Estudo de adaptação e validação de um questionário de clima organizacional para
organizações sociais
Introdução
O contexto social de uma organização inclui um conjunto de factores
psicossociais, nomeadamente relações interpessoais, normas sociais,
expectativas comportamentais, e atitudes que determinam, entre outros aspectos,
a abordagem ao trabalho, os sentimentos face ao papel organizacional, a
interacção intra e inter-organizacional e a interpretação do ambiente laboral
por parte dos colaboradores (Glisson, 2002).
É neste contexto que os estudos de clima organizacional procuram, através da
percepção dos colaboradores, explorar a realidade organizacional e identificar
um conjunto de aspectos que afectam o seu comportamento, atitudes, bem-estar,
desempenho profissional e, consequentemente, os determinantes do sucesso
organizacional (Glisson & James, 2002).
Com base nesta informação é possível gerir o clima e planear intervenções
organizacionais que maximizem a qualidade de vida no trabalho, o desempenho e a
produtividade organizacional, tal como documentado por um amplo conjunto de
evidência empírica (e.g., Kleinman, Handal, Enos, Searight, & Ross, 1989;
Kottkamp, Mulhern, & Hoy, 1987; O'Driscoll & Evans, 1988; Poole, 1985;
Turnipseed, 1980; Witt, 1989). A monitorização do clima organizacional
constitui, assim, uma importante ferramenta de gestão na medida em que veicula
informação, promove a participação dos colaboradores na expressão da sua visão
organizacional, favorece a comunicação intra-organizacional, permite comparar
diferentes percepções dentro de uma mesma ou de diferentes organizações,
promove e reforça boas-práticas e aumenta o envolvimento dos colaboradores no
trabalho, com repercussões nas taxas de absentismo, satisfação e desempenho
(e.g., Altmann, 2000).
Atendendo à relevância da avaliação e monitorização do clima organizacional, o
objectivo do presente artigo é, então, o de apresentar um estudo de adaptação e
validação de um instrumento de medida de clima organizacional específico para
organizações sociais.
Clima Organizacional
O clima organizacional é um construto complexo e multidetermidado e, como tal,
susceptível de muitas definições, sendo talvez a mais consensual aquela que o
define como o modo através do qual as pessoas percebem os seus ambientes de
trabalho (e.g., James & James, 1989; Verbeke, Volgering, & Hessels,
1998).
O conceito de clima organizacional tem sido abordado sob quatro perspectivas
distintas: organizacional, psicológica, psicossocial e cultural (Neves, 2001).
A perspectiva organizacional, onde o clima é encarado como uma manifestação
objectiva das características da organização, reflectindo o conjunto de
percepções semelhantes que emergem da exposição dos mesmos indivíduos aos
mesmos factores organizacionais (e.g., Angle & Perry, 1986; De Witte &
De Cock, 1986; Forehand & Gilmer, 1964; Guion, 1973; Miceli & Near,
1985; Payne & Pugh, 1975); a perspectiva psicológica, no âmbito da qual o
clima expressa a forma como o indivíduo, mediado pelas suas características
individuais, percebe a realidade organizacional (e.g., James, James, &
Ashe, 1990; James & Jones, 1974; Joyce & Slocum, 1982, 1984); a
perspectiva psicossocial, segundo a qual a interpretação da realidade
organizacional decorre da percepção das características organizacionais, da sua
interacção com outros membros da organização e respectivas relações de poder e
ainda de processos políticos (Mintzberg, 1979), processos de pertença grupal
(Newman, 1977), e processos simbólicos de interacção (Festinger, 1954;
Schneider & Reichers, 1983); finalmente, a perspectiva cultural centra-se
na influência de um contexto mais amplo, onde um grupo de indivíduos interage e
partilha uma estrutura de referência que contextualiza a sua interacção e o
significado dos eventos organizacionais (a cultura organizacional; Moran &
Volkwein, 1992).
Clima em organizações sociais
O impacto do clima organizacional no desempenho dos profissionais e das
próprias organizações tem-se constituído como foco de extensa pesquisa desde a
década de 70 (e.g., Hellriegel & Slocum, 1974; James & Jones, 1974;
Payne & Pugh, 1975; Schneider, 1975). Contudo, esta pesquisa tem-se
centrado sobretudo em organizações industriais e empresariais. De facto, apesar
de os resultados indicarem que o clima organizacional constitui um factor
relevante na qualidade dos serviços prestados por organizações de outra
natureza, o estudo sistemático do clima só muito lentamente se tem vindo a
generalizar a instituições na área educativa (Ostroff & Schmitt, 1993;
Soloman, 1986) e sócio-educativa (Glisson & Hemmelgarn, 1998; Shim, 2010;
Yoo, Brooks, & Patti, 2007), saúde (Carvalho, 2007; Paulin, Ferguson, &
Bergeron, 2006), justiça e saúde mental (Glisson & James, 2002).
No contexto das organizações de saúde, alguns estudos sugerem que um clima
organizacional positivo se relaciona com a saúde e o bem-estar dos
profissionais de saúde (e.g., Carvalho, 2007), promove a satisfação e o
compromisso dos profissionais com a organização, e fomenta comportamentos
conducentes à percepção da satisfação do cliente e da qualidade do serviço
prestado (e.g., Paulin et al., 2006). O clima mostrou-se também um bom preditor
da rotatividade organizacional, tal como indicam os trabalhos de Shim (2010)
realizados no contexto de serviços sociais de apoio à infância, destacando a
exaustão emocional como um dos factores mais significativos na explicação das
intenções dos colaboradores para abandonarem a organização. Também no âmbito do
sistema de protecção de crianças e jovens em risco, Glisson e Hemmelgarn (1998)
mostram a existência de uma relação entre o clima organizacional
(especificamente no que toca ao baixo conflito, à cooperação, à satisfação
laboral e à personalização) e a qualidade do serviço prestado.
A particular relevância que o clima organizacional assume nas organizações
sociais baseia-se, sobretudo, nos objectivos destas organizações e na natureza
do trabalho desenvolvido pelos seus colaboradores. Trata-se assim de
organizações que prestam serviços continuados a populações vulneráveis,
frequentemente em risco de uma variedade de problemas físicos, sociais e
psicológicos. Estes aspectos tornam o trabalho nestas organizações
imprevisível, complexo e sujeito a elevados níveis de stresse, aliado a uma
constante necessidade de lidar com uma teia burocrática complexa de
regulamentos legais e organizacionais. Acresce que, aliado às fortes exigências
de tempo e de energia, estas funções são frequentemente acompanhadas por baixas
remunerações (Glisson & James, 2002). Por outro lado, a eficácia dos
serviços de intervenção social e o sucesso dos seus resultados dependem
fortemente das inter-relações laborais (baseadas muitas vezes na confiança), de
um ambiente de trabalho positivo e de uma força de trabalho competente e
estável, capaz de dar resposta a problemas inesperados e a necessidades
individualizadas das populações que servem (Glisson, Dukes, & Green, 2006).
No entanto, a investigação empírica tem demonstrado que muitas destas
organizações se caracterizam por atitudes laborais negativas (Glisson &
Durick, 1988), elevadas taxas de rotatividade e baixa satisfação com o
trabalho, quando comparadas com outro tipo de organizações (Soloman, 1986), e
que elevados níveis de stress e de conflito, e situações de burnout
experienciadas por muitos trabalhadores, se encontram entre as variáveis que
caracterizam o clima dos seus ambientes de trabalho. Indicadores de clima, tais
como conflito de papel, exaustão emocional e despersonalização, também
presentes nestas organizações, afectam quer a qualidade, quer os resultados do
serviço prestado (Glisson & Hemmelgarn, 1998), e explicam ainda as elevadas
taxas de rotatividade observadas nas organizações que prestam serviços na área
social (Cyphers, 2001).
Apesar deste cenário relativamente negativo, alguns estudos realizados em
organizações sociais mostram que é possível intervir com sucesso nestas
organizações através de estratégias de mudança organizacional (Glisson et al.,
2006). Estes estudos apontam a promoção de climas organizacionais positivos
como um dos principais preditores de atitudes de trabalho positivas, de menores
taxas de rotatividade, dum maior esforço para ultrapassar obstáculos, do
aumento da resposta às necessidades dos utentes e da promoção de serviços de
elevada qualidade (Glisson & Durick 1988; Glisson & Hemmelgarn, 1998,
Glisson & James, 2002; Henggeler & Schoenwald, 1999).
Objectivos
No presente artigo, apresentamos a adaptação e validação de um questionário de
clima organizacional, desenvolvido para aplicação em organizações sociais, a
uma amostra portuguesa de colaboradores deste tipo de organizações. O
questionário em causa foi elaborado pelo Children's Mental Health Services
Research Center da University do Tennessee, EUA, e baseia-se no questionário de
clima psicológico de James e Sells (1981), adaptado por Glisson e Hemmelgarn
(1998). Para tal, analisámos as suas qualidades psicométricas, nomeadamente
através da análise da estrutura factorial e do teste à fidelidade e
sensibilidade. Os dados obtidos com este questionário foram, também, explorados
em função de algumas variáveis sociodemográficas, nomeadamente, idade, sexo,
cargo de chefia e função ocupada pelos inquiridos (análises de sensibilidade do
instrumento) . Além disto, explorámos ainda como as percepções do clima
organizacional podem afectar outras variáveis importantes do contexto de
trabalho, tais como a satisfação e implicação organizacionais, explorando a
validade relativa a um critério (validade concorrente) deste mesmo instrumento.
Do ponto de vista teórico, o estudo do clima em instituições sociais poderá
constituir um contributo importante para a validação e generalização do
conceito de clima e para a análise das suas implicações na eficácia e
resultados organizacionais nestes contextos. Do ponto de vista da intervenção
social, poderá revelar-se um contributo importante para o conhecimento deste
tipo de instituições, e para a consequente melhoria da qualidade da prestação
dos serviços às comunidades que servem.
Método
Amostra
A amostra deste estudo é composta por 682 participantes, colaboradores de
Organizações Sociais, tendo os dados sido recolhidos entre 2007 e 20091. A
média de idades dos participantes é de 37.11 anos (DP = 10.34), sendo 82.8% do
sexo feminino. Cerca de metade dos participantes possui uma licenciatura (50%),
e 9.4% possui uma pós-graduação. De uma forma geral, estes participantes
encontram-se a trabalhar na sua organização há cerca de oito anos, e há cerca
de 10 anos em organizações desta natureza, sendo que 12.4% ocupa um lugar de
chefia. Parte dos inquiridos (42.4%) trabalha em organizações particulares de
intervenção social na comunidade (IPSS) e cerca de 30% em organizações
governamentais de intervenção social na comunidade (e.g., Santa Casa da
Misericórdia, Casa Pia de Lisboa, Autarquias, etc.). Os restantes inquiridos
distribuem-se entre organizações de educação e formação (22.6%) e de saúde
(5.1%). Quanto às funções ocupadas, verifica-se alguma heterogeneidade
salientando-se, contudo, percentagens razoáveis de técnicos2 (12.7%), de
profissionais de serviço social (9.2%), de educadores (16.8%), e de formadores/
professores (10.3%), e ainda um elevado número de profissionais com funções de
auxiliar (17.9%).
O Questionário de Clima Organizacional em Instituições Sociais
O questionário de clima organizacional utilizado neste estudo ' o
Organizational Climate Survey(OCL), desenvolvido pelo Children's MentalHealth
Services Research Center da University do Tennessee, EUA ' baseia-se no
questionário de clima psicológico de James e Sells (1981), adaptado por Glisson
e Hemmelgarn (1998) para ser aplicado em instituições sociais de apoio à
infância. O questionário de James e Sells tem por base o modelo de clima
psicológico de Jones e James (1979) e mede a forma como os indivíduos percebem
o seu ambiente de trabalho, e como utilizam esta sua percepção para avaliar as
características do mesmo. Assim, o questionário utilizado por Glisson e
Hemmelgarn retoma, não só, algumas dimensões centrais do modelo de Jones e
James (1979), tais como a clareza, o conflito e a sobrecarga de papéis, a
cooperação ou a formalização e a hierarquia, como acrescenta outras dimensões
adaptadas do questionário de James e Sells, tais como a despersonalização, a
exaustão emocional, a justiça, o desenvolvimento pessoal, etc. Assim, o
questionário original de Glisson e Hemmelgarn encontra- se dividido em quatro
temas gerais ' um tema de clima organizacional, e três temas de caracterização
genérica de instituições e dos seus colaboradores: estrutura, tecnologia e
atitudes face ao trabalho ', subdividindo cada tema em dimensões específicas.
Este questionário possui, portanto, 14 dimensões e um total de 115 itens. De
acordo com estudos anteriores (Glisson & James, 2002), estas dimensões
apresentam índices de consistência interna aceitáveis ' clima:
despersonalização (α = .69; 5 itens); exaustão emocional (α = .92; 6 itens);
justiça (α = .68; 6 itens); crescimento e desenvolvimento (α = .80; 5 itens);
realização pessoal (α = .72; 6 itens); clareza de papéis (α = .83; 6 itens);
conflito de papéis (α = .87; 9 itens); sobrecarga de papéis (α = .85; 8 itens);
cooperação (α = .81; 4 itens); estrutura : formalização (α = .74; 8 itens);
hierarquia de autoridade (α = .78; 7 itens); tecnologia: rotinização ( α = .77;
5 itens); atitudes face ao trabalho: satisfação no trabalho (α = .85; 11
itens); implicação organizacional (α = .88; 13 itens).
De seguida, descrevemos os temas e dimensões deste instrumento3, fornecendo
exemplos dos itens que as integram. A versão integral do questionário, adaptado
e validado para a presente amostra, é apresentada no Anexo_I.
Tema ' Clima
O tema Clima é composto por nove dimensões: a dimensão despersonalizaçãomede
sentimentos de impessoalidade do técnico na relação com osutentes/clientes
(e.g., Sinto que trato alguns utentes/clientes de forma impessoal; É difícil
sentir-me próximo(a) dos meus utentes/clientes); a dimensão exaustão emocional
mede sentimentos de fadiga e esgotamento relativamente à actividade exercida
(e.g., Sinto-me emocionalmente esgotado(a) com o meu trabalho; Sinto que
emocionalmente estou a chegar ao meu limite); a dimensão justiça é medida nas
suas dimensões de justiça distributiva, processual e relacional (e.g.,
Comparando-me com pessoas de outras organizações, considero que o meu ordenado
é justo; Aqui as promoções são determinadas pelas políticas da organização;
Aqui, ser promovido(a) depende mais do facto de gostarem de nós do que de
fazer um bom trabalho); a dimensão crescimento e desenvolvimento procura
aferir a percepção dos indivíduos relativamente às suas possibilidades de
promoção e avanço na carreira, bem como do seu próprio desenvolvimento
profissional (e.g., Esta organização enfatiza o crescimento e o
desenvolvimento; Esta organização proporciona várias oportunidades de
promoção se trabalharmos para tal); na dimensão realização pessoal é avaliada
a realização percebida pelos indivíduos no exercício da sua função (Sinto-me
bem-disposto(a) depois de trabalhar de perto com os meus utentes/clientes;
Neste trabalho tenho realizado muitas coisas que valem a pena); nas dimensões
clareza, conflitoesobrecarga de papéis, são avaliadas as percepções dos
indivíduosrelativamente a aspectos processuais das instituições onde se
encontram a trabalhar, nomeadamente à forma como o trabalho é organizado e
conduzido dentro da organização (e.g., Com que frequência os objectivos e
propósitos do seu cargo estão claramente definidos?), ao conflito entre a
situação de trabalho dentro da instituição e a vida pessoal do colaborador
(e.g., Com que frequência o seu trabalho interfere com a sua vida familiar?),
e à sobrecarga de trabalho percebida pelo indivíduo (e.g., Por mais que eu
faça, há sempre mais a ser feito); finalmente, a dimensão cooperação diz
respeito à forma como os indivíduos percebem as relações que estabelecem com os
colegas da instituição (e.g., Quando tenho uma tarefa difícil a fazer, as
pessoas da organização ajudam-me; Com que frequência os seus colegas confiam
uns nos outros?).
Tema ' Estrutura
Os aspectos relativos à Estrutura Organizacional centram-se nas questões de
centralização de poder e da formalização dos papéis dentro da organização
(Carvalho, 2007) e incluem dados sobre a participação na tomada de decisão,
sobre a hierarquia de autoridade, a divisão do trabalho e especificações a
nível procedimental que guiam as relações de trabalho de membros de uma
organização. No presente questionário, duas dimensões da estrutura
organizacional são medidas: formalização e hierarquia de autoridade. A
dimensãoformalizaçãocentra-se na percepção dos indivíduos relativamente a
procedimentos de trabalho na organização (e.g., Aqui, as pessoas fazem o
trabalho da mesma forma todos os dias; Devemos sempre seguir procedimentos
operacionais rígidos). A dimensão hierarquia deautoridadepermite aceder à
forma como os indivíduos percebem a hierarquia existente na sua organização e o
estilo de tomada de decisão (e.g., Poucas coisas podem ser feitas antes que um
supervisor ou coordenador aprove a decisão; Todas as decisões que tomo têm
que ser aprovadas pelo supervisor ou coordenador).
Tema ' Atitudes face ao Trabalho
A investigação no campo das Atitudes face ao Trabalho inclui, normalmente, a
análise da satisfação face ao trabalho e da implicação organizacional(Glisson
& Durick, 1988). Asatisfação face ao trabalhoé definidacomo uma avaliação
positiva do trabalho ou das experiências com ele relacionadas (Locke, 1976), e
diz respeito aos aspectos mais práticos do trabalho, isto é, às obrigações e
tarefas dos indivíduos enquanto colaboradores de uma organização (Mowday,
Porter, & Steers, 1982; Williams & Hazer, 1986). A implicação
organizacional aparece definida na literatura enquanto uma motivação para
permanecer membro de uma organização e de exercer um esforço adequado para
atingir os objectivos por ela fixados (Mowday et al., 1982), sendo muitas vezes
vista como uma forma de vinculação do indivíduo à organização.
A dimensão satisfação com o trabalho é operacionalizada através de itens como:
Com que frequência se sente satisfeito(a) com o prestígio que o seu trabalho
tem na comunidade?; Com que frequência se sente satisfeito(a) com o
reconhecimento que recebe por fazer um bom trabalho? A dimensão implicação
organizacional é operacionalizada através de itens como: Sinto orgulho em
dizer aos outros que faço parte desta organização; Estou disposto(a) a
empenhar-me para que esta organização tenha sucesso.
Procedimento
No presente estudo, os participantes responderam a uma versão traduzida para
português deste questionário. A tradução dos itens de inglês para português foi
revista por um painel de três juízes, tendo sido seguida de retroversão por um
tradutor profissional e nova avaliação pelo mesmo painel (Calheiros, Moleiro,
Garrido, Rodrigues, & Martins, 2010). Os profissionais que aceitaram
participar no preenchimento deste questionário avaliaram cada item de acordo
com uma escala de 5 pontos, variando entre 5 = Sempre a 1 = Nunca. No final, os
participantes responderam, também, a algumas questões de caracterização
sociodemográfica, nomeadamente, sexo, idade, habilitações, área de formação,
organização de pertença, anos na área de trabalho, anos na organização, e
exercício de função de chefia. O tempo máximo de preenchimento deste
questionário ronda os 45 minutos.
Resultados
Validade de Construto e análise da Consistência Interna do Questionário de
Clima Organizacional
Para a determinação da validade de construto das dimensões que compõem os temas
Clima, Estrutura e Atitudes face ao Trabalho deste questionário, realizámos
diversas análises factoriais confirmatórias seguindo o modelo teórico e as
estruturas factoriais propostas por Glisson e Hemmelgarn (1998).
Assim, para o tema Clima testámos um modelo confirmatório com as nove dimensões
correlacionadas entre si que descrevemos anteriormente. Este modelo revelou que
os itens que compõem a dimensão justiça não saturam significativamente no
factor latente previsto no modelo. Por este facto, o modelo revelou-se muito
inadequado. Assim, testámos um novo modelo com oito dimensões correlacionadas.
Paralelamente, testámos um modelo com estas mesmas oito dimensões, desta vez
não correlacionadas. Finalmente, foi testado um modelo factorial de segunda
ordem.
Relativamente ao tema Estrutura foram calculados, novamente, três modelos e
verificados os respectivos índices de adequação: um modelo a dois factores não
correlacionados, um modelo a dois factores correlacionados, e um modelo de
segunda ordem, ou seja, dois factores de primeira ordem associados a um factor
latente de segunda ordem.
Por fim, e no que toca ao tema Atitudes face ao Trabalho foram, novamente,
calculados três modelos: um modelo a dois factores correlacionados, um modelo a
dois factores não correlacionados, e um modelo de segunda ordem.
No cálculo destes diferentes modelos confirmatórios foram aplicados os
constrangimentos usuais para a obtenção da especificação geral e identificação
destes modelos (cf. Arbuckle, 2006; Byrne, 2009), isto é, em cada factor
latente o caminho entre um item e esse factor foi constrangido a 1 e todos os
erros de medida associados aos diferentes itens foram, também, constrangidos a
1. Igualmente, e por questões de identificação, no modelo de segunda ordem as
variâncias únicas associadas aos factores de primeira ordem foram todas
constrangidas à igualdade (cf., Byrne, 2009). Obtiveram-se índices de adequação
relativos e absolutos dos modelos, ou seja, os índices qui-quadrado ( χ2), qui-
quadrado relativo (χ2/df), o goodness-of-fit-index (GFI; Jöreskog & Sorbom,
1984), o comparative-fit-index (CFI; Bentler, 1990), e o root-mean-square-
error-of-approximation (RMSEA; Browne & Cudeck, 1993). Os resultados destas
diferentes análises factoriais confirmatórias são apresentados no Quadro_1.
Tal como podemos observar relativamente ao tema Clima , dos três modelos
testados o que revela os melhores índices de adequação é o modelo a oito
factores correlacionados. De facto, a análise dos índices de adequação
absolutos (GFI, CFI e RMSEA), bem como o índice qui-quadrado relativo mostra
que este modelo atinge valores aceitáveis, GFI = .85; CFI = .83; RMSEA = .049
(IC = .046 a .052). Neste modelo, os pesos estandardizados dos itens nos
respectivos factores latentes apresentaram-se, de um modo geral, moderados a
elevados (de λ = .32 a λ = .84), e as correlações entre factores mostraram-se
moderadas a fortes (de r = -.12 a r = .90). No entanto, as correlações entre as
dimensões realização pessoal e sobrecarga de papéis e entre cooperação e
sobrecarga de papéis não se revelaram significativas. De uma forma geral, este
modelo confirmatório segue, então, a proposta original de Glisson e Hemmelgarn
(1998).
Nos restantes modelos, os índices de adequação são mais baixos e, no caso do
modelo não correlacionado, os valores dos índices de adequação absolutos
mostram-se abaixo dos valores normais referenciados na literatura (e.g., GFI =
.75; CFI = .65). Os resultados apresentados no Quadro_3 mostram ainda que as
associações fortes obtidas entre as diferentes dimensões do tema Clima sugerem
a sua agregação e coerência em torno deste mesmo tema.
Note-se que em todos os modelos, os índices de adequação aumentaram
consideravelmente os seus valores quando retiramos da dimensão sobrecarga de
papéiso item Com que frequência tem de trabalhar horasextraordinárias?, e da
dimensão crescimento e desenvolvimento o item Esta organização enfatiza o
crescimento e o desenvolvimento, uma vez que possuíam estimativas de erro de
medida associadas bastante elevadas e, por este facto, perturbavam os modelos
de medida. Neste sentido, o tema Climamantém oito das nove dimensões originais,
mas perde dois itens nanossa análise de validação de construto.
A análise da consistência interna de cada uma destas dimensões revelou que os
alfas de Cronbach que obtivemos nesta amostra são, genericamente, mais baixos
do que aqueles relatados pelos autores da escala original, ainda que
aceitáveis. Assim, as dimensões despersonalização, crescimento
edesenvolvimentoecooperaçãopossuem um nível de consistência interna moderado4
(respectivamente, α = .61; α = .68; α = .68), enquanto as dimensões
desenvolvimento pessoal, sobrecarga de papéis, clareza de papéis e conflito de
papéispossuem um bom nível de consistência interna (respectivamente, α = .73; α
= .74; α = .77; α = .78). A dimensão exaustão emocional atingiu um nível de
consistência interna bastante elevado (α = .83).
No que toca ao tema Estrutura, e como podemos verificar no Quadro_1, os dois
modelos que mostram uma adequação mais razoável são o modelo a dois factores
correlacionados e o modelo a dois factores com um factor de segunda ordem. Na
realidade, estes dois modelos possuem parâmetros e indicadores de adequação
idênticos. Isto acontece porque os constrangimentos impostos no modelo de
segunda ordem para atingir a sua identificação fazem equivaler os graus de
liberdade neste e no modelo a dois factores correlacionados. Contudo, a
interpretação de um e outro modelo é substancialmente diferente. De forma a
mantermos a coerência com o modelo original proposto por Glisson e Hemmelgarn
(1998), optámos por seleccionar o modelo a dois factores correlacionados e
utilizá-lo nas análises subsequentes.
Em ambos os modelos anteriores verificámos que ao retirar um item da escala de
formalização (ou seja, o item A utilização dos procedimentos estabelecidos é
constantemente enfatizada) e outro item da escala de hierarquia de autoridade
(o item A forma como o trabalho é feito depende,essencialmente, da pessoa que
o faz), os índices de adequação melhoravam substancialmente.
Como se pode observar, também, no Quadro_1, o modelo a dois factores não
correlacionados não atinge os índices de adequação considerados aceitáveis e é,
por isso, preterido relativamente aos restantes modelos.
A análise da consistência interna das dimensões formalização e hierarquia de
autoridademostra valores aceitáveis (respectivamente,α= .69;α = .70).
Por fim, e no que diz respeito ao tema Atitudes face ao Trabalho, os resultados
apresentados no Quadro_1 mostram que o modelo que apresentou os piores níveis
de adequação foi o modelo a dois factores não correlacionados. Tal como para o
tema anterior, o modelo a dois factores relacionados e o modelo com dois
factores e um factor de segunda ordem mostram-se razoavelmente adequados e com
indicadores de qualidade aceitáveis. Tal como fizemos referência no tema
anterior, estes dois modelos são idênticos em termos dos seus graus de
liberdade e restantes indicadores estatísticos devido aos constrangimentos
impostos no modelo de segunda ordem. Para este tema, vamos seguir a opção que
tomámos no tema Estrutura, aceitando o modelo a dois factores correlacionados.
No que diz respeito à análise da consistência interna das dimensões satisfação
com o trabalhoeimplicação organizacional, os valores de alfa deCronbach
encontrados mostraram-se elevados (respectivamente, α = .86; α = .83).
Análise à sensibilidade do questionário de clima: Os temas Clima, Estrutura, e
Atitudes face ao Trabalho
Uma vez estabilizada a estrutura factorial do questionário, apresentamos, no
Quadro_2 as pontuações médias obtidas pelos inquiridos nas diferentes dimensões
do questionário de clima organizacional, bem como as respectivas medidas de
assimetria e curtose e outras medidas descritivas. De uma forma global, podemos
verificar que as dimensões validadas pela análise factorial confirmatória
seguem uma distribuição aproximadamente normal, como pode ser testemunhado
pelos valores de assimetria e curtose e, em especial, pelos rácios destas duas
medidas pelos respectivos erros padrão. Exceptuam-se as dimensões realização
pessoal e implicação. Estas duas dimensões mostram desvios à normalidade. No
caso da dimensão realizaçãopessoalobservamos uma distribuição enviesada à
direita, ou seja, com osparticipantes a responderem nos pontos mais elevados da
escala, com um aspecto leptocurtico, isto é, com uma elevada concentração de
frequências nestes mesmos pontos. Por outro lado, a dimensão implicação mostra,
igualmente, uma distribuição enviesada à direita, mas desta feita com um
aspecto platicurtico, ou seja, com uma maior dispersão de frequências pelos
diferentes pontos da escala.
Para além disto, e a partir de uma análise de medidas repetidas, tomando os
factores encontrados como variáveis intra-sujeitos, evidencia-se que os
inquiridos pontuam, genericamente, de forma diferente nas diversas dimensões do
questionários, F(11, 7480) = 531.22, p< .001, ηp2 = .44. No seguimento desta
análise, realizámos testes t contra o ponto médio (valor 3) da escala utilizada
(1 = nunca a 5 = sempre), de modo a verificar como é que as respostas dos
inquiridos se posicionam nas diferentes dimensões do questionário, bem como
retirar algumas conclusões globais acerca do clima percepcionado, das
percepções relativas à estrutura organizacional e da satisfação e implicação
expressas pelos inquiridos.
Desta forma, na dimensão despersonalização a média de respostas dos inquiridos
(M = 2.02, DP = .59) encontra-se abaixo do ponto médio da escala, t(680) = -
43.17, p< .001, verificando-se o mesmo quando avaliam a exaustão emocional(M=
2.62, DP= .65),t(680) = -15.18, p< .001, e adimensão crescimento e
desenvolvimento, (M = 2.49 , DP = .74), t (680) = -17.79, p< .001. Na dimensão
realização pessoal, as respostas dos inquiridos situam-se significativamente
acima do ponto médio da escala (M = 3.73,DP= .52),t(680) = 37.06, p< .001, bem
como na dimensãoclareza de papéis, (M= 3.52, DP= .66),t(680) = 20.28, p< .001,
e na dimensãosobrecarga de papéis(M= 3.07, DP= .58),t(680) = 3.22, p< .001. A
dimensãoconflito de papéisé avaliada abaixo do ponto médio pelos inquiridos
(M=2.64, DP = .55), t(680) = -17.07, p< .001. A dimensão cooperação foi
avaliada no ponto médio da escala (M = 2.98, DP = .49), t(680) = -1.19, p< .24.
Analisando agora as respostas médias dos inquiridos no tema Estrutura, e mais
especificamente nas dimensõesformalização e hierarquia de autoridade, as suas
respostas situam-se acima do ponto médio da escala (M= 3.15, DP = .55), t(680)
= 6.99, p< .001 e (M = 3.14, DP = .50), t(680) = 7.71, p< .001,
respectivamente.
Finalmente, e relativamente ao tema Atitudes face ao Trabalho, os inquiridos
respondem acima do ponto médio da escala quer na dimensão satisfação com o
trabalho(M= 3.88, DP= .57),t(680) = 17.29, p< .001,quer na dimensão implicação
à organização (M = 3.55, DP = .58), t(680) = 24.78, p< .001.
De uma forma geral, estes resultados mostram que as escalas possuem
sensibilidade para detectar diferentes tendências de resposta dos inquiridos em
diferentes domínios do clima e estrutura organizacional, bem como das suas
atitudes face ao trabalho.
Para analisar, de uma forma ainda mais específica, a sensibilidade do
questionário de clima relativamente a inquiridos classificados de acordo com
diferentes variáveis sociodemográficas, realizámos diferentes análises de
variância, com comparações post-hoc, analisando diferenças nas respostas dos
participantes às dimensões deste instrumento em função da ocupação de um cargo
de chefia, das funções exercidas, do sexo e da idade5. Apresentamos, de
seguida, apenas as comparações post-hoc que se revelaram significativas (teste
de Tukey, p< .05). Note-se que a dimensão realização pessoal não mostrou
sensibilidade relativamente a nenhuma destas variáveis de caracterização
sociodemográfica.
Tema ' Clima
Despersonalização.A análise de sensibilidade efectuada sobre estadimensão
mostrou que esta diferencia bem indivíduos do sexo masculino e feminino, F(1,
597) = 4.18, p< .04, ηp2 = .01, e indivíduos que ocupam diferentes funções, F
(8, 590) = 3.35, p< .001, ηp2 = .004. Assim, os inquiridos do sexo feminino
mostraram níveis de despersonalização mais baixos (M = 1.98) do que os
inquiridos do sexo masculino (M = 2.11). Adicionalmente, profissionais de
serviço social (M = 2.19) e formadores/professores (M = 2.18) apresentam níveis
de despersonalização superiores quando comparados com educadores (M = 1.84) e
psicólogos (M = 1.82).
Exaustão emocional.A análise da sensibilidade desta dimensão mostrou que esta
diferencia bem os inquiridos em função da idade, F(3, 591) = 3.18, p< .02, ηp2
= .02, da função que realizam F(8, 590) = 3.29, p< .001, ηp2= .04, e do
exercício de cargos de chefia,F(1, 594) = 4.30, p< .04,ηp2=.01. Assim,
verifica-se que os inquiridos mais jovens (isto é, até aos 29 anos) são os que
manifestam níveis de exaustão emocional inferiores (M = 2.52). Estes valores
diferem significativamente dos inquiridos com idades compreendidas entre os 30
e os 35 anos (M = 2.72), F(3, 659) = 2.86, p< .04, ηp2= .03. Já no que diz
respeito à função exercida podemos verificar que esta dimensão diferencia bem
os psicólogos (M = 2.43) dos educadores (M = 2.43), que reportam níveis mais
baixos de exaustão emocional, e os coordenadores (M = 2.80) dos professores/
formadores (M = 2.81), que apresentam níveis de exaustão mais elevados.
Finalmente, verificou-se, também, que esta escala diferencia bem os inquiridos
que ocupam lugares de chefia (M = 2.75) dos que não ocupam estes lugares (M =
2.59).
Crescimento e desenvolvimento.A análise de sensibilidade a estadimensão mostrou
que esta diferencia bem os indivíduos que ocupam diferentes funções, F(8, 590)
= 4.44, p< .001, ηp2 = .06. Desta forma, inquiridos com funções menos
especializadas, como os auxiliares (M = 2.77) apresentam valores mais elevados
nesta dimensão do que inquiridos com funções mais especializadas, como por
exemplo os profissionais de serviço social (M = 2.20) e os profissionais de
saúde (M = 2.33).
Clareza de papéis.Nesta dimensão verificaram-se diferenças entreinquiridos que
ocupam diferentes funções, F(8, 590) = 3.14, p< .002, ηp2 = .04, e entre
inquiridos que ocupam ou não lugares de chefia, F (1, 594) = 3.79, p< .05, ηp2
= .01. Observamos que existe maior percepção de clarezade papéisjunto dos
auxiliares (M= 3.69) quando comparados com os assistentes sociais (M = 3.28) e
junto daqueles que ocupam um lugar de chefia (M = 3.65), em contraste com as
não chefias (M = 3.50).
Conflito de papéis.Esta dimensão permite diferenciar inquiridos emdiferentes
escalões etários, F(3, 591) = 4.78, p< .003, ηp2 = .002, que ocupam diferentes
funções, F(8, 590) = 5.23 , p< .001, ηp2 = .07, bem como inquiridos do sexo
feminino e masculino, F(1, 597) = 3.95, p< .05, ηp2 = .01. Assim, verificámos
que são os inquiridos com idades compreendidas entre os 30 e os 35 anos que
percebem maior conflito de papéis (M = 2.76), pelo menos quando comparados com
os inquiridos com idades entre os 16 e os 19 anos (M = 2.61) e com mais de 46
anos (M = 2.57), F(3, 659) = 3.94,p< .001,ηp2= .02. Já no que diz respeito à
diferenciação de inquiridos quedesempenham diferentes funções, observámos que
são aqueles que ocupam funções de coordenação, os formadores / professores e os
profissionais de serviço social que percebem maior conflito de papéis
(respectivamente, M= 2.82,M= 2.79,M= 2.83), pelo menos quando comparados com
osinquiridos que exercem funções de auxiliares ( M = 2.45). Por fim,
detectamos, ainda, uma diferenciação entre inquiridos do sexo feminino e do
sexo masculino no que diz respeito a esta dimensão. Assim, são as inquiridas
que mostram maior conflito de papéis (M = 3.16) quando comparadas com os
inquiridos (M = 3.04).
Sobrecarga de papéis.Verificámos que esta dimensão mostra sensibilidade na
diferenciação de inquiridos com idades diferentes, F(3, 591) = 7.54, p< .001,
ηp2 = .04, com ocupação ou não de um lugar de chefia, F(1, 594) = 9.09, p<
.003, ηp2 = .02, e com diferentes funções, F(8, 590) = 10.91,p< .001,ηp2= .13.
Deste modo, são os inquiridos mais velhos (isto é, comidades superiores a 46
anos) que percebem menor sobrecarga de papéis (M = 2.93), pelo menos quando
comparados com os inquiridos com idades compreendidas entre os 30 e os 35 anos
(M = 3.21). Por outro lado, os inquiridos com funções de chefia, são aqueles
que manifestam mais sobrecargade papéis(M= 3.26; inquiridos que não ocupam
cargos de chefia:M=3.06). Por fim, os inquiridos com funções administrativas e
auxiliares percebem níveis inferiores de sobrecarga de papéis (respectivamente,
M = 2.85; M= 2.80), pelo menos quando comparados com os inquiridos com
funçõesmais especializadas, como os profissionais de serviço social (M = 3.44).
Cooperação.Nesta dimensão apenas se verificaram diferenças nosinquiridos que
ocupam, ou não, um lugar de chefia. Desta forma, aqueles que não ocupam uma
posição de chefia pontuam mais alto nesta sub-escala (M = 3.00) do que aqueles
que ocupam (M = 2.87), F(1, 665) = 9.74,p< .001,ηp2= .01.
Tema ' Estrutura
Formalização.Esta dimensão mostrou-se sensível a diferenças aonível da idade
dos inquiridos, F(3, 591) = 6.96, p< .001, ηp2 = .03, e da função que realizam,
F(3, 590) = 6.44, p< .001, ηp2 = .08. Assim, são os inquiridos mais velhos, ou
seja, com idades superiores a 46 anos, que percebem maior formalização nas suas
instituições (M = 3.27), ao contrário dos inquiridos com idades compreendidas
entre os 16 e os 29 anos (M = 3.03) e entre os 30 e os 35 anos (M = 3.05). No
que diz respeito à função exercida pelos inquiridos, constatámos que
profissionais que exercem funções administrativas ou auxiliares
(respectivamente, M = 3.33; M = 3.33), expressam maior percepção de
formalização do que os restantes profissionais, nomeadamente os psicólogos (M =
2.81).
Hierarquia de autoridade.Esta dimensão mostrou-se sensível a diferenças no que
diz respeito ao sexo dos inquiridos, F(1, 597) = 4.30, p< .04, ηp2= .01, ao
facto de ocuparem, ou não, um lugar de chefia,F(1, 594) =4.57, p< .03, ηp2 =
.01, e à função que desempenham presentemente, F(8, 590) = 4.69, p< .001, ηp2 =
.06. Relativamente ao sexo, podemos constatar que são os inquiridos do sexo
feminino que percebem maior hierarquia deautoridadena sua instituição (M= 3.16;
sexo masculino:M= 3.04). Poroutro lado, são os inquiridos com cargos de chefia
que percebem uma menor hierarquia de autoridade(M= 3.53), ao contrário dos que
não exercem estescargos (M = 3.68). Finalmente, os profissionais de saúde (M =
2.91) percebem menor hierarquia de autoridade nas suas organizações quando
comparados com os auxiliares (M = 3.37).
Tema ' Atitudes face ao Trabalho
Satisfação com o trabalho.Esta dimensão apenas se mostrou sensívelàs diferentes
funções exercidas pelos inquiridos, F(8, 621) = 4.05, p< .001, ηp2= .06. Assim,
auxiliares (M= 3.56) e educadores (M= 3.51) mostram-se mais satisfeitos com o
seu trabalho, pelo menos quando comparados com os profissionais de saúde (M =
3.48) e os profissionais de serviço social (M = 3.11).
Implicação organizacional.Quando analisamos esta dimensão podemos verificar que
ela se mostrou apenas sensível ao facto dos inquiridos ocuparem ou não um lugar
de chefia, F(1, 594) = 4.57, p< .03, ηp2 = .01. Assim, aqueles que ocupam
lugares de chefia encontram-se mais implicados com a sua organização (M = 3.68)
do que os que não assumem este tipo de responsabilidade (M = 3.53).
Validade relativa a um critério: Associações entre Clima, Estrutura e Atitudes
face ao Trabalho
Para determinar a validade concorrente do questionário de Clima Organizacional,
analisaram-se as associações entre as dimensões que compõem os diferentes
temas, em especial as associações entre o tema Clima e o tema Estrutura, e
aquele primeiro e o tema Atitudes face ao Trabalho. Para tal, construíram-se
indicadores de acordo com os resultados obtidos nas diferentes análises
factoriais confirmatórias, através do cálculo da média das respostas dos
inquiridos nos diferentes itens que compõem as diferentes dimensões do
questionário. Os resultados destas correlações são apresentados no Quadro_3, e
podem ser tomados como indicadores, ainda que provisórios, da validade relativa
a um critério (i.e., validade concorrente) do tema Climarelativamente a outros
temas medidos por este questionário.
Como se pode verificar no quadro acima, as associações entre as medidas de
Clima e as dimensões formalização e hierarquia de autoridade (do tema
Estrutura) são fracas, ainda que significativas. Assim, quanto mais os
participantes percebem que os procedimentos de trabalho existentes na sua
organização são rígidos (i.e., quanto maior a formalização percebida), mais
eles exprimem sentimentos de exaustão emocional e despersonalização. A
percepção de rigidez de procedimentos de trabalho aparece tambémassociada a uma
maior cooperação. Da mesma forma, quando olhamos para as correlações entre as
diferentes dimensões de Clima e a dimensão hierarquia e autoridade, podemos
verificar que quanto mais os inquiridos percebem que a sua instituição possui
uma linha hierárquica mais vincada, mais expressam sentimentos de exaustão
emocional, despersonalização; e maiores as percepções de sobrecarga e conflito
de papéis. Novamente, são também estes participantes os que alegam perceber
maior cooperação.
Como se referiu, as associações entre Clima e as duas dimensões do tema
Estrutura apresentam-se pouco expressivas do ponto de vista numérico. Neste
sentido, estes resultados parecem sugerir que o clima percebido parece não
estar particularmente relacionado com a estrutura organizacional, pelo menos no
que à formalização e hierarquia diz respeito. Contudo, se colocarmos a atenção
agora sobre as dimensões das Atitudes face ao Trabalho, o panorama de
associações torna-se mais evidente. De facto, os inquiridos manifestam maior
satisfação no trabalho e maior implicação organizacionalquanto mais a
organização proporciona oportunidades decrescimento e
desenvolvimentoprofissional e de recompensa pelo trabalho realizado;quanto mais
claro o modo como os inquiridos percebem o seu papel na organização; e quanto
mais eles se percebem pessoalmente realizados na sua função. Pelo contrário,
níveis inferiores de satisfação estão associados a maiores sentimentos de
exaustão emocional e de despersonalização e a maior sobrecarga e conflito de
papéis desempenhados na instituição. Curiosamente, a cooperação apresenta
correlações negativas com a implicaçãoorganizacional, ou seja, os inquiridos
exprimem menorimplicaçãoquantomaior a cooperação que percebem existir na sua
instituição. Finalmente, e de uma forma global, os resultados desta análise
parecem sugerir que, ao contrário da relação incipiente entre Clima e
Estrutura, as Atitudes face aoTrabalho, ou seja a implicação e a satisfação
organizacional, relacionam-se fortemente com o Clima, testemunhando a
existência de validade concorrente deste instrumento.
Discussão
Neste artigo analisámos as qualidades psicométricas de um instrumento
especificamente concebido para ser aplicado em instituições sociais ' o
Questionário de Clima Organizacional (Glisson & Hemmelgran, 1998). Este
instrumento apresentou indicadores de validade de construto e de consistência
interna adequados. De facto, e tal como demonstram os respectivos índices de
adequação dos modelos obtidos nas análises factoriais confirmatórias quer o
tema Clima (composto por oito factores correlacionados dos nove factores
originais), quer o tema Estrutura (composto por dois factores correlacionados),
quer ainda o tema Atitudes face ao Trabalho (composto por dois factores
correlacionados) mostraram indicadores de razoável adequação. A consistência
interna destas dimensões revelou-se adequada a boa ou elevada. De uma forma
genérica, a estrutura factorial obtida nas diferentes dimensões segue
aproximadamente a proposta original de Glisson e Hemmelgarn (1998). Note-se,
contudo, que os temas Tecnologia e Justiça não mostraram, na presente amostra,
qualidade métricas consideradas adequadas para serem mantidos na escala final
que apresentamos neste artigo. Em estudos futuros será conveniente rever os
itens que compõem estes temas, procurando adaptá-los e validá-los de modo a
aproximarmo-nos da escala original proposta pelos autores.
Ainda no que diz respeito às propriedades psicométricas do Questionário de
Clima Organizacional, testámos a sensibilidade das diferentes dimensões que o
compõem relativamente à amostra global e a algumas variáveis de caracterização
sociodemográfica dos trabalhadores de organizações sociais. Estas análises
permitem-nos verificar o poder discriminativo das diferentes dimensões deste
instrumento relativamente a diferentes tipos de inquiridos. Isto significa que
o presente instrumento de Clima Organizacional permite obter avaliações mais
finas e compreender como diferentes indivíduos percebem, de forma diferente,
determinado aspecto importante da vida organizacional. Assim, os testes à
sensibilidade mostraram que as dimensões que melhor permitem uma diferenciação
de inquiridos com diferentes características sociodemográficas são as de
exaustão emocional, conflito de papéisesobrecarga de papéisdo temaClima, bem
como a dimensãohierarquiaeformalizaçãodo temaEstrutura. As restantes dimensões
são menos diferenciadoras, ainda que se tenham verificado bons indicadores de
sensibilidade relativamente à variável sexo dos inquiridos, ao facto de
ocuparem, ou não, um lugar de chefia, e no que diz respeito à função que ocupam
presentemente na organização.
Finalmente, testámos, ainda que de forma provisória, a validade relativa a um
critério do tema Clima (na sua vertente de validade concorrente), utilizando
como variáveis-critério os dois temas de Estrutura e Atitudes faceao
Trabalhopresentes neste instrumento. As correlações que obtivemos permitem-nos
mostrar que as associações entre as diferentes dimensões do tema Clima e as
dimensões formalização e hierarquia de autoridade do tema Estrutura se
apresentaram pouco expressivas. Estes resultados não suportam a validade
relativa a um critério do tema Clima relativamente ao tema Estrutura. Isto
significa que, neste tipo de organizações, dificilmente podemos prever as
opiniões dos inquiridos relativamente às dimensões formalizaçãoehierarquia de
autoridadea partir das suas pontuações nas diferentes dimensões do clima
organizacional analisadas por este instrumento.
Contudo, as associações entre o tema Clima e o tema Atitudes face
aoTrabalhorevelaram-se mais expressivas. Assim, é de notar a contribuiçãodas
dimensões crescimento e desenvolvimento, clareza de papéis e realização
pessoalpara uma maiorsatisfaçãoeimplicação na organização. Paralelamente,
verificámos também que as dimensões exaustão emocional, despersonalização e
conflito de papéissão as que contribuem mais para que osprofissionais se sintam
menos satisfeitos com o trabalho que desenvolvem presentemente na organização,
bem como contribuem para a sua menor implicação organizacional, resultados
estes que suportam estudos empíricos anteriormente publicados (cf., Carvalho,
2007).
Não podemos deixar de apontar algumas limitações aos dados que apresentamos
anteriormente. Assim, para que possa ser generalizada, este tipo de
investigação deverá ser replicada utilizando uma amostra representativa de
organizações sociais que inclua uma maior diversidade de enquadramentos
institucionais. Por outro lado, os resultados que apresentamos decorrem de
percepções que os colaboradores têm da sua organização. Todavia, as limitações
dos dados recolhidos por auto-relato são bem conhecidas (e.g., Podsakoff &
Organ, 1986). Investigação subsequente deverá incluir abordagens metodológicas
adicionais, designadamente entrevistas e observações em contexto de trabalho
que permitam completar os dados obtidos através do Questionário de Clima
Organizacional.
Estudos futuros a realizar com este instrumento devem também procurar obter
mais evidência empírica relativamente às suas qualidades psicométricas,
nomeadamente no que diz respeito à sua validade relativamente a um critério,
quer procurando novas medidas critérios, quer distanciando a sua mensuração do
momento em que se recolhem os dados com o questionário de Clima Organizacional
(permitindo, assim, a obtenção de indicadores de validade preditiva e
assegurando uma menor contaminação entre medida e critérios) . Adicionalmente,
seria interessante, também, obter indícios de validade convergente deste
instrumento relativamente a outros instrumentos de Clima organizacional.
Finalmente, salientamos que nem o contexto organizacional, nem um clima
positivo, constituem por si só o objectivo a atingir pelas organizações
sociais, mas sim um meio para promover o bem-estar dos seus utentes. De facto,
a literatura mostra que o clima organizacional tem um impacto significativo na
eficácia dos serviços prestados (e.g., Glisson & Hemmelgarn, 1998) . No
entanto, este facto não explica, por si só, a ligação causal entre o clima
organizacional e o serviço prestado. Neste sentido, investigadores, técnicos e
decisores organizacionais deverão centrar os seus esforços em explorar
empiricamente como é que o contexto organizacional, nomeadamente na sua
vertente de clima organizacional, afecta a quantidade e a qualidade dos
serviços prestados aos seus utentes.