Editorial
Editorial
Quando em sociologia se analisa a mudança social, uma das esferas sociais
recorrentemente apontada como protagonista de grandes transformações é a
família. Nem sempre, porém, é possível aferir de forma exaustiva a dimensão de
tais mudanças, designadamente no que respeita aos modos de organização da vida
familiar. Tal só se consegue com operações de recolha de informação de grande
envergadura como a que o recenseamento da população representa. O dossiê que
integra o presente número de Sociologia, Problemas e Práticas, organizado por
Karin Wall, decorre precisamente do facto de terem sido recentemente
disponibilizados os resultados definitivos do último censo, constituindo
oportunidade para rever e comparar com os dados de há dez anos atrás a actual
estrutura dos agregados domésticos. Num conjunto de vários artigos são aqui
analisadas as diferentes configurações das famílias portuguesas, desde as
unidades residenciais de pessoas sós às famílias complexas. Neles se dá conta
das dinâmicas que atravessam estas estruturas, em moldes que evidenciam o
efeito dos comportamentos demográficos e dos processos de modernização da nossa
sociedade, no domínio da vida privada.
Para além do dossiê sobre as famílias portuguesas, o leitor pode ainda
encontrar neste volume três outros artigos cujas problemáticas se revestem de
particular interesse. Susana da Cruz Martins analisa os novos associativismos
com base na perspectiva teórica dos novos movimentos sociais. Centrando-se no
estudo de algumas organizações sem fins lucrativos portuguesas, a autora
considera que, enquanto NMS, a realidade portuguesa do associativismo
corresponde a um peculiar mosaico multipartido de formas progressistas e
tradicionalistas de acção colectiva, combinando particularidades do quadro
nacional com os processos mais vastos da globalização. André Freire, por sua
vez, desenvolve uma reflexão sobre o desempenho da democracia e as reformas
políticas necessárias à sociedade portuguesa. A partir da análise do apoio dos
cidadãos ao sistema político democrático, e também do padrão de abstenções
eleitorais, o autor identifica forte adesão dos portugueses aos princípios da
democracia mas, simultaneamente, uma atitude crítica e de insatisfação face ao
comportamento dos agentes políticos. Maria de Lurdes Rodrigues e João Trocado
da Mata apresentam no seu artigo os resultados de um inquérito acerca da
utilização das novas tecnologias de informação e comunicação em Portugal,
concluindo estar esta utilização fortemente relacionada com as qualificações da
população portuguesa e com as características da respectiva actividade
profissional, ao mesmo tempo que alertam para as consequências das políticas de
difusão da internet que não tenham em conta estes aspectos. Veja-se por fim a
recensão ao livro de João Freire, Homens em Fundo Azul Marinho.
Maria das Dores Guerreiro