Entre marido e mulher, a crise mete a colher: A relação entre pressão
económica, conflito e satisfação conjugal
As dificuldades económicas são um dos principais factores de conflito conjugal
(e.g., Papp, Cummings, & Goeke-Morey, 2009), conduzindo a sentimentos de
preocupação constante relativamente a despesas domésticas e de apoio familiar
(Kinnunen & Feldt, 2004). O modelo de stress familiar económico,
desenvolvido por Conger e Elder (1994), foi um dos primeiros a investigar o
impacto da situação económica na relação conjugal, sugerindo que a percepção de
dificuldades financeiras prejudica a qualidade da mesma, originando
instabilidade na interacção entre os cônjuges. Apesar de a investigação
demonstrar, de forma consistente, o impacto das dificuldades financeiras no
conflito (e.g., Aytaç & Rankin, 2009; Papp et al., 2009; Robila &
Krishnakumar, 2005) e na satisfação conjugal (e.g., Dakin & Wampler, 2008;
Kwon, Rueter, Koh, & Ok, 2003), a maioria dos estudos tem utilizado
constructos agregados das respostas de ambos os elementos do casal (Ponnet,
Wouters, Goedemé, & Mortelmans, 2013), impossibilitando a análise das
influências mútuas e interdependências entre os cônjuges. Por outro lado,
apesar da crise financeira que atravessa Portugal e das preocupações económicas
serem uma presença constante nas famílias, até à data não há estudos publicados
sobre a influência da percepção de pressão económica nos casais portugueses.
Contexto Económico em Portugal
A sociedade actual atravessa um período de recessão económica mundial, levando
a que muitas famílias enfrentem problemas financeiros significativos (Brinkman,
Pee, Sanogo, Subran, & Bloem, 2010). A crise económica afecta Portugal
desde 2007, tendo sido implementado um Programa de Assistência Económica e
Financeira (PAEF) em 2011.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE, 2013), em 2012 a taxa
de desemprego rondava os 15% e, em 2013, 27.4% da população vivia em risco de
pobreza e/ou exclusão social. Como resposta a esta realidade, muitas famílias
viram-se obrigadas a cortar despesas em diversas áreas, tais como alimentação,
saúde, educação, entre outras (SEDES, 2012). Em 2013, a Associação Portuguesa
para a Defesa do Consumidor (DECO) recebeu mais de 29 mil pedidos de ajuda por
parte de famílias carenciadas, um aumento de 26% relativamente ao ano anterior.
O desemprego (32% das famílias) e os cortes salariais (30.6%) foram as
principais causas apontadas para os pedidos de apoio efectuados (sobretudo
relacionados com sobre-endividamento). Até Setembro de 2012, 38% de famílias
portuguesas admitiu chegar ao final do mês com 300 euros negativos na conta
bancária e cerca de 70 mil agregados familiares assumiram não ter dinheiro
suficiente para uma alimentação adequada (DECO, 2013). Embora Portugal tenha
saído oficialmente do PAEF em 2013, sem necessidade de recorrer a um programa
cautelar, existe ainda um longo percurso até à recuperação económica e social
do país.
Estes dados salientam a necessidade de investigar a relação entre as
dificuldades financeiras que afectam as famílias portuguesas, o stress
individual e a qualidade da relação conjugal (nomeadamente, ao nível do
conflito e da satisfação conjugal).
Modelo de Stress Familiar Económico
O modelo de stress familiar económico (MSFE), desenvolvido por Conger e
colaboradores (Conger & Elder, 1994; Conger & Donnellan, 2007; Conger,
Conger, & Martin, 2010) postula que a existência de dificuldades
financeiras, tais como rendimentos baixos ou acontecimentos financeiros
negativos (e.g., perder o emprego), origina pressão económica nas famílias,
afectando o funcionamento familiar e individual. Esta pressão económica
corresponde à avaliação subjectiva que o indivíduo faz das suas circunstâncias
financeiras, sendo frequentemente considerada mais importante para o estudo do
seu funcionamento do que as condições objectivas de problemas financeiros
(Conger et al., 1999; Robila & Krishnakumar, 2005). Constituindo um
indicador da resposta das famílias à sua situação financeira, a pressão
económica refere-se à experiência psicológica associada à falta de capacidade
para fazer face às despesas (Conger & Elder, 1994; Mistry, Lowe, Benner,
& Chien, 2008), incluindo: (a) necessidades materiais insatisfeitas, tais
como alimentação ou vestuário, (b) incapacidade para pagar contas ou fazer face
às despesas, e (c) necessidade de efectuar cortes em despesas básicas (e.g.,
cuidados de saúde) (Conger & Donnellan, 2007). De acordo com o MSFE, a
experiência deste tipo de pressões e exigências confere significado psicológico
às dificuldades financeiras. Assim, este modelo preconiza que a existência de
elevados níveis de pressão económica provoca stress emocional em ambos os
elementos do casal (e.g., depressão, ansiedade), conduzindo a um aumento do
conflito conjugal e diminuindo a satisfação conjugal (Conger et al., 1990). O
MSFE tem sido testado com recurso a várias metodologias e investigado em
diversas populações, como E.U.A. (e.g., Conger et al.,2002), Canadá (Davis
& Mantler, 2004), Europa (e.g., Falconier & Epstein, 2011; Ponnet et
al., 2013), Turquia (Aytaç & Rankin, 2009) e Coreia (Kwon et al.,2003).
O Papel Mediador do Stress Emocional
A investigação tem vindo a demonstrar o impacto da percepção de pressão
económica no bem-estar e saúde mental dos indivíduos, associando-a a stress
emocional, nomeadamente: sintomas de depressão, ansiedade, hostilidade e
dificuldades sociais (e.g., Conger et al., 2002; Falconier & Epstein, 2011;
Kwon et al., 2003; Mistry et al., 2008; Wickrama et al., 2010). Na Grécia, por
exemplo, a reduzida capacidade para satisfazer necessidades básicas, aliado ao
aumento de dívidas resultante da forte crise económica que afecta o país,
provocaram o aumento de casos de depressão(Economou, Madianos, Peppou, &
Patelakis, 2012).
Por outro lado, vários estudos indicam que a percepção de pressão económica
afecta indirectamente o conflito e a estabilidade conjugal, através do stress
emocional provocado nos elementos do casal (e.g., Conger et al., 1999; Conger
et al., 2002; Cutrona et al., 2003; Kinnunen & Feldt, 2004; Robila e
Krishnakumar, 2005). Conger e colaboradores (1992) constataram que a elevada
percepção de pressão económica se relacionava indirectamente com o conflito
conjugal através do aumento dos níveis de depressão e de hostilidade,
diminuindo as interacções carinhosas e de apoio na díade conjugal. Mais
recentemente, um estudo realizado na Bélgica confirmou que, quando os casais
vivenciam stress e preocupação decorrentes da situação económica actual e/ou
futura, há um aumento de sintomas depressivos e, consequentemente, do conflito
conjugal (Ponnetet al., 2013).
Menos investigado tem sido o impacto da percepção de pressão económica na
satisfação conjugal. Num dos poucos estudos que consideraram a satisfação
conjugal no contexto de dificuldades financeiras, os casais recém-casados
capazes de pagar dívidas experienciavam níveis mais elevados de satisfação
conjugal, contrariamente aos casais cujas dívidas se mantinham ou aumentavam,
os quais sofriam um declínio da satisfação conjugal (Dew, 2008). A investigação
tem-se centrado maioritariamente no conflito entre os elementos do casal,
descurando as especificidades da satisfação conjugal ao abordá-la numa
perspectiva simplista, de mera ausência de conflito e dificuldades conjugais
(e.g., Fincham, Stanley, & Beach, 2007). Pretende-se assim contribuir para
preencher esta lacuna na literatura, investigando a associação entre a
percepção de pressão económica e o conflito e satisfação entre os cônjuges,
considerando a importância da satisfação conjugal no bem-estar dos indivíduos
(e.g., Fincham et al., 2007).
Embora grande parte das evidências empíricas demonstrem uma relação indirecta
entre a percepção de pressão económica e a satisfação e conflito conjugal,
estudos recentes sugerem também a existência de uma relação directa,
nomeadamente, em populações afro-americanas (e.g., Cutrona et al., 2003) e
países fora dos EUA, como a Coreia (Kwon et al., 2003), Turquia (Aytaç &
Rankin, 2009) ou Finlândia (Kinunnen & Feldt, 2004). Estes resultados
poderão estar relacionados com diferentes tradições culturais e/ou económicas
de sociedades fora dos EUA, as quais não são ainda totalmente compreendidas
(Conger et al., 2010). Mais ainda, estas evidências contraditórias reforçam a
necessidade de aplicação do MSFE em diferentes contextos culturais, como aliás
tem sido realizado por alguns autores (e.g., Leinonen, Solantaus, &
Punamäki, 2002; Robila & Krishnakumar, 2005).
O contexto português, em particular, apresenta especificidades que poderão
contribuir para uma maior compreensão do funcionamento do MSFE. Nomeadamente,
Portugal tem sido considerado por vários autores como um caso único no contexto
europeu (e.g., Aboim, 2010a), sobretudo no que diz respeito a dois aspectos: a
elevada participação das mulheres no mercado de trabalho (60% acima da média da
União Europeia e a mais elevada dos países do sul da Europa) e a persistente
diferenciação dos papéis de género dentro do sistema familiar (Aboim, 2010b;
Amâncio, 2007). Portugal constitui ainda um exemplo de uma sociedade onde
coexistem atitudes de género contraditórias. Se, por um lado, se valoriza uma
participação equilibrada entre homens e mulheres no mercado de trabalho, em que
ambos contribuem para o rendimento familiar, por outro, na esfera familiar,
defende-se ainda uma visão tradicional do papel de género, na qual a mulher é a
principal responsável pelo desempenho das tarefas da vida privada, como a
prestação de cuidados aos filhos e o trabalho doméstico (Aboim, 2010b). Deste
modo, apesar da elevada taxa de empregabilidade feminina, em Portugal ainda
predomina o modelo tradicional do homem provedor, responsável pelo ganha-pão
da família. Estes factores, em conjunto com os resultados contraditórios quanto
à natureza da relação (directa ou indirecta) entre a percepção de pressão
económica e o conflito e satisfação conjugais, reforçam a pertinência de se
investigar o MSFE no contexto português, considerando que as especificidades
culturais da sociedade portuguesa poderão contribuir para uma maior compreensão
deste modelo.
Especificidades de Género na Relação entre Pressão Financeira, Satisfação e
Conflito Conjugal
Há ainda evidências empíricas que sugerem possíveis diferenças de género ao
nível do impacto das dificuldades financeiras no funcionamento conjugal.
Nomeadamente, alguns estudos indicam que a relação entre dificuldades
financeiras e a satisfação e o conflito conjugal é mais pronunciada nos homens,
mostrando que o seu comportamento está mais associado a problemas financeiros
que o comportamento das mulheres (e.g., Conger et al., 1990; Liker & Elder,
1983). Aniol e Snyder (1997), por exemplo, constataram que as preocupações
financeiras estavam associadas à satisfação conjugal dos homens, mas não à
satisfação conjugal das mulheres. A maioria dos estudos tem investigado como é
que o stress experienciado por um indivíduo num domínio da sua vida (e.g. o
contexto económico) pode originar stress ou dificuldades noutro domínio (e.g. a
relação conjugal). Este processo, designado de spillover, corresponde assim à
transferência intra-individual de afectos e comportamentos entre contextos
diferentes (e.g., Bolger, DeLongis, Kessler, & Wethington, 1989; Larson
& Almeida, 1999). Contudo, a transferência inter-individual de afecto e
comportamentos de um elemento do casal para o outro, denominado de crossover,
tem sido consideravelmente menos investigado no contexto de pressão económica.
Os estudos acerca dos processos de crossoverna relação conjugal têm indicado
que este poderá ser unidirecional, mostrando que o stress dos homens tem
impacto no bem-estar das mulheres (e.g., Jones & Fletcher, 1993; Pittman,
Solheim, & Blanchard, 1996; Westman, Etzion, & Danon, 2001). Estes
dados sugerem que as mulheres poderão ser mais susceptíveis a processos de
crossover enquanto receptoras do stress dos homens (e.g., Larson & Almeida,
1999). Contudo, a investigação em países onde os papéis de género são
relativamente igualitários e, como tal, os assuntos financeiros desempenham
igual importância na vida dos homens e das mulheres, tem salientado a natureza
bidirecional dos processos de crossover, ou seja, ocorrendo de homens para
mulheres e de mulheres para homens (e.g., para uma revisão ver Westman, 2001).
Outros estudos não encontraram diferenças ao nível do género (e.g., Gudmunson,
Beutler, Israelsen, McCoy, & Hill, 2007). As inconsistências dos dados
acima descritos salientam a necessidade de se continuar a investigar as
diferenças entre os cônjuges e a influência mútua entre ambos, no contexto de
percepção de pressão económica.
Importa ainda referir que a literatura sobre o impacto da pressão económica na
relação conjugal tem prestado pouca atenção às influências mútuas existentes
entre os elementos do casal, sendo poucos os estudos que seguem uma abordagem
diádica dos dados (e.g., Kinnunen & Feldt, 2004; Ponnet et al., 2013). A
maioria da investigação nesta área (e.g., Conger et al., 1999; Wickrama et al.,
2010) tem isolado as variáveis reportadas por homens e mulheres, e/ou utilizado
constructos agregados das respostas de ambos os elementos do casal, abordagem
que aliás tem sido criticada por ignorar a interdependência inerente às
relações de casal. O presente estudo pretende contribuir para esta lacuna na
literatura, investigando a influência mútua entre os elementos do casal com
base no Actor-Partner Interdependence Model (APIM; Kenny, Kashy, & Cook,
2006). O APIM é uma abordagem que permite examinar o impacto das variáveis
preditoras de um indivíduo nas suas variáveis consequência (actor effects),
assim como nas variáveis consequência do cônjuge (partner effects). No APIM, os
actor effects são indicativos de spillover, enquanto que os partner effects são
referentes a crossover. O APIM representa assim a natureza diádica das relações
de casal, postulando que os membros de uma díade se influenciam mutuamente na
forma de partner effects, estabelecendo um interdependência entre ambos.
Objectivos e hipóteses
Considerando o contexto de crise financeira que caracteriza Portugal
actualmente, o presente trabalho apresenta três objectivos principais: (1)
replicar o MSFE de Conger e colaboradores (Conger & Elder, 1994; Conger et
al., 2010) numa amostra portuguesa, procurando expandir a aplicabilidade do
modelo num contexto cultural diferente; (2) testar o papel mediador do stress
emocional dos elementos do casal, na relação entre percepção de pressão
económica e conflito e satisfação conjugal; e (3) investigar a influência mútua
entre os elementos do casal com recurso a uma análise dos dados baseada no
Actor-Partner Interdependence Model (APIM; Kenny, Kashy, & Cook, 2006).
Tendo em conta o MSFE e os resultados dos estudos empíricos apresentados, são
consideradas as seguintes hipóteses:
Hipótese 1: a percepção de pressão económica estará directamente relacionada
com o conflito e com a satisfação conjugal;
Hipótese 2: o stress emocional dos homens e das mulheres estará directamente
relacionado com o conflito e com a satisfação conjugal dos cônjuges;
Hipótese 3: o stress emocional de ambos os elementos do casal irá mediar a
relação entre percepção de pressão económica e conflito e satisfação conjugal.
Assim, a percepção de pressão económica estará positivamente associada ao
stress emocional de ambos os elementos do casal (H3a) e o stress emocional de
ambos os elementos do casal estará positivamente associado ao conflito conjugal
e negativamente associado à satisfação conjugal do próprio (actor effects) e do
cônjuge (partner effects) (H3b).
Método
Participantes
A amostra foi constituída por 416 participantes (208 casais heterossexuais),
casados ou em união de facto, residentes na zona da Grande Lisboa, com filhos
entre os 12 e os 21 anos de idade (M= 15.02, DP= 1.89). Os homens têm idades
compreendidas entre os 30 e os 78 anos(M= 46.58, DP= 6.49) e as mulheres entre
os 29 e os 58 anos (M= 46.63, DP= 5.08). Apresentam diferentes níveis de
escolaridade, sendo que a maioria frequentou até ao 12º ano (68.2% homens,
61.5% mulheres) e os restantes concluíram estudos de nível superior. A maioria
dos participantes trabalhava por conta de outrem (73% mulheres, 70% homens), o
rendimento anual do casal mais comummente reportado estava entre os 18.375 e
os 42.259 (45.2%), e 12.1% dos participantes encontravam-se desempregados
(5.9% mulheres; 6.2% homens).
Instrumentos
Percepção de pressão económica
A percepção de pressão económica foi avaliada através de quatro indicadores,
originalmente desenvolvidos por Conger e colaboradores(1992; 1999) e adaptados
pelas autoras para o presente estudo. O primeiro indicador Dificuldade em pagar
contas foi avaliado através do item Em que medida a sua família tem
dificuldade em pagar as contas mensais?,com uma escala de Likert de 1 (Não
temos dificuldade nenhuma) a 5 (Temos mesmo muitas dificuldades). O indicador
Dificuldade em poupar dinheiro, foi avaliado através da questão Em que medida
a sua família consegue poupar dinheiro por mês?, com uma escala de Likert de 1
(Não consegue poupar dinheiro) a 4 (Consegue poupar bastante dinheiro). Os
casais respondiam ainda a cinco questões, numa escala de Likert de 1 (Discordo
totalmente) a 5 (Concordo totalmente), que avaliavam as Preocupações
financeiras (e.g., Não sei como serei capaz de me sustentar nos próximos 12
meses). O quarto indicador Ajustamentos financeiros incluía 28 itens
dicotómicos (sim/não) acerca de cortes nas despesas que o casal teve
necessidade de fazer durante o último ano, devido às dificuldades financeiras
(e.g., Adiei cuidados de saúde médicos/dentários).Pontuações mais elevadas
correspondem a níveis mais elevados de dificuldades em pagar contas e efectuar
poupanças, bem como de preocupações e ajustamentos financeiros. Os resultados
dos homens e das mulheres foram combinados através do cálculo da média do
casal, para cada um dos indicadores. Os níveis de consistência interna foram
adequados: Dificuldade em pagar contas α = .87; Dificuldade em poupar dinheiro
a= .85; Preocupações Financeiras: α = .91; Ajustamentos Financeiros: α = .95.
Stress emocional
O stress emocional dos cônjuges foi avaliado através do Inventário de Sintomas
Psicopatológicos (BSI; Derogatis, 1982; versão portuguesa de Canavarro, 1999),
que avalia sintomas psicopatológicos numa escala de Likert de 1 (Nunca) a 5
(Muitíssimas vezes). Apenas três escalas foram utilizadas: Depressão (6 itens;
e.g., Sentir que não tem valor), Ansiedade (6 itens; e.g., Nervosismo ou tensão
interior) e Hostilidade (5 itens; e.g., Entrar facilmente em discussão). Todas
as escalas revelaram um nível de consistência interna adequado para homens e
mulheres, respectivamente: Depressão (α = .85, α = .88); Ansiedade (α = .83, α
= .86); e Hostilidade (α = .83, α = .85). Devido à elevada correlação entre os
resultados de ansiedade e depressão (r = .82 para as mulheres e r= .79 para os
homens), as respostas foram agregadas num compósito de Ansiedade-Depressão.
Pontuações elevadas reflectem níveis elevados de sintomatologia depressiva/
ansiosa e de hostilidade.
Conflito conjugal
O conflito conjugal foi avaliado através da O'Leary-Porter Scale(OPS; Porter
& O'Leary, 1980; versão portuguesa de Pedro & Francisco, 2014). A OPS
avalia a percepção dos pais sobre a frequência com que o conflito conjugal
ocorre na presença dos filhos. A escala inclui 10 itens acerca da frequência
com que ocorre agressão verbal e física (e.g., Que percentagens de discussões
entre si e o/a seu/sua companheiro/a diria que acontecem em frente a este/
a filho/a?) e com que o casal discute sobre a disciplina e hábitos do cônjuge
(e.g., Com que frequência é que reclama com o/a seu/sua companheiro/a acerca
dos vícios pessoais dele/dela em frente a este(a) filho(a)?). As questões são
respondidas com base numa escala de Likert de 1 (Nunca) a 5 (Muito
frequentemente). Pontuações mais elevadas correspondem a um maior nível de
conflito interparental. A OPS revelou níveis adequados de consistência interna
para homens (α = .78) e mulheres (α= .79).
Satisfação conjugal
A satisfação conjugal foi avaliada através da Kansas Marital Satisfaction Scale
(KMSS; Schumm et al., 1986; versão portuguesa de Antunes, Francisco, Pedro,
Ribeiro, & Santos, 2014). A KMSS é uma escala breve constituída por três
itens relativos à satisfação com o cônjuge, com o casamento e com a relação de
casal (e.g., Em que medida está satisfeito(a) com a sua relação de casal?) numa
escala de Likert de 1 (Extremamente insatisfeito/a) a 7 (Extremamente
Satisfeito/a). A escala apresenta níveis elevados de consistência interna para
homens e mulheres (α = .98). Resultados elevados reflectem níveis elevados de
satisfação conjugal.
Procedimento
Os participantes foram recrutados para uma investigação mais abrangente, acerca
das relações familiares em contexto de crise económica, de duas formas: (1)
através de oito escolas públicas do 3º ciclo e do ensino secundário da zona da
Grande Lisboa; e (2) através do método bola de neve, por intermédio de
contactos individuais com as famílias. O estudo foi aprovado pela Comissão de
Deontologia da Universidade a que as autoras pertencem e pelo Ministério da
Educação de Portugal. Depois da autorização do Conselho Executivo de cada
escola, foi solicitada a colaboração dos casais através da distribuição de
cartas aos respectivos filhos, alunos do 7º ao 12º ano de escolaridade. Todos
os pais entregaram o consentimento informado e os questionários foram enviados
para casa através dos filhos, num envelope selado. Cada envelope continha dois
conjuntos de questionários (um para o pai e outro para a mãe), com instruções
para que respondessem em separado e de forma independente. De modo a clarificar
dúvidas que pudessem surgir por parte dos pais, foi fornecido o contacto do
investigador principal. Os questionários foram entregues pelos pais aos
professores responsáveis das turmas participantes, ou aos investigadores
responsáveis.
Análises Estatísticas
Numa primeira fase, foi realizada a análise descritiva dos dados e analisadas
as correlações entre as variáveis, através do software SPSS Statistics 22. De
seguida, o modelo de mediação foi testado através da Análise de Equações
Estruturais (Structural Equation Modeling - SEM), usando o método da máxima
verosimilhança com recurso ao software AMOS 22 (Arbuckle, 2012). Para o
tratamento dos valores omissos, foi aplicado o método de imputação do algoritmo
Expectation Maximization(EM), através do SPSS. O método EM é um procedimento
iterativo que consiste em encontrar estimativas de máxima verosimilhança, no
qual os parâmetros são estimados através de dois passos: (1) Expectation ' os
parâmetros são estimados a partir de métodos de regressão com base nos dados
observados; (2) Maximization ' são calculados novos valores para os parâmetros
com base nos valores imputados para os dados omissos e nos dados originais
observados. Os dois passos são repetidos até que haja convergência entre as
estimativas. Este método produz estimativas menos enviesadas comparativamente a
outros procedimentos de tratamento de dados omissos (e.g., substituição de
médias) (Schlomer, Bauman, & Card, 2010). De acordo com Hu e Bentler
(1999), a avaliação do ajustamento do modelo aos dados foi realizada com base
na análise dos seguintes índices de ajustamento: qui-quadrado (χ2), comparative
fit index (CFI), root-mean-square error of approximation (RMSEA), e
standardized root-mean-square residual (SRMR). Segundo os autores, valores de
CFI > .95, de RMSEA < .06 e de SRMR < .08, são indicativos de um bom
ajustamento do modelo aos dados. Posteriormente, foi utilizado o método de
reamostragem bootstrap (Shrout & Bolger, 2002) para testar a significância
dos efeitos indirectos.
Resultados
Estatística Descritiva e Análise de Correlações
A estatística descritiva e as correlações entre as variáveis são apresentadas
no Quadro_1. No geral, as correlações são consistentes com o padrão de relações
esperado. A percepção de pressão económica apresenta-se positivamente
correlacionada com o stress emocional e com o conflito conjugal em ambos os
cônjuges, e negativamente correlacionada com a satisfação conjugal dos homens.
Relativamente ao stress emocional, observam-se correlações positivas com o
conflito conjugal e correlações negativas com a satisfação conjugal. O stress
emocional dos homens encontra-se ainda positivamente correlacionado com o
conflito reportado pelas mulheres e negativamente correlacionado com a
satisfação conjugal das mulheres. O stress emocional das mulheres encontra-se
positivamente correlacionado com o conflito reportado pelos homens e
negativamente com a satisfação conjugal dos homens.
O Papel Mediador do Stress Emocional
Os índices de ajustamento revelam que o modelo conceptual proposto é adequado
aos dados: χ2 (113, N= 208)=206.07, p < .001, CFI = .97, RMSEA = .06, SRMR =
.076, SRMR = .076. Todos os itens apresentam um peso factorial superior a .40.
Procedeu-se ainda à análise dos índices de modificação (IM), considerando-se
que parâmetros com IM superiores a 11 eram indicadores de melhoria no
ajustamento do modelo (Maroco, 2010). Os valores dos IM não sugeriram
modificações no modelo proposto.
Os resultados indicam a presença de efeitos directos entre a pressão económica
percepcionada pelo casal e o conflito conjugal, tanto para homens (ß = .22, p<
.05) como para mulheres (ß = .25, p< .01). De igual modo, foram também
encontrados efeitos directos entre a percepção de pressão económica e a
satisfação conjugal dos homens (ß = -.19, p < .05), mas não entre a percepção
de pressão económica e a satisfação conjugal das mulheres (ß = -.11, p>.10).
Verificaram-se ainda efeitos directos entre a percepção de pressão económica e
o stress emocional dos homens (ß = .44, p <.001) e das mulheres (ß = .55, p
<.001). Quanto aos actor effects, foram observados efeitos directos entre o
stress emocional e o conflito e satisfação conjugal, para homens (conflito ß =
.58, p <.001; satisfação ß = -.43, p <.001) e para mulheres (conflito ß = .31,
p <.01; satisfação ß = -.23 p <0.5). Apenas se verificaram partner effects
entre o stress emocional dos homens e o conflito e a satisfação conjugal das
mulheres (ß = .24, p <.01; ß = -.21, p <.05, respectivamente). Não foram
observados partner effects entre o stress emocional das mulheres e o conflito e
satisfação conjugal dos homens (ß = .09, p>.05; ß = -.08, p>.05 ).
Relativamente aos efeitos indirectos, os resultados indicam que o stress
emocional dos homens e das mulheres medeia a relação entre a percepção de
pressão económica e a satisfação conjugal. Nomeadamente, verificaram-se efeitos
indirectos entre a percepção de pressão económica e o conflito conjugal dos
homens (ß = .31, p<.001), conflito conjugal das mulheres (ß = .27, p<.001),
satisfação conjugal dos homens (ß = -.29, p<.001) e satisfação conjugal das
mulheres (ß = -.22, p< .001) (Figura_1).
Discussão
O presente estudo pretendeu investigar o papel mediador do stress emocional de
ambos os elementos do casal, na relação entre percepção de pressão económica e
conflito e satisfação conjugais. Procurou-se ainda alargar a compreensão do
modelo de stress familiar económico (Conger & Elder,1994), explorando a
influência mútua e interdependência entre cônjuges, através de uma análise de
dados baseada no Actor-Partner Interdependence Model.
Os resultados suportam a primeira hipótese, referente à existência de efeitos
directos entre a percepção de pressão económica e o conflito conjugal, na linha
do que havia sido encontrado em estudos anteriores realizados na Coreia (Kwon
et al.,2003), Turquia (Aytaç & Rankin, 2009), Finlândia (Kinnunen &
Feldt, 2004) e Bélgica (Ponet et al., 2013). Os dados apoiam assim a ideia de
que, apesar da maioria dos estudos realizados nos EUA demonstrar um impacto
indirecto das dificuldades financeiras no funcionamento conjugal, em países
fora dos EUA a percepção de pressão económica parece exercer uma influência
tanto directa como indirecta na qualidade conjugal (Conger et al., 2010).
Quando as sociedades experienciam choques económicos severos, estes exercem um
impacto mais forte nas finanças familiares e nos seus contextos sociais,
existindo uma maior tendência para uma relação directa entre a percepção de
dificuldades económicas e a qualidade da relação conjugal (Kwon et al.,2003).
Os dados deste estudo podem ser interpretados neste sentido, considerando que a
população portuguesa tem vindo a sofrer cortes constantes nas suas finanças e
nas medidas de apoio social por parte do Governo, ao mesmo tempo que o custo da
qualidade de vida tem vindo a aumentar (INE, 2013). A existência de diferenças
culturais entre famílias latinas e anglo-americanas, ao nível do significado
atribuído ao dinheiro, poderá também ajudar a compreender estes efeitos
directos. Segundo Falicov (2001), os latinos valorizam mais o tempo de lazer
familiar, considerando o dinheiro como uma forma de promover as interacções
familiares e conjugais, e os bens materiais como algo que desenvolve a coesão e
os laços entre os membros da família. O dinheiro é assim utilizado de várias
maneiras para a família (e.g., presentes, realização de rituais familiares),
estando o consumo relacionado com a qualidade da vida familiar, em geral, e
conjugal, em particular. Considerando que a crise financeira em Portugal
diminuiu consideravelmente o poder de compra das famílias e a possibilidade de
promover a coesão e qualidade conjugal através de actividades que impliquem
despesas económicas, reduzindo ainda o tempo de lazer dedicado ao casal
(eventualmente devido à acumulação de empregos ou à realização de horas
extraordinárias no trabalho), estas diferenças culturais poderão ajudar a
explicar os efeitos directos observados entre a percepção de pressão económica
e a qualidade conjugal.
Importa referir as diferenças encontradas entre homens e mulheres. Em
consonância com os resultados de Aniol e Snyder (1997), foram encontrados
efeitos directos entre a percepção de pressão económica e a satisfação conjugal
masculina, mas não entre a pressão económica e a satisfação conjugal feminina.
Para os homens, a satisfação conjugal mostrou-se directamente relacionada com a
percepção de pressão económica vivenciada pelo casal, ao passo que, para as
mulheres, a percepção de pressão económica parece relacionar-se apenas
indirectamente com a satisfação conjugal feminina, através do aumento do stress
emocional. Uma possível explicação prende-se com os papéis de género
predominantes na sociedade portuguesa. Portugal viveu num regime ditatorial até
à década de 70, onde, segundo as ideologias do Estado Novo, se vivia numa
sociedade fortemente marcada pela diferenciação de género a nível social e
familiar: os homens tinham o papel de chefe de família, sendo considerados
responsáveis pelo bem-estar financeiro e recursos económicos, enquanto a mulher
era responsável pelo trabalho doméstico e bem-estar emocional dos filhos (Wall,
Aboim, & Cunha, 2010). Por outro lado, nas famílias latinas ainda se
observa uma tendência de controlo do dinheiro por parte do homem (Falicov,
2001), sendo o ordenado da mulher percepcionado como secundário (Strandh et
al., 2013). Apesar da sociedade portuguesa estar a caminhar para papéis de
género mais igualitários, estas questões culturais ainda persistem na
actualidade. Neste sentido, alguns estudos demonstram que a relação entre
dificuldades económicas e ajustamento conjugal é mais pronunciada para os
homens, e que o comportamento e stress masculinos estão mais fortemente
associados a problemas financeiros (Conger et al., 1990; Liker & Elder,
1983). Para os homens, mais do que para as mulheres, o dinheiro está
intimamente associado a aspectos do funcionamento do casal, como questões de
poder na relação conjugal, bem como com sentimentos de valor pessoal e auto-
estima (Papp et al., 2009). Assim, a percepção de pressão económica poderá
originar sentimentos de auto-depreciação e baixa auto-estima nos homens,
afectando a sua satisfação conjugal. Estes resultados parecem ainda evidenciar
que os homens têm maior tendência para experienciar spillover de stress de um
domínio da vida (dificuldades financeiras) para outro domínio (relação
conjugal), ao passo que as mulheres apresentam maior facilidade em
compartimentalizar o stress e evitar o spillover de tensão entre diferentes
domínios, como constatado em estudos anteriores (Almeida, Wethington, &
Chandler, 1999; Larson & Almeida, 1999).
No que diz respeito à segunda hipótese, os dados confirmaram a presença de
partner effects para os homens, mas não para as mulheres. Nomeadamente, foram
encontrados efeitos directos entre o stress emocional masculino e o conflito e
a satisfação conjugal das mulheres, mas não entre o stress emocional feminino e
o conflito e satisfação conjugal dos homens. Para as mulheres, apenas foram
observados actor effects. Estes resultados são congruentes com estudos que
sugerem que o crossover entre cônjuges tende a ser unidirecional, dos homens
para as mulheres (Bolger et al., 1989; Jones & Fletcher, 1993; Larson &
Almeida, 1999; Pittman et al., 1996). Uma possível explicação para este dado
poderá estar relacionada com evidências recentes que mostram que quando os
casais experienciam dificuldades financeiras, os homens tendem a afastar-se do
cônjuge, dado o seu desejo de mais independência relacional, enquanto as
mulheres revelam maior necessidade de proximidade na relação (Falconier &
Epstein, 2011), focando mais a sua atenção no comportamento e investimento
relacional do companheiro, um aspecto crítico para a sua própria satisfação
(Bodenmann, Pihet, & Kayser, 2006). Considerando os papéis de género
tradicionais que ainda caracterizam a sociedade portuguesa, os elementos do
casal podem assumir que é da responsabilidade do homem resolver os problemas
financeiros. As mulheres podem tender a abordar os maridos para procurar
soluções, considerando os homens que a resolução dos problemas financeiros é da
sua responsabilidade, afastando-se da companheira na tentativa de resolver os
problemas sozinho (Falconier & Epstein, 2011). Se o homem é percepcionado
como distante e desinteressado, os níveis de satisfação femininos diminuem.
Estes resultados contribuem para a literatura que demonstra diferenças de
género no MSFE (e.g., Falconier & Epstein, 2011; Kwon et al., 2003; Ponnet
et al., 2013).
Por fim, relativamente à terceira hipótese, os resultados são consistentes com
os estudos que demonstram uma relação indirecta entre a percepção de pressão
económica e o conflito e satisfação conjugais, mediada pelos níveis de stress
emocional dos cônjuges (e.g., Conger et al.,2002; Cutrona et al., 2003;
Kinnunen & Feldt, 2004). Quando os casais experienciam maior pressão
económica, esta parece estar associada a sintomatologia depressiva e ansiosa,
bem como a comportamentos de maior hostilidade entre os elementos do casal,
aumentando o conflito entre os cônjuges e diminuindo a satisfação conjugal. Os
dados sugerem, assim, a aplicabilidade do modelo de stress familiar económico
ao contexto português.
É ainda de salientar que os dados revelam a importância de se investigar as
repercussões das dificuldades financeiras em famílias de nível socioeconómico
médio, e não apenas em famílias em risco de pobreza. Em casais que não
experienciam dificuldades económicas objectivas severas, mas que sofreram
cortes nos rendimentos e apresentam preocupações financeiras, por exemplo, a
percepção de pressão económica exerce ainda assim um impacto considerável a
nível individual e conjugal. Mais do que avaliar indicadores financeiros
objectivos, é fundamental analisar a vivência subjectiva da pessoa,
relativamente à percepção de pressão económica.
Limitações e Implicações Clínicas
Apesar do presente estudo contribuir para uma melhor compreensão do modelo de
stress familiar económico, devem ser referidas algumas limitações, como a
natureza transversal do estudo que impossibilita a identificação de causalidade
entre as variáveis. Por outro lado, o facto de a amostra não reunir um maior
número de famílias de estatuto socioeconómico baixo poderá ter afectado os
resultados, diminuindo o poder de generalização dos mesmos. Por último, o
procedimento de aplicação dos protocolos, no qual os casais responderam aos
questionários em casa, sem a presença dos investigadores, não permitiu
assegurar a resposta às questões de forma individual e confidencial. Apesar
destas limitações, o estudo apresenta importantes implicações para a prática
clínica. Em sociedades com papéis de género mais tradicionais, onde os homens
são considerados os principais responsáveis pelo sustento da família, os
terapeutas deverão estar particularmente atentos à pressão económica
percepcionada pelos homens. Os resultados sugerem que, em contexto de
dificuldades financeiras, e mesmo em famílias de nível socioeconómico médio, a
intervenção clínica deverá centrar-se em fornecer recursos aos homens que lhes
permitam diminuir o spillover de stress provocado pela percepção de pressão
económica, atenuando o impacto no conflito e satisfação conjugal masculina, e
prevenindo a diminuição da satisfação conjugal feminina.
Em conclusão, este estudo constituiu a primeira aplicação do modelo de stress
familiar económico ao contexto português,comprovando a influência directa e
indirecta da percepção de pressão económica ao nível do conflito e satisfação
conjugais. Os dados permitiram ainda uma melhor compreensão dos efeitos de
género subjacentes e da complexidade das interinfluências entre cônjuges, em
situação de crise económica.