Editorial
Editorial
Cumprindo o objectivo de abertura a espaços transnacionais Sociologia,
Problemas e Práticasinicia este volume com uma análise das políticas de família
em França e na Alemanha, da autoria de Jeanne Fagnani e Antoine Math. Neste
artigo os autores comparam as políticas de ambos os países e pretendem
compreender em que medida as diferenças encontradas tendem a esbater-se, no
quadro das reformas operadas desde os anos de 1990, e que vectores contribuem
para a permanência de especificidades.
Américo Freire centra-se no estudo do exílio das elites brasileiras de esquerda
em Portugal, após o 25 de Abril de 1974 e durante o regime militar do Brasil,
na mesma época. O autor examina o modo como o Estado português lidou com esses
exilados, focando-se na aplicação da legislação internacional sobre refugiados
e nas relações diplomáticas estabelecidas entre os governos de ambos os países.
O artigo de Marco Lisi apresenta um estudo comparativo sobre a evolução dos
partidos socialistas e social-democratas dos países da Europa do Sul,
procurando identificar permanências e continuidades, factores de sucesso e
insucesso, no modo como estes partidos se adaptaram às alterações das
respectivas bases de apoio bem como à competição interpartidária.
José Manuel Mendes e Pedro Araújo apresentam uma reflexão sobre as acções
reivindicativas dos antigos mineiros da Urgeiriça pelo reconhecimento da
contaminação radioactiva e avançam o conceito de cidadania biológica como
tradutor de tais acções de reivindicação, baseadas no conhecimento dos
potenciais "danos biológicos" inerentes à exposição a materiais
radioactivos.
É também de protestos sociais e de acções reivindicativas que trata o texto de
Mário Guilherme Pinheiro Koury. O autor aborda a reestruturação do movimento
sindical rural brasileiro na segunda metade da década de 1960 e procura
evidenciar o papel mediador destas organizações na atenuação de pressões
colectivas, através da negociação com o Estado de reformas sociais e medidas de
protecção social das populações.
Num outro quadrante, e sobre outras formas de protesto, o artigo de Otávio
Raposo dá a conhecer os estilos de sociabilidade de um grupo juvenil da
periferia de Lisboa. Nele se destaca a centralidade da música rap no quotidiano
dos jovens bem como o seu contributo para a redefinição de significados e de
identidades, pondo em causa classificações estigmatizantes.
O texto de Pedro Rodrigues examina o tratamento conferido pela imprensa
tablóide à criminalidade. O seu estudo abarca os primeiros anos do presente
milénio e a partir de uma simultaneamente extensa e detalhada análise
categorial mostra como a percepção pública sobre a violência e o sentimento de
insegurança são influenciados pelo processo de construção das notícias e pelas
designadas vagas mediáticas.
Deste número constam ainda as recensões aos livrosInstitutions and Politics, de
José Manuel Leite Viegas, Helena Carreiras e Andres Malamud, e A Escola Pública
Pode Fazer a Diferença, de Maria de Lurdes Rodrigues.
Maria das Dores Guerreiro