste volume.
A abri-lo encontra-se precisamente um artigo de Juan Mozzicafreddo, centrado na
análise do sistema administrativo público no quadro da moderna sociedade de
risco, com base em conceitos como os de responsabilidade e de cidadania.
Partindo dos processos de mudança e modernização da administração pública, o
autor defende a necessidade de se considerar a responsabilidade a diferentes
níveis, discutindo por isso as limitações do conceito de accountability.
O conceito de redes sociais atravessa também vários dos outros textos. No
segundo artigo, sobre os recentes fluxos de imigrantes que chegam ao concelho
de Loures, Luís Vicente Baptista e Graça Índias Cordeiro, para além de
analisarem o fenómeno imigratório ocorrido na área metropolitana de Lisboa ao
longo das últimas décadas, nos seus aspectos territoriais, identitários, de
cidadania e de mediatização, apontam a importância das redes de apoios e
recursos para acolherem e integrarem quem chega ao nosso país e naquele
concelho procura um meio de vida.
As redes sociais são ainda suporte conceptual em vários outros artigos. No seu
texto, Vera Borges analisa as carreiras dos artistas de teatro, a nível das
suas trajectórias individuais e da respectiva actividade profissional,
integrada num colectivo mas atravessada por incertezas.
No artigo de Inês Pereira, o conceito é pretexto para o estudo dos processos de
construção identitária. A partir da análise de uma associação cultural pode
ver-se como a constituição das identidades resulta de um complexo de elementos
dispersos de pertenças sociais que, enquanto vectores identitários, se
articulam em rede.
Stephen Castles equaciona o conceito de redes sociais à escala global.
Reflectindo sobre o estudo das transformações globais que estão a ocorrer nas
sociedades contemporâneas, o autor aponta a necessidade de emergência de novas
abordagens das ciências sociais que procurem analisar o modo como as
articulações transnacionais influenciam relações sociais a nível nacional,
local e individual.
De risco cultivado no terceiro milénio fala-nos Susana Henriques. Numa reflexão
em torno do consumo de novas drogas, a autora procura identificar contextos
sociais e práticas de consumo por parte de alguns grupos de jovens, ao mesmo
tempo que reconstitui o espectro de significados por estes atribuídos a tais
consumos.
Num outro registo, refira-se ainda o artigo de João Manuel de Oliveira e Lígia
Amâncio sobre as relações sociais de género. Nele são problematizados alguns
conceitos centrais à psicologia social e à sociologia naquele domínio, ao mesmo
tempo que apresentam resultados de uma investigação empírica relativa às
representações das mulheres sobre si próprias e sobre a sua actividade
profissional.
Maria das Dores Guerreiro