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EuPTHUHu0874-55602013000100013

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National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolHumanities
Great areaHuman Sciences
ISSN0874-5560
Year2013
Issue0001
Article number00013

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As primeiras mulheres repórteres: Portugal nos anos 60 e 70 Ventura, Isabel (2012), As primeiras mulheres repórteres. Portugal nos anos 60 e 70, Lisboa, Tinta da China, 206 páginas.

Teresa Alvarez CEMRI/Universidade Aberta, Portugal

Este livro de Isabel Ventura tem por base a tese que defendeu no Mestrado em Estudos sobre as Mulheres, na Universidade Aberta, sobre seis mulheres jornalistas, da imprensa escrita, que iniciaram a sua atividade profissional no início de 1960: Alice Vieira, Edite Soeiro, Diana Andringa, Leonor Pinhão, Maria Antónia Palla e Maria Teresa Horta. Porquê estas jornalistas e não outras? Foram estes os nomes que, em entrevistas exploratórias realizadas pela autora a um conjunto de jornalistas que exerciam a sua atividade nas décadas de 1960 e 1970, foram unanimemente identificados como "casos paradigmáticos do jornalismo português " deste período (p. 30).

No Prefácio, Fernando Alves evidencia os dois elementos de contextualização da atividade destas seis mulheres, privilegiados por Isabel Ventura: o regime político que vigorava no país e suas repercussões na atividade jornalística, por um lado, e a cultura androcêntrica, e frequentemente sexista, que configura os contextos, os ambientes de trabalho e as práticas profissionais do jornalismo no mesmo período. As duas situações são vivenciadas, recordadas e narradas de formas diversas, em alguns momentos, e inequivocamente convergentes, em muitos outros, por estas seis jornalistas, conferindo ao percurso profissional de todas elas, como de tantas outras mulheres em outros contextos profissionais, o denominador comum de luta redobrada, como refere Fernando Alves, tendo todas elas "conquistado o seu lugar num "território de homens", num tempo de opressão " (p. 12).

Na explicação da escolha do período em análise, Isabel Ventura refere o aumento da percentagem de mulheres jornalistas sindicalizadas entre 1960 (2%) e o início de 1980 (10%). Para explicar este crescimento, mas também a lentidão da mudança que ele representa, a autora parte da problemática da relação entre o regime político do Estado Novo e as condições que pautam o jornalismo da imprensa escrita, no mesmo período, centrando-se depois nos fatores que, na sua opinião, são exemplificativos desses mesmos condicionalismos: a legislação em vigor, legitimadora da subordinação das mulheres ao poder masculino (pai e marido), a educação, que sustentava a ideologia do pater famílias, a censura e os seus efeitos no funcionamento das redações, na produção jornalística e no "ritual de espera dos veredictos dos censores" (p. 178) e, por fim, a guerra colonial e os movimentos de apoio que a mesma suscitou. A par deste cenário, a autora vai passando em revista um outro, o da resistência ao Estado Novo, ao longo da década de 60 e, em especial, durante a Primavera Marcelista, percorrendo alguns dos acontecimentos que exemplificam a contestação ao regime: a publicação de Novas Cartas Portuguesas e seu impacto político e mediático, as eleições de 1958 e a candidatura de Humberto Delgado, a agitação académica como reflexo dos movimentos de contestação de Maio de 68 e a atuação das primeiras Organizações Não Governamentais de Mulheres por altura das eleições de 1969.

O mundo do jornalismo é, por sua vez, apresentado através da atuação da censura na imprensa escrita e das suas repercussões nas práticas jornalísticas, bem como das alterações que se vão operando na produção jornalística neste mesmo período. Evidenciam-se o papel dos novos grupos económicos detentores dos principais jornais, que trazem consigo "novas lógicas comerciais e editoriais" (p. 20), os novos critérios de recrutamento profissional e a entrada nas redações de jovens escritores/as e de estudantes universitários/as que vão modificando a constituição das equipas de redação, traduzindo-se, entre outros aspetos, em níveis mais elevados de qualificação académica.

Foi neste "início da rutura com o estatuto de caixa de ressonância" (p. 177), que carateriza os jornais portugueses, que as seis jornalistas entrevistadas por Isabel Ventura iniciaram a sua atividade profissional e foi ao longo destas duas décadas que todas se afirmaram no mundo do jornalismo.

Assim, na revisitação deste período, a autora conduz-nos através de dois fios condutores:

' A preocupação por demonstrar o carácter estruturante das representações sociais de género na ideologia do Estado Novo, por um lado, e na cultura e organização do trabalho das redações dos jornais diários portugueses, que condicionam significativamente o lugar ocupado pelas mulheres jornalistas, por ouro lado.

' O espaço dado pela autora, de forma regular e quase sistemática, às vozes das seis jornalistas, revelando-nos o modo como cada uma vivenciou situações concretas no âmbito dos fenómenos e dos acontecimentos que a autora privilegiou. Pelas narrativas destas jornalistas, a autora evidencia igualmente o lugar epistemológico e metodológico que as fontes orais têm, hoje, no quadro dos Estudos sobre as Mulheres e dos Estudos de Género.

No último capítulo, a autora apresenta-nos um "breve perfil" de cada uma das seis jornalistas, confirmando o que, ao longo da obra, se foi revelando como marcas fundamentais de todas elas: a sua afirmação no jornalismo generalista e não temático, a escolha da profissão de jornalista onde constroem a sua carreira, o reconhecimento profissional obtido junto do seus pares, o exercício de cargos de chefia, a atividade de denúncia do regime "chamando a si causas que lhes eram caras" (p. 21), a relação com o feminismo e, ainda, o envolvimento, mais ou menos direto, em muitos dos acontecimentos revisitados pela autora.

Pelo livro de Isabel Ventura compreendemos a dimensão histórica da vida e da ação das diferentes gerações de mulheres e do modo como elas tecem um mesmo percurso de emancipação, de liberdade individual e de construção da igualdade social.


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