Home   |   Structure   |   Research   |   Resources   |   Members   |   Training   |   Activities   |   Contact

EN | PT

EuPTHUHu1645-00862012000200002

EuPTHUHu1645-00862012000200002

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolHumanities
Great areaHuman Sciences
ISSN1645-0086
Year2012
Issue0002
Article number00002

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.

Ansiedade e Depressão Pré-Cirúrgica numa Enfermaria de Ginecologia Oncológica e Mastologia

O câncer ou neoplasia caracteriza-se como doença crônica degenerativa causada por alterações do equilíbrio celular, especificamente pelo aumento proliferativo e desordenado das células. Diversos fatores podem estar associados ao desenvolvimento de neoplasias, tais como variáveis químicas, físicas, biológicas (condições genéticas pré-determinadas) e ambientais. Sabe- se que comportamentos e estilos de vida também estão relacionados ao surgimento da doença, como: tabagismo, sedentarismo, consumo de álcool, hábitos alimentares inadequados e estresse (American Cancer Society, 2011; Instituto Nacional Câncer [INCA], 2012; National Cancer Institute, 2012; Straub, 2005; World Health Organization [WHO], 2012a).

No Brasil, estima-se que 52.000 novos casos de câncer de mama serão diagnosticados em 2012. O câncer de mama é o tipo de neoplasia mais comumente encontrada entre as mulheres e as estatísticas indicam que, juntamente com o câncer de colo de útero, as incidências da doença aumentam, tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento (Foley, Alston, Geraci, Brabin, Kitchener, & Birch, 2011; INCA, 2012). Nos países desenvolvidos, a alta incidência de câncer de mama está relacionada à elevada expectativa de vida e à urbanização (WHO, 2012b).

O câncer de ovário, vulva, útero e colo são tipos de câncer ginecológicos. O câncer de ovário é menos frequentemente encontrado na população e considerado de difícil diagnóstico, com menores chances de cura (INCA 2012). o câncer de colo de útero é o segundo tipo de câncer observado entre as mulheres brasileiras e, segundo as estimativas, cerca de 18.000 casos novos serão diagnosticados em 2012 no país (INCA 2012).

O diagnóstico de câncer acarreta sucessivas perdas no curso de vida do paciente que, na maioria dos casos, tem que abandonar rotinas diárias, o trabalho e atividades prazerosas para dar início imediato ao tratamento. Este último, por sua vez, compreende procedimentos cirúrgicos para remoção de tumores, sessões de quimioterapia e radioterapia, além de diferentes exames. É um tratamento considerado invasivo, longo e potencialmente turbulento, uma vez que a paciente convive com a incerteza da cura. Além disso, muitas vezes esse diagnóstico acarreta aumento do estresse e perturbação emocional, compatíveis com o enfrentamento de uma doença que ameaça sua integridade física e que exige cuidados intensivos (Barros & Lopes, 2007; Silva & Santos, 2008).

Alguns estudos apontam para a prevalência de transtornos psiquiátricos em pacientes com câncer, uma vez que estão expostos repetidamente a procedimentos médicos que podem ocasionar dores e a mutilação de membros, a efeitos colaterais do tratamento e a outros fatores relacionados à internação, como os sucessivos retornos aos hospitais, adaptação ao ambiente hospitalar, alteração de rotina, além da separação de seus familiares (Juver & Verçosa, 2008).

Dentre as comorbidades psiquiátricas mais frequentes estão os transtornos de ansiedade e transtornos de humor (Jones et al., 2006).

A capacidade de ajustamento emocional do paciente com relação ao adoecer envolve diversos aspectos de sua vida como: perspectivas profissionais e familiares antes e durante o surgimento da doença, suporte social e aspectos relativos à doença, dentre eles sintomas, sítio do câncer, possibilidades de tratamento e prognóstico (Bárez, Blasco, Fernandez-Castro & Viladrich, 2009; Massie & Popskins, 1998;). Diante desse quadro, observam-se, frequentemente, pacientes com sentimentos de tristeza, pesar e sintomas de ansiedade que podem ser considerados como reações esperadas e normais frente ao diagnóstico da doença. No entanto, é importante observar esses sintomas como a possibilidade de prevenir um quadro depressivo ou ansioso e, assim, identificar a necessidade de um tratamento específico (Juver & Verçosa, 2008; Pasquini et al.; 2006).

Humor deprimido, perda de interesse e prazer em atividades, cansaço marcante após esforços leves, prejuízos na atenção e na concentração, autoestima e auto confiança reduzidas, idéias auto lesivas ou suicidas, sono perturbado e apetite diminuído são sintomas que permitem o diagnóstico de um quadro depressivo, de acordo com a Classificação Internacional das Doenças ' CID-10 (2007). Phillis (2001) descreve outras características associadas a esses sintomas, como pessimismo frente a situações diversas, dificuldades de tomar decisões, irritabilidade, inquietação e choro excessivos, que podem ser observadas em um quadro de depressão.

Além dos sintomas depressivos, a ansiedade é frequentemente observada em pacientes com câncer (Juver & Verçosa, 2008; Pasquini et al., 2006). Esta última tem sido definida como um estado emocional desagradável, acompanhado de desconforto somático, que guarda relação com outra emoção, o medo. Assim como apresentar somente sentimentos de tristeza, desmotivação e apatia não justificam o diagnóstico de um transtorno depressivo entre pacientes com doenças crônicas, somente a presença de sensações corporais relativas à ansiedade também não caracteriza a presença de uma patologia. É necessário compreender o contexto e o tempo de permanência dos sintomas para se aferir um diagnóstico (Dalgalarrondo, 2008).

Ell et al. (2005), em um estudo realizado nos Estados Unidos, avaliaram a prevalência de depressão em mulheres com diagnóstico de câncer de mama e ginecológico e correlacionaram tal quadro a outros sintomas como dor, ansiedade, características sóciodemográficas e suporte social. Em seus resultados, observaram que depressão aparece como comorbidade em aproximadamente 24% das pacientes. Os sintomas de depressão foram prevalentes, sobretudo, em mulheres de baixa renda e que apresentaram baixo suporte social.

Moreira, Silva e Navarro (2008), em Portugal, realizaram um estudo comparando os níveis de ansiedade, depressão e qualidade de vida em mulheres com diagnóstico recente de câncer de mama e também pacientes que tinham sido submetidas ao tratamento dessa doença. Os autores identificaram que mulheres com diagnóstico recente apresentaram níveis de ansiedade e depressão maiores que as pacientes que haviam finalizado o tratamento. Quando comparados, verificaram que os níveis de ansiedade encontrados em todas as pacientes demonstraram ser bem maiores do que os níveis de depressão.

A identificação e o tratamento de transtornos de ansiedade e de humor podem aumentar substancialmente a qualidade de vida dos pacientes com câncer (Ashbury, Madlensky & Raich, 2003; Juver & Verçosa, 2008; Massie, 2004; Massie & Popkins, 1998; Pasquini et al. 2006; Straub, 2005). O presente estudo teve como objetivo avaliar a presença de sintomas de ansiedade e depressão, em pacientes com câncer de mama e ginecológico, internadas para procedimento cirúrgico, em uma enfermaria de um hospital escola do interior de São Paulo, Brasil. 

MÉTODO Participantes Participaram do estudo 181 mulheres internadas na Enfermaria de Oncologia Ginecológica e Mastologia de um hospital escola no interior do estado de São Paulo, Brasil, no período de 2002 a 2005, que seriam submetidas a cirurgias de retirada do tumor maligno. Todas as participantes submeteram-se previamente a exames médicos especializados como mamografias, ultra-som, punções e biópsias, em ambulatórios especializados de mama e de ginecologia oncológica, sendo que receberam o diagnóstico médico de câncer ginecológico (ovário, útero, vulva e colo de útero) ou câncer de mama. Participaram do estudo as mulheres que apresentavam, no momento da coleta de dados, condições físicas que lhes permitiam responder aos inventários. Foram excluídas as pacientes que se encontravam sedadas ou que apresentavam queixas de dor ou mal-estar significativo, que pudessem tanto comprometer a coleta dos dados, quanto gerar maiores sofrimentos à paciente. Também foram excluídas mulheres que apresentavam comprometimento cognitivo ou na fala que as impedissem de responder adequadamente aos instrumentos.

Material I ' Roteiro de Entrevista Estruturada: Instrumento estruturado, elaborado pelos pesquisadores, que visava avaliar: (1) dados sóciodemográficos: idade, estado civil, número de filhos; (2) conhecimento da paciente sobre o seu tratamento/ sobre os procedimentos médicos (3) avaliação subjetiva dos momentos mais difíceis do tratamento; (4) condições clínicas: diagnóstico e estadio da doença (dados consultados no prontuário médico da paciente, disponibilizado pela instituição).

II - Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD) (Zigmond & Snaith, 1983):           A HAD contém 14 itens com quatro alternativas de respostas, divididas em sete questões referentes ao estado de ansiedade e sete referentes a sintomas depressivos. Quanto à aplicação da escala, solicitava-se que a paciente indicasse a alternativa de resposta que melhor descrevesse seus sentimentos da última semana. A HAD pontua os sintomas de ansiedade e depressão obedecendo a três níveis: leve (0 a 6 pontos), moderado (7 a 12 pontos) e grave (13 pontos ou mais). A escala possibilita ao profissional um auxílio na identificação mais criteriosa dos sintomas presentes, sendo uma ferramenta de auxílio no diagnóstico de um episódio depressivo. A HAD foi utilizada na versão traduzida e adaptada ao português brasileiro (Botega, 1995).

Procedimentos O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição. As pacientes somente participavam do estudo após a concordarem com o estudo e mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Os dados foram coletados por quatro psicólogas previamente treinadas e vinculadas ao Serviço de Psicologia da instituição.

As pacientes foram convidadas a participar do estudo quando estavam internadas, na véspera da cirurgia. As participantes respondiam verbalmente aos instrumentos aplicados pelas entrevistadoras, que, quando necessário, se colocavam à disposição para repetir perguntas e tirar dúvidas relacionadas à dificuldade de compreensão do material.  O tempo médio de aplicação dos instrumentos foi de 45 minutos com cada participante.

Para atender aos objetivos foi realizado um modelo de regressão linear múltiplo (Neter, 1990), empregado para estudar a relação entre uma única variável dependente e diversas variáveis independentes. Esse modelo tem como pressuposto que seus resíduos tenham distribuição normal com média 0 e variância constante.

No caso da variável Depressão tal pressuposto não foi observado, para isso foi utilizada uma transformação raíz quadrada nesta variável. Os resultados foram obtidos com o auxilio do software SAS® 9.0, através da PROC GLM.

RESULTADOS Características sóciodemográficas e clínicas As mulheres que participaram do estudo tinham média de idade de 52,8 anos (DP= 13,3) e em média 3,1 filhos (DP=2,4). Quanto ao estado civil, 65,2% relataram ter companheiros (ser casada ou amasiada), como descrito no Quadro 1.

Quadro 1 Descrição das participantes (N=181) em relação características sóciodemográficas, clínicas e quanto ao conhecimento da cirurgia.

Em relação ao diagnóstico de neoplasia, 56,9% das participantes apresentavam diagnóstico de câncer de mama e 13,3% das pacientes referiram não ter informações sobre a cirurgia a que iriam se submeter (Quadro 1).

O gráfico 1 mostra as porcentagens das respostas das participantes quanto ao momento mais difícil do seu tratamento.

Gráfico 1 Porcentagem das respostas das participantes sobre o momento mais difícil do tratamento (N=181).

Observou-se que 32,6% das mulheres consideram submeter-se à quimioterapia, como o momento mais difícil do tratamento, como mostra o gráfico 1.

Avaliação de ansiedade e depressão Os gráficos 2 e 3 demonstram os níveis de ansiedade e depressão de pacientes com câncer de mama e ginecológico medidos pelo HAD.

Gráfico 2 Porcentagens das participantes nas categorias de ansiedade (HAD)

Gráfico 3 Porcentagens das participantes nas categorias de depressão (HAD)

Das participantes do estudo, 44,8% apresentaram sintomas de ansiedade nas categorias moderado e grave, no momento pré cirúrgico, e 31,5% demonstraram sintomas de depressão nas categorias moderada ou grave, nesta mesma fase do tratamento.

Preditores dos escores de ansiedade e depressão Os escores brutos de ansiedade e depressão, medidos pela HAD, foram também analisados. A descrição dos escores é apresentadas no Quadro 2.

Quadro_2 Média e Desvio Padrão dos escores de ansiedade e depressão medidos pelo HAD, segundo características sóciodemográficas, clínicas e psicológicas (N=181).

No quadro 2 pode-se observar que mulheres que apresentaram conhecimento sobre a cirurgia obtiveram média 4,6 nos escores de depressão, enquanto que as participantes que relataram não ter conhecimento sobre cirurgia obtiveram média 7,2.

A análise estatística revelou a existência de variáveis influenciando nos escores de ansiedade [F(5,175)=3,0; p=0,01]. O Quadro 3 demonstra a análise de regressão linear múltipla entre os escores de ansiedade (variável dependente) e as variáveis independentes. 

Quadro 3 Dados da análise de regressão liner múltipla dos efeitos das variáveis sóciodemograficas, clínicas e psicológicas sobre o escore de ansiedade obtido pela HAD.

Como mostra o Quadro 3, é possível identificar uma associação entre idade e ansiedade, de modo que a cada ano aumentado na idade, diminui 0,08 o escore de ansiedade (p<0,01).

A análise dos dados também demonstrou a existência de variáveis influenciando nos escores de depressão [F(5,175)=3,69; p<0,01]. O Quadro 4 apresenta a análise de regressão linear múltipla entre os escores de depressão (variável dependente) e as variáveis independentes.

Quadro 4 Dados da análise de regressão liner múltipla dos efeitos das variáveis sóciodemograficas, clínicas e psicológicas sobre o escore de depressão obtido pela HAD.

Nota-se no Quadro 4 uma associação entre conhecimento sobre a cirurgia e depressão (p<0,01). Pela análise descritiva dos dados (Quadro_2) é possível observar que pacientes que não apresentaram conhecimento sobre a cirurgia (média de depressão = 7,2) tem maiores escores de depressão, em relação aos pacientes que apresentaram conhecimento sobre a cirurgia (média de depressão = 4,6).

DISCUSSÃO Conforme dados do INCA (2012), o câncer de mama é o tipo mais comumente encontrado entre as mulheres. No presente trabalho, seguindo a mesma tendência, entre os subtipos de câncer pesquisados, 56,9% das participantes apresentavam câncer de mama.

A média de idade das mulheres que se submeteram à cirurgia para retirada de tumor maligno foi de 52,8 anos, nesta amostra. A American Cancer Society (2011) destaca que as mulheres que foram diagnosticadas com câncer de mama, no período de 2004 a 2008, nos Estados Unidos, tinham uma média de idade de 61 anos ou menos. A literatura relata que o câncer de colo de útero está fortemente relacionado à presença de infecção, por doenças sexualmente transmissíveis, especialmente pelo Papilomavirus (Derchain, Logatto Filho & Syrjanen, 2005; Guerra, Gallo & Mendonça, 2005; INCA 2012; Medeiros, Medeiros, Moraes, Menezes-Filho, Ramos & Saturnino, 2005) e acomete principalmente mulheres jovens, com idades entre 35 e 39 anos (INCA, 2012; Trent Cancer Registry & National Cancer Intelligence Network´s, 2011).

A literatura também refere que tanto a incidência, quanto a mortalidade por câncer de mama ou ginecológico, tende a aumentar com a idade da mulher, sendo que as mulheres com idades de 75 a 79 anos apresentam maiores incidências do câncer de mama do tipo invasivo (American Cancer Society, 2011). No presente estudo, poucas pacientes tinham idade acima de 60 anos, o que sugere que, nesta amostra, mulheres com idades mais avançadas não estavam em tratamento ou que o câncer de mama ou ginecológico, em idades avançadas, ainda tem sido pouco diagnosticado. Segundo o trabalho de revisão de literatura realizado por Guerra, et al. (2005), mulheres idosas e com baixa escolaridade apresentam menores oportunidades de diagnóstico, no Brasil. Segundo a WHO (2012b), nos países em desenvolvimento, o diagnóstico de câncer ainda tem de enfrentar barreiras relacionadas à restrição de recursos financeiros e de infra-estrutura para o diagnóstico.

O câncer de mama e o câncer ginecológico têm grandes repercussões na qualidade de vida do paciente, desde a constatação do diagnóstico até mesmo na adaptação pós cirúrgica. No presente trabalho, as participantes foram questionadas quanto ao conhecimento da cirurgia a que seriam submetidas, e 13,6% afirmaram que não tinham tal conhecimento. Quando questionadas sobre o momento de maior dificuldade ao longo do tratamento, observa-se que as pacientes apresentaram posicionamentos diferentes, o que sugere dificuldade em eleger apenas um momento. Apesar de 32,6% apontar a quimioterapia como o momento mais difícil do tratamento, 23,8% e 20,4% apontaram como sendo o momento do diagnóstico e da cirurgia, respectivamente. Além disso, 8,3% das pacientes não conseguiram definir apenas um desses momentos. Os dados obtidos são condizentes com os encontrados na literatura, que descrevem que as mulheres relatam dificuldades em todos os momentos do tratamento, desde o diagnóstico à cirurgia (Barros & Lopes, 2007; Silva & Santos, 2008).

Diante de tal dificuldade, neste estudo buscou-se medir aspectos emocionais (ansiedade e depressão) no momento pré cirúrgico. Esses aspectos foram avaliados pelo HAD e mostraram que 12,7% das participantes apresentaram sintomas de ansiedade grave e 6,6% sintomas de depressão grave.  Sabe-se que a ansiedade está associada a uma redução na qualidade de vida dos pacientes e na capacidade de funcionamento social e emocional. Os dados encontrados apontam para a mesma tendência do trabalho de Arden-Close, Gidron e Moss-Morri (2008), que enfatizam que os níveis de ansiedade tendem a serem maiores do que os de depressão. Também corroboram os resultados do estudo de Moreira, Silva e Canavarro (2008), que identificaram maiores níveis de ansiedade do que depressão na amostra de mulheres portuguesas com câncer de mama.

Os resultados do presente trabalho mostram também uma correlação entre idade e escore de ansiedade, de modo que a ansiedade tende a diminuir com o aumento da idade. Esse dado também corrobora os resultados de outros estudos (Arden-Close, et al., 2008; Hickie, Wihelm, Austin & Benett, 1995), que mostram forte evidência de correlação entre maiores escores de ansiedade e idades mais jovens.

Outro fator associado ao aumento dos níveis de ansiedade e depressão entre pacientes com câncer ginecológico (de ovário) é o surgimento precoce da doença.

Arden-Close,et al. (2008) concluíram, em uma revisão de literatura, algumas variáveis associadas às morbidades psicológicas. Os autores verificaram em diversos estudos que o diagnóstico em pacientes jovens, o diagnóstico tardio e a  incidência de sintomas físicos da doença estão associados à prevalência de maiores escores de ansiedade e depressão.  Assim como no estudo de Arden-Close, et al. (2008), o atual estudo verifica uma associação entre maiores escores de ansiedade e idades mais jovens. Tal dado evidencia a importância de intervenções psicológicas junto a esse grupo de pacientes.

Ell et al. (2005), em um estudo realizado nos Estados Unidos, avaliaram a prevalência de depressão em mulheres com diagnóstico de câncer de mama e ginecológico e correlacionaram tal quadro a outros sintomas como dor, ansiedade, características sóciodemográficas e suporte social. Em seus resultados, observaram que depressão aparece como comorbidade em aproximadamente 24% das pacientes. Os sintomas de depressão foram prevalentes, sobretudo, em mulheres de baixa renda e que apresentaram baixo suporte social.

No presente trabalho, não foram avaliadas relações entre níveis de ansiedade e depressão e suporte social. Na entrevista, foram obtidos dados referentes ao estado civil (a ter ou não companheiro), porém não especificamente sobre suporte social, e a análise dos dados não mostrou associações entre estado civil e ansiedade ou depressão.

O estudo de Karakoyun-Celik et al. (2009), realizado na Turquia, procurou avaliar mulheres, após realizarem um tratamento de câncer de mama, para a aferição dos seus níveis de ansiedade e depressão, avaliação do enfrentamento da doença e da qualidade de vida dessas pacientes. Como resultados, encontraram 19% das pacientes com depressão e 98,5% com algum grau de ansiedade. Observaram também que os níveis de ansiedade e depressão foram maiores à medida que as pacientes possuíam baixo suporte social. No presente trabalho foi encontrada associação entre depressão e conhecimento sobre a cirurgia, ou seja, pacientes com menor conhecimento sobre a cirurgia apresentaram maiores escores de depressão.

Concluindo, a identificação precisa de sintomas de ansiedade e depressão permite estabelecer planos de intervenções psicológicas específicos para mulheres com diagnóstico de câncer.

Para a realização de intervenções psicológicas é necessário considerar o contexto psicossocial no qual as pacientes estão inseridas, focalizando também a melhora do suporte social, diminuindo a sensação de isolamento e proporcionando-lhes melhor compreensão de seus sentimentos e emoções.

A terapia de abordagem cognitivo-comportamental tem se mostrado eficiente como um modelo de intervenção psicológica, reduzindo seus níveis de ansiedade e depressão e garantindo suporte psicológico a pacientes com câncer. Acredita-se que as intervenções psicológicas na oncologia podem auxiliar os pacientes no enfrentamento da doença, desde o diagnóstico até o término do tratamento, possibilitando-os maior qualidade de vida nesse período.


Download text