Editorial
Editorial
Se porventura ainda restassem dúvidas sobre o interesse que a análise
sociológica também coloca na compreensão de fenómenos que enquanto problemas
sociais se impõem às agendas políticas e mediáticas, o presente número de
Sociologia, Problemas e Práticas, através de grande parte dos artigos que
publica, contribuiria para as desvanecer. Os problemas da imigração e da
integração social das populações migrantes, das construções identitárias dos
jovens e da violência nas escolas, da literexclusão e, ainda, os da
descentralização política e administrativa e respectivas implicações, são aqui
temas que constituem objecto de investigação em sociologia.
A problemática da imigração, designadamente, tem tido presença recorrente nas
últimas edições de Sociologia, Problemas e Práticas. Com foros de cada vez
maior importância no actual contexto da globalização, e com particular acuidade
na sociedade portuguesa, onde tem sido alvo de diversas e recentes intervenções
políticas, os seus vários contornos estão a merecer a atenção de crescente
número de investigadores. No artigo sobre a integração social dos imigrantes no
nosso país, Maria Margarida Marques e Maria João Valente Rosa tecem uma
reflexão sobre a tese da singularidade dos países da Europa do Sul em matéria
de imigração, a qual procuram discutir e relativizar com base no caso
português. A partir da análise minuciosa de um conjunto vasto de indicadores
demográficos e sociais, bem como das políticas de integração dos imigrantes, as
autoras questionam essa perspectiva de excepcionalidade e sugerem o seu
carácter de construção ideológica. É ainda sobre o fenómeno da imigração em
Portugal que incide a rubrica registo, em cujo texto Fernando Luís Machado
relembra o facto de continuarmos a ser igualmente um país de emigração e se
interroga sobre o lugar que a segunda vaga de imigração, dos chamados países de
Leste, virá futuramente a ocupar no nosso mercado de trabalho.
A violência na escola é abordada por João Sebastião, Mariana Gaio Alves e Joana
Campos. Tomando por objecto a análise de vários trabalhos realizados sobre o
tema, os autores procuram desmontar concepções de senso comum sobre violência,
identificar algumas das principais dimensões do fenómeno abordadas nos estudos
existentes e propor novos programas de pesquisa que superem as limitações com
que se depararam. Também sobre a escola incide o artigo de Pedro Abrantes. O
autor analisa as identidades juvenis e as dinâmicas de escolaridade a partir de
uma investigação efectuada junto de alunos do ensino secundário e mostra que,
para além da importância das condições estruturais, as disposições e
identidades dos jovens são em grande parte produzidas a partir das situações
locais e informais que no espaço da escola enformam as dinâmicas de interacção.
Um domínio próximo das problemáticas da escola, mas relativo a populações
adultas, é o do texto em que Maria do Carmo Gomes analisa de forma qualitativa
alguns dos mecanismos sociais através dos quais a literacia constitui uma
dimensão importante de inclusão e exclusão social. Ainda no campo dos saberes,
neste caso tecnológicos, e recorrendo do mesmo modo a procedimentos de pesquisa
qualitativos, Cristina Palma Conceição apresenta-nos um estudo que tem como
protagonista uma categoria social até agora muito pouco estudada, a dos
inventores independentes.
Por fim, num outro tipo de abordagem, Juan Mozzicafreddo tece uma aprofundada
reflexão em torno das questões do desenvolvimento regional e da
descentralização administrativa, propondo uma sistematização teórica acerca
dessas políticas, tendo como enquadramento de fundo as problemáticas da
democracia e da modernização, e tomando como referência empírica o caso
português.
Maria das Dores Guerreiro